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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Não ofereçais vosso corpo ao Pecado - João Calvino (1509-1564)

Imagem cedida por: http://serveja.wordpress.com/tag/propaganda-de-cerveja/

Nem ofereçais ao pecado os membros de vosso corpo.

Rm 6.13
Uma vez que o pecado haja adquirido o domínio de nossa mente, todas as nossas faculdades são imediatamente aplicadas ao seu serviço. O apóstolo, pois, descreve aqui o reinado do pecado através de suas consequências, a fim de enfatizar mais nitidamente que curso devemos seguir, caso desejemos desvencilhar-nos de seu jugo.

Ao referir-se aos nossos membros como instrumentos, o apóstolo está usando uma metáfora militar, como se quisesse dizer que assim como um soldado tem seus braços sempre em prontidão para fazer uso deles sempre que seu general lhe ordene, mas que jamais os usa a não ser que receba ordem de assim o fazer, também os cristãos devem considerar todos os seus membros como armas de guerra espiritual. Se, pois, impedem o uso apropriado de qualquer de seus membros, então se acharão engajados no serviço do pecado.

Todavia, eles fizeram um voto de servir a Deus e a Cristo, e se vêem atados ao mesmo. Acham-se, pois, sob a obrigação de refrear toda a sua conduta nas esferas do pecado. Então, que todos aqueles, cujos membros se acham plenamente dispostos a cometer todo gênero de abominação, como se fossem eles prostitutas de Satanás, considerem aqui com que direito reivindicarão ainda o nome de cristãos.

Ao contrário disto, o apóstolo nos convida a dedicarmo-nos totalmente a Deus, de modo a podermos refrear nossos corações e mentes de vaguearem por onde as luxúrias da carne queiram conduzir-nos. A nossa busca deve ser direcionada unicamente para a vontade de Deus, sendo solícitos em receber seus mandamentos e estando sempre preparados a obedecer às suas ordens. Nossos membros, igualmente, devem ser dedicados e consagrados à sua vontade, de modo que todas as nossas faculdades, tanto da nossa alma como do corpo, aspirem tão-somente a sua glória.

E há razão para tal atitude, ou seja: visto que nossa vida anterior foi destruída, não foi em vão que o Senhor nos criou outra, para que nossas ações estejam em harmonia com ela.
 
FONTE: www.josemarbessa.com

domingo, 16 de outubro de 2011

Quem Acusará os Eleitos de Deus? - João Calvino (1509-1564).

Imagem cedida por: http://blogdoseleitos.blogspot.com/


- Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? (Rm 8.33) -


A primeira e principal consolação dos santos, nas adversidades, é serem eles persuadidos da munificência paternal de Deus. Daqui procede tanto a certeza da salvação quanto a tranqüila segurança da alma, pelas quais as adversidades são suavizadas, ou, pelo menos, a crueza da dor é mitigada. Portanto, dificilmente existe uma exortação à paciência mais apropriada do que quando entendemos que Deus nos é propício. E é por isso que Paulo faz desta confiança o princípio da consolação, por meio do qual os crentes devem ser fortalecidos contra todos os males. Visto que a salvação do homem é assaltada, primeiramente por meio de acusações, e em seguida destruída por meio de condenação, Paulo antes remove o perigo que a acusação traz, pois só existe um Deus perante cujo tribunal devemos nos pôr. Portanto, visto que é ele quem nos justifica, então não há lugar para acusação.



Aparentemente, as cláusulas contrastadas não se acham dispostas com exatidão. As duas partes que Paulo deveria contrastar são: "Quem acusará?" e "é Cristo quem intercede". Ele deveria, pois, ter adicionado as outras duas cláusulas: "Quem nos condenará? E Deus quem justifica." A absolvição divina corresponde a condenação, e à defesa de Cristo corresponde a acusação. Mas Paulo tinha razão para fazer tal transposição, visto que queria armar os filhos de Deus com aquela sólida confiança que é capaz de guardá-los de quaisquer ansiedades e temores. Sua conclusão, pois, de que os filhos de Deus não estão sujeitos a acusações, visto que é Deus quem os justifica, é muito mais enfática do que se dissera que Cristo é o nosso Advogado; pois, ao proceder assim, ele expressa mais claramente que a via de acesso para o julgamento é completamente obstruída quando o juiz pronuncia estar o prisioneiro completamente isento de culpa, diante dos acusadores que exultariam em vê-lo definitivamente condenado.



