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domingo, 18 de março de 2012

A Alegria Eterna - Richard Baxter (1615-1693)

Imagem cedida por: http://melibertou.blogspot.com.br/ 


Assim, como a memória do iníquo promoverá eternamente o tormento dele, ao examinar os prazeres que desfrutava, o pecado cometido, a graça recusada, Cristo negligenciado e o tempo perdido, também a memória dos santos proporcionará para sempre sua alegria.

Mas a alegria plena, íntima e doce é aquela das emoções, do amor e da alegria; e ela é íntima, pois o amor é a essência da alma, e o amor a essência de Deus. 

"Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele" (1Jo 4.16). 

Agora a pobre alma clama, ó, que eu possa amar mais a Cristo! Mas--ai de mim!--não consigo; sim, mas você não pode fazer nada a não ser escolher amar ao Senhor; eu quase disse, abstenha-se disso se puder. Bem, sua salvação não é aperfeiçoada, nem suas misericórdias compradas; contudo, desista; mas quando a lápide for lançada, você, aos berros, implorará: "Graça, graça!". Agora, sua santificação é imperfeita, e seu perdão e justificação não são tão completos como o serão em nosso descanso eterno; agora você não conhece aquilo que lhe traz alegria e, portanto, ama o que é menor; mas quando você sabe que muito lhe foi perdoado e muito lhe foi concedido, você amará ainda mais.

Cristãos, o seu amor não se agita quando se lembram de todas as experiências e as manifestações do amor do Senhor, quando olham em retrospectiva para a vida de misericórdias? A gentileza não os faz derreter, e a luz da divina bondade não aquece o coração enregelado de vocês? O que ele fará naquele momento em que você viverá imerso em amor e tiver tudo nele, que é tudo? Ó deleites do amor, desse amor; a alegria que o coração encontra nele; a satisfação que ele nos traz junto com ele! Certamente, o amor é trabalho e retribuição!

E se isso fosse tudo, que grande favor Deus nos prestaria ao permitir que o amemos; que ele se digne a ser abraçado por braços que já abraçaram o pecado e a ganância antes de abraçá-lo. Ele retribui amor por amor; não mil vezes mais, pois, por mais perfeitos que sejamos, não podemos alcançar a medida de seu amor. Cristão, você transbordará de amor; mesmo que ame o tanto que lhe for possível, deverá ser dez mil vezes mais amado. Você acha que não conseguiria amá-lo em demasia? Como! Amar mais que o Amor? Os braços do Filho de Deus não estavam sobre a cruz, e seu lado não foi perfurado com a lança, e esse coração e esses braços não estarão abertos para você na glória? Ele não começou a amá-lo antes que pudesse amá-lo e não continuará a amá-lo agora? Ele não amou você, um inimigo; você, um pecador; você que, até mesmo, despreza a si mesmo, e o comprou como seu quando você o repudiou? E ele não amará imensamente você, um filho; você, um santo perfeito; você, que retribui amor com amor? Você está habituado a questionar seu amor? Duvide deste amor agora, se puder. Aos seus olhos, ser amado por Deus é algo pequeno? Cristão, creia nisso e pense sobre isso. Você será eternamente abraçado nos braços desse amor, que sempre foi eterno e durará por toda a eternidade; este amor que trouxe o Filho de Deus do céu para a terra, da terra para a cruz, da cruz para a sepultura, da sepultura para a glória; este amor que ficou cansado e faminto, e que foi tentado, escarnecido, açoitado, esbofeteado, humilhado, crucificado e furado com uma lança; esse amor que jejuou, orou, ensinou, curou, chorou, suou, sangrou, morreu --, esse amor o abraçará eternamente. 

Quando o amor perfeito e criado e o amor mais perfeito e incriado se encontrarem, ó abençoado encontro! Cristo é a pedra preciosa poderosa, atraente e eficaz que atrai para si todos que são semelhantes a ele. Você agora não tem mais de lidar com criaturas inconstantes, mas apenas com ele "em que não há mudança, nem sombra de variação" (Tg 1.17; ARC), o Deus imutável. O que devemos dizer a essas coisas? O amor infinito certamente é um mistério para a capacidade finita. Não é de admirar que os anjos desejem espreitar esse mistério; e a responsabilidade dos santos aqui é procurar descobrir a altura, a largura e a profundidade desse amor, embora ele ultrapasse qualquer entendimento. E o descanso dos santos é esse deleitar-se em Deus por meio do amor.

O sentimento de alegria não tem a menor participação nesse deleitar-se. É a isso que todo o descanso nos leva e a isso que se resume; exatamente a complacência que os abençoados sentem ao ver, ao conhecer e ao amar a Deus e também ao ser o amado do Senhor. Essa é a "pedra branca com um novo nome nela inscrito, conhecido apenas por aquele que o recebe" (Ap 2.17); e se há alguma alegria que o estrangeiro desconhece, então, certamente, e acima de tudo, é essa. Todos os caminhos da misericórdia de Cristo levam às alegrias dos santos e ali findam. Ele chorou, entristeceu-se e sofreu para que eles pudessem se regozijar; ele enviou o Espírito Santo para ser o Consolador deles; ele multiplica suas promessas, revela a felicidade futura deles para que a alegria deles possa ser plena; as misericórdias do Senhor para com eles sobejam; ele os faz repousar em verdes pastagens e os conduz a águas tranqüilas; sim, o Senhor abre as fontes de água viva para que a alegria deles seja plena; para que não mais tenham sede e para que a vida eterna brote neles. Sim, ele permitiu que sofressem para que pudessem regozijar-se; e os purificou para que pudesse lhes dar o descanso; e os fez beber de um ribeiro à beira do caminho para que pudessem erguer a cabeça.

Ó quão grande alegria será essa; em que a alma foi perfeitamente preparada para a alegria, e a alegria preparada por Cristo para a alma, e o regozijo será eternamente nosso trabalho e nossa responsabilidade! Sua pobre alma que ora por alegria, que espera pela alegria, que reclama em razão da falta de alegria, que anseia pela alegria - oras, naquele momento, você terá a alegria plena, tanta que não poderá abraçá-la, e muito mais que foi capaz de imaginar, e seu coração de desejar. E, nesse meio tempo, ande cuidadosamente, esteja sempre atento e, depois, deixe que Deus meça seu tempo e sua medida de alegria. É possível que o Senhor os guarde até que você não tenha mais necessidade deles: é melhor perder o conforto que a segurança.

E não apenas a sua alegria; é alegria mútua, como também amor mútuo. Houve tal alegria no céu quando você se converteu, e não haverá nenhuma em sua glorificação? Os anjos não lhe darão as boas-vindas e o saudarão por sua chegada segura? Sim, essa é a alegria de Jesus Cristo; pois agora, quando alcançarmos nossa alegria, ele tem o fim da obra que realizou, ao sofrer e morrer; quando ele for "glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram" (2Ts 1.10). Somos sua semente e o fruto do trabalho de sua alma e, quando ele nos vir, ficará satisfeito. Essa é a colheita de Cristo, quando ele ceifará a colheita de seu trabalho; e quando ele vir que não foi em vão, isso não o fará se arrepender de seus sofrimentos, pois ele se alegrará com sua herança resgatada, e seu povo se alegrará nele.

