sexta-feira, 20 de julho de 2012

HEROI ESQUECIDO: Nicolau Von Zizendorf

Imagem cedida por: http://www.perspectivasbrasil.com/recursos/biografias/zinzendorf
O Conde Nicolau von Zinzendorf (1700 - 1760) foi um nobre crente que exerceu grande influência na história missionária.
Em uma de suas viagens, ao visitar um Museu, viu um quadro do Senhor Jesus coroado com espinhos e uma inscrição: "Eu tudo fiz por ti, que fazes tu por mim?" E muito se emocionou. Meditou e chorou por muitos dias sobre tal frase. Após viajar para a Groenlândia seu coração tornou-se ainda mais inquieto ao ver que os esquimós da Groenlândia não conheciam a Cristo e seu choro aumentou ainda mais.

Algum tempo depois ele encontrou um amigo cristão e lhe fez um convite para ir pregar o Evangelho aos esquimós, dizendo: “Você gostaria de pregar o Evangelho aos esquimós? Mas antes que você me responda, quero que você saiba que você vai sozinho, sem sustento e sem possibilidade de voltar para casa. Você aceita o desafio?”. Aquele homem aceitou o desafio sem pensar duas vezes. A única coisa que fez foi pedir um par de sapatos usados, pois o mesmo estava descalço e seria difícil viajar de tal forma. 

Na manhã seguinte, ao chegar a casa daquele cristão com o par de sapatos usados, que ele havia pedido, Zinzendorf não o encontrou. Ele havia deixado um bilhete dizendo “saí de casa, descalço, antes de o sol nascer. Não posso perder tempo para fazer a obra de Cristo”. Hoje, mais de 95% da população da Groenlândia é cristã! E tudo começou porque um homem ousado e comprometido com Jesus respondeu “SIM” ao chamado de Cristo e dedicou-se em pregar o evangelho e salvar as vidas. Veja a localização da Groelândia no mapa abaixo:
Extraído do site: http://www.infoescola.com/geografia/groenlandia/
Nessa época, na Moravia, a Igreja que se originara após a morte de John Huss, estava sendo grandemente perseguida. O conde Nicolau mandou avisar que se aqueles crentes quisessem, seriam acolhidos em suas terras, na Saxônia. Assim, muitos refugiados morávios conseguiram chegar lá e fundaram em 1722, uma comunidade que existe até hoje, chamada Herrnhut ("sob o cuidado do Senhor" ou também "montando guarda para o Senhor"). Lá eles se auto-sustentavam. Aprenderam a viver como artesãos e desenvolveram um movimento de oração nas 24 horas do dia, nos sete dias da semana por 100 anos. Pouco tempo depois, aquela comunidade cristã, liderada por Zinzendorf, passou a ter um fortíssimo envolvimento missionário. Vários membros (principalmente jovens), começaram a se sentirem chamados para pregar em lugares distantes.

Além do comprometimento com a oração, eles também eram extremamente comprometidos com a obra missionária. Eles reconheciam o chamado da Grande Comissão, eles sabiam que precisavam pregar o Evangelho aos que nada sabiam sobre o Evangelho e entendiam que eram responsáveis por pregar o Evangelho aos perdidos. Assim, no espaço de 20 anos, a igreja dos morávios enviou mais missionários para o mundo do que todas as igrejas protestantes em 200 anos!

Os irmãos morávios, dirigidos por Zinzendorf e outros líderes, enviaram missionários para: Ilhas Virgens(1732); Groenlânida (1733); Suriname (1735); África do Sul (1736); Jamaica (1750); Canadá (1771); Austrália (1850); Tibet (1856), entre outros longínquos lugares.

Nos primeiros 100 anos de atividade (de 1732 a 1832), os irmãos morávios obtiveram o impressionante número de 40 mil membros, 209 missionários e 41 centros de missões ao redor do mundo! Em 150 anos enviaram 2.158 missionários.

Quando Zinzendorf era questionado sobre o real motivo para tão expressivo e sacrificial movimento missionário, respondia: "estamos indo buscar para o Cordeiro o galardão do Seu sacrifício". Baseado em Isaías 53:11.

Zinzendorf morreu aos 60 anos em Herrnhut, pastoreando até o fim de seus dias. Assim como o Senhor Jesus, foi obediente até a morte para cumprir as Escrituras. O líder morávio procurou seguir o exemplo do Filho de Deus.

FONTE: www.ressureicao.com

BIOGRAFIA: Richard Wurmbrand

extraído de www.ressureicao.com
Richard Wurmbrand (Março 24, 1909 – Fevereiro 17, 2001) era um Romeno evangelico Pastor e escritor. Ele foi o fundador da Organização Internacional Voz dos Martires ou The Voice of the Martyrs.

Richard Wurmbrand, o caçula de quatro filhos, nasceu em 1909 em Bucareste, em uma família judaica. Ele viveu com sua família em Istambul por um curto tempo, seu pai morreu quando ele tinha 9 anos e os Wurmbrands voltaram à Romênia, quando ele tinha 15 anos. Quando adolescente, ele foi enviado para estudar o marxismo, em Moscou, mas retornou clandestinamente no ano seguinte. Perseguido pela Siguranţa Statului (polícia secreta), ele foi preso e mantido na prisão Doftana. 

Ao retornar à sua pátria, Wurmbrand, já era um importante agente do Comintern, líder e coordenador pago diretamente por Moscou. À semelhança de outros comunistas romenos, ele foi preso várias vezes, então condenado e liberado novamente. Casou-se com Sabina Oster em 26 de outubro de 1936. Wurmbrand e sua esposa se tornaram crentes em Jesus como Messias, em 1938, através do testemunho dos cristãos Wolfkes, um carpinteiro romeno Christian, que integrou a Missão Anglicana para os judeus. Wurmbrand foi ordenado por duas vezes - primeiro como um anglicano, em seguida, após a Segunda Guerra Mundial, como um pastor luterano.
Em 1944, quando a União Soviética ocupou a Roménia, o primeiro passo para estabelecer um regime comunista, Wurmbrand começou um ministério para os seus compatriotas romenos e aos soldados do Exército Vermelho. Quando o governo tentou controlar as igrejas, ele imediatamente começou um ministério "subterrâneo" para seu povo. Richard é lembrado por sua coragem em estar em uma reunião de líderes da igreja e denunciando o controle do governo das igrejas. Ele foi preso em 29 de fevereiro de 1948, enquanto em seu caminho para os cultos da igreja.
Wurmbrand enquanto preso foi açoitado, torturado e obrigado a ingerir drogas. Apesar de tudo ele resistiu e ficou firme. Passou dois anos na “cela da morte”, assim chamada por não ter voltado ninguém dali com vida até então.

Wurmbrand, que passou pelos Estabelecimentos Penais de Craiova, Gherla, o Danube-Black Sea Canal, Văcăreşti, Malmaison, Cluj, finalmente, Jilava, solitária onde passou três anos. Sua esposa, Sabina, foi in presa em 1950, passou três anos em Danube-Black Sea Canal em trabalho escravo. Wurmbrand foi libertado da primeira prisão em 1956, depois de oito anos e meio. Embora avisado para não pregar, retomou todos elementos trabalho na Igreja Subterrânea. Foi preso novamente em 1959 e condenado a 25 Anos. Durante sua prisão, foi torturado e espancado. Foi solto pela Anistia em 1964. Preocupados com a possibilidade de que Wurmbrand fosse mais uma vez para a prisão, a "Norwegian Mission to the Jews" e também "Hebrew Christian Alliance" negociaram as autoridades comunistas para sua libertação por US$ 10.000. Foi convencido pelos Líderes da Igreja Subterrânea a sair do país para se tornar a Voz da Igreja Perseguida.