O mesmo argumento se aplica igualmente à segunda cláusula. Paulo nos mostra que os crentes não mais estão sob o risco de sofrer condenação, visto que Cristo, ao expiar seus pecados, antecipou o julgamento divino; e, através de sua intercessão, não só aboliu a morte, mas também lançou nossos pecados ao olvido, de modo que não mais são levados em conta [contra o crente].



A substância do argumento consiste em que somos não só isentos do terror mediante a disponibilidade de antídotos, ao chegarmos diante do tribunal divino, mas que Deus mesmo vem antecipadamente em nosso socorro, a fim de poder munir-nos com uma confiança muito mais sólida.



Entretanto, é preciso notar aqui o que temos afirmado sempre, ou seja: que, segundo Paulo, ser justificado significa ser considerado justo mediante a absolvição da sentença divina. Não é difícil provar isto na passagem em apreço, na qual Paulo argúi com base em uma só proposição com o fim de anular a proposição oposta. Absolver e acusar são opostos entre si. Portanto, Deus não permitirá qualquer acusação que se levante contra nós, visto que já nos absolveu de toda culpa. O Diabo, certamente, vive a acusar todos os santos [Ap 12.10]; e a lei de Deus, por sua própria natureza, bem como a própria consciência humana, igualmente nos reprovam. Todavia, nenhum destes elementos tem qualquer influência sobre o Juiz que nos justifica. Nenhum adversário, pois, pode abalar, muito menos destruir, nossa salvação.



Paulo igualmente faz referência a eles como eleitos, de maneira tal que remove qualquer dúvida de fazer ele parte de seu número. Ele não possuía tal conhecimento com base como caluniam os sofistas - em uma salvação especial, e, sim, com base naquela percepção comum a todos os santos. Portanto, a afirmação, aqui, com referência ao eleito pode, segundo o exemplo de Paulo, ser aplicada por todos os santos a si mesmos. Outrossim, tivesse ele sepultado a eleição no secreto conselho de Deus, e seria ela uma doutrina não apenas carente de calor, mas também sem vida. Porém, visto que Paulo, aqui, está deliberadamente introduzindo algo que todos os santos devem aplicar a si próprios, não há dúvida de que todos nós somos levados a examinar nossa vocação, a fim de podermos determinar se de fato somos filhos de Deus.
FONTE: www.josemarbessa.com

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A Vergonha de não defender a Verdade – João Calvino (1509-1564)

Imagem cedida por: http://presbiterianoscalvinistas.blogspot.com/2011/04/importancia-de-joao-calvino-na-teologia.html


Temos de menosprezar todos os artifícios e imposturas de Satanás e todas as invenções humanas como coisas frívolas e carnais, já que corrompem a pureza cristã; nesse particular diferindo, como verdadeiros mártires de Cristo, das pessoas irracionais que sofrem por meras absurdidades. Em segundo lugar, assegurando-nos da boa causa, consequentemente, temos de ser inflamados para seguir a Deus aonde quer formos por Ele chamados. Sua Palavra tem de ter tal autoridade para conosco como ela merece, e, havendo-nos retirado deste mundo, temos de nos sentir arrebatados na busca da vida santificada.


Porém, é mais que estranho que, embora a luz de Deus esteja brilhando mais radiantemente que nunca, haja uma lamentável falta de zelo. Em resumo, é impossível negar que é para nossa grande vergonha, para não dizer temível condenação, que conhecemos tão bem a verdade de Deus e temos tão pouca coragem em defendê-la. Acima de tudo, quando olhamos para os mártires do passado, nos envergonhamos de nossa covardia! Em sua maioria não eram pessoas muito versadas nas Santas Escrituras para poderem disputar em todos os assuntos. 