Sim, o Pai também acrescenta alegria a nossa alegria. Da mesma forma que entristecemos seu Espírito e o cansamos com nossas iniqüidades, ele também se alegra com nosso bem. Ó como ele aqui observa prontamente o retorno do filho pródigo, mesmo a grande distância; como ele corre para encontrá-lo; e a doce compaixão com que o abraça ternamente e o beija; e veste-o com a melhor veste, e coloca um anel em seu dedo e calçados em seus pés, e escolhe um novilho gordo para que possam comer carne e celebrar! Esse realmente é um encontro afortunado; mas não é nada em comparação com os abraços e a alegria do último e grandioso encontro.

Sim, e ainda mais. Deus ama e se alegra mutuamente, e ele também faz desse nosso descanso o seu descanso. Ele não instituiu o sábado como descanso dos seis dias de trabalho quando viu que tudo que fizera ficou bom, e muito bom? E que eterno sabatismo teremos naquele momento em que toda a obra de redenção, de santificação, de preservação e de glorificação estiver completa, e sua obra estiver mais perfeita que nunca, e realmente ficar muito boa! Assim, afirma-se que o Senhor se regozija e se deleita com seu povo. Ó, cristãos, escrevam estas palavras em letras de ouro: "O SENHOR, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para salvar-te; ele se deleitará em ti com alegria; renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo" (Sf 3.17; ARA).

FONTE: www.josemarbessa.com 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Onde está o teu coração? - Richard Baxter (1615-1691)

Imagem cedida por: http://vidaemcristo.com


E é apenas justo que nosso coração esteja em Deus, quando o coração de Deus está tanto em nós. Se o Senhor da glória pode inclinar-se tanto a ponto de fazer seu coração repousar em seres pecadores, feitos de pó, certamente seríamos persuadidos a pôr nosso coração em Cristo e na glória, e ascender a ele, que se digna a ser condescendente conosco, em nossos sentimentos diários!

Ó, se o deleite de Deus não estivesse mais em nós na mesma proporção que o nosso não está nele, o que deveríamos fazer? Em que situação estaríamos! Cristão, você não percebe que o coração de Deus está sobre você? E que ele ainda cuida de você com amor cuidadoso, mesmo quando se esquece de si mesmo e dele?

Você não o vê quando o acompanha com suas misericórdias diárias, movendo-se em sua alma e provendo para seu corpo, a fim de preservar ambos? Ele não o acolhe continuamente nos braços do amor e promete que tudo coopera para o seu bem? E ajusta todas as formas de lidar com você para seu próprio benefício?

E não ordena que seus anjos tomem conta de você? E você não consegue encontrar em seu coração um lugar para ele, pois está muito ocupado com as alegrias terrenas, a ponto de esquecer seu Senhor que não se esquece de você? Esse não foi o pecado que Isaías clamou, de forma solene, para que o céu e a terra testemunhassem contra ele? "O boi reconhece o seu dono, e o jumento conhece a manjedoura do seu proprietário, mas Israel nada sabe, o meu povo nada compreende" (Is 1.3).

Se o boi e o jumento desgarram-se durante o dia, eles, provavelmente, voltam para sua casa à noite, mas nós não elevamos nossos pensamentos a Deus nem uma vez ao dia.  Portanto, permita que sua alma ascenda até Deus e o visite todas as manhãs, e que seu coração se volte para ele todos os momentos.


Além dessa maravilha da qual falamos anteriormente, nosso interesse pelo céu e nosso relacionamento com ele não deveriam manter nosso coração ali? Ali, nosso Pai mantém sua corte. Nós não oramos: "Pai nosso, que estás nos céus!"? Ah! Crianças sem graça e indignas que se ocupam tanto com suas responsabilidades a ponto de não se importarem com seu Pai!

E há multidões de nossos irmãos mais velhos; há nossos amigos e nossos velhos conhecidos, cuja companhia na carne era-nos muito agradável, e cuja partida para lá tanto lamentamos! E isso não é um atrativo para seus pensamentos? Se eles estivessem ao seu alcance na terra, você os visitaria; e por que não os visita com mais freqüência em espírito; e não se regozija de antemão ao pensar que se encontrará novamente com eles ali?

Sócrates regozijou-se com o fato de que morreria, pois cria que veria Homero, Hesíodo e outros homens magníficos; e eu regozijo muito mais, pois tenho a certeza de que verei a Cristo, meu Salvador, o eterno Filho de Deus na carne que ele assumiu; e, além dele, também verei tantos outros homens santos e magníficos! Com certeza, se nossa casa fosse muito mais inferior, ainda assim nos lembraríamos dela, apenas por que Oras, o mesmo não acontece conosco em relação ao céu?
Ali não é, de forma mais verdadeira e apropriada, nossa casa, onde habitaremos por toda a eternidade? Somos estrangeiros, e o céu é nosso país. Somos herdeiros, e aquela é nossa herança, uma herança incorruptível e imaculada, que não desaparece, a que está reservada para nós no céu. Ó, que nos importássemos com nossa herança e a valorizássemos pelo menos a metade do que vale!

FONTE: www.josemarbessa.com

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Os Sinais de um Homem Carnal – Richard Baxter (1615-1693)

Imagem cedida por: http://mocidadecristoreina.blogspot.com


1. Quando um homem em seu desejo de agradar seu apetite, não faz isto visando um objetivo mais elevado, ou seja, a sua preparação para o serviço de Deus, mas somente para seu próprio prazer (claro que ninguém faz tudo conscientemente visando o serviço de Deus. Entretanto, uma vida gasta no serviço de Deus é ausente do prazer carnal, de maneira geral).

2. Quando ele procura mais ansiosa e diligentemente a prosperidade do seu corpo do que de sua alma.

3.Quando ele não se abstêm de seus prazeres, mesmo quando Deus os proíbe ou quando ferem sua alma, ou quando as necessidades de sua alma clamam que os deixe. Mas ele tem que ter seu prazer, não importa o que lhe custe; e é tão persistente nisto, que não o pode negar.

4. Quando os prazeres da carne excedem os deleites em Deus, Sua Santa Palavra e caminhos, e as expectativas de prazer infinito. E isto não só na paixão, mas na estima, escolha e ação. Quando ele prefere estar em um jogo, ou festa, ou outro entretenimento, ou adquirindo boas pechinchas ou lucros do mundo, do que viver na vida de fé e amor, que seria um modo santo e divino de viver.

5. Quando os homens fixam suas mentes em planejar e estudar para fazer provisão para os prazeres da carne e isto ocupa o primeiro lugar em seus pensamentos e lhe é prazeroso.

6. Quando eles conversam, ou ouvem, ou lêem mais coisas agradáveis à carne do que àquelas que deleitam o espírito.

7. Quando eles amam a companhia de pessoas carnais, mais do que a comunhão dos santos, nos quais eles poderiam ser exercitados no louvor ao Seu Criador.

8. Quando eles consideram que o melhor lugar para viver e trabalhar é onde eles podem satisfazer sua carne. Eles preferem estar onde têm coisas fáceis e onde nada falta para o corpo, do que em lugares onde têm muito melhor ajuda e provisão para a alma, apesar da carne ser atormentada por isso.