“Crentes eram pendurados em cordas de cabeça para baixo e açoitados tão severamente que seus corpos balançavam de um lado para o outro sob a força das pancadas. Eram colocados em refrigeradores — “celas refrigerantes” — tão frias que se formava uma camada de gelo na parte interna da cela. Eu próprio fui jogado em uma dessas celas com bem pouca roupa. Médicos da prisão observavam-nos através de uma abertura, até verem sintomas de morte por congelamento. Nesse ponto davam sinal e os guardas nos tiravam e então éramos aquecidos. Quando já estávamos adquirindo calor, éramos imediatamente colocados de novo nas celas congeladoras, e isto repetidamente! Descongelar depois congelar até um ou dois minutos antes da morte, e então descongelar novamente. Isso continuava indefinidamente. Até hoje, algumas vezes não suporto abrir um refrigerador”.

“Uma grande lição permaneceu após todas as surras, torturas e carnificina infligidas pelos comunistas aos cristãos: o espírito é capaz de dominar o corpo. Muitas vezes, ao sermos torturados, sentíamos a dor, mas era como se fosse algo distante e bem dissociado do nosso espírito que estava tomado com a glória de Cristo e a sua presença conosco. Quando recebíamos uma fatia de pão por semana, e uma tigela de sopa de água suja por dia, decidimos que continuaríamos dando fielmente o “dízimo” mesmo nestas circunstâncias. De dez em dez semanas pegávamos a fatia de pão e a entregávamos a alguém que estava mais fraco como nossa oferta ao Mestre”.

Um cristão recebeu a sentença de morte. Antes de ser executado, permitiram que visse sua esposa. Suas últimas palavras a ela foram: “Você precisa saber que morro amando aqueles que me matarão. Eles não sabem o que fazem, e meu último pedido é que você os ame também. Não sinta amargura no seu coração porque mataram o seu amado. Encontraremo-nos no céu”. Estas palavras impressionaram o oficial da polícia secreta que estava acompanhando a conversa entre os dois de tal forma que se converteu. Em conseqüência, foi colocado na prisão junto comigo, onde contou-me esta história.

Na prisão de Tirgu-Ocna, havia um prisioneiro muito jovem chamado Matchevici. Estivera ali desde a idade de dezoito anos. Por causa das torturas, estava agora muito doente com tuberculose. Sua família descobriu de alguma forma o seu estado de saúde, e enviou-lhe cem vidros de estreptomicina, que poderiam lhe fazer a diferença entre a vida e a morte. O oficial político da cadeia chamou o prisioneiro e mostrou a encomenda. Disse-lhe: “Aqui está o remédio que pode salvar sua vida. Mas não é permitido receber encomendas da família.

Pessoalmente, gostaria de ajudá-lo. Você é jovem. Não gostaria que morresse na prisão. Ajude-me a ajudá-lo! Dê-me informações contra seus companheiros na prisão, e isto me dará justificativa diante dos meus superiores por lhe ter entregado a encomenda”. Matchevici respondeu sem hesitar: “Não desejo permanecer vivo e ter vergonha de olhar no espelho, pois estaria vendo um traidor. Não posso aceitar tal condição. Prefiro morrer”. O oficial lhe estendeu a mão e disse: “Minhas congratulações. Não esperava que me desse qualquer outra resposta”.

Mas eu gostaria de fazer outra proposta. Alguns dos prisioneiros se tornaram informantes. Afirmam que são comunistas, e estão denunciando a você. Jogam dos dois lados. Não confiamos neles. Gostaríamos de saber até que ponto são sinceros. Para você foram traidores. Prejudicaram muito sua vida, informando-nos sobre suas palavras e ações. Compreendo que não queira trair seus companheiros. Mas dê-nos informações sobre estes que se lhe opõem, e assim salvará sua vida! “Matchevici respondeu com a mesma rapidez que tivera na primeira proposta. “Sou um discípulo de Jesus, e ele nos ensinou a amar até nossos inimigos. Estes homens que nos traem realmente nos prejudicam muito, mas não posso pagar o mal com mal. Não posso dar informação nem contra eles. Tenho pena deles, oro por eles, mas não desejo ter qualquer ligação com os comunistas”. Matchevici voltou desta conversa com o oficial e morreu na mesma cela onde eu estava. Estive ao seu lado quando morreu, e morreu louvando a Deus. O amor venceu até mesmo a sede natural pela vida.

“Se um homem pobre é um apaixonado por música, dará seu último centavo para assistir a um concerto. Ficará sem dinheiro, mas não sentirá frustração, pois encheu sua alma de sons maravilhosos. Não me sinto frustrado por ter perdido muitos anos na prisão. Vi muitas coisas belíssimas. Já estive entre pessoas fracas e insignificantes na prisão, mas também tive o privilégio de estar na mesma cela com grandes santos, heróis da fé que se equipararam aos cristãos do primeiro século. Enfrentaram a morte por Cristo com alegria. A beleza espiritual de tais santos e heróis da fé nunca se poderão descrever.

“As coisas que estou dizendo aqui não são excepcionais. As coisas sobrenaturais tornaram-se comuns aos cristãos na igreja subterrânea. A igreja subterrânea é a igreja que voltou ao primeiro amor”.

“Antes de ser preso, eu amava muito a Cristo. Agora, depois de ter visto a “Noiva de Cristo”, seu corpo espiritual na prisão, posso dizer que amo a igreja subterrânea tanto quanto amo ao próprio Cristo. Vi sua beleza e seu espírito de sacrifício”

FONTE: www.ressureicao.com 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Arrependimento - George Whitefield

http://temposdearrependimento.blogspot.com.br
"Se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis" (Lc 13-3)

QUANDO consideramos quão abomináveis e agravantes I são as nossas ofensas à vista de um Deus santo e justo, atraindo a sua ira sobre nossa cabeça e nos fazendo viver sob sua indignação, devíamos nos dissuadir do mal, ou pelo menos buscarmos o arrependimento e não cometer mais as mesmas coisas! Porém, o homem é tão imprudente quanto à eter­nidade e tem tão pouca consideração ao bem-estar de sua alma imor­tal, que ele pode pecar sem pensar que tem de prestar contas de suas ações no Dia do Julgamento. Se ele, por vezes, reflete sobre seu comportamento, isso não o dirige ao verdadeiro arrependimento. Ele pode, por pouco tempo, abster-se de cair "em alguns pecados grossei­ros que ultimamente vinha cometendo; mas quando a tentação vem de novo com poder, ele é levado pela concupiscência; e assim vai prometendo e resolvendo, e quebrando suas resoluções e promessas quase no momento seguinte em que as faz. Isto é altamente ofensivo a Deus; é escarnecer dEle. Meus irmãos, quando a graça nos é dada para que verdadeiramente nos arrependamos, nós nos voltamos com­pletamente a Deus; e rogo-lhes que se arrependam dos seus pecados, pois o tempo se apressa em que vocês não terão tempo, nem chama­da ao arrependimento; não há nada na sepultura para onde vamos. Mas não tenham medo, pois é freqüente Deus receber o maior peca­dor à misericórdia pelos méritos de Cristo Jesus. Isto aumenta as ri­quezas da sua graça generosa; e deveria ser um incentivo a vocês, que são grandes e notórios pecadores, para que se arrependam, pois Ele terá misericórdia de vocês, se vocês se voltarem a Ele por Cristo.
O apóstolo Paulo foi eminente exemplo disso. Ele fala de si mesmo como o principal dos pecadores", e declara como Deus lhe mostrou misericórdia. Cristo ama mostrar misericórdia aos pecadores, e se vocês se arrependerem, Ele terá misericórdia de vocês. Mas como nenhuma palavra é tão sujeita a enganos quanto o arrependimento, eu:

  1. Mostrarei a vocês qual é a natureza do arrependimento.
  2. Considerarei as várias partes e causas do arrependimento.
III. Darei a vocês algumas razões por que o arrependimento é necessário para a salvação. E
IV. Exortarei vocês, grandes e pequenos, ricos e pobres, uns aos outros, a buscarem o arrependimento.