Eles sabiam que havia um Deus, a quem convinham adorar e servir; que haviam sido remidos pelo sangue de Jesus Cristo a fim de colocarem a confiança de salvação nEle e em sua graça; e que todas as invenções dos homens, sendo mera inutilidade e lixo, eles deviam condenar todas as idolatrias e superstições. Numa palavra, sua teologia era, em substância, esta: Há um Deus que criou todo o mundo e nos declarou sua vontade por Moisés e pelos profetas, e, finalmente, por Jesus Cristo e seus apóstolos; e temos um Redentor exclusivo, que nos comprou por seu sangue e por cuja graça esperamos ser salvos. Todos os ídolos do mundo são amaldiçoados e merecem abominação.


Com um sistema abarcando nenhum outro ponto que não esses, eles foram corajosamente às chamas ou a qualquer outro tipo de morte. Não entravam de dois em dois ou de três em três, mas em tamanhos grupos, cujo número dos que caíram pelas mãos dos tiranos é quase infinito.     

FONTE; http://www.josemarbessa.com/2011/07/vergonha-de-nao-defender-verdade-joao.html

domingo, 17 de julho de 2011

Para que Ninguém se Vanglorie - João Calvino

Imagem cedida por: http://www.somenteagraca.com/2010/12/vaidade-tudo-e-vaidade.html


“Porque pela graça tendes sido salvos”.(Ef 2.8-10).Essa é, por assim dizer, a inferência das afirmações anteriores. Pois ele tratara da eleição e da vocação gratuita, visando a chegar à conclusão de que haviam obtido a salvação unicamente através da fé. Primeiramente, ele assevera que a salvação dos efésios era inteiramente a obra - e obra gratuita - de Deus; eles, porém, alcançaram essa graça por meio da fé. De um lado, devemos olhar para Deus; de outro, para o homem. Deusdeclara que não nos deve nada; de modo que a salvação não é um galardão ou recompensa, mas simplesmente graça. Ora, pode-se perguntar: como o homem recebe a salvação que lhe é oferecida pelas mãos divinas? Eis minha resposta: pela instrumentalidade da fé. Daí o apóstolo concluir que aqui nada é propriamente nosso. Da parte de Deus é graça somente, e nada trazemos senão a fé, a qual nos despe de todo louvor, então segue-se que a salvação não procede de nós.
Não seria, pois, aconselhável manter silêncio acerca dolivre-arbítrio, das boas intenções, das preparações inventadas, dos méritos e das satisfações? Nenhum desses deixa de reivindicar a participação no louvor da salvação do homem; de modo que o louvor devido à graça, no dizer de Paulo, não seria integral. Quando, por parte do homem, é posto exclusivamente na fé como única forma de se receber a salvação, então o homem rejeita todos os demais meios nos quais o ser humano costuma confiar. A fé, pois, conduz a Deus um homem vazio, para que o mesmo seja plenificado com as bênçãos de Cristo. E assim o apóstolo adiciona: “não vem de” vós; para que, nada reivindicando para si mesmos, reconheçam unicamente a Deus como o Autor de sua salvação.
“É o dom de Deus”. Em vez do que havia dito, que asalvação deles é de graça, ele agora afirma que ela é o domde Deus. Em vez do que havia dito, "não vem de vós", eleagora diz: “não [vem] de obras”. Daí descobrimos que oapóstolo não deixa ao homem absolutamente nada em suabusca da salvação. Pois nessas três frases o apóstolo envolve a substância de seu longo argumento nas Epístolas aos Romanos e aos Gálatas, ou seja: que a justiça que recebemos procede exclusivamente da misericórdia de Deus, a qual nos é oferecida em Cristo através do evangelho, e a qual é recebida única e exclusivamente por meio da fé, sem a participação do mérito procedente das obras.
A luz desta passagem torna-se fácil refutar os tolos sofismas pelos quais os papistas tentam esquivar-se doargumento. Paulo, nos dizem eles, está falando acerca decerimônias, ao dizer-nos que somos justificados sem [aparticipação de] obras [humanas]. Mas é perfeitamente certo que ele aqui não está tratando de algum gênero de obras, senão que rejeita a total justiça do homem, a qual consiste em obras - mais ainda: a totalidade do homem e de tudo o que ele tem de propriamente seu. E mister que observemos o contraste existente entre Deus e o homem, entre graça e obras. Por que, pois, Deus teria que ser contrastado com o homem, se a controvérsia concerne só a cerimônias?
Os papistas são compelidos a reconhecer que Paulo, aqui,atribui à graça de Deus toda a glória de nossa salvação. Mas a seguir engendram outra idéia, a saber: que isso foi dito em razão de Deus conceder "a primeira graça". Mas são naverdade insensatos ao imaginarem que terão sucesso nessa vereda, visto que Paulo exclui o homem e suas faculdades,não só do ponto de partida na obtenção da salvação, mas [oexclui] totalmente da própria salvação.
Mas são ainda mais imprudentes omitindo a conclusão: “para que ninguém se vanglorie”. Algum espaço deve sempre ser reservado à vangloria humana, contanto que os méritos sejam de alguma valia à parte da graça. A afirmação de Paulo não pode vigorar, a menos que todo o louvor seja dedicado somente a Deus e à sua misericórdia. Comumente, porém, torcem o sentido deste texto e restringem a palavra 'dom' exclusivamente à fé. Mas Paulo não faz outra coisa senão reiterar sua afirmação anterior, usando outros termos. Ele não quer dizer que a fé é o dom de Deus, mas que a salvação nos é comunicada por Deus; ou, que tomamos posse dela mediante o dom divino.

