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SOBRE O
PECADO
Nenhum pecado contra Deus pode ser considerado pequeno porque é sempre
um acto contra o Criador do Céu e da Terra. Mas se um pecador consegue,
na sua imaginação, inventar um deus menor, logo se entrega a pecados
menores também.
Pecado é o grande mal e arma de bloqueio para toda a nossa felicidade, é
a razão para toda a miséria de todo o homem, tanto aqui quanto depois.
Retire-se todo o pecado da vida do homem e nada mais o poderá ferir,
pois a morte espiritual, a morte carnal e a morte eterna são seu único
salário.
Pecado e o homem para o pecado, serão sempre os únicos objectos da ira
de Deus. Que dramático deve ser o caso de quem permanece em pecado! Quem
pode suportar um pouco da ira bem acesa de Deus!
Qualquer pecado torna a graça de Deus em uma coisa opaca e sem valor. É
a única coisa que desafia toda a Sua justiça eterna, viola toda a Sua
misericórdia, esgota toda a Sua paciência, mina todo o Seu poder nas
nossas vidas e desfaz todo o Seu amor por nós.
Tenha sempre o cuidado de nunca dar-se a liberdade de pecar, pois um
pecado leva sempre ao outro. Depois, logo chega ao ponto de ser costume
doentio, chegando mesmo a ser natural pecar.
Começar a pecar, é colocar um alicerce para uma continuidade de qualquer
pecado. Este continuar é a única mãe do costume de pecar e a consequente
falta de pudor a grande tragédia que lhe irá seguir.
Aquela Morte de Cristo permite-nos a maior de todas as descobertas sobre
nós mesmos, das condições em que fomos achados e de como nada nos
poderia valer senão a Sua Morte por nós e, também, a descoberta mais
clarividente sobre a terrível façanha (audácia) que é o nosso pecado.
Como a sua natureza fez perecer o próprio Criador do mundo! Se o pecado
é, de facto, coisa tão medonha e horrível, que chegou a trespassar o
lado e coração do Filho do Homem, como pode um pecador ainda suportar os
seus pecados?
SOBRE O ARREPENDIMENTO E O VIR PARA CRISTO
O fim de toda a aflição é a descoberta dos nossos pecados, desde que nos
levem aos pés do Salvador. Vamos então, como o filho pródigo, voltar ao
nosso Pai. Logo acharemos paz e descanso para a nossa alma.
Alguém neste mundo inteiro que seja considerado o pior de todos os
pecadores, pode, pela graça na penitência do arrependimento, tornar-se
tão bom quanto os melhores.
Ser verdadeiramente sensível à proximidade do pecado, é estar triste
porque se fere profundamente o nosso Deus e Criador. Somos mais
afligidos por nós mesmos porque O estamos a magoar, do que por Ele.
As tuas intenções quando te arrependes, tanto quanto a negligência em
desfavor da tua própria salvação, serão sempre um marco e um atestado
contra ti no Juízo Final!
Qualquer arrependimento real e honesto, carrega consigo uma retórica
divina, a qual persuade Cristo a perdoar montanhas de pecados cometidos
contra Ele.
Nunca diga a si mesmo que amanhã se arrependerá, pois é seu dever
fazê-lo hoje.
O evangelho da graça de Cristo e da Sua salvação, estará sempre acima de
todas as outras doutrinas, mas não deixa de ser a mais perigosa de todas
caso seja recebida por homens desprovidos dessa mesma graça. Se esta não
for sustentada com uma necessidade absoluta de um Salvador real, nunca é
graça. A tais homens e mulheres que têm apenas a noção de tudo aquilo
que é esta graça de Deus, digo que serão sempre os mais miseráveis e
execráveis de toda a raça humana. Porque sabem através da sua razão
muito mais que os pagãos da terra, esta será a sua única porção: no fim
apanharão com mais açoites que todos.
SOBRE O ORAR
Antes de entrares em teu quarto para orar, pergunta a ti
mesmo esta pergunta: Para quê, com que finalidade, minha alma, entras
aqui para este santo lugar? Vieste para aqui para ter uma conversa com
Ele? Estará Ele presente também? É teu pesar leve, teu pensamento
leviano? Não estás a lidar com a saúde de todo teu espírito? Que
palavras irás usar para que Ele considere ter misericórdia de ti?