I. O arrependimento, meus irmãos, em primeiro lugar quanto à natureza, é a disposição carnal e corrupta dos homens que é mudada numa disposição renovada e santificada. O homem que de fato se arrependeu é verdadeiramente regenerado; é uma palavra diferente para a mesma coisa. A mistura heterogênea de animal e Diabo aca­bou; há uma nova criatura forjada em seu coração. Se o arrependi­mento é verdadeiro, vocês são inteiramente renovados, na alma e no corpo; o entendimento é iluminado com o conhecimento de Deus e do Senhor Jesus Cristo; e a vontade, que era teimosa, obstinada e odiava todo o bem, é obediente e submissa à vontade de Deus.Quando vocês se voltam ao Senhor pelo arrependimento evangélico, então a vontade é mudada; a consciência, agora endurecida e entorpecida, é avivada e despertada; o coração duro é derretido e seus afetos incontroláveis são crucificados. Assim, por esse arrependimento, a alma é completamente mudada; vocês terão novas inclinações, novos desejos e novos hábitos.
Vocês verão o quanto somos vis por natureza — o que exige tão grande mudança a ser feita em nós, para que nos recuperemos desse estado de pecado —, e, por conseguinte, a consideração de nosso estado terrível deveria nos fazer zelosos com Deus para mudarmos nossa condição, e que a mudança implica no verdadeiro arrependi­mento. Meus irmãos, tenham em conta o quanto os seus caminhos são odiosos a Deus, enquanto vocês permanecem no pecado; quão abomináveis vocês lhe são, enquanto prosseguem no mal. Não se pode dizer que vocês sejam cristãos enquanto odeiam Cristo e seu povo; o genuíno arrependimento os mudará completamente, a incli­nação da sua alma mudará; vocês se deleitarão em Deus, em Cristo, na sua Lei e no seu povo. Vocês acreditarão que há tal coisa como sentimento interior, ainda que agora o considerem loucura e fanatis­mo, vocês não terão vergonha de serem tolos pela causa de Cristo; vocês não considerarão que estão sendo ridicularizados; o fato de serem apontados e recebidos com altos brados de: "Vem vindo outro rebanho de seus seguidores!", não os intimidará. Não, sua alma abominará tais procedimentos. O caminho de Cristo e seu povo serão sua delícia plena.

É a natureza de tal arrependimento fazer uma mudança, e a maior mudança que pode ser feita na alma. Assim, vocês percebem o que implica o arrependimento em sua natureza; denota uma aversão a todo o mal e um abandono dele. Agora prosseguirei,

II. Mostrando-lhes as partes do arrependimento e as causas que concorrem a ele.
As partes são: a tristeza, o ódio e um abandono completo do pecado.
Nossa tristeza e pesar pelo pecado não surgem meramente de um medo da ira, pois se não temos outra base senão que procedem do amor-próprio e não de um amor a Deus; e se o amor a Deus não é o motivo principal do arrependimento, o seu arrependimento foi em vão e não deve ser reputado verdadeiro.

Muitos em nossos dias pensam que o clamor: "Deus, perdoe-me!", ou: Senhor, tem misericórdia de mim!", ou: "Arrependo-me!", é arre­pendimento, e que Deus estimará isto como tal; mas, na verdade, são clamores enganosos. Não é nossa aproximação a Deus com os lábios, enquanto nosso coração está longe dEle, que Ele considera. O arre­pendimento não vem aos empurrões; não, é um ato contínuo em nossa vida: pois assim como diariamente pecamos, assim precisamos de um arrependimento diário diante de Deus para obter perdão pelos pecados que cometemos.

Não é confessar-se pecadores, não é saber que sua condição é triste e deplorável, ao mesmo tempo em que continuam nos pecados; seu cuidado e esforços devem ser obter um coração completamente afetado com isso para que vocês se sintam criaturas perdidas, pois Cristo veio para salvar os que estão perdidos. Se vocês gemem sob o peso e fardo dos pecados, então Cristo os aliviará e lhes dará descanso.

Até que sintam a miséria e condição perdida cm que se encontram, vocês são servos do pecado c suas concupiscências, sob a escravidão e comando de Satanás, fazendo sua obra vil; vocês estão sob a maldição de Deus e sujeitos ao seu julgamento. Considerem que estado terrível será na morte, e depois do Dia do Julgamento, quando vocês serão expostos a misérias tais que o ouvido não ouviu, o coração não conce­beu, e isso por toda a eternidade, se vocês morrerem impenitentes.

Mas espero melhores coisas de vocês, meus irmãos, coisas que acompanham a salvação, embora eu fale assim. Vão a Deus em ora­ção e sejam sinceros com Ele, que pelo seu Espírito Ele os convence­rá de sua condição miserável por natureza e os fará verdadeiramente sensatos. Humilhem-se, humilhem-se, rogo-lhes, por seus pecados! Tendo passado tantos anos pecando, o que vocês podem fazer me­nos do que preocupar-se em passar algumas horas lamentando e entristecendo-se pelo mesmo e serem humilhados diante de Deus?

Olhem para trás em sua vida, chamem à memória os pecados cometidos, tantos quantos possam; os pecados da mocidade como também os dos anos mais recentes. Vejam como vocês se afastaram do Pai gracioso e perambularam pelo caminho da maldade, no qual se perderam, como também ao favor de Deus, o consolo do seu Espírito e a paz de consciência. Então vão e implorem o perdão do Senhor, pelo sangue do Cordeiro, pelo mal que cometeram c pelo bem do qual se omitiram. Considerem igualmente a hediondez dos seus pecados; vejam com que circunstâncias tão agravantes os seus pecados são tratados, o quanto vocês abusaram da paciência de Deus, que deveria tê-los levado ao arrependimento; e quando descobrirem que seu coração está endurecido, implorem a Deus que o amoleça. chorem vigorosamente diante dEle e Ele tirará o coração de pedra e lhes dará um coração de carne.

Tomem hoje a decisão de deixar todas as suas concupiscências e prazeres pecaminosos; renunciem, abandonem e abominem seu anti­go curso de vida pecadora, e sirvam a Deus em santidade e justiça pelo resto de suas vidas. Se você chora e lamenta os pecados passa­dos e não os abandona, seu arrependimento é em vão; você está escarnecendo de Deus e enganando a própria alma. Você tem de despir-se do velho homem, com suas ações, antes de vestir o novo homem, Cristo Jesus.

Vocês que eram xingadores e blasfemos; vocês que eram prostitu­tas e bêbedos; vocês que eram assaltantes e ladrões; vocês que até hoje seguem os prazeres pecaminosos e as diversões da vida, rogo-lhes, pelas misericórdias de Deus em Cristo Jesus, que não mais continuem assim, mas abandonem os caminhos maus e se voltem ao Senhor. Pois Fie espera para ser gracioso para com vocês, Ele está pronto, Ele está disposto a perdoá-los de todos os pecados; mas não esperem que Cristo os perdoe do pecado, quando vocês incorrem nele e não se refreiam em obedecer as tentações. 