“Porque somos obra sua”. Ao excluir o contrário, oapóstolo prova o que diz, ou seja, que somos salvos pela graça, dizendo que nenhuma obra nos é de alguma utilidade para merecermos a salvação, porque todas as boas obras que porventura possuímos são os frutos da regeneração. Daí, segue-se que as próprias obras são uma parte da graça. Ao dizer que somos obra de Deus, sua intenção não é considerar a criação em geral, por meio da qual as pessoas nascem, senão que assevera que somos novas criaturas, as quais são formadas para a justiça pelo poder do Espírito de Cristo, e não pelo nosso próprio. Isso se aplica somente no tocante aos crentes, os quais, ainda que nascidos de Adão, ímpios e perversos, são espiritualmente regenerados pela graça de Cristo, e então começam a ser um novo homem. Portanto, tudo quanto em nós é porventura bom, provém da obra supernatural de Deus. E segue-se uma explicação; pois ele adiciona que somos obra de Deus em razão de sermos criados, não em Adão, mas em Cristo, e não para qualquer tipo de vida, mas para as boas obras.
E agora, o que fica para o livre-arbítrio, se todas as boasobras que de nós procedem foram comunicadas pelo Espírito de Deus? Que os leitores piedosos avaliem prudentemente as palavras do apóstolo. Ele não diz que somos assistidos por Deus. Ele não diz que a vontade é preparada e que, então, age por sua própria virtude. Ele não diz que o poder de escolher corretamente nos é conferido e que temos, a seguir, de fazer nossa própria escolha. Esse é o procedimento daqueles que tentam enfraquecer a graça de Deus (até onde podem), os quais estão habituados a sofismar. Mas o apóstolo diz que somos obra de Deus, e que tudo quanto de bom exista em nós é criação dele. O que ele pretende dizer é que o homem como um todo, para ser bom, tem de ser moldado pelas mãos divinas. Não a mera virtude de escolher corretamente, nem alguma preparação indefinida, nem assistência, mas é a própria vontade que é feitura divina. De outro modo, o argumento de Paulo seria sem sentido. Ele tenciona provar que o homem de forma alguma busca a salvação por sua própria iniciativa, mas que a adquire gratuitamente da parte de Deus. A prova consiste em que o homem nada é senão pela graça divina. Quem quer, pois, que apresente a mais leve reivindicação em favor do homem, excluindo a graça de Deus, lhe atribui a habilidade de obter a salvação.

