sábado, 25 de junho de 2011

Por que o justo sofre? R. C. Sproul

Imagem cedida por: http://www.oldtestamentstudies.org/r-c-sprouls-literal-interpretation-of-genesis-1/

No âmago da mensagem do livro de Jó, acha-se a sabedoria que responde à questão a respeito de como Deus se envolve no problema do sofrimento humano. Em cada geração, surgem protestos, dizendo: “Se Deus é bom, não deveria haver dor, sofrimento e morte neste mundo”.
Com este protesto contra as coisas ruins que acontecem a pessoas boas, tem havido tentativas de criar um meio de calcular o sofrimento, pelo qual se pressupõe que o limite da aflição de uma pessoa é diretamente proporcional ao grau de culpa que ela possui ou pecados que comete.

No livro de Jó, o personagem é descrito como um homem justo; de fato, o mais justo que havia em toda a terra. Mas Satanás afirma que esse homem é justo somente porque recebe bênçãos de Deus. Deus o cercou e o abençoou acima de todos os mortais; e, como resultado disso, Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por causa da generosa compensação que recebe de seu Criador.
Da parte do Maligno, surge o desafio para que Deus remova a proteção e veja que Jó começará a amaldiçoá-Lo. À medida que a história se desenrola, os sofrimentos de Jó aumentam rapidamente, de mal a pior. Seus sofrimentos se tornam tão intensos, que ele se vê assentado em cinzas, amaldiçoando o dia de seu nascimento e clamando com dores incessantes. O seu sofrimento é tão profundo, que até sua esposa o aconselha a amaldiçoar a Deus, para que morresse e ficasse livre de sua agonia. Na continuação da história, desdobram-se os conselhos que os amigos de Jó lhe deram — Elifaz, Bildade e Zofar. O testemunho deles mostra quão vazia e superficial era a sua lealdade a Jó e quão presunçosos eles eram em presumir que o sofrimento indescritível de Jó tinha de fundamentar-se numa degeneração radical do seu caráter.


Imagem cedida por: http://palavrasforcajovem.blogspot.com/2010/07/santificados-no-sofrimento.html

Eliú fez discursos que traziam consigo alguns elementos da sabedoria bíblica. Todavia, a sabedoria final encontrada neste livro não provém dos amigos de Jó, nem de Eliú, e sim do próprio Deus. Quando Jó exige uma resposta de Deus, Este lhe responde com esta repreensão: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber” (Jó 38.2, 3). O que resulta desta repreensão é o mais vigoroso questionamento já feito pelo Criador a um ser humano. A princípio, pode parecer que Deus estava pressionando Jó, visto que Ele diz: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?” (v. 4) Deus levanta uma pergunta após outra e, com suas perguntas, reitera a inferioridade e subordinação de Jó. Deus continua a fazer perguntas a respeito da habilidade de Jó em fazer coisas que lhe eram impossíveis, mas que Ele podia fazer. Por último, Jó confessa que isso era maravilhoso demais. Ele disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42.5-6).


Neste drama, é digno observar que Deus não fala diretamente a Jó. Ele não diz: “Jó, a razão por que você está sofrendo é esta ou aquela”. Pelo contrário, no mistério deste profundo sofrimento, Deus responde a Jó revelando-se a Si mesmo. Esta é a sabedoria que responde à questão do sofrimento — a resposta não é por que tenho de sofrer deste modo particular, nesta época e circunstância específicas, e sim em que repousa a minha esperança em meio ao sofrimento. A resposta a essa questão provém claramente da sabedoria do livro de Jó: o temor do Senhor, o respeito e a reverência diante de Deus, é o princípio da sabedoria. Quando estamos desnorteados e confusos por coisas que não entendemos neste mundo, não devemos buscar respostas específicas para questões específicas, e sim buscar conhecer a Deus em sua santidade, em sua justiça e em sua misericórdia. Esta é a sabedoria de Deus que se acha no livro de Jó. 

Os Crentes Devem Sentir-se Culpados o Tempo Todo?

Imagem cedida por: http://rgvweb.com.br/

Kevin DeYoung é o pastor da University Reformed Church em East Lasing, MI, EUA. Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado pelo Gordon-Conwell Theological Seminary. É autor de diversos livros, preletor em conferências teológicas e pastorais, é cooperador do ministério “The Gospel Coalition” e mantém um Blog na internet “DeYoung, restless and reformed”. Kevin é casado com Trisha com quem tem 4 filhos.

Imagino que existem inúmeros crentes que raramente sentem o aguilhão da consciência ou as tristezas do arrependimento. Mas também conheço muitos, muitos crentes (incluindo eu mesmo) que facilmente se sentem infelizes por coisas que não fazem ou fazem-nas menos do que perfeitamente. De fato, estou convencido de que a maioria dos cristãos sérios vivem quase constantemente com um baixo senso de culpa.
Como nos sentimos culpados? Deixe enumerar algumas maneiras.
  • Poderíamos orar mais.
  • Não somos bastante ousados em evangelizar.
  • Gostamos demais de esportes.
  • Assistimos freqüentemente a filmes e à televisão.
  • Nosso tempo devocional é curto e esporádico.
  • Não contribuímos de modo suficiente.
  • Compramos um novo móvel.
  • Não lemos muito para nossos filhos.
  • Nosso filhos comem Cheetos e batatas fritas.
  • Reciclamos pouco.
  • Precisamos perder alguns quilos.
  • Poderíamos usar melhor nosso tempo.
  • Poderíamos viver em um lugar mais difícil ou em uma casa menor.
O que fazemos por trás de todos esses cenários de culpa? Não sentimos aquele tipo de remorso paralisante por causa dessas coisas. Mas essas imperfeições podem ter um efeito cumulativo pelo qual até o crente maduro pode sentir-se como alguém que está desapontado a Deus e, talvez, um mero cristão.
Eis a parte delicada: às vezes devemos nos sentir culpados, porque às vezes somos culpados de pecado. Além disso, a complacência na vida cristã é um perigo real, especialmente na América.
Mas, apesar disso, não creio que Deus nos redimiu pelo sangue de seu Filho para que nos sintamos como fracassos permanentes. Depois do Pentecostes, Pedro e João pareciam torturados por temor introspectivo e repugnante de si mesmos? Paulo se mostrou constantemente preocupado com o fato de que poderia fazer mais? Admiravelmente, Paulo disse em certo momento: "De nada me argúi a consciência" (1 Co 4.4). E acrescentou logo: "Nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor". Parece que Paulo dormia toda noite com uma consciência limpa. Então, por que tantos crentes se sentem culpados o tempo todo?
1. Não recebemos completamente as boas-novas do evangelho.Esquecemos que fomos vivificados com Cristo. Fomos ressuscitados com ele. Fomos salvos somente pela fé. E isso é um dom de Deus, e não um resultado de obras (Ef 2.4-8). Podemos ficar com tanto medo do antinomianismo – um perigo legítimo –, que receamos falar profusamente sobre a graça de Deus. Mas, se nunca fomos acusados de ser antinomianos, talvez o evangelho não nos foi apresentado em toda a sua glória extraordinária (Rm 6.1).
2. Os cristãos tendem a motivar os outros por culpa e não por graça. Em vez de instarmos nossos irmãos a serem o que realmente são em Cristo, nós os ordenamos a fazerem mais para Cristo (quanto à motivação correta, ver Rm 6.5-14). Por isso, vemos a semelhança com Cristo como algo em que estamos realmente fracassando, quando deveríamos vê-la como algo que já possuímos e no qual precisamos crescer.
3. A maior parte de nosso baixo nível de culpa se enquadra na ambígua categoria de "não fiz o suficiente". Examine a lista que apresentamos. Nenhum dos itens é necessariamente pecaminoso. Dizem respeito a possíveis infrações, percepções e maneiras como gostaríamos de fazer mais. Essas são as áreas mais difíceis de lidarmos porque, por exemplo, nenhum crente jamais confessará que tem orado de modo suficiente. Assim, é sempre fácil nos sentirmos horríveis quanto à oração (ou à evangelização, ou a contribuir, ou a qualquer outra disciplina cristã). Precisamos ter cuidado para não insistirmos em algum padrão de prática quando a Bíblia insiste apenas em um princípio geral.
Quero dar um exemplo. Todo crente tem de contribuir generosamente, para as necessidades dos santos (2 Co 9.6-11; Rm 12.13). Podemos insistir nisso com absoluta certeza. Mas, como é essa generosidade, quanto devemos dar, quanto devemos reter – essas coisas não estão delimitadas por alguma fórmula, nem podem ser exigidas por compulsão (2 Co 9.7). Portanto, se queremos que as pessoas sejam mais generosas, faremos bem se seguirmos o exemplo de Paulo em 2 Coríntios e enfatizarmos as bênçãos da generosidade e a sua motivação alicerçada no evangelho, em vez de envergonharmos os outros que não contribuem muito.
4. Quando somos verdadeiramente culpados de pecado, é imperativo que nos arrependamos e recebamos misericórdia de Deus. Paulo tinha uma consciência limpa não porque nunca pecava, e sim porque, eu imagino, buscava imediatamente o Senhor, quando sabia que havia errado, e descansava no "nenhuma condenação" do evangelho (Rm 8.1). Se confessarmos os nossos pecados, disse João, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça (1 Jo 1.9). Deus não nos salvou para nos sentirmos miseráveis o tempo todo. Ele nos salvou para que vivamos na alegria de nossa salvação. Portanto, quando pecamos – e todos pecamos (1 Rs 8.46; 1 Jo 1.8) –,confessamos o pecado, somos purificados e prosseguimos.
Isso enfatiza um dos grandes perigos da culpa constante: aprendemos a ignorar nossa consciência. Se pecamos verdadeiramente, precisamos arrepender-nos e rogar ao Senhor que nos ajude a mudar. Mas, se não estamos pecando, se não somos tão maduros como deveríamos ser, nem tão disciplinados como outros crentes, nem estamos fazendo escolhas diferentes que talvez sejam aceitáveis, mas não extraordinárias, não nos devemos sentir culpados. Devemos nos sentir desafiados, estimulados, inspirados, mas não culpados.
Como pastor, isso significa que não espero que todos em minha igreja sintam-se apavorados a respeito de tudo que prego. Afinal de contas, é justo que todos obedeçamos aos mandamentos de Deus. Não perfeitamente, não sem alguns motivos incertos, nem tão plenamente como deveríamos, mas com fidelidade e obediência que agrada a Deus. A pregação fiel não exige que os cristãos sinceros sintam-se miseráveis o tempo todo. De fato, a melhor pregação deve fazer que os cristãos sinceros vejam mais de Cristo e experimentem mais de sua graça.

FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=351

sexta-feira, 24 de junho de 2011

HERESIAS: pelagismo


Imagem cedida por: http://pelasescrituras.blogspot.com/2010/11/pelagio-e-o-livre-arbitrio.html


Pelágio foi um monge de origem bretã (Ilhas Britânicas, c. 350-54 - Palestina c. 425), de que pouco se sabe, mas deixou um legado doutrinário à Igreja que desde logo incendiou ânimos e causou controvérsias, nunca mais tendo desaparecido do seio da mesma. Pelágio foi para Roma, cerca de 400 D.C, tendo aí iniciado a escrita da sua primeira obra teológica (um comentário às 13 epístolas de S. Paulo, a par de uma exortação a uma jovem patrícia romana chamada Demétria), sendo ele nesta matéria um autodidata. O seu poder de persuasão logo se manifestou, atraindo um grupo de intelectuais que em torno de si passaram a gravitar, entre os quais Celéstio, monge e jurista, autor de um trabalho sobre o pecado original (Contra traducem Peccati). A obra de Celéstio anuncia já a propagação da doutrina pelagiana e a existência de um movimento teológico. 



Com efeito, Pelágio considerava o homem capaz de levar uma vida sem pecado graças à força moral a ele dada por Deus, apesar do estado de corrupção e impureza conferido pelo pecado original de Adão e Eva. Como dizia S. Agostinho, um dos teólogos com quem o monge bretão teve acesa diatribe, toda a humanidade estava agrilhoada ao pecado original e impossibilitada de não pecar. Pelágio dizia que a queda, a falha, de Adão apenas afetara... Adão! Logo se Deus quer que as pessoas vivam vidas moralmente perfeitas, não deixará também, referia Pelágio, de as dotar de capacidade, autossuficiência a nível moral para que possam atingir tal perfeição. A graça divina, tão cara aos teólogos agostinianos, era assim prescindível para a salvação do indivíduo, tal como o batismo, apenas necessário como meio de remissão dos pecados dos adultos. Neste sentido, Pelágio criticava também o exercício do sacramento do batismo a crianças em tenra idade, fora da "idade da razão", incapazes ainda de pecar. O batismo perdia assim o seu significado, enquanto forma de purificar o homem de um pecado que, defendia Pelágio, apenas caíra sobre Adão e Eva.



Os seguidores de Pelágio e da sua doutrina facilmente chocaram com a ortodoxia da Igreja Romana e com a sensibilidade teológica da época, largamente estribada em S. Agostinho. A polémica entre S. Agostinho e os Pelagianos foi um dos mais apaixonantes debates da Patrística do século V, levando muitos pensadores a caírem facilmente em posições heterodoxas ou extremas no que toca à teoria da graça divina e do livre arbítrio. Celéstio e Juliano de Eclano foram os que mais radicalizaram a doutrina e a herança de Pelágio, reforçando ainda mais a tendência herética do movimento aos olhos da Igreja. Na essência, os sucessores de Pelágio mitigaram ao máximo os efeitos nocivos do pecado original para a humanidade, pois consideravam que a vontade humana é perfeitamente livre, dependendo apenas de si para evitar o pecado, acentuando assim a separação entre o livre arbítrio e a graça. Acreditavam assim que a infinita justiça e bondade de Deus não impunham nada que fosse para além das capacidades humanas, não ajudando a uns mais que a outros. Fazer boas obras segundo o exemplo de Jesus era a chave da Salvação para o Pelagianismo. 


Este movimento teológico conheceu a condenação em 417, em plena controvérsia pelagianista (415-418). De facto, perante Pelágio, deu-se a negação das teses pelagianistas por parte do papa Inocêncio I (seguido mais tarde por Zózimo), ex cathedra, impondo o fim do movimento, o que não chegou a acontecer. A partir daí, o pano do silêncio da História caiu sobre Pelágio, mas não sobre o Pelagianismo, que agitaria a teologia cristã até princípios do século VI. Até 431, o Pelagianismo lutou para fazer vingar as suas teses, principalmente contra S. Agostinho de Hipona, mas o concílio de Éfeso, reunido naquele ano, cerceou-lhe a difusão e afastou-o da Grécia, onde estava a ganhar força, além de lhe ter reduzido a sua força teológica. Com o papa Gelásio I (492-496), perdeu o fulgor que conseguira ter, principalmente no Norte de África e na Palestina, não tendo deixado os escritos pelagianos de ser exumados das bibliotecas antigas e servido doutrinalmente, como se viu, para heresias a ulteriori.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Motivo para Santidade - John White

Imagem cedida por: http://juventudequeadora.com.br/2010/09/12/juventude-alegria-e-santidade/

“A santidade é algo útil. Se você for santificado, o povo será atraído às suas reuniões, e conseguirá melhores resultados. Deus não pode usar um ‘vaso impuro’. Portanto, deixe que Ele examine e purifique sua vida. Você colherá como benefícios a paz de coração e maior sucesso no trabalho de Cristo. Talvez você possa até começar um avivamento...”

Provavelmente ninguém lhe fez declarações como estas, assim tão abruptamente, porém muitos costumam fazê-las de maneira indireta. Em alguns aspectos, este argumento nos lembra a afirmação de Dale Carnegie: “Aprenda a ser bondoso. Isto é algo útil. Você ganhará amigos, influenciará as pessoas e obterá sucesso na vida!”

No entanto, o erro deste argumento está em seu apelo a motivos egoístas, sendo exatamente neste aspecto que ele e as palavras de Dale Carnegie são muito semelhantes à atitude moderna para com a santidade de vida.
Alguns nos dizem: “Seja santo e você será mais útil”. Mas Deus nos aconselha apenas: “Seja santo, porque Eu sou santo”. Pureza de coração não é a moeda com a qual negociamos com Ele, em troca de bênçãos.