Mas se vocês forem persuadidos a se privar do mal e escolher o bem, a se voltar ao Senhor e se arrepender da maldade, Ele prometeu que os perdoará abundantemente, Ele curará sua apostasia e os amará com toda liberal idade. Decidam agora neste dia não se interessar mais em seus pecados para sempre; abandonem seus antigos caminhos e vocês serào separados; vocês têm de decidir-se contra o pecado, pois não há verdadeiro arrependimento sem a resolução de abandoná-lo. Decidam por Cristo, decidam contra o Dia­bo e suas obras, e prossigam lutando as batalhas do Senhor contra o Diabo e seus emissários: ataquem-no nas fortalezas mais fortes que ele tem, lutem contra ele como homens, como cristãos, c logo vocês des­cobrirão que ele é covarde; resistam a ele, e ele fugirá de vocês. Este­jam determinados, pela graça, neste propósito, e já terão dado o pri­meiro passo em direção ao arrependimento; contudo, tomem cuidado para que suas resoluções não se baseiem em suas próprias forças, mas na força do Senhor Jesus Cristo. Ele é o caminho, Ele é a verdade e Ele é a vida; sem a sua ajuda vocês nada podem fazer, mas pela sua graça que lhes fortalece, vocês serão capazes de fazer todas as coisas. Quan­to mais vocês tiverem consciência de sua própria fraqueza e incapaci­dade, mais pronto Cristo estará para os ajudar; e o que lhes podem fazer todos os homens do mundo, quando Cristo é por vocês? Não há que considerar o que eles dizem contra vocês, pois vocês terão o teste­munho de uma boa consciência.

Decidam lançar-se aos pés de Cristo em sujeição a Ele, e em seus braços para alcançar a salvação. Considerem, meus queridos irmãos, os seus muitos convites para ir a Ele, e por Ele ser salvo. Deus "fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (Is 53.6). Deixem-me convencê-los a que, acima de tudo, escolham o Senhor Jesus Cristo, resignem-se a Ele, tomem-no em seus termos; e quem quer que seja, por maior pecador que seja, hoje à noite, em nome do grande Deus, eu lhe ofere­ço Jesus Cristo. Como vocês valorizam a vida e a alma, não o recusem, mas movam-se para aceitar o Senhor Jesus. Recebam-no inteiramente, sem reservas, pois Ele deseja atuar plenamente em suas vidas, ou, caso contrário, de modo algum. Jesus Cristo deve ser sua plena sabedoria, Jesus Cristo deve ser sua inteira justiça, Jesus Cristo tem de ser sua inteira santificaçào, ou Ele nunca será sua redenção eterna.

Mesmo aqueles que tenham sido tão maus e devassos, se abando­narem agora seus pecados e se voltarem ao Senhor Jesus Cristo. Ele os receberá e todos os seus pecados serão largamente perdoados. Por que vocês negligenciariam a grande obra de seu arrependimento? Não adiem essa ação um dia mais, porém hoje, agora mesmo, aceitem a Cristo, que lhes é oferecido livremente.

Quanto às causas a esse respeito, a causa primeira é Deus; Ele é o Autor, nós nascemos de Deus (Jo 1.13), Ele nos gerou, o próprio Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. É Ele quem nos encoraja a buscar c a fazer a sua boa vontade. Outra causa é a graça livre de Deus, E pelas "riquezas da sua graça livre", meus irmãos, é que há muito tempo fomos impedidos de descer ao inferno; tão-somente porque as compaixòes do Senhor não falham; elas são novas a cada manhã e frescas a cada noite.

Às vezes, os instrumentos são muito improváveis; um pobre e menosprezado ministro ou membro de Jesus Cristo pode, pelo poder de Deus, ser o instrumento nas suas mãos para levar você ao verda­deiro arrependimento evangélico. Talvez isso seja feito para mostrar que o poder não está nos homens, mas que é inteiramente devido à boa vontade de Deus. Se há manifesto algum bem entre qualquer um de vocês pela pregação da Palavra, como acredito que haja, embora tenha sido pregado num campo, se Deus nos encontrou e nos pos­suiu, e abençoou sua Palavra, embora pregado por um eloqüente entusiasta, um menino, um louco; eu me regozijo, sim, e me regozija­rei, que os inimigos digam o que quiserem. Agora,

III. Mostrarei as razões por que o arrependimento é necessário à salvação.

E isto, meus irmãos, nos é revelado claramente na Palavra de Deus: A alma que não se arrepender e se voltar ao Senhor, morrerá em seus pecados, e o seu sangue será requerido de suas próprias mãos. É necessário, quando pecamos, que nos arrependamos; pois um Deus santo não admiti e jamais admitirá na sua presença algo que seja profano. Este é o começo da graça na alma; tem de haver uma mudança no coração e na vida antes que haja uma habitação com o Deus santo. Vocês não podem amar o pecado e Deus ao mesmo tempo, vocês não podem amar a Deus e a Mamom. Nin­guém imundo pode estar na presença de Deus; é contrário à santidade da sua natureza. Há uma contrariedade entre a natureza santa de Deus e a natureza impura dos homens carnais e não-regenerados.

Que comunicação pode haver entre um Deus sem pecado e cria­turas cheias de pecado, entre um Deus puro e criaturas impuras? Se vocês fossem admitidos ao céu com seu atual estado, em sua condição impenitente, o próprio céu seria um inferno para vocês; os cânticos dos anjos soariam como fanatismo e seriam intoleráveis a vocês. Por isso, tal estado tem de ser mudado; vocês devem ser santos como Deus c. Ele tem de ser seu Deus aqui, e vocês têm de ser seu povo, ou vocês nunca habitarão junto com Ele por toda a eternidade. Se vocês odeiam os caminhos de Deus e não podem passar uma hora a seu serviço, como acham que será cm toda a eternidade, cantando para sempre louvores àquEle que se assenta no trono e ao Cordeiro?

Esta deve ser a ocupação, meus irmãos, de todos os que são admi­tidos nesse lugar glorioso, onde nem o pecado nem o pecador são admitidos, onde o escarnecedor jamais pode ir sem se arrepender dos seus maus caminhos, sem voltar-se para Deus e a Ele se apegar. Isto deve ser feito antes que alguém seja admitido nas mansões gloriosas de Deus — que estão preparadas para todos os que amam o Senhor Jesus Cristo em sinceridade e verdade —, para que se arrependam de todos os seus pecados. Meus queridos irmãos, sinto um frio na espinha ao pensar que qualquer um de vocês não venha a ser admitido nas man­sões gloriosas no céu. Se estivesse em meu poder, eu colocaria todos Vocês — sim vocês, meus irmãos escarnecedores, e os maiores inimi­gos que eu tenho na terra — à mão direita de Jesus; mas não posso fazê-lo. Contudo, aconselho-os e exorto-os com todo o amor e ternura a lazer de Jesus o seu refúgio. Somente em sua presença há o alívio que procuram. Jesus morreu para salvar pessoas como vocês; Ele está cheio de compaixão, e se vocês forem a Ele, como pecadores pobres, perdidos e destruídos, Jesus lhes dará o seu Espírito. Vocês viverão e reinarão com este Jesus por toda a eternidade.