9. Quando ele está mais disposto a gastar dinheiro para agradar sua carne, do que para agradar a Deus.

10. Quando ele não acredita ou gosta de nenhuma doutrina exceto a "crença-fácil" (isto é, a fé que não requer obediência aos ensinos bíblicos) e odeia a mortificação, que classifica como "legalismo" muito rígido. Por estes sinais e outros semelhantes, podemos facilmente conhecer o homem carnal.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A tolice de tentar agradar a homens - Richard Baxter



Imagem cedida por: http://www.marketingpolis.com.br/internas/servicos/elaboracao-de-discursos.php

[Richard Baxter, um dos grandes pastores e teólogos puritanos, mostra, ao estilo puritano, o quanto é tolo tentar agradar a homens enquanto se está tentando viver a vida para Deus. O orgulho que faz com que nos preocupemos tanto com o que os outros pensam de nós e o que sentem por nós, nos prega ciladas e armadilhas que, por fim, podem destruir nossas almas. Quando tenta agradar a homens, o crente compromete seu testemunho e torna-se virtualmente inútil na obra de Deus.
Baxter nos dá 22 razões e advertências para que não sejamos tolos e para que procuremos sempre agradar a Deus e não a homens. As primeiras 8 aparecem nessa primeira parte.]
"Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo." - Gálatas 1:10
1. Lembrem-se de que multidão vocês têm para agradar; e quando vocês agradarem a alguns, quantos mais permanecerão insatisfeitos, e quantos ainda permanecerão insatisfeitos depois que vocês derem o seu melhor. Infelizmente somos completamente inaptos para observar a todos que nos observam e que se agradariam de nós. Vocês são como alguém que só tem 12 moedas no bolso e mil mendigos vêm rodeá-los em busca delas, e cada um deles ficará insatisfeito se não puder ter todas elas. Se vocês decidirem dar tudo que tem para os pobres, e fizerem isso para agradar a Deus, vocês poderão atingir seu objetivo. Mas se vocês derem tudo para agradar a eles, quando tiverem agradado aqueles poucos que receberem alguma coisa, talvez o dobro deles irá insultá-los e amaldiçoá-los porque não ganharam nada. O mendigo que for mais rápido irá declarar que vocês são generosos, e o que for mais lento proclamará que vocês são mesquinhos e impiedosos. Dessa forma vocês terão mais gente para ofendê-los e desonrá-los do que para confortar-lhes com seus elogios, se é que era esse o conforto que vocês buscavam.

2. Lembrem-se que todos os homens são tão egocêntricos, que as suas expectativas serão sempre mais altas do que vocês jamais serão capazes de satisfazer. Eles não considerarão suas dificuldades, afazeres, ou o que quer que vocês façam pelos outros. A maior parte deles procurará ter tanto para si como se vocês não tivessem ninguém mais para pensar a não ser neles. Muitas e muitas vezes, quando tive uma hora do dia para gastar, uma multidão (cada um deles) esperava que eu passasse aquela hora consigo. Quando eu visito um, freqüentemente há dez que se ofendem porque não estou visitando-os na mesma hora. Quando estou falando com um, muitos outros se ofendem porque não estou falando com eles ao mesmo tempo. Se aqueles com quem converso me consideram cortês, humilde, e respeitável, aqueles com quem não consegui conversar, ou só pude dirigir uma palavra, me considerarão descortês e antipático. Quantos já me censuraram porque não lhes dei o tempo que Deus e a minha consciência me mandaram gastar em algum trabalho maior e mais necessário! Se vocês têm algum cargo ou função para preencher, ou um privilégio para conceder, que só uma pessoa pode receber, todos se consideram os mais indicados para recebê-lo. E se você agradou aquele que recebeu, deixou insatisfeitos todos os outros que nada receberam e foram privados dos seus desejos.

3. Vocês têm um grande número de pessoas para agradar que são tão ignorantes, irracionais e débeis, que consideram suas maiores virtudes como defeitos e que não sabem distinguir quando vocês fazem alguma coisa boa ou ruim. E não há ninguém que censure tão severamente como aqueles que menos entendem as coisas que estão censurando. Muitas e muitas vezes meus sermões e os de outros foram criticados, e abertamente difamados, por aquilo que nunca esteve neles, devido a ignorância ou falta de atenção de algum ouvinte mais crítico. Até mesmo por aquilo que os sermões falavam contra acabavam sendo repreendidos porque nunca foram compreendidos. Especialmente aqueles sermões com um estilo fechado, livre de tautologia, em que cada palavra precisa ser muito bem definida para evitar confusão, serão freqüentemente distorcidos e atacados.

4. Vocês terão muitos zelotes facciosos para agradar que, sendo estranhos ao amor à santidade, à cristandade e à unidade, são governados pelo interesse por alguma opinião ou grupo. E esses nunca estarão satisfeitos com vocês a não ser que vocês venham para lado ou partido deles, e se adaptem às suas opinões. Se vocês não forem abertamente contra eles, mas procurarem reconciliar a todos e pôr um fim nas diferenças da igreja, eles os odiarão por não promover as opiniões deles e ainda enfraquecê-los através de abomináveis sincretismos. Assim como na guerra civil, também na guerra eclesiástica os atiçadores não conseguem suportar os pacíficos. Se vocês forem neutros, serão considerados inimigos. Ainda que vocês dêem o máximo por Cristo, pela santidade e pela fé comum, tudo isso será nada, a não ser que vocês sejam também por eles e seus conceitos.

5. A maior parte do mundo é formada por pessoas que odeiam a santidade e tem uma sagaz inimizade contra a imagem de Deus, não tendo sido renovadas pelo Espírito Santo. Esses não se agradarão de vocês a não ser que vocês pequem contra o Senhor, e ajam como eles agem. 1 Pedro 4:3-5, "Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias. Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão, os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos." Se vocês lhes falarem sobre o seu pecado, vocês serão considerados como Ló entre os sodomitas, homens ocupados que chegam entre eles fazendo as vezes de juiz, para controlá-los. Se vocês não forem tão maus quanto eles são , vocês serão chamados de arrogantes, metidos e hipócritas (ou talvez algo pior). O mesmo ocorrerá se vocês, por sua abstinência (mesmo que não digam nada), parecerem repreender a sensualidade e o desrespeito a Deus que eles demonstram. Entre os insanos vocês precisam bancar os insanos se quiserem escapar das suas presas injuriosas. Será que vocês podem ter alguma esperança de agradar a homens assim?

6. Entre aqueles que precisarão agradar, vocês se depararão com inimigos satânicos de Deus, e homens de consciência cauterizada e perversa, os quais são maliciosos e cruéis, e não ficarão satisfeitos com nada a não ser com alguma iniqüidade terrível, e com a destruição de das almas de vocês, e com a possibilidade de levar outros à perdição. São como aquele monstro de Milão, que quando punha de joelhos seu inimigo, o fazia blasfemar contra Deus na expectativa de salvar sua vida, e então o apunhalava considerando aquela uma justa vingança, pois matava o corpo e condenava a alma de uma só vez. Há no mundo aqueles que farão tão abertamente o trabalho do diabo, que corromperiam as consciências de vocês com os mais horríveis perjúrios, perfídias e impiedades, a fim de triunfar sobre suas miseráveis almas. Se vocês responderem a eles que não podem agradá-los, a não ser sendo desonestos e desagradando a Deus e pecando contra o conhecimento e a consciência, e pondo em risco a sua própria salvação, eles retrucarão apenas com um gracejo zombeteiro diante desses argumentos e esperarão que vocês aventurem suas almas em seguir suas opiniões, e se preocupem tão pouco com Deus e suas almas quanto eles mesmos fazem. Pecadores inveterados negam-se a ir para o inferno sozinhos. É um tormento para eles verem outros em melhor estado que o seu. Aqueles que são cruéis e impiedosos consigo mesmos, e não têm pena de suas próprias almas, mas as vendem por uma prostituta, ou por uma promoção, ou por honra, ou por prazeres sensuais, dificilmente terão misericórdia da alma alheia: Mateus 27:25, "E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!"

