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Eles eram amigos muito íntimos; as duas mulheres e
seus maridos divertiam-se juntos nos passeios e partilhavam muitas coisas em
comum. Parecia haver uma ligação comum entre as duas famílias. Joy trabalhara
arduamente nos anos anteriores, financiando os estudos de seu marido; agora,
aqueles anos de trabalho árduo estavam sendo recompensados, uma vez que ele
gozava dos benefícios de uma profissão lucrativa. Os filhos vieram para
aumentar a alegria do casal. Parecia que a vida daria o que há de melhor para
ela e sua família. Tudo era perfeito.
Ela começou a receber cada vez mais amigos de seus
filhos à noite. Por seu marido estar trabalhando até tarde, aceitava a solidão
pacificamente. De repente, seu mundo caiu. O marido pediu-lhe o divórcio;
apaixonara-se por sua melhor amiga e decidira casar-se com ela. Veio o
divórcio; dois lares foram destruídos e Joy ficou sozinha. Seu futuro maravilhoso
desvaneceu-se; todo aquele trabalho árduo para ajudar a carreira de seu marido
também fora em vão. Sua melhor amiga lhe traíra e ela ficara só, com uma mágoa
tão profunda que lhe parecia ser impossível recobrar-se.
Aquela ferida poderia ter destruído sua vida, se
ela não soubesse como se livrar das mágoas. A reação natural é a vingança
carregada de amargura e de ódio. Mas ela descobriu a liberdade para viver
novamente, sem as feridas e amarguras.
Joy aprendeu o caminho do perdão. Na medida em que
entregava as mágoas a Deus e escolhia perdoar seu ex-marido, experimentava o
poder curativo do Senhor. Dela saiu o peso enorme da rejeição e das mágoas e
ela passou a experimentar o amor de Deus tão profundamente que sua vida mudou
completamente. Ao invés de comunicar amargura a seus filhos, passou a
ensiná-los a perdoar e a amar o pai.
Há, na Bíblia, a história de uma mulher que deixou
sua terra natal com seu marido e dois filhos. Longe de sua terra e de sua
parentela, o marido e os filhos morreram. Quando voltou para casa, disse a
seus amigos: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me
tem dado o Todo-Poderoso. Ela escolheu carregar a amargura da perda e mudou seu
nome para Mara, que significa amargo.
Não é necessário mudar de nome; há um caminho para
ser livre das feridas e da amargura. Jesus contou a parábola de um homem que
tinha um servo. Este devia o equivalente a dez milhões de dólares a seu
senhor. Quando o servo percebeu que não poderia pagar, suplicou a misericórdia
de seu senhor e ele lhe perdoou toda a dívida. Lemos nas Escrituras: Então o
senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a
dívida (Mt 18.27). Aquele senhor poderia ter lançado o servo na prisão, vendido
sua mulher e seus filhos como escravos; poderia ter dado vazão à ira e à mágoa
vingando-se. Ao invés disso, escolheu libertar o servo e perdoá-lo.
Na passagem acima, há duas palavras-chaves que nos
apresentam o segredo de como ser liberto das feridas e amarguras. Primeiro, o
senhor soltou o servo. Essa palavra, no original, significa "deixar
livre, libertar alguém de alguma coisa". Tem a conotação de soltar um
cativo de suas cadeias. O senhor da parábola deixou o servo livre de sua
dívida.
Depois, o senhor perdoou-lhe a dívida. Uma coisa é
conformar-se com a perda de uma quantia em dinheiro, mas outra, bem diferente,
é ter a atitude correta corri a pessoa que lhe causou a perda. O senhor não
guardou nenhum ressentimento em relação a seu servo. Ele não somente deixou-o
livre da divida, mas também não guardou nada contra o homem. Perdão, no texto
original, tem o sentido literal de "deixar ir, mandar embora".
Também é traduzido como "cancelar, remir, desculpar". O senhor
escolheu deixar o homem ir — livre de qualquer obrigação. O homem estava
desculpado.
Eis aqui,
então, os dois passos para se ficar livre das feridas e amarguras.
Primeiro: libere tudo o que a pessoa lhe deve. Segundo: deixe a pessoa livre de
todas as obrigações para com você. Desse modo, você estará abrindo mão de
receber o que por direito lhe pertence e permitindo que a pessoa se vá sem obrigações.
Essa é a chave para ser liberto.