“Criados para boas obras”. Os sofistas, desviando-se do pensamento de Paulo, torcem este texto com o propósito deinjuriar a justiça [procedente] da fé. Envergonhados de negar honestamente que somos justificados pela fé e cônscios de que fariam isso em vão, buscam guarida no seguinte gênero de subterfúgio: Somos justificados mediante a fé, porque a fé pela qual recebemos á graça de Deus é o ponto de partida da justiça; mas nos tornamos justos por meio da regeneração, porque, sendo renovados pelo Espírito de Cristo, andamos em boas obras. E assim fazem da fé a porta pela qual nos introduzimos na justiça, mas acreditam que a obtemos por meio das obras; ou, ao menos, definem justiça como sendo retidão, quando alguém é reformado para uma vida boa. Não me preocupa quão antigo esse erro venha ser; o fato é que o erro deles consiste em buscar neste texto apoio para tal conceito.
E mister que descubramos o propósito do apóstolo. Suaintenção é mostrar que nada levamos a Deus pelo quê elefique endividado em relação a nós; mostra ainda que atémesmo as boas obras que praticamos procedem dele. Daí,segue-se que nada somos, senão por sua graciosa liberalidade. Ora, quando esses sofistas inferem que somos meio justificados através das obras, o que tem isso a ver com a intenção de Paulo ou com o tema que ora desenvolve? Uma coisa é discutir em que consiste a justiça, e outra é estudar a doutrina que não procede de nós mesmos, com o argumento de que nas boas obras não há nada procedente de nós, salvo o fato de que fomos moldados pelo Espírito de Deus para tudo o que é bom, e isso através da graça de Cristo. Quando Paulo define a causa da justiça, ele insiste principalmente neste ponto: que nossas consciências jamais desfrutarão de paz até que descansemos no perdão de nossos pecados. Mas aqui ele não trata de nada desse gênero. Todo o seu objetivo é provar que somos o que somos unicamente pela graça de Deus.
As “quais Deus de antemão preparou”. Isto não se aplica ao ensino da lei, como o fazem os pelagianos, como se Paulo quisesse dizer que Deus ordena o que é justo e delineia uma regra apropriada de vida. Ao contrário, ele enfatiza o que começara a ensinar, ou seja, que a salvação não procede de nós mesmos. Diz ele que, antes que nascêssemos, as boas obras haviam sido preparadas por Deus; significando que por nossas próprias forças não somos capazes de viver uma vida santa, mas só até ao ponto em que somos adaptados e moldados pelas mãos divinas. Ora, se a graça de Deus nos antecipou, então toda e qualquer base para vangloria ficou eliminada. Observemos criteriosamente o termo 'preparou'. O apóstolo mostra, à luz da própria seqüência, que, com respeito às boas obras, Deus não nos deve absolutamente nada. Como assim? Porque elas foram extraídas dos tesouros divinos, nos quais haviam sido antes geradas; pois a quem elechamou, também justifica e regenera. 

O coração do Salvo e do Ímpio está nas mãos de Deus - Calvino (1509-1564)

Imagem cedida por: http://elyasha-apontandocaminho.blogspot.com/2010/06/debaixo-da-poderosa-mao-de-deus.html


Aquilo que Salomão diz a respeito do coração do rei, isto é, que está na mão do Senhor que o dirige para onde quiser, é igualmente verdadeiro acerca dos corações de todos os homens. Até os conceitos de nossas mentes são dirigidos pelo poder sigiloso de Deus para cumprir Seus propósitos. Nada pode comprovar isto mais claramente do que o fato de que Deus tão freqüentemente nos diz que cega as mentes dos homens, aflige-os com delírio, derrama sobre eles o espírito do sono, fere-os com loucura, endurece seus corações. (Ver Rom. 1:26 e 11:8).