Infelizmente, muitos de nós pensamos ou agimos como se isto fosse verdade. Alguns de nós, conservando-nos corajosamente ao lado da brilhante multidão cristã, perdemos secretamente toda esperança de ser usados por Deus. Lutamos arduamente contra o pecado, a fim de viver uma vida cristã mais eficiente. Vivendo em uma era de pragmáticos e rodeados por livros que versam principalmente sobre o assunto de como viver a vida cristã, fomos ensinados a adorar os resultados mais do que o Doador dos resultados. Procuramos a pureza como um meio para alcançar um fim, e não como um fim em si mesmo.

Isto, por sua vez, nos fez crescer no legalismo, como se estivéssemos sendo caçados por motivos condenadores. Temos barateado a santidade (vendo-a como algo que podemos usar e não como um atributo de Deus) e, assim, perdemos a alegria e a maravilha de recebê-la gratuita e livremente, em Cristo.

Se a santidade se torna uma moeda para negociarmos com Deus, o respeito próprio exige que, em certo sentido, obtenhamos essa moeda. Você não pode negociar com Deus para obter aquilo que lhe foi dado gratuitamente. Mas, inconscientemente (quer seja por esforço pessoal, quer seja por um “se Deus quiser”), você procura estabelecer crédito com Deus. E, quanto mais você se esforça, mais a verdadeira santidade foge de você. Em sua luta inútil, tanto pela santidade como pelo “sucesso” cristão, tragicamente você não consegue nada, vendo-se sobrecarregado com sentimentos de culpa e derrota.

A situação se torna mais complexa quando você pergunta a si mesmo o que significa ser “usado”. Significa que seus livros serão bem vendidos? Que seu movimento cristão ou que o rol de membros de sua igreja aumentará? Que as pessoas dirão o quanto foram edificadas e abençoadas por suas mensagens? Que sua agenda estará cheia de compromissos? Até pessoas incrédulas poderiam reivindicar tudo isso e muito mais. Aquilo ao que por vezes nos referimos como “o selo da benção divina” pode não ser nada mais do que um tributo às técnicas de marketing ou às nossas próprias capacidades.

Não é totalmente correto dizer que você será “abençoado” ou “usado” de conformidade com o grau de sua santidade. Considere Jacó, por exemplo. Deus havia decretado que Jacó seria abençoado. Ele ganharia ascendência sobre Esaú e lavaria adiante a linhagem escolhida. O fato de Jacó haver mentido e enganado, para “ganhar” as promessas, não o fez perdê-las, visto que Deus, já havia determinado que ele as possuiria. Jacó não herdou as promessas por ser mais merecedor. Seu pecado não interrompeu o plano divino, assim como a sua obediência não serviu de um auxílio para este plano. O que Jacó perdeu foi a comunhão pessoal com Deus, além de sofrer, desnecessariamente, ansiedade e tensão por muitos anos de sua vida.

Outro dia, alguém me disse: “Você não pode estar certo a respeito de Fulano! Se Deus o está usando para ganhar almas, ele não pode estar vivendo em pecado”. Entretanto, aquela pessoa estava enganada. Não quero apresentar ilustrações extraídas da vida moderna, pois corremos o risco de fazer com que sujeiras se espalhem. Todavia, a verdade é que pecadores podem ser ganhos para Cristo — às vezes, em grande número — por um homem que mais tarde é descoberto como alguém que estava “vivendo em pecado” ou sonegando impostos. (A maior parte dos obreiros cristãos pode testemunhar isso.)

Estas afirmações nos perturbam. Nossa tendência é pensar que tal homem nunca foi usado de maneira alguma e que todo o seu trabalho foi uma ilusão. No entanto, não podemos resolver este assunto assim tão facilmente. Parece que um trabalho espiritual genuíno foi realizado. Podemos apenas dizer (sentindo-nos insatisfeitos com isso): “Bem, Deus é soberano!”

Parte de nossa dificuldade surge de uma atitude errônea quanto ao assunto de ser “usado” por Deus. Raramente não sentimos em nosso íntimo certa lisonja, quando Deus nos usa. Ser “abençoado” e “usado” é uma espécie de recompensa. Traz consigo apreciação e distinção, embora, naturalmente, tenhamos de permanecer “humildes”. Visto que nosso mundo está repleto de pessoas famosas e celebridades, cria- mos também um mundo cristão repleto de celebridades evangélicas, que ganharam esse lugar entre nós por causa de uma dedicação mais profunda ou porque “andaram mais perto de Deus”. Portanto, em nossa lógica achamos que, se um homem não “merece” ser usado, é injusto que ele seja distinguido por Deus. Vemos tudo do ponto de vista de nossa cultura cristã de celebridades, e não do ponto de vista da glória e do plano de Deus.

No entanto, existe uma objeção ainda mais profunda. Será que Deus não está comprometendo sua própria santidade, quando “usa” e “abençoa” uma pessoa pecaminosa? De modo nenhum! A atitude divina para com o pecado permanece implacavelmente hostil. Deus odiava o pecado de Jacó, mas continuou a lidar com ele, até fazendo-o prosperar. Ele odeia o pecado, embora, em sua graça, possa abençoar o pecador e, para sua glória, continuar usando-o.

É neste ponto que se encontra o verdadeiro perigo desta crença errônea. Você pode imaginar que Deus o está usando e permanecer tranqüilo, pensando que em sua vida não existe nada “elevado” que Deus rejeita. Esta é uma hipótese ilógica. Em certa ocasião, um jovem missionário testemunhou da grande bênção espiritual que outro missionário havia sido para ele. Dois meses mais tarde, o missionário que era uma “grande bênção” foi descoberto como alguém que tinha roubado sistematicamente os re- cursos financeiros da missão, durante vários meses. Talvez você não esteja roubando ou cometendo adultério. Mas, quão éticas são as suas relações com os outros? Você pode imaginar que a comparação é irrealista. Se você roubou, sua própria consciência lhe fará passar por um tempo difícil. Provavelmente isso já está acontecendo. O fato admirável sobre o missionário que era uma “grande bênção” é que ele se mostrou incapaz de ver seu próprio erro. Não sei o que se passava no íntimo dele. No entanto, ele conseguiu justificar-se a seus próprios olhos. Talvez você não seria tão bem-sucedido como ele em justificar-se, se tivesse de roubar. Mas é provável que você esteja fazendo um “bom serviço”, mesmo encobrindo outro erro moral. Deus o está usando, portanto...

Por outro lado, você pode estar se sentindo infeliz, porque Deus não o está usando mais, e se atormentando, até descobrir uma mancha escondida. E, depois da descoberta, ficará desconcertado, quando não for grandemente “usado”. Sua utilidade é um termômetro falível de sua condição espiritual.

Não me compreenda mal. Ao invés de afirmar que o pecado não tem importância, estou dizendo que ele é mais importante do que procuramos admitir. O pecado não é simplesmente algo que impede o homem de progredir em sua “carreira cristã”; é uma ofensa contra Deus, um insulto ao seu nome. O pecado faz com que os anjos chorem e os demônios exultem. Tampouco é verdade dizer que o pecado não tem qualquer efeito em sua vida cristã. Você ainda pode ser usado, embora também exista a tendência de que não o seja. Você não terá comunhão com Deus, nem será “vitorioso”. Você não pode brincar com o pecado e, ao mesmo tempo, vencê-lo, ainda que às vezes seja esperto e camufle a derrota.

“Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar?”
A tragédia é que desenvolvemos um senso distorcido de valores, de modo que, em nosso coração, estamos mais preocupados em ser “usado” ou “ter um testemunho eficiente” do que em ser santificado e ter comunhão com Deus.

Muitos de nós se importam mais em ter uma vida cristã bem-sucedida do que em subir ao monte do Senhor. Embora odiemos admitir tal coisa, pensamos realmente que a comunhão com Deus é valiosa para nos tornar “mais eficazes” em nosso trabalho cristão. Não procuramos a comunhão com Ele porque O amamos, e sim porque desejamos ser vasos mais eficazes.