Para que a tua preparação para este solene momento seja completa,
considera-te nada menos que pó e cinzas de pecado e que Ele, o grandioso
Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, se veste com luz inigualável, como se
dum manto se tratasse. Que és um vil pecador, Ele um Deus sem mácula;
que és pouco mais que um verme rastejante, Ele seu Omnipotente Criador.
Em todas as tuas solenes orações, nunca te esqueças de Lhe ser
agradecido pelas Suas muitas e grandes misericórdias.
Quando, então orares, é preferível que teu coração deixe de ter
palavras, do que tuas palavras deixem de ter coração.
A tua oração eliminará o teu pecado por completo, pondo-lhe fim, ou
então o teu pecado dará um fim à tua oração.
O Espírito de oração é mais precioso que muitos tesouros de ouro e de
prata.
Ora muito, quantas vezes desejares, pois tua oração é um escudo real, um
cheiro suave e uma afronta a Satanás
SOBRE O AMOR AO
MUNDO
Nada tem como impedir uma alma de se poder
aproximar de Cristo, com excepção dum amor fútil pelas coisas que o
mundo oferece. E até que uma alma esteja inteiramente liberta de tal
monstruosidade, nunca poderá ter nela mesma um grande amor por Deus.
Que serão as honras e as iguarias das riquezas neste mundo comparando-as
com as riquezas que obteremos de Cristo juntamente com a coroa da Vida?
Nunca ames o mundo, pois o amor ao mundo é uma lagarta roedoura de toda
a vida com Cristo.
Desprezar o mundo é o caminho para o Céu brilhar em nós. E
bem-aventurados serão todos aqueles que conseguem ter uma conversa a sós
com Deus.
Que tolice maior poderá existir que trabalhar pela carne que apodrece,
negligenciando com isso o maná da Vida Eterna?
Ou Deus ou o mundo - um dos dois terá necessariamente de sair desprezado
em uma vida e quando esta se desvanece no leito da sua morte, esse será
o seu grande teste.
Buscando a tua vida, a ti mesmo neste mundo, teu próprio interesse, é
estar perdido para sempre. E ser humilde é exaltação excelente.
Todo aquele que se deleita com as realezas deste grande mundo, pensa
muito pouco, pois um dia quem admirou, será testemunha veloz contra ele.
SOBRE A AFLIÇÃO
Nada tem como tornar a aflição tão insuportável como uma
montanha de pecados: para que possa estar apto a suportá-la, assegure-se
que depõe todo pecado e sejam quais forem as aflições que lhe venham
atormentar, qualquer montanha lhe será coisa facílima de transpor.
O Senhor tem como usar a dor da tribulação para ter como separar o trigo
da palha que carregou o trigo até ali.
Se por acaso você tem como suportar a vara da aflição, a que foi Deus
que impôs sobre si, lembre-se sempre desta verdade: você apanha para que
melhore de coração.
A escola da Cruz é a escola da luz; ela descobre a vaidade de ser do
mundo, expondo-a, desmascara a sua vil forma de ser, a sua impiedade
profunda e permite-nos ver mais e melhor a mente de Deus. Desde as
trevas da aflição nos pode chegar luz miraculosíssima!
É naqueles momentos de maior aflição que desvendamos muitas coisas
acerca do real amor de Deus.
Será que de coração acabamos por renunciar todos os prazeres deste vil
mundo? Então, pouco temos a temer sobre a aflição, pois nunca nos fará
tropeçar. O que torna um certo estado de aflição mesmo insuportável,
serão tão só os prazeres desta vida mundana, a qual não tem como
suportar a possibilidade de nos separarmos dela de facto.
SOBRE O SOFRIMENTO
Não será qualquer tipo de sofrimento que faz um mártir, mas
apenas o sofrer porque se é verdadeiro e se está em plena conformidade
com a Palavra de Deus. Isto é, não apenas sofrer de forma justa, mas
pela justiça; não apenas pela verdade, mas por amor à verdade; nunca
apenas pela palavra de Deus, mas de acordo com ela: dar testemunho, com
aquela santidade, humildade, no mesmo espírito de mansidão que a própria
Palavra de Deus requer de nós.