Se você tem dificuldade para perdoar o que a pessoa
lhe deve, caminhe a segunda milha. Jesus disse: E ao que quiser pleitear
contigo, e tirar-te o vestido, larga-lhe também a capa; e se qualquer te
obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas (Mt 5.40-41). A verdade
ensinada aqui é que se deve ir além do que é requerido. Isso também se aplica
ao perdão.
Dois amigos eram sócios em uma empresa. Após algum
tempo, decidiram dissolver a sociedade e vender o negócio. Um deles ajeitou as
coisas de modo a conseguir muito mais ações do que lhe era devido, o que deixou
o outro sócio profundamente magoado e sofrendo com o prejuízo. A justiça
poderia ter resolvido o caso, mas o sócio que sofrerá a perda era cristão, e
sentia que deveria seguir a determinação das Escrituras de não ir a juízo (l Co
6). Depois de orar sobre o problema, decidiu esquecer o dinheiro e perdoar o
ex-sócio.
Embora tendo feito o que sabia que era correto e
agradável a Deus, achou difícil perdoar completamente seu ex-sócio; ainda
sentia rancor por tudo. Depois de mais orações, resolveu caminhar a segunda milha.
Seu ex-sócio estava se mudando para uma cidade distante e suas despesas com a
mudança seriam consideráveis. O cristão resolveu pagar-lhe as despesas,
enviando-lhe o dinheiro. Imediatamente, sentiu-se completamente livre da
situação. Ao caminhar a segunda milha, todas as recordações da primeira foram
esquecidas. O perdão libera o ofensor de tudo que deve. O amor cristão,
demonstrado ao fazer o bem, liberta o ofendido do peso do rancor. O verdadeiro
cristão não sofrerá o dano simplesmente, fará isso alegremente e irá além do
que for requisitado. Isso traz libertação total.
A parábola que o Senhor apresentou é um exemplo da
graça de Deus e de Sua compaixão pelo pecador. Não há condição alguma para o
pecador pagar o que deve; é totalmente impossível. Deus tem todo o direito de
lançar o pecador no inferno, mas Ele atende com misericórdia e perdão a cada
um que a Ele se aproxima, suplicando por isso. Deus vai além do perdão; Ele
coloca o pecador diante de Si como justo e transforma-o em filho de Deus,
dando-lhe o direito de comparecer diante de Seu trono. Que maior exemplo de
perdão e amor a um condenado poderia ser encontrado?
Mas há um aspecto decepcionante na parábola de
Mateus. Ao invés de perdoar como fora perdoado; exercer misericórdia como recebera
misericórdia, o servo encontrou um de seus conservos que lhe devia cerca de 18
dólares em prata e imediatamente exigiu o pagamento. Não demonstrou
misericórdia e encerrou seu amigo na prisão até que pagasse toda a dívida.
O servo tinha fracassado em aprender a perdoar;
continuava com a determinação de obter tudo o que era direito seu. Recusou-se a
abrir mão disso. Eis aqui uma advertência ao povo de Deus: tendo recebido o
perdão de Deus, cuide para que não se esqueça de perdoar aqueles que lhe devem.
Atente em conceder a mesma misericórdia que recebeu do Pai. Comparando o que
Deus lhe perdoou, a ofensa de qualquer pessoa em relação a você é como os 18
dólares comparados aos 10.000.000. Não há como o cristão não perdoar; a
misericórdia de Deus o impele a perdoar tudo. Vem agora a advertência: E,
indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o
que devia. Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não
perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas (Mt 18.34-35). Se alguém se recusa a perdoar,
isso libera o atormentador contra sua vida. Os atormentadores são os espíritos
de opressão que atuam contra aqueles que se agarram a seus direitos,
recusando-se a perdoar e a ter misericórdia. Encontramos aqui o problema de
muitas pessoas. Elas mantêm as feridas do passado, levando uma vida cheia de
amargura, requerendo seus direitos e sofrendo o tormento do inferno em sua
alma. Nenhum psiquiatra pode ajudá-las, nem as drogas, nada; elas estão
sofrendo tormentos porque não perdoaram. Satanás encontrou um lugar para
atormentá-las por intermédio da amargura.
Enquanto as feridas forem lembradas, haverá ligação
com o passado. Não haverá liberdade para se viver o presente, A amargura do
passado flui nas relações presentes. Aqueles que não querem ser contaminados
afastam-se. Conviver com o ódio e o desejo de vingança ligado ao passado é
muito difícil. Haverá ligação com cada pessoa do passado que o tenha magoado, e
mesmo a morte do ofensor não o libertará da dor. O fato surpreendente é que
você ficará semelhante àquele a quem você está ligado por não ter perdoado.
