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Deus é glorioso porque é perfeito. Tudo
quanto Ele faz é perfeito. Portanto, precisamos dizer que, embora o mundo ao
nosso redor e os homens nele estejam agora perversamente afetados pelo pecado,
tem que haver ainda algum meio pelo qual a glória de Deus possa ser
estabelecida nele. Questionar isso é negar que tudo o que Deus faz chega à
perfeição, como também sugerir que Deus foi incapaz de impedir que o mundo se
desenvolvesse conforme tem desenvolvido.
Deus criou Adão e lhe deu liberdade de
escolha, mesmo sabendo que ele ia pecar e que faria toda a raça humana ficar
sujeita à maldição. Se tudo quanto Deus faz é perfeito, então esse
acontecimento deve ser parte de um processo que demonstrará a gloriosa
perfeição de Deus. As Escrituras ensinam que, por escolher salvar graciosamente
e de maneira gloriosa uma grande família dentre a raça decaída de Adão, Deus
demonstra perfeição ilimitada. Esse ato da misericordiosa escolha de Deus é
comumente chamado de eleição, ou graça diferenciada.
A doutrina da eleição é atualmente uma
verdade muito combatida. Sem dúvida, no passado ela foi ensinada como
importante verdade, especialmente pelos Reformadores. Mas agora (isto é, nos
dias de Abraham Booth) esta doutrina é tida como uma ofensa à razão humana,
imoral, danosa à verdadeira piedade e lesiva à humanidade em geral. Não admira,
pois, que a verdade seja impopular!
Ora, por que será que esta verdade é tão
combatida? A menos que eu esteja grandemente enganado, é porque ela põe fim ao
nosso orgulho humano. Fazendo a salvação depender totalmente da misericordiosa
decisão de Deus, a eleição não faz diferença entre uma pessoa e outra - no
tocante a uma ser salva e outra não. Só Deus recebe a glória por salvar uma
pessoa. Todavia, a orgulhosa independência dos corações humanos ressente-se
desse fato. Há também outras razões pelas quais essa verdade é combatida; porém
a razão apontada é suficiente, pois não é o meu propósito aqui argumentar em
defesa da eleição. Outros, com mais tempo e habilidade do que eu, já o fizeram
muito bem. Eu simplesmente explicarei o que significa essa verdade e como ela
nos pode ajudar.
Desde que as Escrituras falam sobre os
"eleitos", segue--se que nem toda a raça humana está incluída nesse
termo. A escolha de uns implica na rejeição de outros. Isso está claramente
implicado nas palavras "eleito" e "escolhido".
Os chamados "eleitos" nas
Escrituras não são todas as nações ou comunidades, mas indivíduos. Eles são
referidos como tendo os seus nomes "escritos nos céus" (Luc. 10:20) e
"no livro da vida" (Apoc. 20:15). São referidos como os que
"foram ordenados para a vida eterna" (Atos 13:48). Desses versículos
podemos concluir que os eleitos são pessoas específicas.
Isso é também confirmado pelo fato de que
a salvação foi obtida por Jesus Cristo, que Se tornou o Mediador e Substituto
desses pecadores. E absurdo supor que alguém possa ser substituto ou mediador
de pessoas desconhecidas. Se um homem se torna legalmente responsável pelas dívidas
de outro, esse homem, certamente, deverá conhecer muito bem aquele endividado.
Uma pessoa só pode ter certeza da salvação
se ela for precisamente identificada. Suponhamos que o propósito de Deus
simplesmente tivesse sido o de salvar "todos os que cressem em
Jesus", então permaneceria duvidoso se alguém seria atualmente salvo,
porque não se saberia se alguém iria crer.
Contudo, se você disser: certamente alguns
creriam, responderei que uma tal certeza tem que surgir do propósito de Deus.
Não há outra maneira de saber-se que o futuro é certo. Ora, se Deus planejou
que alguns haveriam de crer, Ele deve saber quem são eles, porque a fé deles
"é dom de Deus" (Ef. 2:8). Também parece claro que Deus sempre
conheceu os que iriam ser salvos, uma vez que algumas passagens das Escrituras
indicam que os que crêem foram * escolhidos "antes da fundação do
mundo" (Ef. 1:4).
Seria possível descobrir alguma razão por
que os eleitos foram escolhidos e os outros foram deixados de lado?
Nenhuma razão pode ser encontrada nas
próprias pessoas, pois toda a humanidade é indigna de receber a bênção de Deus.
A única razão para se estabelecer a diferença entre as pessoas é dada pelas
Escrituras. Deus diz"...compadecer-me-ei de quem eu me compadecer, e terei
misericórdia de quem eu tiver misericórdia" (Rom. 9: 15).