É coisa muito rara sofrermos pelos motivos certos e mantendo o espírito
vergado apenas a Deus contra o Seu inimigo: o pecado; pecado em
doutrina, em adoração, pecado na vida e em qualquer tipo de conversação.
Não será o diabo, nem os homens deste mundo que conseguirão extinguir a
justiça de dentro de ti, ou o amor por ela - apenas a tua própria mão.
Só se separa essa justiça de ti pela tua própria actuação. Aquele que
sofre em prol de ser justo, ou por um amor completo à justiça interior,
não tem como ser tentado a trocar essa justiça por alguma outra coisa,
porque o bem-estar do mundo dependem dela.
Sempre pensei que a nata dos Crentes são feitos na pior das eras: quanto
pior for o momento, maior e melhor será o Crente. E continuo a pensar
que uma das razões porque não somos tornados melhores, será porque Deus
já não nos purga e não nos prova como fazia. Noé e Lot, quem era mais
santo que eles durante os tempos das suas aflições? E quem haverá mais
vil e mais fútil do que o que está em sua prosperidade?
SOBRE A MORTE E O JUÍZO
Tal como o diabo opera por todos os meios para nos manter fora de todas
as coisas boas, do mesmo modo opera para afastar dos pensamentos, tanto
quanto pode, tudo sobre uma vida noutro mundo após a morte. Ele bem sabe
que se mantiver os homens afastados de pensar na morte, eles se sentirão
mais à vontade para pecar.
Nada nos tornará mais sérios naquele labor de operar a nossa própria
salvação, do que uma frequente meditação sobre a morte. Nada terá maior
influência sobre os nossos corações, de nos retirar das futilidades e,
ao mesmo tempo, inspirar a nascença de desejos sobre a santidade.
Ó pecador, em que condição te acharás caído quando abandonares este
mundo? Se partires sem estares convertido, teria sido melhor haveres
sido esmagado assim que nasceste. Teria sido melhor haverem-te puxado
dum lado e do outro e seres dividido em duas partes; melhor te seria
haveres nascido cachorro, uma serpente, uma rã, do que nasceres homem e
morreres sem te converteres e me darás toda a razão quando lá chegares
sem te haveres arrependido.
Um homem seria tido como tolo caso se atrevesse a desafiar e a tratar
mal um Juiz antes de ser julgado por ele. E o Juízo de Deus terá tanto
mais peso que um desses, pois dele dependerá toda a nossa felicidade e
miséria eternas; e mesmo assim atrevemo-nos a desafiá-Lo e afrontá-Lo
com nossos pecados?
A única maneira de escaparmos daquele Juízo horrível, é passarmos certas
sentenças de juízo sobre nós correctamente enquanto estivermos aqui na
terra. Assim que soar aquela última trombeta, a qual convocará os mortos
para comparecerem diante do trono de Deus para serem julgados, os justos
se apressarão a sair de suas sepulturas com alegria, para se encontrarem
com o seu Redentor nas nuvens. Mas, os outros clamarão às montanhas para
que caiam sobre eles, para os encobrir da vista daquele Juiz feroz!
Vamos, então, pousar no tempo que nos resta e decidir para qual dos dois
lados queremos ir.
SOBRE AS ALEGRIAS DOS CÉUS
Nada existe de bom neste
mundo com excepção do que já está contaminado e misturado com o mau. As
honras têm surpresas desagradáveis, a riqueza tem insensatez e todos os
prazeres arruínam a saúde. Mas, apenas nos céus acharemos bênçãos sem
igual, de tal modo puras que nada terão que as possam fazer amargar e
tendo tudo nelas para as tornar incomparavelmente doces.
Quem neste mundo poderá
conceber as inexprimíveis, inconcebíveis alegrias que se acharão lá?
Apenas aqueles que já as experimentaram cá. Senhor, ajuda-nos a dar tal
valor a elas, que nos possamos preparar para as receber e tenhamos
porque nos alegrar com a perda sumária de todos os prazeres inerentes à
ilusão dos apetites daqui.