IV. Tenho de exortar todos vocês, grandes e pequenos, ricos e pobres, uns aos outros, a se arrependerem de todos os pecados e se voltarem ao Senhor.
Falarei a cada um de vocês; quer tenham se arrependido, quer não; sendo vocês crentes em Cristo Jesus ou incrédulos.
Primeiramente, vocês que nunca se arrependeram verdadeiramente de seus pecados e nunca abandonaram verdadeiramente suas concupiscências; não se ofendam se lhes falo claramente; porque é o amor, o amor por suas almas que me constrange a falar. Colocarei diante de vocês o perigo e a miséria, aos quais vocês estão expostos enquanto permanecem impenitentes no pecado. E que este seja talvez o meio de fazê-los buscarem a Cristo por perdão e absolvição.
Enquanto não estão arrependidos dos seus pecados, vocês estão em perigo de morte; e se morrerem, vocês perecerão para sempre. Não há esperança para todo aquele que vive e morre em seus peca­dos, pois habitará com os demônios e espíritos malditos por toda a eternidade. E como sabemos que vamos viver mais? Não estamos seguros de ver nossas casas em segurança esta noite. O que vocês querem dizer por estar à vontade e vivendo com prazer enquanto os pecados não são perdoados? Tão certo quanto a Palavra de Deus sempre é verdadeira, se vocês morrerem nessa condição, para sem­pre estarão excluídos de toda esperança e misericórdia, e se conver­terão em miséria infundada e infinita.
Quanto valem todos os seus prazeres e diversões? Eles duram apenas por um momento; não valem nada e são de curta permanên­cia. E com certeza deve ser rematada loucura buscar avidamente es­sas concupiscências e prazeres pecaminosos que fazem guerra contra a alma, que tendem a endurecer o coração e nos impedem de aceitar o Senhor Jesus. De fato, esses são os destruidores de nossa paz aqui; e, sem arrependimento, destruirão nossa paz futura.

Ó, a insensatez e loucura deste mundo sensual; se não houvesse nada no pecado, senão a atual escravidão, ele manteria longe o espí­rito engenhoso. Mas para fazer o trabalho servil do Diabo! Se fizer­mos isso, teremos seu salário, que é a morte e condenação eternas. Considerem isto, meus culpados irmãos, vocês que pensam que não é pecado jurar, prostituir-se, beber ou zombar e desdenhar do povo de Deus. Considerem o quanto suas vozes mudarão, e vocês, que reputavam por loucura a vida deles e sem honra o seu fim, uivarão e lamentarão a própria insensatez e loucura que deveriam tê-los levado a tamanha aflição e angústia! Então vocês lamentarão e chorarão a própria condição terrível, mas não terá significado, porque aquEle que hoje é seu Salvador misericordioso, se tornará seu Juiz inexorável.

Hoje Ele se deixa ser rogado; mas depois, todas as lágrimas e orações serão em vão, pois atribuiu a todo homem um dia de graça, um tem­po de arrependimento, o qual, se ele não aproveitar, negligenciando e menosprezando o meio que lhe é oferecido, não pode ser salvo.

Enquanto vocês prosseguem num curso de pecado e injustiça, rogo-lhes, meus irmãos, que pensem na conseqüência que acompa­nhará o desperdício do seu tempo precioso. Sua alma vale sua preo­cupação, pois se vocês podem desfrutar todos os prazeres e diversões da vida, na morte vocês têm de abandonar tudo; a morte porá um fim a todos os interesses mundanos. E não será lamentável ver o fim de todas as suas coisas boas aqui, todos os prazeres terrestres, sensuais e diabólicos com os quais vocês se envolveram tanto; e corroerá a sua própria alma o pensamento de que por tão insignificante interesse vocês perderam o bem-estar eterno.

A riqueza e a grandeza não estarão em nenhum lugar; vocês não podem levar nada daqui para o outro mundo. Então, a consideração da sua falta de clemência para com os pobres, c os caminhos que vocês tomaram para obter riqueza, serão um verdadeiro inferno para vocês.

Hoje vocês dispõem dos meios da graça, como a pregação da sua Palavra, a oração c os sacramentos; e Deus enviou seus ministros aos campos e estradas para convidar, para insistir que vocês entrem. Po­rém eles são pesados para vocês, que preferiram antes os seus praze­res. Não demorará muito, meus irmãos, e os prazeres acabarão, e vocês não se preocuparão mais com eles; mas então vocês quererão dar dez mil mundos por um momento daquele tempo misericordioso de graça da qual vocês abusaram. Então chorarão por uma gota da­quele sangue precioso que agora vocês pisam com os pés; então vocês desejarão por mais uma oferta de misericórdia, para que Cristo e sua graça generosa lhes sejam novamente oferecidos. Mas o choro será em vão, pois como vocês não se arrependeram aqui. 
Deus não lhes dará uma oportunidade para se arrependerem no futuro. Se não for no tempo de Cristo, não será no seu tempo, irmãos. Em que condição terrível vocês estarão então! Que horror e surpresa lhes possuirão a alma! Então todas as suas mentiras e juramentos, seus escárnios e zombarias do povo de Deus; todos os seus pensamentos e ações imundas e sujas; o seu tempo esbanjado em bailes, jogos e saraus; as noites inteiras que vocês gastaram jogando cartas, perdidos em bailes de máscaras; sua freqüência em tabernas e cervejarias; seu mundanismo, cobiça e inclemência lhes serão imediatamente trazidos à lembrança, e sem demora atribuídos em sua alma culpada. Como vocês suportarão o pensamento de tais coisas? Estou, deveras, movi­do de compaixão por vocês, em pensar que esta pode ser a porção de todo aquele que agora me ouve. Estas são verdades, embora terríveis, meus irmãos; estas são as verdades do Evangelho; e se não houvesse necessidade de falar assim, eu me reprimiria de boa vontade, porque não é assunto agradável para mim, mais do que é para vocês; mas é meu dever lhes mostrar as conseqüências terríveis de se persistir no pecado. Estou fazendo a parte de um hábil cirurgião que investiga uma ferida antes de curá-la. Eu lhes mostraria primeiro o perigo, para que a libertação seja mais prontamente aceita por vocês.

Considerem que por mais que vocês posponham o dia mau e se esforcem em esconder os pecados, no Dia do Julgamento haverá uma completa revelação de tudo. Naquele dia, as coisas escondidas serão trazidas à luz; e depois que todos os seus pecados forem revelados para o mundo inteiro, então vocês serão lançados no fogo eterno do inferno, que não se apaga nem de dia nem de noite; será sem inter-missão, sem fim. Então, que estupidez e disparate possuem seu cora­ção, que vocês não ficam aterrorizados pelos seus pecados. O medo da fornalha ardente de Nabucodonosor levou os homens a fazerem algo para evitá-la; e o fogo eterno não levará os homens, não levará vocês a fazerem algo para evitá-lo?

Que isto desperte e faça com que vocês se humilhem por seus pecados e implorem perdão por eles, para que vocês achem miseri­córdia no Senhor. Não vão embora, não deixem que o Diabo os apresse para sair antes que o sermão termine: mas fiquem e Jesus lhes será oferecido, pois Ele expiou todos os pecados.

Rogo-lhes que lancem fora suas transgressões, esforcem-se contra o pecado, vigiem contra ele e implorem o poder e a força de Cristo para sujeitar o poder das concupiscências que os incitam aos caminhos pecaminosos. Mas se vocês não fizerem nenhuma dessas coisas, se vocês estiverem decididos a pecar, a morte eterna será a conseqüência; vocês serão presos com horror e tremor, com horror e assombro, para ouvir a terrível sentença de condenação pronunciada contra vocês.

Então vocês fugirão e chamarão as montanhas para que caiam sobre vocês, para os esconderem do Senhor e da raiva ardente de sua ira.