No entanto, em nosso íntimo continuamos insatisfeitos. Nosso coração se recusa a ser enganado. Algo não está de acordo com o serviço cristão, para o qual fizemos tão grande depósito. Constatamos que somos usados para mostrar o Salvador a alguma pessoa, mas esta experiência parece superficial. Já não desfrutamos daquela felicidade intensa que nos fazia dizer: “Não há alegria maior do que levar alguém ao Senhor”. Embora naquela época não o compreendêssemos, tal felicidade surgiu, em parte, como resultado da intimidade com o Senhor, que era tudo para nós, e, em parte, como resultado de nossa empenho em levar alguém diante do Senhor. O que nos falta é esta intimidade com Ele, ou seja, a verdadeira santidade. Perdemos a Deus no meio do serviço cristão.

Ele ainda está perto de nós, se O quisermos. Não desfrutamos dEle, porque não O procuramos e porque O procuramos apenas como um suplemento para nosso serviço cristão. Nós encontraremos a Ele e a verdadeira santidade, quando O buscarmos de todo o nosso coração.

Enquanto isso, tenhamos cuidado para que, em nossa preocupação com “eficiência”, não vendamos nosso direito de primogenitura por um “prato de lentilhas” (Gn 25.31-34).
FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=134

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Como Evitar Desequilíbrios Religiosos- Arthur W. Pink

Imagem cedida por: http://www.gruposdevida.com.br/drupal/desequilibrio-religioso


Os nossos esforços para sermos corretos nos podem conduzir ao erro.
A operação do Espírito, no coração humano, não é inconsciente nem automática. A vontade e a inteligência humana devem ceder e cooperar com as benignas intenções de Deus. Penso que é neste ponto que muitos de nós se perdem. Ou tentamos nos tornar santos, e, então, falhamos miseravelmente; ou, então, procuramos atingir um estado de passividade espiritual, esperando que Deus aperfeiçoe nossa natureza, em santidade, como alguém que se assentasse esperando que um ovo de pintarroxo chocasse sozinho. Trabalhamos febrilmente, para conseguir o impossível, ou não trabalhamos de forma alguma. O Novo Testamento nada conhece da operação do Espírito em nós, à parte de nossa própria resposta moral favorável. Vigilância, oração, autodisciplina e aquiescência inteligente aos propósitos de Deus são indispensáveis para qualquer progresso real na santidade. Existem certas áreas de nossas vidas em que os nossos esforços para sermos corretos nos podem conduzir ao erro, a um erro tão grande que leva à própria deformação espiritual. Por exemplo:


1. Quando, em nossa determinação de nos tornarmos ousados, nos tornamos atrevidos. Coragem e mansidão são qualidades compatíveis; ambas eram encontradas em perfeitas proporções em Cristo, e ambas brilharam esplendidamente na confrontação com os seus adversários. Pedro, diante do sinédrio, e Paulo, diante do rei Ágripa, demonstraram ambas essas qualidades, ainda que noutra ocasião, quando a ousadia de Paulo temporariamente perdeu o seu amor e se tornou carnal, ele houvesse dito ao sumo sacerdote: “Deus há de ferir-te, parede branqueada”. No entanto, deve-se dar um crédito ao apóstolo, quando, ao perceber o que havia feito, desculpou-se imediatamente (At 23.1-5).


2) Quando, em nosso desejo de sermos francos, tornamo-nos rudes.Candura sem aspereza sempre se encontrou no homem Cristo Jesus. O crente que se vangloria de sempre chamar de ferro o que é de ferro, acabará chamando tudo pelo nome de ferro. Até o fogoso Pedro aprendeu que o amor não deixa escapar da boca tudo quanto sabe (1 Pe 4.8).


3) Quando, em nossos esforços para sermos vigilantes, ficamos a suspeitar de todos. Posto que há muitos adversários, somos tentados a ver inimigos onde nenhum deles existe. Por causa do conflito com o erro, tendemos a desenvolver um espírito de hostilidade para com todos quantos discordam de nós em qualquer coisa. Satanás pouco se importa se seguimos uma doutrina falsa ou se meramente nos tornamos amargos. Pois em ambos os casos ele sai vencedor.


4) Quando tentamos ser sérios e nos tornamos sombrios. Os santos sempre foram pessoas sérias, mas a melancolia é um defeito de caráter e jamais deveria ser mesclada com a piedade. A melancolia religiosa pode indicar a presença de incredulidade ou pecado, e, se deixarmos que tal melancolia prossiga por muito tempo, pode conduzir a graves perturbações mentais. A alegria é a grande terapia da mente. “Alegrai-vos sempre no Senhor” ( Fp 4.4).


5) Quando tencionamos ser conscienciosos e nos tornamos escrupulosos em demasia. Se o diabo não puder destruir a consciência, seus esforços se concentrarão na tentativa de enfermá-la. Conheço crentes que vivem em um estado de angústia permanente, temendo que venham a desagradar a Deus. Seu mundo de atos permitidos se torna mais e mais estreito, até que finalmente temem atirar-se nas atividades comuns da vida. E ainda acreditam que essa auto-tortura é uma prova de piedade.
Enquanto os filósofos religiosos buscam corrigir essa assimetria (que é comum à toda raça humana), pregando o “meio-termo áureo”, o cristianismo oferece um remédio muito mais eficaz. O cristianismo, estando de pleno acordo com todos os fatos da existência, leva em consideração este desequilíbrio moral da vida humana, e o medicamento que oferece não é uma nova filosofia, e sim uma nova vida. O ideal aspirado pelo crente não consiste em andar pelo caminho perfeito, mas em ser conformado à imagem de Cristo.

Pecado - D. M. Lloyd Jones

Imagem cedida por: http://ministrosdaalegria.wordpress.com/2009/12/22/fugindo-do-pecado/

Ninguém jamais terá uma concepção verdadeira do ensino bíblico sobre a redenção, se não possuir clareza de entendimento sobre a doutrina bíblica do pecado. E essa é a razão por que muitas pessoas, em nossos dias, são inseguras e vagas em suas idéias a respeito da redenção. A idéia mais comum é a de que o Senhor Jesus é um tipo de amigo ao qual todos podem recorrer em dificuldades, como se isso fosse tudo a respeito dEle. O Senhor Jesus é esse tipo de amigo — e temos de agradecer a Deus! Mas isso não é redenção em todo o seu escopo, em sua inteireza ou em sua essência. Você não pode começar a avaliar a redenção, até que compreenda o que a Bíblia nos ensina a respeito da condição do homem no pecado e de todos os efeitos do pecado no homem. Permita-me dizê-lo com outras palavras: você não pode entender a doutrina da encarnação de Cristo, a menos que entenda a doutrina do pecado. 


A Bíblia nos ensina que o homem estava em uma condição tão deplorável, que exigia a vinda, dos céus à terra, da Segunda Pessoa da bendita e santíssima Trindade. Ele teve de humilhar-se e assumir a natureza humana, nascendo como um bebê. Isso era absolutamente essencial, para que o homem fosse redimido. Por quê? Por causa do pecado e da sua natureza. Por conseguinte, você não pode entender a encarnação de Jesus, a menos que tenha um entendimento claro sobre o pecado. De maneira semelhante, considere a cruz no monte Calvário. 


O que ela significa? O que a cruz nos diz? O que aconteceu lá? Digo novamente que você não pode entender a morte de nosso Senhor e o que Ele fez na cruz, se não possui um entendimento claro sobre a doutrina do pecado. A completa imprecisão das idéias de muitas pessoas a respeito da morte de nosso Salvador se deve completamente a este fato: e elas não gostam da doutrina da substituição, não gostam da doutrina do sofrimento penal. Isso acontece porque nunca compreenderam o problema e não vêem o homem como um criatura caída no pecado. Estas são as doutrinas fundamentais da fé cristã; não se pode entender a redenção, exceto à luz da terrível condição do homem no pecado.
FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=120

Mortificando o pecado pelo Espírito Santo - David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981)



Imagem cedida: http://teologia-vida.blogspot.com/2009/07/dm-lloyd-jones-e-o-livre-arbitrio.html


“Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis” (Romanos 8.12-13).

A santificação é um processo em que o próprio homem desempenha uma parte. Nessa parte, o homem é chamado a fazer algo “pelo Espírito”, que está nele. Consideraremos agora o que exatamente o homem tem de fazer. A exortação é esta: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo”. O crente é chamado a mortificar os feitos do corpo.