Mesmo que, originalmente, não houvesse
diferença entre indivíduos, poderia ser que Deus previu os que haveriam de
crer e, portanto, os escolheu? Não, absolutamente! Porque, então, a graça não
reinaria, mas dependeria da fé das pessoas.
As Escrituras mostram que a fé não é a
causa que se patenteia na eleição, e sim o resultado: "...e creram todos
quantos estavam ordenados para a vida eterna" (Atos 13:48). "Como
também nos elegeu antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos..."
(Ef. 1:4). "E aos que predestinou, a estes também chamou" (Rom.
8:30). "Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas" (João
10:26). "Deus nos chamou não segundo as nossas obras, mas segundo o seu propósito
e graça, antes dos tempos dos séculos" (2 Tim. 1:9).
Fé e santidade são como brotos e ramos
comparados com a raiz de uma planta; não são a raiz nem o fruto; não são a
causa nem o resultado. São o resultado do crescimento da raiz e os meios pelos
quais se formam os frutos. Do mesmo modo, fé e santidade são o resultado da
graça e os meios para alcançar a glória, "...pela graça sois salvos, por
meio da fé" (Ef. 2:8). A fé não é a causa, mas o resultado da eleição.
Além de tudo isso, se as pessoas foram
eleitas porque Deus sabia que elas iam crer, por que então precisavam ser
eleitas? Os que têm fé hão de ser salvos, de qualquer modo! Se a fé já existe,
a eleição é desnecessária! No entanto, em muitas passagens as Escrituras
insistem sobre o fato da eleição.
Paulo nos explica a questão mais
plenamente em Romanos 9:10-23. Ele responde também a supostas objeções
levantadas contra a eleição, insistindo em que Deus, se é Deus, tem que ter o
direito de fazer o que deseja. Se aos reis humanos é permitido fazer aquilo que
desejam, podemos nós negar a Deus - que governa sobre todas as coisas - os
direitos reais?
A suprema perfeição de Deus significa que
Ele não pode tomar decisões insensatas nem governar de maneira injusta, nem
planejar sem amor. Portanto, depois de examinar cuidadosamente a soberania de
Deus, Paulo exclama: "Ó profundidade das riquezas tanto da sabedoria como
da ciência de Deus" (Rom. 11:33). O que quer que Deus faça, Ele o faz como
um Pai sábio e compassivo. Por que Ele escolheu salvar alguns, quando todos são
indignos? Porque nosso Criador é misericordioso! Por que escolher uns e não
outros? Porque nosso Criador tem indisputável direito de fazer aquilo que
deseja com o que é Seu!
Agora quero considerar aquilo que Deus
pretendeu realizar mediante o uso de Sua graça discriminativa. Com muita
facilidade presumimos que Deus só Se interessa em fazer felizes os eleitos e em
atormentar os rejeitados. Esse é um grande erro! E blasfemo sugerir que um Deus
supremamente bom tem prazer na miséria de pecadores atormentados.
A Bíblia afirma, claramente, que a razão
pela qual Deus age em graça é o louvor de Sua própria glória. Quando Deus pune
um pecador, Ele mostra o quanto Sua natureza santa se opõe ao pecado. Quando
Deus salva pecadores daquilo que eles merecem, Ele mostra a Sua misericórdia
estupenda e graciosa. Todos os atos de Deus, portanto, manifestam algum aspecto
de Sua glória. Os atos de Deus são feitos "para dar a conhecer as riquezas
de sua glória" (Rom. 9:23).
Assim, Deus faz o que faz a fim de mostrar
Sua glória. E não somente isso. O modo como Deus faz as coisas, revela quão
glorioso Ele é. A salvação de pecadores é efetuada pela vida, morte e
ressurreição de Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus, e pelo Espírito Santo
operando na vida dos crentes, possibilitando-lhes serem santos. Todos estes
atos de Deus são gloriosos!
Ademais, aquilo que Deus faz é imutável.
Esse fato demonstra a Sua glória. Como? Se Ele mudasse de idéia, teria que ser
para melhor ou para pior. Se for para melhor, então Ele não era perfeitamente
sábio antes. Se for para pior, então Ele não é perfeitamente sábio agora.
Portanto, o fato de Deus nunca ter necessidade de mudar de idéia é outra
evidência de Sua gloriosa perfeição. Ele sempre está certo, jamais precisando
de mudar. "E aos que predestinou, a estes também glorificou" (Rom.
8:30). Se Deus pudesse mudar de idéia, Paulo não estaria com tanta certeza como
está! Mas, desde que a eleição daqueles que Ele quer salvar é imutável, segundo
a Bíblia, sabemos também que isso tem que ser gloriosamente certo!
FONTE: www.ligacalvinista.com
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