Tivessem vocês um coração para se voltar dos pecados ao Deus vivo, pelo arrependimento verdadeiro e sincero, e orar a Ele em busca de misericórdia, através dos méritos de Jesus Cristo, haveria então es­perança. Mas no Dia do Julgamento, suas orações e lágrimas não terão significado algum; não lhes serão de nenhuma serventia; o Juiz não receberá suas súplicas; visto que vocês não lhe deram atenção quando Ele os chamou, mas menosprezaram a Ele e seus ministros, e não dei­xaram suas iniqüidades. Portanto, naquele dia, não ouvirá seus rogos, apesar de todos os gritos e lágrimas; pois o próprio Deus disse: "Mas, porque clamei, e vós recusastes; porque estendi a minha mão, e não houve quem desse atenção; antes, rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a minha repreensão; também eu me rirei na vossa perdi­ção e zombarei, vindo o vosso temor (...) como tormenta, sobrevindo-vos aperto e angústia. Então, a mim clamarão, mas eu não responderei; de madrugada me buscarão, mas não me acharão" (Pv 1.24-28).
Vocês podem achar que isto é fanatismo e loucura; mas naquele grande dia, se vocês não se arrependerem dos seus pecados aqui, vocês descobrirão por terrível experiência que os seus caminhos eram realmente loucura. Mas que Deus não permita que vocês cheguem a esse tempo sem se arrepender; busquem o Senhor enquanto Ele pode ser achado; clamem por Ele enquanto está perto e vocês acharão misericórdia; arrependam-se neste momento e Cristo alegremente os receberá.

O que vocês me dizem? Devo ir ao meu Mestre e lhe dizer que vocês não irão a Ele. e não seguirão nenhum dos seus conselhos? Não; não me enviem em tal incumbência infeliz. Não posso, não direi tal coisa a Ele. Antes não lhe direi que vocês estão dispostos a arre­pender-se e converter-se, a tornar-se novos homens e assumir um n(no curso de vida? Esta é a única resolução sábia que vocês podem tomar. Permitam que eu diga a meu Mestre que vocês irão a Ele e esperarão nEle. pois se não o fizerem, será a sua ruína neste tempo e na eternidade.

Na morte, vocês desejarão ter vivido a vida dos justos para que tivessem morrido a morte deles. Fiquem avisados; considerem o que está diante de vocês: Cristo e o mundo, a santidade e o pecado, a vida e a morte. Escolham agora por vocês mesmos; façam sua escolha imediatamente e que esta seja a escolha de morrer.

Se vocês não desejam morrer em seus pecados, morrer bêbedos, morrer adúlteros, morrer xingadores e zombadores, não deixem pas­sar esta noite na terrível condição em que estão. Pode ser que alguns de vocês digam: "Você não tem poder, você não tem força". Mas não lhes faltavam estas coisas que estavam em seu poder? Vocês não têm tanto poder para ir ouvir um sermão, quanto a ir a uma casa de jogos, ou a um baile, ou a um baile de máscaras? Vocês têm tanto poder para ler a Bíblia quanto para ler peças, novelas e romances; e vocês po­dem se associar tanto quanto com os piedosos, como com os maus e profanos; esta é senão uma desculpa infundada, meus irmãos, para continuar em seus pecados. Se vocês desejam ser achados no meio da graça, Cristo prometeu que lhes dará força. Enquanto Pedro estava pregando, o Espírito Santo veio sobre todos os que ouviam a Palavra-, assim vocês serão achados no caminho do seu dever! Jesus Cristo lhes dará força; Ele lhes dará o seu Espírito; vocês descobrirão que Ele será a sua sabedoria, sua justiça, sua santificaçào e sua redenção. Experimentem que gracioso, gentil e amoroso Mestre Ele é. Ele lhes será de ajuda em todas as suas cargas; e se o fardo do pecado está em sua alma, busquem-no na qualidade de cansados e sobrecarregados, e acharão descanso.

Não digam que seus pecados são muitos e muito grandes para esperar encontrar misericórdia. Não, sejam eles tantos ou tão grandes, o sangue do Senhor Jesus Cristo os limpará de todos os pecados. A graça de Deus, meus irmãos, é generosa, rica e soberana. Manasses foi um grande pecador, e mesmo assim foi perdoado; Zaqueu tinha estado longe de Deus e saiu para ver Cristo, sem outro intento que satisfazer a curiosidade; e, não obstante, Jesus o encontrou e levou salvação à sua casa. Manassés era idolatra e assassino, contudo rece­beu misericórdia; o outro era opressor e extorsionário que tinha ad­quirido riquezas mediante fraude e engano, oprimindo a face dos pobres; assim também fez Mateus e, todavia, todos eles encontraram misericórdia.

Vocês foram blasfemadores e perseguidores dos santos e servos de Deus? Assim foi o apóstolo Paulo, contudo ele recebeu misericór­dia. Vocês são prostitutas, pessoas imundas e sujas? Assim foi Mana
Madalena, e contudo ela recebeu misericórdia. Vocês são ladrões? O ladrão na cruz achou misericórdia. Não se desesperem, por mais vis e devassos que vocês sejam; eu afirmo: nenhum de vocês está sem esperança, especialmente quando Deus teve misericórdia de um mi­serável como eu.
Lembrem-se do pobre publicano, de como ele achou favor em Deus, ao passo que o fariseu orgulhoso e presunçoso, inchado com sua própria justiça, foi rejeitado. E se vocês forem a Jesus como o pobre publicano fez, com um sentimento da indignidade própria, vocês acharão favor como ele achou; hã bastante virtude no sangue de Jesus para perdoar os maiores pecadores. Então não fiquem desa­nimados, mas busquem a Jesus, e vocês o acharão pronto a ajudar em toda a sua aflição, para conduzi-los em toda a verdade, para trazê-los da escuridão para a luz e do poder de Satanás a Deus.
Não deixem que o Diabo os engane, dizendo-lhes que todas as delícias e prazeres acabarão. Não; isto está bem longe de privá-los de todo o prazer, que é uma entrada a delícias indizíveis, peculiares a todos os que verdadeiramente são regenerados. O novo nascimento é o próprio começo de uma vida de paz c consolo; e o maior deleite será encontrado nos caminhos da santidade. Salomão, que tinha ex­perimentado todos os outros prazeres, disse acerca dos caminhos da santidade: "Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz" (Pv 3-17). Então com certeza vocês não deixarão que o Diabo os engane; é tudo o que ele quer, é o que ele almeja: fazer a religião parecer melancólica, miserável e fanática. Deixem-no dizer o que quiser; não lhe dêem ouvidos, não o considerem, porque ele sempre foi e sempre será mentiroso.

Que súplicas usarei para fazê-los irem ao Senhor Jesus Cristo? O pouco amor que tenho experimentado desde que fui levado do peca­do para Deus c tão grande, que eu não estaria em estado natural por dez mil mundos, e o que senti é apenas um pouco do que espero sentir. Esse pouco amor que senti é uma bóia suficiente contra todas as tempestades e tormentas deste mundo turbulento; podem os ho­mens e demônios fazer o seu pior, eu me regozijo no Senhor Jesus, sim, e me regozijarei.

E se vocês se arrependerem e forem a Jesus, eu me regozijaria por sua causa também; e nós nos regozijaríamos juntos por toda a eternidade, quando tivéssemos passado para o outro lado do sepulcro. Venham a Jesus. Os braços de Jesus Cristo estão abertos para recebê-los; Ele lavará todos os seus pecados no seu sangue e os amará livremente.
Venham, eu rogo-lhes que venham a Jesus Cristo. Que minhas palavras penetrem a sua alma! Que Jesus Cristo seja formado em vocês! Que vocês se voltem ao Senhor Jesus Cristo, para que Ele tenha mise­ricórdia de vocês!
Eu continuaria falando ate a meia-noite — sim, eu falaria até que não pudesse mais, para que servisse de meio de levá-los a Jesus. Deixem o Senhor Jesus entrar em suas vidas, e vocês encontrarão a paz que o mundo não pode dar nem tirar. Há misericórdia para o maior pecador entre vocês; busquem o Senhor como pecadores, im­potentes e perdidos, e então vocês encontrarão consolo para sua alma, e serão afinal admitidos entre os que cantam louvores ao Senhor por toda a eternidade.