Temos, primeiramente, de abordar a palavra corpo, que se refere ao nosso corpo físico, nossa estrutura física, conforme vemos também no versículo 10. A palavra não significa “carne”. Até o grande Dr. John Owen se enganou neste ponto e trata a palavra como uma alusão à “carne” e não ao “corpo”. Mas o apóstolo, que antes falara tanto a respeito de “carne”, agora fala sobre o “corpo”. Ele fez isso no versículos 10 e 11, assim como o fizera no versículo 12 do capítulo 6. Paulo se referia a este corpo físico em que o pecado ainda permanece e que um dia será ressuscitado em “incorruptibilidade” e glorificado, para tornar-se semelhante ao corpo glorificado de nosso bendito Senhor e Salvador.

Enfatizo novamente que temos de ser claros neste assunto, porque está sujeito a ser mal entendido. O ensino não é que o corpo humano ou a matéria são inerentemente pecaminosos. Já houve heréticos que ensinaram esse erro conhecido como dualismo. Ao contrário disso, o Novo Testamento ensina que o homem foi criado bom tanto em corpo, alma e espírito. Não ensina que a matéria é sempre má e que, por essa razão, o corpo é sempre mau. Houve um tempo em que o corpo era... totalmente livre do pecado. Mas, quando o homem caiu e pecou, todo o seu ser caiu, e ele se tornou pecaminoso no corpo, mente e espírito.

Temos visto que pelo novo nascimento o espírito do homem é liberto. Ele recebe vida nova — “O espírito é vida, por causa da justiça” (Rm 8.10). Mas o corpo ainda “está morto por causa do pecado”. Esse é o ensino do Novo Testamento! Em outras palavras, embora o crente seja regenerado, ainda permanece em um corpo mortal. Por isso enfrentamos problemas para viver a vida cristã, visto que temos de lutar contra o pecado enquanto estivermos neste mundo, pois o corpo é fonte e instrumento de pecado e corrupção. Nossos corpos ainda não foram redimidos. Eles o serão, mas agora o pecado ainda permanece neles.

Conforme vimos, o apóstolo deixa isso bem claro. Em 1 Coríntios 9.27, ele disse: “Esmurro o meu corpo” (1 Coríntios 9.27), porque o corpo nos impele a obras más. Isso não significa que os instintos do corpo são em si mesmos pecaminosos. Os instintos são naturais e normais, não sendo, inerentemente, pecaminosos. Mas o pecado que permanece em nós está sempre tentando levar os instintos naturais a direções erradas. O pecado tenta levá-los a “afeições imoderadas”, a exagerá-los; tenta fazer-nos comer demais, satisfazer em excesso todos os nossos instintos, de modo que se tornem “imoderados”. Vendo esse assunto de outro ângulo, esse princípio pecaminoso tenta impedir-nos de dar atenção ao processo de disciplina e autocontrole ao qual somos constantemente chamados nas páginas das Escrituras. O pecado remanescente no corpo tende a agir dessa maneira. Por isso, o apóstolo fala sobre os “feitos do corpo”. O pecado tenta tornar o natural e normal em algo pecaminoso e mau.

O termo “mortificar” explica-se a si mesmo. “Mortificar” significa matar, trazer à morte... logo, a exortação diz que temos de matar, por um fim nos “feitos do corpo”. De uma perspectiva prática, esta é a grande exortação do Novo Testamento em conexão com a santificação e se dirige a todos os crentes.

Como devemos fazer isso?... O apóstolo esclarece: “Se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo” — pelo Espírito! É claro que o Espírito é mencionado particularmente porque a sua presença e sua obra são características peculiares do verdadeiro cristianismo. Isto é o que diferencia o cristianismo da moralidade, do “legalismo” e do falso puritanismo — “pelo Espírito”. O Espírito Santo, conforme já vimos, está em nós crentes. Você não pode ser um crente sem o Espírito Santo. Se você é um crente, o Espírito Santo de Deus está em você, agindo em você. Ele nos capacita, nos dá forças e poder. Ele nos traz a grande salvação que o Senhor Jesus Cristo realizou, capacitando-nos a desenvolvê-la. Portanto, o crente nunca deve se queixar de falta de capacidade e poder. Se o crente diz: “Eu não posso fazer isso”, está negando as Escrituras. Aquele que é habitado pelo Espírito Santo nunca deve proferir tais palavras; fazê-lo significa negar a verdade a respeito dele mesmo.

Conforme disse o apóstolo João, o crente é alguém que pode dizer: “Temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.16). No capítulo 15 de seu evangelho, João descreve os cristãos como ramos da Videira Verdadeira. Por isso, nunca devemos afirmar que não temos poder. Certamente, o Diabo está ativo no mundo e tem grande poder; contudo, “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). Ou considere novamente aquela importante declaração feita em 1 João 5.18-19: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado”. A expressão “não vive em pecado” expressa uma ação contínua no presente, e o sentido é este: “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando”. Por que não? Porque “Aquele que nasceu de Deus” — ou seja, o Senhor Jesus Cristo — “o guarda, e o Maligno não lhe toca”.

João afirmou que isso é verdade em relação a todos os crentes. O crente não vive no pecado porque Cristo está vivendo nele, e o Maligno não pode tocar-lhe. Isso significa não somente que o Maligno não exerce controle sobre o crente, mas também que o Maligno não pode nem mesmo tocar-lhe. O crente não está sobre o poder do Maligno. E, para incutir isso no crente, João afirmou em seguida: “Sabemos que somos de Deus”; e quanto ao mundo: “O mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19). O mundo está nos braços e domínio do Maligno, que o controla... O Diabo tem completamente em suas mãos e controle o mundo e os homens que pertencem ao mundo, os quais são suas vítimas indefesas. Não há sentido em dizer a tais pessoas que mortifiquem “os feitos do corpo”; elas não podem fazer isso, porque estão sob o poder do Diabo. Mas a situação do crente é outra; ele pertence a Deus e o Maligno não lhe pode tocar. O Diabo pode rugir para o crente e amedrontá-lo ocasionalmente, mas não pode tocar-lhe e, muito menos, controlá-lo.

Essas são afirmações típicas que o Novo Testamento faz a respeito do crente. E, quando compreendemos que o Espírito está em nós, experimentamos o seu poder. Somos chamados a usar e exercitar o poder que está em nós pela habitação do Espírito Santo. “Assim, pois, irmãos, somos devedores, não à carne como se constrangidos a viver segundo a carne. Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito” — que habita em vós —, “mortificardes os feitos do corpo, certamente, vivereis.” A exortação diz que devemos exercitaro poder que está em nós “pelo Espírito”. O Espírito é poder e está habitando em nós. Por isso, somos instados a exercer o poder que está em nós.

Mas, como isso se realiza na prática?... Para começar, temos de entender nossa posição espiritual, pois muitos de nossos problemas se devem ao fato de que não compreendemos e não recordamos quem e o que somos como crentes. Muitos se queixam de que não têm poder e de que não sabem fazer isto ou aquilo. O que precisamos dizer-lhes não é que eles são absolutamente incapazes e que devem desistir. Pelo contrário, todos os crentes precisam ouvir estas palavras de 2 Pedro 1.2-4: “Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade”. Tudo que “conduz à vida e piedade” nos foi dado por meio do “conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”. E, outra vez: “Pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas [por meio dessas mui grandes e preciosas promessas] vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo”.

Apesar disso, há crentes que lamentam e se queixam de não terem forças. A respostas para esses crentes é esta: “Todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade lhes foram dadas. Parem de lamentar, murmurar e queixar-se. Levantem-se e usem o que está em vocês. Se vocês são crentes, o poder está em vocês pelo Espírito Santo. Você não estão desamparados”. Todavia, o apóstolo Pedro não parou ali. Ele disse também: “Aquele a quem estas coisas não estão presentes” — em outras palavras, o homem que não faz as coisas sobre as quais foi exortado — “é cego, vendo só o que está perto” (2 Pe 1.9). Ele tem uma visão curta, havendo “esquecido da purificação dos seus pecados de outrora”. Não possui uma visão verdadeira da vida cristã. Está falando e vivendo como se fosse uma pessoa não-regenerada. Ele diz: “Não posso continuar sendo cristão; é demais para mim”. Pedro exorta esse homem a compreender a verdade a respeito de si mesmo. Precisa ser despertado, ter seus olhos abertos e sua memória refrescada. Ele precisa se animar e fazer, em vez de lamentar as suas imperfeições.