7. Vocês terão homens duros, implicantes, não caridosos e injustos para agradar; os quais farão com que "por causa de uma palavra condenam um homem, os que põem armadilhas ao que repreende na porta, e os que sem motivo negam ao justo o seu direito." Isaías 29:20,21. Esses não têm nenhum traço daquela caridade que cobre faltas e interpreta palavras e ações favoravelmente. Também não têm nada daquela justiça que faz com que um homem faça aos outros como quer que lhe façam, e julgue ao próximo como gostaria de ser julgado. Entretanto, como julgam sem misericórdia, provavelmente serão julgados sem misericórdia. Eles ficam felizes quando encontram algum assunto em que possam repreendê-los e quando encontram um (verdadeiro ou falso) eles jamais o esquecerão, mas insistirão nele como a mosca insiste em voltar ao local infectado.

8. Vocês terão que agradar pessoas passionais, cujos julgamentos são cegados, e que não são capazes de serem satisfeitas. São como o doente e ferido que sente dor a qualquer toque e que, por fim, como disse Sêneca, sente dor com a própria presunção de que foi tocado. Como podem agradar a esses se a insatisfação é a sua enfermidade, que habita no interior deles, no âmago do seu próprio coração?

9. Vocês verão que a disposição de condenar e criticar é um hábito comum, e apesar de poucos serem competentes para julgar as ações de vocês, por não estarem suficientemente a par da sua rotina diária, praticamente todos se aventurarão a reprová-los. Um entendimento orgulhoso e presunçoso é um defeito muito comum. Esse tipo de conhecimento se considera capaz de julgar qualquer coisa assim que ouve apenas uma pequena porção do tema, e não tem consciência de sua própria falibilidade, apesar de experimentá-la diariamente. Poucos estão perto de vocês e nenhum no seu coração, de forma que todos desconhecem as circunstâncias e as razões de tudo que vocês fazem. Também não ouvem o que vocês têm a dizer por si mesmos e mesmo assim insistem em censurá-los, sendo que talvez os tivessem absolvido se ao menos ouvissem as suas explicações. É raro encontrar alguém, mesmo entre aqueles que professam a maior sinceridade e que são muito cuidadosos e zelosos de não pecar, que não tenha a capacidade ou o chamado para executar esse tipo de julgamento precipitado e desprovido de fundamento.

10. Vocês vivem entre tagarelas incontroláveis e contadores de histórias que divertem outros lançando acusações contra vocês. Quem é que tem ouvidos e nunca teve algum desses vermes tentando ocupar-se deles? Talvez um ou outro homem mais correto, cuja face zangada espantou essas línguas fofoqueiras pra longe de si. E tudo que é coisa será dita nas costas de vocês quando não tiverem como responder. E se houver um homem a quem os ouvintes estimam, e que acuse e calunie vocês, então eles acharão correto acreditar nele. E a maioria daqueles que são amigos desse homem, ou do seu partido, ou têm interesses semelhantes, certamente o considerarão honesto e portanto crerão nele. E não é incomum uma pessoa sábia, inteligente e piedosa se precipitar em repetir algum relato da boca de outros e aí o ouvinte pensa que está totalmente justificado em acreditar nela e repassar a mesma história a outros. O próprio Davi, pela tentação de Ziba, foi levado a injustiçar Mefibosete, o filho do seu grande e digno amigo. 2 Sm. 16:3. Não surpreende então, que Saul tenha dado ouvidos a Doegue, para amaldiçoar Davi e matar os sacerdotes. Pv. 18:8 "As palavras do maldizente são doces bocados que descem para o mais interior do ventre." Pv. 26:20 20 "Sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo maldizente, cessa a contenda." E enquanto esses estiverem ainda perto dos homens e vocês longe, é fácil para eles persistirem nas mais odiosas representações das mais louváveis ações de uma pessoa.

11. A imperfeição do entendimento e da piedade dos homens é tão grande, que mesmo as mais sensatas diferenças de julgamento, levarão à injúria e ao desprezo aos irmãos. Alguém está plenamente confiante de que sua visão é a correta, outrem está plenamente convencido do contrário. Quem não percebe a que contendas e insultos essas diferenças conduzem, já tendo um certo tempo de vida, não perceberá jamais. Não precisamos ir a Paulo e Barnabé para um exemplo (esse foi um caso bem mais leve); nem a Epifânio, Jerônimo e Crisóstomo; nem àquelas eras trágicas daqueles bispos conflituosos, que viveram antes de nós na igreja oriental e ocidental: cada um pensando que sua causa era tão clara que o justificava em tudo que dizia e fazia contra os que ousavam pensar de forma diferente. E certamente vocês devem esperar certo desconforto por parte de homens bons e cultos, quando a igreja sente tão terríveis choques, sangrando até hoje em divisões tão horrendas, por causa dos restos daquele orgulho e ignorância de que seus reverendos guias continuam sendo culpados.

12. Vocês terão homens de grande inconstância para agradar. Em um momento eles estarão prontos a louvá-los como se fossem deuses e no instante seguinte prontos para apedrejá-los como se fossem demônios; como fizeram com Paulo e com o próprio Cristo. Que inconstante é a mente do homem! Especialmente a mente dos comuns e mundanos! Passem todos os dias da sua vida construindo sua reputação sobre essa areia e um único sopro de vento ou de tempestade a derrubará e todo o seu esforço e trabalho estará perdido. Experimentem servir aos homens da forma mais submissa e cuidadosa que puderem e, ao final, algum acidente ou a frustração de alguma das injustas expectativas nutridas por eles fará com que tudo o que vocês já fizeram seja esquecido. Então vocês deixarão este mundo com o lamento de Wolsey: "Se eu tivesse servido a Deus com a fidelidade que servi ao homem, teria sido melhor recompensado, em vez de ser abandonado na minha agonia." Quantos já caíram pelas mãos ou olhares carrancudos daqueles cujo favor haviam encarecidamente adquirido, talvez pagando o preço da sua própria salvação! Se algum dia vocês puserem tanta confiança em um amigo, sem considerar a possibilidade dele vir a se tornar algum dia um inimigo, então vocês não conhece os homens; e talvez sejam levado a conhecê-los melhor, pagando um alto preço.

13. Todo homem será envolvido, inevitavelmente, pelo próprio Deus, em alguns deveres que correm o risco de ser mal interpretados e que têm uma aparência externa de coisas más. Com isso ofenderão aqueles que não conhecem todas as circunstâncias internas. Assim, boa parte da história é pouco digna de respeito; porque as ações de pessoas públicas são julgadas com parcialidade por aqueles que escrevem sobre elas. Eles escrevem mais por ouvir dizer; ou só conhecem o exterior e as aparências das coisas, e não o espírito, a vida e a realidade do caso. Os homens não escolhem seus deveres. Deus os determina pela Sua Lei e providência. E muitas vezes Ele se agrada em provar seus servos dessa forma: muitas das circunstâncias de seus atos permanecem ocultos aos homens. Estes os justificariam se o soubessem, mas acabam considerando-os pessoas publicamente escandalosas, porque não as conhecem. Quão parecido com o mal foi o fato de os israelitas tomarem os bens dos egípcios! Assim também a tentativa de Abraão de sacrificar seu filho; também Davi comendo os pães da proposição e dançando quase nu diante da arca. Cristo comendo e bebendo com publicanos e pecadores, Paulo circuncidando Timóteo e a sua purificação no templo. Não é surpresa que José tenha pensado em abandonar Maria até que ele tivesse evidência da sua milagrosa concepção. E quão merecedora de reprovação ela era, por parte daqueles que não conheciam os fatos! Portanto, quão vazio é o julgamento do homem! E quão contrário ele é freqüentemente à verdade!  E com que cautela a história precisa ser lida!  E quão aguardado é o grande dia do Senhor, quando toda censura humana será censurada com justiça!