Agora, meus irmãos, gostaria de dar uma palavra de exortação aos que entre vocês já foram levados ao Senhor Jesus, que já nasce­ram de novo, que já pertencem a Deus, a quem foi dado se arrepen­der de seus pecados e estão limpos da culpa: Sejam gratos a Deus por suas misericórdias. Admirem a graça de Deus e bendigam o seu nome para sempre! Vocês foram vivificados em Cristo Jesus? A vida de Deus começou em sua alma e vocês têm prova disso? Sejam gratos por esta misericórdia indizível; nunca se esqueçam de falar da misericórdia de Deus. E assim como outrora sua vida fora dedicada ao pecado e prazeres do mundo, que agora seja gasta completamente nos cami­nhos de Deus; e abracem cada oportunidade de fazer e receber o bem. Qualquer oportunidade que tiverem, façam vigorosa e pronta­mente, não adiem. Ao ver alguém apressando-se para a destruição, usem o máximo dos seus esforços para detê-lo em seu curso. Mos­trem-lhe a necessidade de arrependimento, e que sem isso ele está perdido para sempre; não façam conta se ele os menosprezar; conti­nuem mostrando-lhe o perigo em que ele está. Se seus amigos zom­bam de vocês e os menosprezam, não deixem que o desanimem. Persistam, mantenham-se firmes até o fim, e assim vocês terão a co­roa que é imutável e não desvanece.

Deixem que o amor de Jesus por vocês os conservem humildes; não sejam orgulhosos, mantenham-se junto do Senhor, observem as regras que o Senhor Jesus Cristo deu em sua Palavra e não permitam que suas instruções se percam, as quais vocês são capazes de dar. Considerem que razão vocês têm para serem gratos ao Senhor Jesus Cristo por lhes dar o arrependimento do qual vocês necessitavam; um arrependimento que opera pelo amor. Hoje vocês encontram mais prazer andando com Deus uma hora, do que em todas as delícias carnais anteriores e todos os prazeres do pecado. A alegria que vocês sentem na alma — alegria que todos os homens deste mundo e todos os demônios do inferno, ainda que se unam, não podem destruir. Então não temam a ira ou malícia deles, pois por muitas tribulações temos de entrar na glória.
Mais alguns dias, semanas ou anos e vocês estarão além do alcan­ce deles. Vocês estarão na Jerusalém celestial; ali tudo é harmonia e amor, tudo c alegria e regozijo; o cansado encontra repouso. Hoje temos muitos inimigos, mas na morte eles todos estão perdidos; eles não nos podem seguir além do sepulcro; e este é um grande incenti­vo para nós não considerarmos o escárnio e zombaria dos homens deste mundo.

Que o amor de Jesus esteja continuamente em seus pensamentos. Foi sua morte que lhes trouxe vida; foi sua calcificação que expiou seus pecados; sua morte, sepultamento e ressurreição completaram a obra; e agora Ele está no céu e intercede por vocês à mão direita do Pai. E podem vocês fazer muito pelo Senhor Jesus Cristo, que fez tanto por vocês? Seu amor por vocês é insondável. Ó, a altura, a profundida­de, o comprimento e a largura deste amor, que trouxe o Rei da glória do seu trono para morrer por nós, quando tínhamos agido tão cruel­mente contra Ele e merecíamos nada mais que a condenação eterna. Ele desceu e tomou em si nossa natureza; Ele se fez carne e habitou entre nós; Ele morreu por nós; Ele pagou nosso resgate. Com certeza isto deveria nos fazer amar o Senhor Jesus Cristo; deveria nos fazer regozijar nEIe, e não como muitos fazem e nós mesmos temos muitas vezes feito, crucificar este Jesus de novo. Vamos fazer tudo o que pu­dermos, meus queridos irmãos, para honrá-lo.

Venham, todos vocês, venham e vejam Ele estendendo a mão para vocês; vejam as mãos e os pés pregados na cruz. Venham, ve­nham, meus irmãos, e preguem seus pecados ali; venham, venham e vejam o lado dEle que foi furado; há uma fonte aberta para o pecado e para a impureza; lavem, lavem e fiquem limpos; venham e vejam a cabeça dEle coroada com espinhos — e tudo por vocês. Vocês conse­guem pensar num Jesus ofegante, sangrento e agonizante e não ficar cheios de piedade por Ele? Ele sofreu tudo isso por vocês. Venham a Ele pela fé; tomem posse dEle; há misericórdia para cada um de vocês que for a Ele. Então não demorem; corram para os braços deste Jesus e vocês serão limpos no seu sangue.

O que lhes direi para fazê-los irem a Jesus? Eu tenho lhes mostrado as conseqüências terríveis do não arrependimento de pecados; e se, depois de tudo o que eu disse, vocês decidirem persistir, seu sangue lhes será requerido das suas próprias mãos; mas espero coisas melho­res de vocês, e coisas que acompanham a salvação. Rogo-lhes que orem fervorosamente pela graça do arrependimento. Pode ser que nunca mais eu veja o rosto de vocês novamente; mas no Dia do Julgamento eu os encontrarei. Lá. vocês ou bendirão a Deus por terem sido movi­dos ao arrependimento; ou então este sermão, embora feito num cam­po, servirá de pronta testemunha contra vocês. Arrependam-se, arre­pendam-se, então, meus queridos irmãos, como João Batista e nosso próprio bendito Redentor veementemente exortaram, e voltem-se de seus caminhos maus e o Senhor terá misericórdia de vocês.
Mostra-lhes, Pai, em que eles te ofenderam; faze-os ver a própria vileza, e que eles estão perdidos sem o verdadeiro arrependimento. Concede-lhes este arrependimento; nós te pedimos que eles se vol­tem do pecado a ti, o Deus vivo e verdadeiro. Estas coisas e tudo o mais que tu consideres necessário para nós, pedimos que tu nos dês, por causa do que o querido Jesus Cristo fez e sofreu; a quem, contigo e o Espírito Santo, três Pessoas e um Deus, sejam atribuído, como é altamente devido, todo o poder, glória, força, majestade e domínio, agora, doravante e para sempre. Amém.

FONTE: www.ressureicao.com

O Triunfo do Calvário - Christimas evans

extraído do site: www.ressureicao.com
"Quem é este que vem de Edom, de Bozra. com vestes tintas? Este que é glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu. que falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está vermelha a tua vestidu­ra? E as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar? Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo; e os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura. Porque o dia da vingança estava no meu coração, e o ano dos meus redimidos é chegado. F. olhei, e não havia quem me ajudasse; e espantei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve. E pisei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor, e a sua força derribei por terra." (Is 63-1-6)

ESTA passagem é uma das mais sublimes da Bíblia. Não mais majestosa e impressionante é a voz de Deus saindo da sarça ardente. Ela apresenta o Capitão de nossa salvação, deixado sozinho no calor da batalha, marchan­do vitoriosamente pelas colunas quebradas do inimigo, irrompendo as barreiras a parte, conquistando os portões de bronze e libertando me­diante conquista os cativos do pecado e da morte. Em primeiro lugar, vamos determinar os eventos a que nosso texto se relaciona, e depois explicaremos brevemente as perguntas e respostas que contém.