Além disso, temos de compreender que, se somos culpado de pecado, entristecemos o Espírito Santo de Deus, que está em nós. Pecamos a todo momento. O fato deveras grave não é o de que pecamos e nos tornamos infelizes, e sim o de que entristecemos o Espírito de Deus que habita em nosso corpo. Quão frequentemente pensamos nisso? Acho que, ao falarem comigo a respeito desse assunto, as pessoas sempre falam sobre si mesmas — “meu erro”. “Estou sempre caindo nesse pecado.” “Este pecado está me desanimando.” Falam completamente a respeito de si mesmas. Não falam sobre o seu relacionamento com o Espírito Santo. E, por essa razão: o homem que compreende que o maior problema de sua vida pecaminosa é o fato de que está entristecendo o Espírito Santo, esse homem para de fazer isso imediatamente. No momento que o crente percebe que esse é o seu verdadeiro problema, ele lida com esse problema. Não se preocupa mais com seus próprios sentimos. Quando o crente compreende que está entristecendo o Espírito Santo de Deus, ele age imediatamente.

Outra consideração importante sobre este tema geral é o fato de que temos sempre de fixar-nos no alvo crucial. Pedro enfatizou isso no mesmo capítulo da sua epístola: “Procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 1.10-11). Se vocês fizerem o que exorto-os a fazer, ele disse, a morte, quando lhes chegar, será algo maravilhoso. Você não somente entrarão no reino de Deus; antes, terão uma entrada ampla. Haverá um desfile triunfante; os portões do céu serão abertos, e haverá grande regozijo. Pedro não estava se referindo à nossa salvação presente, e sim à nossa glorificação final, à nossa entrada nos “tabernáculos eternos” (Lc 16.9).

Portanto, temos de manter os olhos fixos nesse alvo. Nosso maior problema é que sempre estamos olhando para nós mesmos e para o mundo. Se pensarmos mais e mais sobre nós mesmos como peregrinos da eternidade (o que, de fato, somos), todo o nosso viver será transformado. Paulo afirmou isso no versículo 11 deste capítulo. Mantenham seus olhos nisso, eles disse em outras palavras; mantenham seus olhos no alvo. João disse a mesma coisa: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1 Jo 3.2-3). A causa de muitos de nossos problemas, como crentes, é que vivemos demais para este mundo. Persistimos em esquecer que somos apenas “peregrinos e forasteiros” neste mundo. Pertencemos ao céu; nossa pátria está no céu (Fp 3.20), e estamos indo para lá. Se apenas mantivéssemos isso diante de nossa mente, o problema de nossa luta contra o pecado assumiria um aspecto diferente...

Devemos nos mover agora do geral para o específico, relembrando-nos de que tudo é feito “pelo Espírito”, com uma mente iluminada por Ele. O que temos de fazer especificamente? O ensino do apóstolo pode ser considerado sob dois aspectos: direto e negativo, indireto e positivo.

No aspecto direto ou negativo, a primeira coisa que o crente tem de fazer é abster-se do pecado. É bem simples e direto! Pedro disse: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1 Pe 2.11). Esse é um ensino bastante claro. Aqui não há qualquer sugestão de que somos incapazes, temos de desistir da luta e entregar tudo ao Senhor ressuscitado. Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes...” — parem de fazer isso, parem imediatamente, não o façam mais! Vocês precisam se abster totalmente desses pecados, essas “paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”. Vocês não têm o direito de dizer: “Sou fraco, não posso; as tentações são poderosas”.

A resposta do Novo Testamento é: “Parem de fazer isso”. Vocês não precisam de hospital e de um tratamento médico; precisam recompor-se e compreender que são “peregrinos e forasteiros”. “Exorto-vos... a vos absterdes.” Vocês não têm qualquer negócio com essas coisas. Lembrem outra vez o ensino de Efésios 4: “Aquele que furtava não furte mais... Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”. Não haja em vocês nenhuma dessas conversas ou gracejos tolos! Não façam isso! Abstenham-se! É tão simples e claro como estas palavras: parem de fazer isso!

Em segundo lugar, de modo específico, citando outra vez as palavras do apóstolo em Efésios: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as. Porque o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha” (Ef 5.11-12). Observe o que ele disse: “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas”. Vocês não devem apenas abster-se dessas coisas, mas também não ter comunhão com pessoas que fazem essas coisas ou têm esse modo de vida. “Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” O princípio governante de sua deve ser o não associar-se com pessoas desse tipo. Fazer isso é ruim para você e lhe será prejudicial... Não devemos ter qualquer comunhão com o mal; antes, precisamos fugir dele e manter-nos tão distantes quanto pudermos.

Outro termo é “esmurrar” (1 Co 9.27). “Esmurro o meu corpo”, disse o apóstolo. “Todo atleta” — ou seja, aquele que compete nas corridas — em tudo se domina”. As pessoas que passam por treinos visando as grandes competições atléticas são bastante cuidadosas quanto à sua dieta; param de fumar e ingerem bebidas alcoólicas. Quão cuidadosos eles são! E fazem tudo isso porque desejam ganhar o prêmio! Se eles faziam isso, disse Paulo, por causa de coisas corruptíveis, quanto mais devemos disciplinar-nos a nós mesmos... O corpo tem de ser “esmurrado”. Nas palavras de nosso Senhor registradas em Lucas 21.34, há uma sugestão a respeito de como isso deve ser feito. Ele disse: “Acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não venha sobre vós repentinamente”. Não coma bem beba demais; não se preocupe excessivamente com as coisas deste mundo. Coma o suficiente e o alimento correto; mas não se torne culpado de “excesso”. Se uma pessoas satisfaz em demasia seu corpo, com alimento, bebida ou outra coisa, ele achará mais difícil viver uma vida cristã santificada e mortificar os feitos do corpo. Portanto, evite todos esses obstáculos, pois, do contrário, seu corpo se tornará indolente, pesado, moroso e lânguido. Há uma intimidade tão grande entre o corpo, a mente e o espírito, que achará grande problema em seu conflito espiritual. “Esmurre o corpo.”

Outra máxima usada pelo apóstolo, na Epístola aos Romanos, se acha no capítulo 13: “Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (v. 14). Se querem mortificar os feitos do corpo, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”. O que isso significa? Em Salmos 1, achamos um discernimento claro quanto ao significado dessas palavras do apóstolo. Eis a prescrição: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores” (Sl 1.1). Se vocês querem viver esta vida piedosa e mortificar os feitos do corpo, não gastem tempo permanecendo nas esquinas das ruas, porque, se fizerem isso, provavelmente cairão em pecado. Se permanecerem no lugar por onde o pecado talvez passará, não se surpreendam se voltarem para casa em tristeza e infelicidade, porque caíram no pecado. Não se detenham no “caminho dos pecadores”. E, menos ainda, devem vocês assentar-se “na roda dos escarnecedores”. Se permanecerem em tais lugares, não haverá surpresa em caírem no pecado. Se vocês sabem que certas pessoas lhes são má influencia, evitem-nas, fujam delas. Talvez vocês digam: “Eu me ajunto com elas para ajudá-las, mas percebo que, todas as vezes, elas me levam ao pecado”. Se isso é verdade, não estão em condições de ajudá-las...

No livro de Jó, o homem sábio disse: “Fiz aliança com meus olhos” (Jó 31.1). Era como se dissesse: “Olhem diretamente, não olhem para a direita ou para a direita. Cuidem de seus olhos propensos a vaguear, esses olhos que se movem quase automaticamente e veem coisas que iludem e induzem ao pecado”. “Faça uma aliança com os seus olhos”, declara esse homem. Concorde em não olhar para coisas que tendem a levá-lo ao pecado. Se isso era importante naqueles dias, é muito mais importante em nossos dias, quando temos jornais, cinemas, outdoors, televisão e assim por diante! Se há uma época em que os homens precisam fazer aliança com seus olhos, esta época é agora. Tenham cuidado com o que leem. Certos jornais, livros e diários, se os lerem, eles lhes serão prejudiciais. Vocês devem evitar tudo que lhes prejudica e diminui sua resistência. Não olhem na direção dessas coisas; não queira nada com elas... Na Palavra de Deus, vocês são instruídos a mortificar “os feitos do corpo” e não satisfazer “a carne no tocante às suas concupiscências”. Agradeça a Deus pelo evangelho poderoso. Agradeça a Deus pelo evangelho que nos diz que agora somos seres responsáveis em Cristo e que nos exorta a agir de um modo que glorifica o Salvador. Portanto, “nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.