14. A perversidade de muitos é tal que eles exigem de vocês coisas contraditórias e até impossíveis só para deixar claro que eles estão decididos a nunca gostar de vocês. Se João jejua eles dizem que "tem demônio", se Cristo vem "comendo e bebendo", dizem, "vejam um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores" Mateus 11:18,19. Se o julgamento e a prática de vocês adaptarem-se aos requisitos de seus superiores, especialmente quando estes mudam alguma coisa, vocês serão considerados meros aduladores e contemporizadores. Se não for assim, serão considerados desobedientes, rebeldes e sectários. Se vocês falarem moderada e gentilmente eles os chamarão de bajuladores e dissimulados. Se falar mais livremente, mesmo quando necessário, dirão que é grosseiro. Se eu aceito uma promoção sou ambicioso, orgulhoso e mundano. Se recuso, por mais humildemente que o faça, eles dirão que estou descontente e querendo criar confusão e discórdia. Se eu não pregar quando sou proibido de fazê-lo serei acusado de abandonar o chamado que recebi e obedecendo a homens, contrariando a Deus. Se eu pregar serei chamado de desobediente e rebelde. Se ajudar um amigo ou parente a conseguir uma posição para a qual ele não é adequado ou que irá prejudicar a outrem; se eu atendo-lhe o pedido, serei chamado de desonesto, que por parcialidade prejudiquei a outros. Se negar-lhe o desejo, serei considerado antinatural e não amigo, e pior que um infiel. Se eu der ao pobre enquanto tenho o que dar, serei reprovado ao parar de dar quando não tiver mais. Aqueles que não sabem se vocês têm ou não para dar, ficarão descontentes se vocês não derem e se por muitos anos vocês permanecerem dando livremente, será tudo considerado nada se tiverem que cessar, não importando se pararam porque seu estoque acabou ou porque outro teve que ser objeto da sua caridade. Se vocês sofrerem algum dano em relação aos seus bens e forem à justiça, dirão que são contenciosos; se vocês deixarem tudo como está e sofrerem o dano então dirão que vocês são tolos e idiotas. Se fizerem alguma obra de caridade à vista dos homens, dirão que são hipócritas e o fazem para receber aplausos; se fizerem secretamente, de forma que ninguém saiba, dirão que são cobiçosos e não têm boas obras e que apesar de professar a religião vocês não fazem o bem. Se vocês forem alegres e divertidos eles os reprovarão porque são levianos e fúteis. Já se forem mais sérios e tristes, serão chamados de melancólicos e descontentes. Em uma palavra, façam o que fizerem, tenham a certeza de que sempre alguns os condenarão. E fazendo ou não fazendo, falando ou calando, certamente vocês desagradarão e nunca escaparão das censuras do mundo.

15. Há entre os homens uma contrariedade tão grande de julgamentos, disposições e interesses que eles nunca concordarão entre si. E se vocês agradarem a um, o resto ficará descontente. Aquele que vocês agradarem é considerado inimigo para outro e, assim, vocês desagradam seu inimigo agradando a eles. Às vezes, diferenças de estado dividem reinos em partidos e um partido ficará descontente com vocês se vocês forem do outro, e ambos ficarão se vocês forem neutros ou não gostarem de nenhum dos dois. Cada partido acha que sua causa justifica qualquer acusação que façam contra vocês ou títulos odiosos que queiram lhes conceder e até mesmo sofrimentos que possam querer lhes infligir. Diferenças e grupos sempre existiram na igreja e vocês não podem ter a opinião de todos os partidos. Quando há tal abundância de conceitos, vocês não podem concordar com todas elas ao mesmo tempo. E se vocês forem de um partido, desagradarão os demais. Se aderirem a um lado em opiniões controversas, o outro lado os considerará hereges e é impressionante até que ponto os interesses deles podem levá-los. Metade do mundo cristão, nos dias de hoje, condena o outro lado de ser cismático, para dizer o mínimo; e a outra metade faz o mesmo com a primeira. E será que vocês podem ser papistas, protestantes e gregos, e tudo mais? Se não, vocês terão que desagradar tantos quantos agradam. E ainda mais, se homens inconstantes ficam mudando o tempo todo, eles esperam que vocês mudem tão rápido quanto eles, e qualquer que sejam seus interesses conflitantes vocês terão que segui-los. Em um ano vocês precisarão jurar e no ano seguinte terão que desfazer o juramento. Qualquer causa ou ação que eles abraçarem, por mais diabólica que seja, vocês terão que aprovar ou permitir, e tudo que eles fizerem vocês terão que dizer que é bem feito. Em uma palavra, vocês terão que treinar sua língua a dizer ou jurar qualquer coisa, e terão que vender sua inocência e colocar sua consciência totalmente a serviço deles, ou não poderão agradá-los. Micaías precisa dizer, com os outros profetas, "Vá e prospere", senão será odiado por não profetizar coisas boas para Acabe, mas somente coisas más. 1 Rs 22:8. E como poderão servir a todos os interesses de uma só vez? Parece que a providência divina embaralhou, de propósito, os assuntos do mundo, para tentar e envergonhar todos os que procuram agradar a homens e os contemporizadores que estão debaixo do sol. É evidente então, que para agradar a todos você precisa falar e ficar calado, ratificar contradições, estar em muitos lugares ao mesmo tempo, ter a mente e seguir o caminho de muitos homens. De minha parte, pretendo ver o mundo tendo um pouco mais de acordo entre si, antes de ter como minha ambição agradá-lo. Se vocês podem reconciliar todas as suas opiniões e interesses, o estado de coisas, as disposições, e fazer com que todos tenham uma só mente e vontade, só então passem a ter esperança de agradá-los.

16. Se vocês se sobressaírem em alguma qualidade pessoal ou atividade, mesmo isso não os isentará da difamação na direção oposta; tal é a irracionalidade dos homens maliciosos. Nada neste mundo pode proteger vocês das línguas fofoqueiras e difamadoras. A perfeita santidade de Jesus Cristo não o livrou de ser chamado de glutão, bebedor de vinho e amigo de publicanos e pecadores. O esplêndido desprezo que ele tinha pelas honras e pompas mundanas, e a sua sujeição a César, não evitaram que ele fosse ultrajado e crucificado como inimigo do imperador. A grande piedade dos antigos cristãos não os livrou de calúnias vulgares que diziam que eles se reuniam no escuro para cometer torpeza, e também não os livrou do clamor da turba: "Fora com os impíos", provocada porque os cristãos eram contra a adoração dos ídolos que eles idolatravam. Conheço pessoas que deram tudo o que tinham para os pobres, exceto a própria comida e mais algumas coisas indispensáveis, e ainda assim (apesar das coisas serem de valor considerável) foram reprovadas como tendo sido inclementes em relação àqueles que não receberam tanto quanto esperavam. Muitos, cujas vidas inteiras foram de castidade incorruptível, foram difamados por rumores escandalosos de impureza. Os mais eminentes santos foram difamados como culpados dos mais horrendos crimes, que nunca sequer passaram pelo pensamento deles. A coisa que eu mais busquei nos meus estudos e com que mais me preocupei sempre foi a reconciliação, unidade e paz entre os cristãos. Sempre escrevi contra a falta de amor, a turbulência e a divisão. Mas, surpreendentemente, há muitos cujo interesse e malícia os fez acusarem-me exatamente daquele pecado que gastei meus dias, meu zelo e meus estudos para atacar. Com que freqüência facções contrárias me acusaram com acusações perfeitamente opostas! Não consigo pensar em nada que eu faça neste mundo que deixe de ofender alguém; nem em deveres tão grandes e claros que não sejam chamados de pecado; nem numa auto-renúncia tão grande (mesmo com o risco da própria vida) que não seja chamada de egocentrismo; ou algo totalmente puro que não seja considerado exatamente o contrário. Portanto, em vez de servir a este injusto e malicioso mundo, eu desprezo as suas cegas e injustas censuras e recorro ao infinitamente justo Deus.