Muitos, conforme dissemos, atribuem todas estas declarações à "vontade permissiva de Deus" mas esta solução não me parece sábia, visto que o Espírito Santo expressamente declara que a cegueira e a loucura são infligidas sobre os ímpios pelo reto juízo de Deus.

Até este ponto tenho apenas exposto o que é aberta e claramente ensinado nas Escrituras; portanto considerem que tipo de censura tomam sobre si todos aqueles que estigmatizam os oráculos sagrados com difamação. Se disserem, "Tais coisas estão além do nosso conhecimento, e queremos crédito pela nossa modéstia em deixá-las como estão", eu respondo: "O que pode ser mais arrogante do que falar uma única sílaba contra a autoridade de Deus, e dizer: "Eu penso de modo diferente", ou "É melhor não tocar em tais doutrinas?" Semelhante arrogância não é novidade; pois em todos os tempos houveram homens ímpios, sem Deus, que têm atacado esta verdade como cães furiosos. Tais insolentes descobrirão que as palavras de Davi são verídicas, que Deus "será tido por justo... no seu julgar" (Sal. 51:4).

Tem-se argumentado que, se nada acontece senão segundo a vontade de Deus, então Ele deve ter duas vontades contrárias, pois secretamente decreta o que na Sua lei abertamente proíbe. É fácil desmascarar esta falácia, mas antes de fazer isso, deixem-me lembrar aos meus leitores que se trata de uma cavilação contra o Espírito Santo e não contra mim; pois o Espírito Santo certamente ensinou a Jó a dizer: "O Senhor o tomou", quando salteadores o despojaram dos seus bens. Está escrito também que os filhos de Eli não obedeciam a seu pai, porque o Senhor resolvera matá-los (1 Sam. 2:25).

Assim também, em tempos posteriores, a Igreja diz que Herodes e Pilatos conspiraram juntos para fazerem o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At. 4:27-28). Realmente, se Cristo não tivesse sido crucificado pelo desígnio de Deus, como poderíamos ter obtido a redenção?

O fato é que Deus não está em desacordo com Si mesmo, nem sofre mudança Sua vontade, nem finge que não deseja as coisas que deseja. Sua vontade é una e indivisa, mas parece-nos, por causa da fraqueza do nosso entendimento, que está em desacordo com ela mesma. Sobre este assunto Agostinho tem uma declaração com a qual todas as pessoas piedosas concordarão: "Alguns homens têm bons desejos que não estão de acordo com a vontade de Deus, e outros têm maus desejos que estão de acordo com a vontade de Deus. Por exemplo, um bom filho pode corretamente desejar que seu pai viva, ao passo que é a vontade de Deus que morra; e um mau filho pode maldosamente desejar que seu pai morra, quando é também a vontade de Deus que o pai morra. E mesmo assim, o filho piedoso agrada a Deus ao desejar aquilo que não é da vontade de Deus; enquanto o filho ímpio desagrada a Deus ao desejar aquilo que é da vontade de Deus." Deus às vezes cumpre Seus propósitos justos mediante os maus propósitos dos ímpios. O mesmo escritor (Agostinho) diz que os anjos apóstatas e todos os ímpios, no que lhes dizia respeito, fizeram aquilo que era contrário à vontade de Deus; mas, quanto à Sua onipotência, era impossível para eles fazerem qualquer coisa contra a Sua vontade; pois, enquanto agem em oposição à vontade de Deus, ela é cumprida por eles. Acrescenta que um Deus bom não permitiria que o mal fosse feito, a não ser que um Deus onipotente pudesse transformá-lo em bem.