Como os céus
transbordarão e ecoarão de alegria assim que lá chegar a noiva, a Esposa
do Noivo, para ir viver com Ele para sempre!
Cristo é o supremo desejo
das nações, a alegria dos anjos e o deleite do Pai; quão grande deve ser
a consolação da alma que O possuir pela eternidade fora!
Ó! Quantas aclamações se
verão quando todos os muitos Filhos de Deus se encontrarem em conjunto,
sem nada mais para temer, sem as perturbação dos descendentes do
anticristo e dos Cainistas!
Não chegará o tempo
quando os piedosos poderão perguntar aos ímpios quais os proveitos que
adquiriram dos seus prazeres? Qual conforto da sua grandeza? E que
frutos trouxeram todos os seus labores?
Se você tiver muita
curiosidade para saber tudo sobre a verdadeira essência da visão
celestial, minha resposta para si será apenas que viva uma vida santa e
chegue-se bem perto para ver!
SOBRE OS TORMENTOS NO INFERNO
Os céus e a salvação não
foram mais prometidos a todos os que são castos do que o inferno e a
condenação aos que são ímpios e será seguramente uma sentença executada
sobre todos.
Assim que uma alma for
condenada, pode, logo ali, dizer adeus para sempre a todo conforto e
prazer.
Quem conhecerá todo o
poder da ira de Deus? Ninguém com excepção dos que forem condenados!
A única companhia de
todos os pecadores, será o diabo e seus demónios, para sempre
atormentados sob uma maldição.
O inferno seria um género
de paraíso, caso não fosse pior que o pior dos lugares deste mundo!
Tão distinto quanto será
a dor da alegria, o tormento do descanso de alma e o terror da paz, essa
será a distancia entre os pecadores e os santos no mundo vindouro.
SOBRE
O DIA DO SENHOR, SERMÕES E DIAS DA SEMANA
Tenha zelo em santificar o dia do Senhor,
pois do modo que o guardar ou usar, desse modo será guardada a sua alma
durante a semana.
Torne o dia do Senhor o dia do mercado
para sua alma. Que passe o dia inteiro em orações, súplicas, revisões e
meditações. Coloque de parte os assuntos do resto da semana. Que o
sermão que ouviu seja ponderado e traduzido em oração: irá o Senhor te
oferecer estes seis dias e tu não lhe dedicarás um por inteiro?
Dentro da sua igreja seja cuidadoso em
servir Deus. Ali está sob os olhares de Deus e não dos olhares dos
homens.
Pode ouvir muitos sermões com muita
frequência e pode mesmo ser ouvinte que pratica o que ouviu. Mas nunca
pode esperar que lhe seja explicado a partir do púlpito tudo aquilo que
é sua obrigação fazer. Antes seja também um estudioso afectivo da
Palavra e leia bons livros. Aquilo que ouviu pode vir a ser esquecido,
mas tudo quanto aprendeu, será retido e guardado com maior facilidade.
Nunca negue a adoração pública de Deus,
pois Deus pode vir a negá-lo a si também, tanto em público como em
privado.
Durante os dias da semana, sempre que
acorda, considere isto:
-
Você morrerá em breve;
-
Você pode morrer
naquele preciso momento;
-
Que irá então acontecer
à sua alma.
-
Ore bastante.
Mas à noite considere isto:
-
Se cometeu pecados;
-
Com qual frequência
orou durante o dia;
-
Em quais coisas sua
mente vagueou durante todo dia. Em que pensou durante o dia;
-
Quais foram os seus
afazeres;
-
Qual foi a sua
conversação;
-
Se conseguir trazer à
sua atenção todos os erros que cometeu durante todo o dia, nunca se
atreva a adormecer sem os haver confessado a Deus e obter a
esperança proveniente de um perdão real. Assim, cada noite e cada
manhã faça os seus cálculos em conjunto com o Deus Todo-Poderoso e
todas as suas dívidas, por fim, diminuirão drasticamente.
JOHN BUNYAN, 10 DE SETEMBRO DE 1688
FONTE: http://www.reavivamentos.com/pt/livros/bunyan/pensamentos_leito_morte.html