17. Se vocês planejam manter um nome honrado quando morrerem, considerem bem o poder que uma facção prevalecente pode ter de corromper a história da sua vida e representá-los para a posteridade de forma perfeitamente contrária àquilo que vocês são. E é difícil para a posteridade avaliar qual história é produto de mentiras maliciosas e vergonhosas, e qual é a verdade imparcial. Quantas histórias contraditórias há por aí sobre pessoas e ações particulares, escritas por homens da mesma religião: como é o caso do Papa Gregório VII e os imperadores que brigaram com ele; e sobre o Papa João, e muitos outros parecidos. Casos em que vocês podem ler grande quantidade de historiadores posicionando-se de um lado ou de outro.

18. Lembrem-se de que os maiores santos e apóstolos nunca puderam agradar o mundo, nem escapar das suas censuras, calúnias e crueldades. Não; nem mesmo o próprio Jesus escapou. E vocês acreditam honestamente que podem agradá-lo melhor que Cristo e seus santos puderam? Vocês não têm a sabedoria que Cristo tinha para agradar aos homens e evitar ofensas. Vocês não possuem a perfeita inocência e ausência de culpa que Cristo tinha. Vocês não podem curar as doenças e enfermidades deles, e fazer a eles aquele bem que poderia agradá-los e ganhá-los, como Cristo fez. Vocês não podem convencer e constranger a eles para que os reverenciem por seus muitos milagres como Cristo fez. E será que vocês podem imitar um padrão tão elevado como o estabelecido pelo santo, paciente, amoroso e infatigável apóstolo Paulo? Atos 20; 1 Cor 4; 9; 2 Cor 4; 5; 6; 10; 11; 12. Se não podem, como poderão agradar àqueles que não se satisfizeram com tais inimitáveis obras de amor e poder? Quanto mais Paulo amava alguns de seus ouvintes, menos ele era amado (2 Cor 12:15). Eles o consideraram um inimigo por lhes dizer a verdade (Gl 4:16). Apesar de ele ter se tornado todas as coisas para todos os homens, ele apenas pôde salvar alguns e agradar alguns (1 Cor 9:22). E o que são vocês para que sejam mais bem sucedidos que ele?

19. Piedade, virtude, e até mesmo honestidade, não agradam ao mundo e, portanto, vocês não devem ter esperanças de agradá-los com coisas que os desagradam. Será que os homens serão satisfeitos por meio de coisas que eles odeiam? E por meio daquelas ações que eles podem sentir que são as mesmas que os acusam e condenam? E se vocês forem ímpios e depravados para agradá-los, vocês estarão vendendo suas almas, suas consciências e seu Deus, só para satisfazê-los. Lembre-se que Deus e eles não se agradam dos mesmo caminhos. E qual dos dois vocês acham que deve ser satisfeito primeiro? Se vocês o desagradarem em favor deles, é certo que pagarão um alto preço.

20. Os homens não se agradam nem mesmo de Deus; aliás, ninguém desagrada a tantos, e tanto, como Ele. E será que vocês podem fazer mais do que Deus para agradá-los? Ou será que vocês merecem o favor deles mais do que Ele? Eles se desagradam dEle diariamente por causa da sua providência: um quer chuva enquanto o outro não quer. Um quer ventos para ajudar na sua viagem e o outro os quer soprando em outra direção. Um grupo fica desgostoso, porque outro está feliz e exaltado. Cada um dos adversários quer que a sua causa seja bem-sucedida e que a vitória seja sua, cada rival quer que tudo penda para o seu lado. Eles querem que Deus seja dirigido por eles e se adapte a eles e a seus interesses mais injustos, e à vontade dos mais depravados, e aja como se eles fossem donos dEle, e seja um servo dos seus prazeres. Se não for assim, eles não se agradarão dEle. E a Sua natureza santa, Sua imaculada Palavra, Seus santos caminhos, desagradam-nos mais ainda do que a sua providência do dia-a-dia. Eles ficam incomodados por Sua Palavra ser tão rígida e precisa, e porque Ele lhes ordena uma vida tão santa e disciplinada, e também porque Ele ameaça todos os ímpios com condenação. Deus precisa alterar suas leis, torná-las mais flexíveis, adaptá-las aos interesses carnais e às cobiças deles, dizer o que eles querem ouvir, antes que eles possam aceitar (a não ser que Ele transforme suas mentes e corações). E será que vocês imaginam que eles ficarão satisfeitos com Deus no final, quando Ele cumprir suas ameaças? Quando Ele os matar e tornar seus corpos em pó e suas almas culpadas forem lançadas no tormento e no desespero?

21. Como vocês poderão agradar a homens que não se agradam a si mesmos? Seu próprio desejo e escolhas os satisfarão por muito pouco tempo. Como crianças, eles logo se entediam com aquilo pelo que clamavam. Eles precisam desesperadamente tê-lo, e quando têm, aquilo passa a ser como nada e é jogado fora. Não se satisfazem tendo e deixando de ter. São como pessoas enfermas que anseiam por todo tipo de comida e bebida, e quando finalmente podem tê-los não conseguem engoli-los, porque a enfermidade ainda está dentro deles e lhes causa desconforto. Quantos e quantos enfrentam problemas e atormentam-se por causa de paixões e bobagens dia após dia! E será que vocês conseguirão agradar a esses auto-destruidores?

22. Como poderão agradar a todos os outros homens se não podem agradar nem a si mesmos? Se vocês são pessoas tementes a Deus e sentem o fardo dos seus pecados, e têm vida suficiente para serem sensíveis às suas mazelas, eu ouso dizer que não há ninguém no mundo tão desgostoso de vocês quanto vocês mesmos. Vocês carregam consigo, e sentem no íntimo, aquilo que os desagrada mais do que todos os inimigos que possam ter no mundo. Suas paixões e corrupções, sua falta de amor a Deus, e a sua distância em relação a Ele e ao porvir; a imperfeição diária de seus deveres e sua vida, são o seu fardo diário, e os desagradam mais que tudo. E se vocês não são capazes, sábios e bons o suficiente para agradarem-se a si mesmos, poderão ser capazes, sábios e bons o suficiente para agradar o mundo? Assim como seus pecados estão mais próximos de vocês mesmos, assim ocorre com as suas graças; e assim como vocês conhecem mais maldade sobre si mesmos do que os outros, assim vocês conhecem mais bondade. Um pequeno fogo não aquecerá a casa se não consegue aquecer a lareira em que repousa.

sábado, 23 de julho de 2011

E-BOOK: Livros do Reverendo Richard Baxter

Excelente livro! Altamente recomendado

http://www.4shared.com/document/ByhXNO6d/Manual_Pastoral_de_Discipulado.html

Escrito por Richard Baxter, em sua juventude, em um período de duras provações físicas, estas páginas revelarão uma visão de fé penetrante e de desafio para os cristãos de todas as eras.