Uma resposta semelhante pode ser dada a outra objeção que tem sido feita contra a verdade que agora estamos considerando. A objeção é a seguinte: Se Deus não somente emprega a instrumentalidade dos ímpios, como também governa seus planos e paixões, porventura não seria Ele o autor de todos os seus crimes? E quanto aos homens que estão sujeitos à Sua vontade, não estariam injustamente condenados por cumprirem Seus decretos? Este falso raciocínio confunde a vontade de Deus com Seu mandamento, embora fique evidente por muitos exemplos que há uma diferença muito grande entre eles. Foi a vontade de Deus que o adultério de Davi fosse vingado pela imoralidade de Absalão (com as concubinas do seu pai); mas não se segue que Deus ordenou a Absalão cometer tal ato incestuoso; a não ser que possamos falar assim a respeito de Davi, da mesma maneira que ele fala das maldições de Simei. Quando o rei disse: "Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou" (2 Sam. 16:11), de modo algum recomendava Simei por sua obediência a Deus; mas, reconhecendo que a língua maligna daquele homem era o flagelo de Deus, submeteu-se pacientemente a ser castigado por ela. Devemos apegar-nos firmemente ao princípio de que os ímpios, por cujo intermédio Deus realiza os Seus justos julgamentos e decretos, não devem ser considerados inculpáveis como se tivessem obedecido ao Seu mandamento, mandamento este que atrevida e deliberadamente quebram.

É sábio abraçarmos com mansidão e humildade tudo quanto é ensinado nas Sagradas Escrituras. Aqueles que têm a insolência de difamar suas doutrinas soltam suas línguas contra Deus e não são dignos de mais refutação

domingo, 5 de junho de 2011

Arrependimento e Perdão – João Calvino


Imagem cedida por: http://purainexperiencia.blogspot.com/2011/04/arrepender-se.html


O ARREPENDIMENTO É DOM DA GRAÇA DIVINA, QUE FACULTA O PERDÃO A TODO PECADO, EXCETO O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO

Com efeito, à luz da exposição precedente, julgo ser o arrependimento um singular e mui claro dom de Deus, o que não exige uma nova elaboração e uma longa consideração. E assim a Igreja louva a benevolência de Deus e se maravilha de que ele tenha dado aos gentios o arrependimento para a salvação” [At 11.18]; e Paulo, ordenando a Timóteo que fosse paciente e brando para com os incrédulos, diz: “Instruindo com mansidão os que resistem, se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, para que se livrem dos laços do Diabo” [2Tm 2.25, 26]. Deus, na verdade, afirma que quer a conversão de todos, e dirige suas exortações a todos em comum. A eficácia disso, no entanto, depende do Espírito de regeneração.

Porque, mais fácil seria criar-nos como homens do que revestir-nos de nossa natureza mais excelente com nossos próprios recursos. E assim, não sem causa, em todo o curso da regeneração somos chamados “feitura de Deus, criados para as boas obras, as quais ele preparou para que andemos nelas” [Ef 2.10].

A todos quantos Deus quer arrebatar da perdição, a esses os vivifica mediante o Espírito da regeneração; não que o arrependimento seja propriamente a causa da salvação, mas porque já se viu que ele é inseparável da fé e da misericórdia de Deus, quando Isaías atesta que “vem a Sião um redentor e àqueles que em Jacó se têm voltado da iniqüidade” [Is 59.20]. Com efeito, isto se estabelece com solidez: onde quer que floresça o temor de Deus, o Espírito tem operado para a salvação do homem.

E assim os fiéis em Isaías, enquanto se queixam e deploram que foram abandonados por Deus, põem isto como um sinal de sua rejeição: que seu coração foi divinamente endurecido [Is 63.17]. Querendo excluir também os apóstatas da esperança de salvação, o Apóstolo apresenta a razão: é impossível que estes sejam renovados para o arrependimento [Hb 6.4-6], porquanto, ao renovar aqueles a quem não quer que pereçam, Deus mostra, na verdade, o sinal de seu paterno favor e, por assim dizer, a si os atrai com os raios de seu sereno e propício semblante. Por outro lado, ao endurecer os réprobos, cuja impiedade é irreversível, seu rosto dardeja contra eles raios de indignação.