Meu próximo assunto é sobremodo importante: enfrentem as primeiras movimentações e impulsos do pecado em vocês; combatam-nos logo que aparecerem. Se não fizerem isso, estão arruinados. Vocês cairão, conforme somos ensinados na epístola de Tiago: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. O primeira moção do pecado é um encantamento, um leve incitação de cobiça e sedução. Esse é o momento em que temos de lidar com o pecado. Se deixarem de enfrentar o pecado nesse estágio, ele os vencerá. Cortem o mal pela raiz. Ataquem-no de imediato. Nunca lhes permitam qualquer avanço. Não o aceitem de maneia alguma. Talvez sintam-se inclinados a dizer: “Bem, não farei tal coisa”; mas, se aceitam a ideia em sua mente e começam a afagá-la e entretê-la em sua imaginação, vocês já estão derrotados. De acordo com o Senhor, vocês já pecaram. Não precisam realmente cometer o ato; nutri-lo no coração já é o suficiente. Permitir isso no coração significa pecar aos olhos de Deus, que conhece tudo a respeito de nós e vê até o que acontece na imaginação e no coração. Portanto, destruam o mal pela raiz, não tenham qualquer relação com ele, parem-no imediatamente, ao primeiro movimento, antes que comece a acontecer esse processo ímpio descrito por Tiago.

No entanto, lembrem-se de que isto — que será nosso próximo assunto — não significa repressão. Se vocês apenas reprimirem uma tentação ou esse primeiro movimento do pecado, ele provavelmente surgirá novamente com mais vigor. Nesse sentido, concordo com a psicologia moderna. A repressão é sempre má. “Então, o que devo fazer?”, alguém pergunta. Eu respondo: quando sentir aquele primeiro movimento do pecado, erga-se e diga: “Isto é mau; isto é vileza; é aquilo que expulsou do Paraíso os nossos primeiros pais”. Rejeite-o, enfrente-o, denuncie-o, odeie-o pelo que é. Assim, terá lidado realmente com o pecado. Você não deve apenas fazê-lo recuar, com um espírito de temor e de maneira tímida. Traga-o à luz, exponha-o, analise-o e, denuncie-o pelo que ele é, até que o odeie.

Meu último assunto neste tema é que, se você cair no pecado (e quem não cai?), não restaurem a si mesmos de modo superficial e apressado. Leiam 2 Coríntios 7 e considerem o que Paulo disse sobre a “a tristeza segundo Deus” que produz arrependimento. Outra vez, tragam à luz aquilo que fizeram, contemplem-no, analisem-no, exponham-no, denunciem-no, odeiem-no e denunciem a si mesmos. Mas não façam isso de um modo que os atire nas profundezas da depressão e desânimo! Sempre tendemos a ir aos extremos; ou somos muito superficiais ou muito profundos. Não devemos curar superficialmente a ferida (cf. Jr 6.14), mas tampouco devemos lançar-nos no desespero e melancolia, dizendo que tudo está perdido, que não podemos ser crentes, e retornar ao estado de condenação. Isso é igualmente errado. Temos de evitar ambos os extremos. Façam uma avaliação honesta de si mesmos e do que fizeram, condenando totalmente a si mesmos e seu ato; porém compreendam que, confessando-o a Deus, sem qualquer desculpa, “ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Se vocês fizerem essa obra de maneira superficial, cairão novamente no pecado. E, se vocês se lançarem em um abismo de depressão, hão de sentir-se tão desesperados que cairão em mais e mais pecado. Uma atmosfera de melancolia e fracasso leva a mais fracasso. Não caiam em nenhum desses erros, mas respondam à obra da maneira como o Espírito sempre nos instrui a fazê-la.

Extraído de Romans: Na Exposition of Chapter 8:15-17, The Sons of God, p. 132-144, publicado pela Banner of Truth Trust.


Tradução: Pr. Wellington Ferreira
© Editora FIEL 2009.

A Malignidade do Pecado John Flavel

Imagem cedida por: http://www.hailandfire.com/library_audio_Puritan_JohnFlavel.html


Se a morte de Cristo foi aquilo que satisfez a Deus em favor de nossos pecados, existe uma infinita malignidade no pecado, visto que ele não pôde ser expiado de outro modo, senão por meio de uma satisfação infinita. Os tolos zombam do pecado, e existem poucas pessoas no mundo que se mostram verdadeiramente sensíveis a respeito de sua malignidade. No entanto, é certo que, se Deus exigisse de você a penalidade completa, os sofrimentos eternos não seriam capazes de expiar a malignidade que se encontra em um só pensamento pecaminoso. Talvez você pense que é muito severo o fato de que Deus sujeitaria as suas criaturas aos sofrimentos eternos por causa do pecado e nunca mais ficaria satisfeito com elas.

Quando, porém, você considerar bem a verdade de que o Ser contra o qual você peca é o Deus infinitamente bendito e meditar em como Ele agiu em relação aos anjos que caíram, você mudará de idéia. Oh! Que malignidade profunda existe no pecado! Se você deseja entender quão grave e horrível é o pecado, avalie seus próprios pensamentos, quer à luz da infinita santidade e excelência de Deus, que é ofendido pelo pecado; quer à luz dos sofrimentos de Cristo, que morreu para oferecer satisfação pelo pecado. Então, você obterá compreensões profundas a respeito da gravidade do pecado.

Se a morte de Cristo satisfez a Deus e, conseqüentemente, nos redimiu da maldição do pecado, a redenção de nossa alma é caríssima. As almas são preciosas e muito valiosas diante de Deus. “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1 Pe 1.18-19). Somente o sangue de Deus é um equivalente para a redenção de nossa alma. Ouro e prata podem redimir-nos da servidão humana, mas não podem livrar-nos da prisão do inferno. Toda a criação não vale a redenção de uma única alma. As almas são muito preciosas; Aquele que pagou o preço da redenção delas pensou nisso. Mas os pecadores vendem por um valor muito baixo as suas próprias almas. Se a morte de Cristo satisfez a Deus no que diz respeito aos nossos pecados, quão incomparável é o amor de Deus para com pobres pecadores! Se Cristo, por meio de sua morte, consumou uma plena satisfação pelo pecado, Deus pode perdoar com segurança o maior dos pecadores que crer em Jesus.

Câmara de SP discute aprovação do Dia do Orgulho Heterossexual


Data será comemorada sempre no terceiro domingo de dezembro.
Projeto foi apresentado por vereador ligado a igreja evangélica.


Roney DomingosDo G1 SP
Carlos Apolinário (Foto: Roney Domingos/ G1)Carlos Apolinário, que propõe dia do orgulho hétero
(Foto: Roney Domingos/ G1)
Às vésperas da Parada Gay, marcada para domingo (26), a  Câmara Municipal de São Paulo discute nesta quarta-feira  (22) a aprovação, em segunda discussão, do projeto de lei 294/ 2005, do vereador Carlos Apolinário (DEM), ligado a uma igreja evangélica, que institui, no Município de São Paulo, o Dia do Orgulho Heterossexual. A lei determina que a data deverá ser comemorada todo terceiro domingo do mês de dezembro. O PT e o PPS buscam evitar a aprovação do texto, chamado pelo vereador Ítalo Cardoso (PT) de "provocação".
O projeto estabelece que a data passará a constar do calendário oficial do município e afirma que caberá à Prefeitura de São Paulo "conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes", diz o texto. 

Autor do projeto, o vereador Carlos Apolinário afirmou que a decisão de apresentar o projeto não tem vínculo com sua atuação religiosa. "Não mistura igreja. Eu sou o vereador Carlos Apolinário. A Assembleia de Deus é uma coisa particular."