Medite Essas coisas (conselho para uma conversão segura)


E- BOOK do livro: Quebrantamento: Espírito de humilhação
A firmeza da conversão e santificação é uma consideração tão importante que o nosso cuidado e diligência em confirmá-las não podem ser demasiadamente grandes. Tanto os ateístas professos, pagãos e infiéis lá fora, como os hipócritas auto-enganadores dentro da igreja, entregam-se deliberadamente à ruína eterna ao negligenciarem tal assunto de conseqüência eterna, enquanto têm tempo, advertência e assistência para considerarem a questão com urgência. Multidões vivem como brutos ou ateístas, esquecendo-se de que são nascidos em pecado e miséria, deliberadamente acomodados nesta situação, os quais devem ser convertidos, ou serão condenados. Muitos deles não sabem a necessidade que têm de conversão, nem o que é conversão ou santificação. 

Além disso, alguns pregadores do Evangelho têm sido tão lamentavelmente ignorantes quanto a um assunto de tal importância que têm persuadido o pobre e iludido povo de que apenas os pecadores grosseiros e odiosos necessitam de conversão, dessa forma prometendo salvação àqueles, aos quais Cristo, com muitas asseverações, declarou que não entrariam no reino de Deus. Outros, embora confessem que uma profunda santificação é algo necessário, iludem suas almas com alguma coisa que apenas se assemelha a isso.


ORIENTAÇÕES PARA ODIAR O PECADO: 


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Daniel werneck

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Zelo de Richard Baxter

Imagem cedida por: http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Baxter

Erroll Hulse

Esboçarei a vida de Richard Baxter e, em seguida, destacarei o seu zelo, expresso em sua extraordinária obra pastoral, em Kidderminster, e em seu clássico The Reformed Pastor (O Pastor Aprovado).
Um esboço de sua vida
Richard Baxter nasceu em 1615. Diferentemente da maioria dos famosos ministros puritanos, Baxter não desfrutou de estudos nas universidades de Oxford ou Cambridge. Ele estudou na modesta Escola Pública Donnington. Depois, foi um autodidata. Leitor ávido, Baxter estudou amplamente vários assuntos. Deste modo, tornou-se um homem de excepcional conhecimento e habilidade para debates. Foi ordenado diácono pelo bispo de Worcester, em 1638. Por breve tempo (1641-1642), Baxter trabalhou como preletor e co-pastor em Kidderminster. Em 1642, o país se envolveu em guerra civil. Baxter serviu como capelão no Exército do Parlamento até 1647, retornando a Kidderminster como pastor. Ali, ele trabalhou até 1661. Estes 14 anos, em que teve a idade de 32 a 46 anos, foram notáveis por causa da transformação espiritual operada na cidade. Aquele município foi tão abençoado que se tornou um referencial na história evangélica da Inglaterra.
Quase no fim de seu ministério em Kidderminster, uma viúva chamada Mary Hanmer veio morar na cidade, a fim de obter benefícios do ministério de Baxter. Ela estava acompanhada de sua filha Margaret, que tinha 16 anos de idade, e que era mundana e indiferente ao evangelho. Nos quatro anos seguintes, Margaret foi afetada pelo ministério de Baxter e aos 20 anos foi convertida. Durante este tempo, ela se apaixonou por Baxter, que considerava o celibato ideal para um ministro. Ele proclamava isto com entusiasmo — um ponto de vista que consistia um grande contraste com os puritanos ingleses, os quais afirmavam, com vigor, a doutrina bíblica do casamento e da família. Richard Baxter deixou Kidderminster, para viver em Londres, onde ele usou toda influência possível a fim de obter um tratamento justo para os puritanos. Mary e Margaret o seguiram e passaram a morar perto dele. O Ato de Uniformidade, sancionado pelo Parlamento, em 1662, era rígido e severamente contrário à consciência dos puritanos.
O Ato de Uniformidade levou os puritanos a deixarem a Igreja Anglicana. Cerca de 2.000 ministros puritanos sofreram a perda de seu sustento, naquilo que, na História, ficou conhecido como a Grande Expulsão. É claro que isto incluiu Baxter. Sua vida foi arruinada: fora cruelmente despojado de sua razão de ser. Ele era pastor por natureza, agora sem igreja; um pregador nato, sem púlpito. A sua justificativa para o celibato desapareceu. Baxter se casou com Margaret em 19 de setembro de 1662. Ela estaria sempre com ele, confortando-o, prestando-lhe cuidado nas freqüentes enfermidades, apoiando todos os interesses práticos de sua vida. Viver com Margaret foi a maior consolação desfrutada por ele durante os anos difíceis que vieram depois. O restante da vida de Baxter foi marcado por aflições. Em 1669, ficou preso por mais de uma semana em Clerkenwell e por 21 meses em Southwark (1685-1686). Ele nunca teve uma saúde robusta e precisou lutar contra graves surtos de enfermidade.
Em novembro de 1672, Baxter pregou publicamente pela primeira vez em dez anos. Margaret (1636-1681) empregou, com generosidade, parte considerável de sua herança para garantir que Richard Baxter exercesse um ministério público eficiente. Ela alugou um salão público, onde cabiam 800 pessoas, em uma das áreas mais carentes de Londres e contratou algumas pessoas para ajudarem Baxter em seu ministério.
Durante o tempo de exclusão do ministério público, Richard Baxter usou seu tempo para escrever. Seus escritos excederam, em quantidade, os de John Owen. Diferentemente de John Owen, que talvez seja o melhor teólogo de língua inglesa, Richard Baxter era neonomiano e amiraldiano. Infelizmente, isto produziu confusão teológica nas duas gerações seguintes. Os leitores dos três clássicos de Baxter — O Descanso Eterno dos Santos (“The Saints’ Ever- lasting Rest”), uma explicação a respeito do céu; Um Apelo ao Não-convertido (“A Call to the Unconverted”) e O Pastor Aprovado (“The Reformed Pastor”) — não perceberão estes erros. É mais fácil ler Baxter que Owen. A sua obra mais extensa intitula-se Diretório Cristão (“Christian Directory”) e aborda cada aspecto da vida cristã sob um ponto de vista prático. É na aplicação prática das Escrituras que vemos o melhor de Baxter. Ele possuía um poderoso dom de constranger e levar a consciência à obediência.
Richard Baxter era sempre zeloso no que se refere à obra missionária. Ele foi um dos principais motivadores do estabelecimento da Sociedade de Propagação do Evangelho. John Eliot, famoso como “o apóstolo dos índios americanos”, encontrou em Baxter um excelente auxiliador. Durante a sua última enfermidade, em 1691, Baxter leu A Vida de Eliot e escreveu ao seu autor, Increase Mather: “Pensei que morreria por volta das 12 horas, na cama, mas o seu livro vivificou-me. Conheço muitas das opiniões do Sr. Eliot, por meio das várias cartas que recebi dele. Não houve na terra um homem que honrei mais do que ele. A obra evangélica de Eliot é a sucessão apostólica pela qual eu mesmo suplico”.