O Apóstolo denuncia aos apóstatas deliberados esta espécie de represália, os quais, enquanto se afastam da fé genuína do evangelho, têm a Deus em escárnio, desprezam obstinadamente sua graça, profanam e calcam aos pés o sangue de Cristo [Hb 10.29]; com efeito, quanto neles está, crucificam-no de novo [Hb 6.6]. Ora, aí ele não suprime, como querem certos indivíduos erroneamente rigorosos, a esperança de perdão a todos os pecados voluntários. Contudo, ensina que a apostasia é indigna de toda escusa, de sorte que não é de admirar que Deus puna com rigor inexorável a tão sacrílego desprezo de seu Ser. Pois, nessa mesma Epístola, o Apóstolo ensina que “é impossível que aqueles que uma vez foram iluminados, já provaram o dom celeste, já foram participantes do Espírito Santo, tenham degustado a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, se decaem dessa bem-aventurada condição, sejam outra vez renovados para o arrependimento; estando, assim, crucificando de novo o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia” [Hb 6.4-6]. De igual modo, em outro lugar: “Se”, diz ele, “depois de recebido o conhecimento da verdade pecamos, deliberadamente, já não resta mais sacrifício pelos pecados; ao contrário, uma certa expectação horrenda de juízo” etc. [Hb 10.26, 27].

Essas são também passagens, em virtude de errônea interpretação, que os novacianos outrora extraíam matéria para suas aloucadas postulações, ofendidos pelo rigor das quais certos bons varões vieram a crer ser esta uma Epístola espúria, a qual, no entanto, em todo aspecto respira realmente o espírito apostólico. Mas, uma vez que não estamos a contender senão com aqueles que a abraçam como genuína, é fácil de demostrar quão longe estão essas expressões de favorecer seu erro. Primeiramente, é necessário que o Apóstolo esteja em harmonia com seu Mestre, o qual afirma que haverá de perdoar todo pecado e blasfêmia, exceto o pecado contra o Espírito Santo, o qual não se perdoa nem neste mundo, nem no vindouro [Mt 12.31, 32; Mc 3.28, 29; Lc 12.10]. 

O Benefício dos Açoites de Deus – João Calvino

Imagem cedida por: http://rotamogiana.blogspot.com/2010/01/as-vantagens-da-digitalizacao-de.html

- Israel é tragado: agora, estarão eles entre os gentios como um vaso no qual não  há prazer. 8. Voratus est Israel, nunc erunt inter gentes quasi vas in quo non est oblectatio (hoc est, vas rejectitium, vel, contemptibile.)- Oséias 8.8

O profeta usa a mesma palavra que antes, quando falou da farinha, e diz que não somente a provisão de Israel será devorada, mas também o próprio povo; e ele reprocha os israelitas pelas próprias misérias, para que eles finalmente reconhecessem que Deus lhes era adverso. Pois o objetivo do Profeta era este — fazê-los sentir os próprios males, para que, por fim, humilhassem-se e aprendessem a, suplicantemente, rogar por perdão. Pois é grande sabedoria quando nos beneficiamos dos açoites de Deus a ponto de nossos pecados virem para diante de nossos olhos.

Em conseqüência, ele diz: Israel é devorado e está semelhante a um vaso rejeitado, precisamente entre os gentios, quando, todavia, aquele povo sobrepujava o resto do mundo, visto que o Senhor o elegera para si. Como era ele um povo peculiar, era superior a outras nações; e, então, foi reservado para este fim, para que nada tivesse em comum com os gentios. Mas ele diz agora que tal povo está disperso e, por toda parte, desprezado e rejeitado. Isso não podia ter acontecido se Deus não houvesse tirado sua proteção. Por essa razão, vemos que o Profeta tinha esta única coisa em vista — fazer os israelitas sentirem que Deus estava irado com eles. 

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