Apolinário nega que a lei seja contra a comunidade LGBT. "Hoje se fazem dezenas de leis favoráveis aos gays. Esse meu projeto é muito mais para fazer uma reflexão. Será que os gays querem direitos ou privilégios?", afirmou. Questionado se busca atender ao seu público, Apolinário deixou claro que defende convicções pessoais. "Eu nasci assim e penso assim. É defeito de fabricação", afirmou. Apolinário disse que a escolha do dia foi aleatória. "Poderia ser qualquer outra", afirmou.
O vereador se queixa de que a Parada LGBT foi mantida na Paulista enquanto a Marcha para Jesus foi deslocada da avenida. "Tiraram Jesus da Paulista e deixaram os gays. Eu acho que está errado. Se não pode a Marcha para Jesus, não pode também a Parada Gay."
FONTE: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2011/06/camara-de-sp-discute-aprovacao-do-dia-do-orgulho-heterossexual.html

terça-feira, 21 de junho de 2011

Apreciando o Caráter do Puritanismo - Mark Johnston

Imagem cedida por: http://henriquepesch.blogspot.com/2011/02/pureza.html


Examinando grande parte dos livros e afirmações a respeito dos puritanos — até pelos evangélicos — percebemos que seus autores tendem a ser criticados pela imprensa. De fato, o título “puritano” foi criado originalmente como um pejorativo, e muitos ainda o vêem assim em nossos dias. Em um sentido, não é difícil identificar erros, falhas e incoerências naqueles que levavam este nome, nos séculos XVI e XVII, bem como naqueles que são os descendentes espirituais deles. No entanto, focalizar-se nisso equivaleria a ignorar as realizações incríveis destes homens em muitos aspectos da vida.

J. I. Packer entendeu o significado e a relevância dos puritanos, ao compará-los com as sequóias do Norte da Califórnia: “Assim como as sequóias são atraentes aos olhos, porque sobrepujam o topo das outras árvores, assim também a santidade e a firmeza dos grandes puritanos resplandecem como um farol, sobrepujando a estatura da maioria dos crentes, em muitas épocas e, especialmente, nesta época de coletivismo urbano angustiante, quando os crentes do Ocidente sentem-se e, às vezes, assemelham-se a formigas em um formigueiro e marionetes em atividade... Nesta situação, o ensino e o exemplo dos puritanos têm muito a dizer-nos”.

Isso nos deixa admirados. Qual era, então, o caráter do puritanismo, que lhe deu tão amplo alcance e importância duradoura? Podemos selecionar cinco das principais características dignas de consideração:
1.A OPINIÃO DELES A RESPEITO DE DEUS
Tudo em que os puritanos criam originava-se de sua opinião a respeito de Deus. (Isso também a verdade no que concerne aos seus precursores na Reforma, tanto na Europa como na Inglaterra.) Isto é ilustrado pelo fato de que o primeiro apelido depreciativo vinculado a esses homens foi “os precisos” ou “os precisionistas”.

Quando um nobre perguntou a Richard Rogers (um ministro em Wetherfield, Essex) o que o tornava tão preciso, ele respondeu: “Senhor, eu sirvo a um Deus preciso”.

Veja o que está errado em muitas igrejas hoje: os crentes aceitam um ponto de vista sobre Deus que tem sido distorcido em nome do cristianismo popular. Nos anos 1950, J. B. Phillips expressou isso em um livrete intitulado Your God is Too Small (Seu Deus é Pequeno Demais). A restauração de saúde e vigor às igrejas está vinculada à necessidade de resgatarmos uma opinião elevada a respeito de Deus.
2.A ESTIMA DAS ESCRITURAS
Essa consideração das Escrituras é expressa com concisão na Pergunta 2, do Breve Catecismo de Westminster: Que norma Deus nos tem dado a respeito de como podemos glorificá-Lo e desfrutar dEle? Resposta: a Palavra de Deus, contida nas Escrituras do Antigo e Novo testamento, é uma norma verdadeira para nos guiar em como podemos glorificá-Lo e desfrutar dEle. Ao fazer esta afirmação e colocá-la em seu catecismo, estes homens estavam apenas reiterando o princípio Sola Scriptura, que estava no âmago da Reforma Protestante, e protegendo a essência tanto do evangelho como da igreja. O problema de nossos dias não é somente que as Escrituras são rivalizadas com muitas outras formas de revelação, mas também que, muito freqüentemente, elas estão subordinadas à razão. Se o espírito do não-conformismo tem de sobreviver, ele não deve prostrarse nem à nova revelação, nem à erudição, mas somente à Palavra de Deus.
3.O ENTENDIMENTO DA SALVAÇÃO
É comum na teologia contemporânea — pelo menos na teologia popular — imaginar a salvação como “o ponto de conversão”. Mas isso significa perder de vista os horizontes mais amplos da salvação. Thomas Manton nos dá um vislumbre do entendimento bem estruturado da doutrina da salvação, um entendimento que era característico de seus colegas puritanos e moldava a opinião deles sobre o evangelho:

“O resumo do evangelho é isto: todos aqueles que, por meio de arrependimento e fé, abandonarem a carne, o mundo e o diabo, entregando-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como seu Criador, Redentor e Santificador, encontrarão a Deus como o Pai que os recebe como filhos reconciliados, que perdoa os seus pecados, por amor a Jesus, e lhes dá graça, por meio de seu Espírito. E, se perseverarem neste caminho, Ele os glorificará no final e lhes outorgará a felicidade eterna”.

Este entendimento amplo da salvação explica o uso que os puritanos faziam do termo “regeneração” e sua riquíssima compreensão do evangelismo. Também explica a disparidade entre as expectativas referentes à conversão em nossos dias e a maneira como elas se cumprem, uma disparidade que resulta de nosso entendimento restrito da salvação.

4. A APRECIAÇÃO DA IGREJA
Se existe um elemento que pode ser identificado como o principal catalizador para o surgimento dos puritanos, esse elemento era a preocupação deles com a reforma da igreja. Eles tinham um conceito elevado da igreja. Isto começou a se tornar evidente no criticismo deles em relação aos decretos religiosos de Elizabeth.

Muitos dos puritanos jovens eram graduados de Cambridge e entraram no ministério da Igreja Anglicana a fim de pressionar por uma reforma permanente que afetaria cada igreja local. O individualismo pós-iluminista que se tornou a característica peculiar da igreja do século XXI nos roubou este conceito dos puritanos, os quais viam a igreja como o corpo glorioso e a noiva radiante de Cristo — a doutrina da igreja é a Cinderela da teologia.
5. A PREOCUPAÇÃO PELO MUNDO COMO UM TODO
O quinto distintivo digno de ser ressaltado a respeito dos puritanos é o ponto de vista deles sobre a vida e a comunidade como uma unidade integrada. Os puritanos criam que Deus havia sancionado a vida solidária na sociedade. Isso se refletiu nos ousados (mas imperfeitos) esforços deles na esfera política, alcançando seu zênite na Revolução Gloriosa e no estabelecimento do Commonwealth.

Embora os puritanos diferissem quanto à natureza do relacionamento entre a Igreja e o Estado, eles sustentavam a convicção de que a igreja tinha um papel, dado por Deus, em referência à vida da comunidade como um todo, um papel que ia além da necessidade de evangelismo.

A reação contra as aberrações do que se tornou conhecido como o Evangelho Social, na primeira metade do século XX, levou, em muitos casos, à negligência de uma responsabilidade social mais ampla, em muitas igrejas não-conformistas. Contudo, parte significativa da herança puritana ainda se mantém preocupada em que a verdade de Deus seja aplicada aos interesses políticos e sociais, capacitando os crentes a agirem como sal e luz em um mundo de trevas e deterioração.

O problema de grande parte do ressurgimento do interesse pelos puritanos, ressurgimento esse que varreu a Inglaterra na metade do século passado, é que ele aceitou apenas a soteriologia puritano-reformada — uma soteriologia que não assimila a grandeza e a integridade do ponto de vista de nossos antepassados espirituais, que consideram o mundo como parte da vida. (Admiravelmente, isto se contrasta com o ressurgimento correspondente que aconteceu nas igrejas dos Estados Unidos.) Se tem de haver um futuro para o não-conformismo, na misericórdia de Deus, precisamos apreciar novamente o caráter deste movimento, desde os seus primeiros dias. 
FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=212

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