Evangelismo zeloso em Kidderminster
Na qualidade de pastor, Richard Baxter era excepcional. O sucesso do evangelho em Kidderminster, sob a liderança dele, foi singular. Não podemos encontrar na história evangélica da Inglaterra algo que se compare com este sucesso.
A cidade tinha aproximadamente 800 casas e uma população entre 2.000 e 4.000 pessoas. Baxter percebeu que eles eram “ignorantes, rudes e festeiros”. Uma notável mudança ocorreu. “Quando comecei meus trabalhos, tive cuidado especial por todos os que eram humildes, reformados ou convertidos. Mas, quando já havia trabalhado por bom tempo, aprouve a Deus que os convertidos fossem tantos, que não pude me dar ao luxo de gastar tempo com observações particulares; famílias e considerável número de pessoas vieram de uma só vez, amadureceram e cresceram, de um modo que não sei explicar”. O método de Baxter consistia em visitar casa por casa e ser bastante direto no assunto de conhecer a Deus com fé salvadora.
No prédio da igreja cabiam 1.000 pessoas. Cinco galerias foram acrescentadas para acomodar a congregação.Quando Baxter chegou a esta pobre cidade, onde a tecelagem era a principal atividade, ela era um deserto espiritual. Quando ele deixou Kidderminster, era um jardim belo e promissor. “No Dia do Senhor, qualquer um que caminhasse pelas ruas poderia ouvir centenas de famílias cantando salmos e repetindo sermões. Quando cheguei ali, somente uma família, em cada rua, adorava a Deus e invocava o seu nome. Quando saí, havia algumas ruas em que não havia nem uma família que não confessasse uma piedade séria, que nos dava esperança quanto à sinceridade deles.”
Posteriormente, Baxter escreveu: “Embora eu tenha estado ausente deles por quase seis anos e tenham sido assaltados por ameaças, calúnias e difamações a respeito da pregação, eles permanecem firmes e mantêm a sua integridade. Muitos deles estão com o Senhor. Alguns foram expulsos; alguns estão presos. Mas nenhum deles, sobre os quais tenho ouvido, caiu ou abandonou a sua retidão”. Quando, em dezembro de 1743, George Whitefield visitou Kidderminster, ele escreveu a um amigo: “Fui grandemente revigorado ao ver que o agradável aroma da boa doutrina, da obra e da disciplina do Sr. Baxter permanece até hoje”.
A principal diferença entre Baxter e a maioria dos pastores, do passado e do presente, é que ele combinava a pregação com o testemunho pessoal direto, pessoa a pessoa. Com muita freqüência, os pastores contentam-se em confinar seu testemunho do evangelho ao púlpito. A atitude e a prática de Baxter se revelam com clareza em seu livro O Pastor Aprovado (“The Reformed Pastor”).
Richard Baxter e “O Pastor Aprovado”
Os membros da Associação de Worcester, a fraternidade de clérigos que tinha Baxter como espírito propulsor, se comprometeram a adotar o método de catequese paroquial sistemática, conforme o método de Baxter. Eles estabeleceram um dia de jejum e oração, para buscarem a bênção de Deus sobre este empreendimento e pediram a Baxter que pregasse naquele dia. Entretando, quando o dia chegou, Baxter se encontrava muito doente para estar presente; por isso, em 1656, ele publicou o material que havia preparado, uma exposição completa de Atos 20.28. Esse material recebeu o título de O Pastor Aprovado (“The Reformed Pastor”). Este livro tornou-se famoso, e tem sido usado em todas as gerações, até ao presente. Por exemplo, a edição da Banner of Truth, com a excelente introdução de J. I. Packer, surgiu em 1974; e edições posteriores foram realizadas em 1979, 1983, 1989, 1994, 1997, 1999 e 2001.
A palavra Aprovado (Reformed), no título, não significa calvinista em doutrina, e sim renovado em suas práticas. Este tratado é uma dinamite espiritual, e foi reconhecido assim desde a sua criação. Um mês depois de sua publicação, um leitor escreveu: “Ó homem grandemente abençoado! O Senhor revelou suas coisas secretas para você, pelas quais muitas almas na Inglaterra se levantarão e bendirão a Deus por você”.
Isto provou estar correto. O livro de Baxter, O Pastor Aprovado, ainda é o melhor manual quanto aos deveres de um pastor. Nada tem excedido o seu poder e sua eficácia. É um imperativo para todo pastor.
Na edição da Banner of Truth, J. I. Packer sugere que o vigor e o poder evocativo do livro atravessam três séculos. Ele descreve três excelentes qualidades de O Pastor Aprovado.
A primeira é o seu vigor. “As palavras do livro têm mãos e pés.” Baxter possuía olhos perscrutadores e, certamente, tinha palavras perscrutadoras. “Seu livro arde com zelo sincero e ardente, com fervor evangelístico e sinceridade para convencer.”
A segunda qualidade é que o livro contém realidade. “É honesto e direto. Freqüentemente se diz, com exatidão, que qualquer cristão que ama o seu próximo e pensa seriamente que, sem Cristo, os homens estão perdidos não será capaz de descansar tranqüilamente com o pensamento de que todos ao seu redor estão indo para o inferno, mas se disporá, irrestritamente, a testemunhar, tendo isso como seu principal objetivo de vida. E qualquer crente que deixa de viver deste modo destrói a credibilidade de sua fé. Pois, se ele mesmo não pode, com seriedade, ter isso como norma de seu viver, quem mais pode ter? Nenhuma outra obra manifesta tanta solidez como O Pastor Aprovado. Nesta obra, encontramos um amor apaixonado e um crente terrivelmente honesto, sincero e correto pensando e falando sobre o perdido, com realismo perfeito, insistindo em que temos de aceitar alegremente qualquer grau de desconforto, pobreza, trabalho excessivo e perda de bens materiais, se almas forem salvas, e apresentando, em sua própria pessoa, um exemplo vívido do que está envolvido nesta obra.”
Terceira, o livro é um modelo de racionalidade. J. I. Packer diz que o livro expressa bom senso. A responsabilidade é ressaltada com clareza. “A graça entra por meio do entendimento.” Baxter insistia em que os ministros têm de pregar a respeito de assuntos eternos como homens que sentem o que falam e se mostram sérios a respeito do assunto de vida e morte eterna. Baxter também sustentava que a disciplina da igreja tem de ser praticada para mostrar que Deus não aceita o pecado.
Em sua exposição de Atos 20. 28, Baxter esclarece a exortação “atendei por vós”. Ele também explica o significado de atender por todas as ovelhas do rebanho. Começa com o não-convertido e os inclui em sua percepção. Ele exorta os pastores à supervisão cuidadosa das famílias e persiste em que temos de ser fiéis em admoestar os transgressores. No que diz respeito ao modo como deve ser administrada esta supervisão, ela tem de ser realizada com franqueza e simplicidade, com humildade e uma mistura de severidade e brandura, com seriedade e zelo, com ternura e amor para com as pessoas, com paciência e reverência, com espiritualidade e desejos sinceros de sucesso, com um profundo senso de nossa própria incapacidade. Finalmente, Baxter nos convoca a labutarmos unidos com outros ministros do evangelho, o que é sobremodo importante em nossos dias, quando divisões são mantidas por razões insignificantes e não-bíblicas.
O zelo de Richard Baxter resplandece em O Pastor Aprovado. As exortações de Baxter retinem com sinceridade porque ele vivia o que pregava. À semelhança de um oficial militar, Baxter leva os seus soldados à batalha. Ele não dá ordens a partir de uma zona de segurança.
A maneira como Baxter se dirigia à pessoas, quer em público, quer em particular, se reflete em Um Apelo ao Não-Convertido (“A Call to the Unconverted”), que vendeu 20.000 exemplares no seu primeiro ano de publicação e foi traduzido para vários idiomas. O versículo de abertura deste livro é Ezequiel 33.11: “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?” A compaixão expressa neste versículo de Ezequiel é muito semelhante ao zelo ardente que o Espírito Santo produziu em Richard Baxter.

FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=197

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