Discuti com uma jovem casada que estava enfrentando problemas conjugais:
"Perdoe seu marido assim como Deus lhe perdoou." Mas ela não
acreditava que fosse possível perdoar-lhe a falta de amor e a infidelidade; seu
casamento acabou desfeito pelo divórcio. Em apenas um ou dois anos, ela começou
a praticar as mesmas coisas que odiava em seu marido. A amargura de sua alma
uniu-a a seu marido, mesmo após a separação. Reter o pecado de alguém nos
torna semelhante a ele. O divórcio não é a solução; o perdão, sim.
Vamos agora ao princípio que explica a verdade
presente neste capítulo: Perdoe e torne-se como Deus; retenha o pecado de
alguém e torne-se como aquele que cometeu o pecado. O perdão nos libera do outro.
A falta dele nos prende ao ofensor. O perdão é uma escolha, não um sentimento.
Quando alguém resolve em seu coração que irá perdoar, Deus começa a criar Sua
imagem e Seu caráter naquele indivíduo. O perdão é um atributo da forma de ser
de Deus. Devemos ter Sua semelhança e mostrar Sua misericórdia. Uma experiência
dolorosa pode ser transformada em uma bênção, se o caráter de Deus for formado
em nós por intermédio da experiência.
Agora vamos à observação final: O perdão libera
Deus. Em primeiro lugar, seu perdão em relação aos outros libera o perdão de
Deus para você. Porque, se perdoares aos homens as suas ofensas, também vosso
Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas
ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas (Mt 6.14-15). A
obra de Deus na vida de alguém está sustada pela falta de perdão, e seu próprio
pecado também permanece imperdoável. A obra da graça é impedida pela falta de
perdão. Deus trabalha sob o princípio da misericórdia e do perdão. O objeto de
Sua misericórdia deve demonstrar misericórdia, o objeto de Seu perdão deve
mostrar perdão para continuar a recebê-lo. Aquilo que recebemos de Deus devemos
conceder aos outros. A redenção e o perdão são coexistentes na vida do crente.
Em segundo lugar, seu perdão libera o perdão de
Deus aos outros. A palavra de Deus diz: Tudo o que ligardes na terra será
ligado no céu, e tudo o c\ue desligardes ma terra será desligado no céu (Mt
18.18). A mão de Deus é Impedida pela falta de perdão de alguém. Lembro-me de
uma mãe totalmente atormentada pelo ódio e pela amargura. Seu ex-marido tomara
dela suas duas filhas por meio de fraude e obtivera a guarda legal das meninas.
Ela ficou ressentida com a madrasta, que ocupou seu lugar, e acabou perdendo
todos os privilégios, ate mesmo o de ver suas filhas. Perdoar parecia-lhe
impossível. Essa situação perdurou por muitos anos. Apesar disso,
perguntei-lhe: "Você vai escolher perdoar seu marido, que ficou com as
crianças? Você perdoa essa madrasta, que ocupou seu lugar? Você escolhe
perdoar?"
Ela ficou muito hesitante, mas, depois, respondeu
com voz bem fraca que faria essa escolha. Tendo tomado essa decisão, Deus
interveio na situação e, em um mês, o ex-marido e a esposa levaram suas filhas
para visitá-la. A comunicação foi restabelecida, e a mãe pôde demonstrar amor
sincero à madrasta de suas filhas. Deus curou-a através do perdão.
Em terceiro lugar, seu perdão libera a cura de Deus
em você. Este é o princípio bíblico: soltai e soltar-vos-ão (Lc 6.37). A
palavra soltar aqui é a mesma da parábola de Mateus 18, onde o senhor soltou o
servo. Quando se solta alguém por meio do perdão, Deus solta a ferida que
surgiu por intermédio daquela pessoa. É o princípio que Deus segue: Deixe livre
a pessoa que o feriu, e depois Deus o libertará de suas feridas. O primeiro passo
é uma escolha que você faz, depois Deus está livre para ministrar a cura em
sua alma, tirando a ferida, expulsando a amargura e o ódio, e colocando amor
em seu lugar. Transformação tão maravilhosa só pode acontecer quando você
escolhe o perdão. Pois quando você faz essa escolha, Deus entra em cena. E Ele
sempre muda as coisas.
FONTE: Extraído do livro Feridas Satânicas, Página 21 de Autoria de Caroll Thompson da Graça Editorial
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