I. Temos aqui uma vitória maravilhosa, obtida por Cristo, na cida­de de Bozra, na terra de Edom. Nossa primeira investigação diz res­peito ao tempo e lugar dessa conquista.
Algumas profecias são literais, outras figurativas. Algumas já se cumpriram, outras estão em processo diário de cumprimento. Com respeito a esta profecia, os clérigos discordam. Uns julgam que é uma descrição do conflito de Cristo e da vitória fora dos portões de Jerusa­lém, dezoito séculos atrás; e outros entendem que se refere à grande batalha do Armagedom, predito no Apocalipse c ainda a ser realizada antes do fim do mundo.
Não estou propenso a passar pelo monte do Calvário e pelo sepulcro novo de José de Arimatéia em meu caminho ao campo do Armagedom; nem estou inclinado a parar na cena da crucificaçào e da ascensão sem ir mais distante, à conquista final do inimigo. Creio que a inspiração divina incluiu ambos os eventos no texto: a vitória já ganha no Calvário e a vitória ainda a ser cumprida no Armagedom; a vitória completa da paixão do Messias e a vitória progressiva do Evan­gelho e da sua graça.

A principal dificuldade em entender algumas partes da Palavra de Deus surge de palavras não traduzidas, muitas das quais encontram-se em nossa versão como também na de nossos vizinhos ingleses. Por exem­plo, está escrito:
"E chegou e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno" (Mt 2.23).

Onde nos profetas está predito que Cristo será chamado Nazareno? Em nenhum lugar. Quando os nomes próprios são traduzidos, a dificuldade desaparece. "E chegou e habitou numa cidade chamada Plantação, para que se cumprisse o que fora dito pelos profe­tas: Ele será chamado o Renovo". Este nome lhe é dado por Isaías, Jeremias e Zacarias. Esta é precisamente a dificuldade que ocorre em nosso texto, e a tradução dos termos resolve o problema: "Quem é este que vem de Edom [terra vermelha], de Bozra [tribulação], com vestes tintas?"

A primeira parte do texto tem referência à vitória do Calvário; a última antecipa a batalha e triunfo do Armagedom, mencionados em Apocalipse. A vitória do Calvário é consumada na manhã do terceiro dia depois da crucificação. O Vencedor sobe da terra e exclama: "Eu sozinho pisei no lagar do Calvário; e eu os pisarei na minha ira e os embriagarei no meu furor na batalha do Armagedom. Eu surpreende­rei e destruirei a besta e o falso profeta, e a antiga serpente, o diabo, com todas as suas hostes".

Quando o curso da batalha dirigiu-se ao campo de Waterloo, o duque de Wellington montou em seu cavalo e perseguiu o inimigo derrotado. Assim o Vencedor de Isaías, tendo derrotado os poderes do inferno no Calvário, persegue-os e os destrói no campo do Armagedom. Aqui Ele é apresentado como herói a pé, um príncipe sem exército; mas João, o revelador, viu-o montado num cavalo bran­co, seguido pelos exércitos do céu, todos em cavalos brancos, e nin­guém a pé entre eles.

A vitória do Calvário é como o sangue da expiação no santuário. Um querubim olhava numa direção, e o outro em outra, mas os dois olhavam o sangue reconciliador. Assim, todos os grandes eventos do tempo — todas as provas e triunfos do povo de Deus —, os que aconteceram antes, os que aconteceram desde então e os que ainda estão para acontecer, estão todos olhando para a luta do Getsêmani, o conflito do Gólgota e o triunfo das Oliveiras. A fuga do Egito e a volta da Babilônia olhavam adiante para a cruz de Cristo; e a fé do homem perfeito de Uz apoiava-se num Redentor ressurreto. Os már­tires cristãos venceram pelo sangue do Cordeiro, e todas as suas vitó­rias ocorreram em virtude de uma grande conquista. O sepulcro de Jesus é o local de nascimento da imortalidade do seu povo, e o poder que o ressuscitou dentre os mortos abrirá os sepulcros de todos os santos. "

Os teus mortos viverão, os teus mortos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó, porque o teu orvalho, ó Deus, será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos" (Is 26.19)

Cristo se ofereceu em sacrifício por nós e bebeu o cálice da justa indignação de Deus em nosso lugar. Ele foi pisado pela poderosa justiça como um cacho de uvas no lagar da Lei, até que os vasos de misericórdia transbordassem com o vinho da paz e do perdão, o que fez milhares de espíritos arrependidos e humildes "[se alegrarem) com gozo inefável e glorioso" (1 Pe 1.8). Ele sofreu por nós para que triunfássemos com Ele. Mas nosso texto o descreve como Rei e Con­quistador. Ele era, ao mesmo tempo, a vítima moribunda e o vence­dor imortal. No "poder de uma vida infinita", Ele estava em torno do altar quando o sacrifício queimava. Ele estava vivo nos vestuários sacerdotais, com o incensário de ouro na mão. Ele estava vivo na glória real, com a espada e o cetro na mão. Ele estava vivo na proeza conquistadora, e tinha dado um fim ao pecado e ferido a cabeça da serpente, despojado os principados e poderes do inferno, e abaixado os exércitos derrotados do príncipe das trevas ao lagar da ira do Deus Todo-poderoso. Então na manhã do terceiro dia, quando Ele ressusci­tou dos mortos e os expôs publicamente — aí começou o ano do jubileu com poder!

Depois de os profetas dos tempos antigos terem visto por muito tempo através das névoas da futuridade os sofrimentos de Cristo e a glória que se seguiria, um grupo deles estava reunido no auge do Calvário. Eles viram um exército de inimigos subindo a colina, dis­postos para a batalha e de aspecto muito terrível. No meio da linha de ataque estava a lei de Deus, ardente, explícita em extremo e operante em ira. À direita, encontrava-se Belzebu com suas tropas de demôni­os infernais, e à esquerda, Caifás com os sacerdotes judeus e Pilatos com seus soldados romanos. A retaguarda foi coberta pela morte, o último inimigo. Quando os santos profetas viram este exercito e per­ceberam que estava se aproximando, recuaram e prepararam-se para fugir. Quando olharam em volta, viram o Filho de Deus que avançava com passos intrépidos, tendo a face fixa no grupo hostil. "Vês o peri­go que está diante de ti?", perguntou um dos homens de Deus. "Eu os pisarei na minha ira", respondeu Ele, "e os embriagarei no meu fu­ror". "Quem és tu?", disse o profeta. Ele respondeu: "Eu que falo em retidão, poderoso para salvar". "Tu te aventurarás na batalha sozi­nho?", perguntou o profeta. O Filho de Deus respondeu: "Eu olhei, e não havia quem me ajudasse; e espantei-me que não houvesse quem me sustivesse; pelo que o meu braço me trará salvação, e o meu furor me susterá". "Em que ponto tu começarás o ataque?", inquiriu o pro­feta, ansioso. "Primeiro irei ao encontro da Lei", respondeu Ele, "e passarei sob sua maldição: pois, vejam! Venho para fazer a tua vonta­de, ó Deus. Quando eu tiver sido bem-sucedido no centro da linha de ataque, a batalha virará a meu favor". Assim dizendo, avançou. Imedi­atamente, ouviram-se os trovões do Sinai, e o grupo inteiro dos pro­fetas estremeceu de terror. Mas Ele avançou, destemido, entre os rai­os fulgurantes. Por um momento, Ele ficou escondido da visão; c a bandeira da ira ondulou em triunfo.

De repente, a cena mudou. Um fluxo de sangue verteu do seu lado ferido c apagou todos os fogos do Sinai. A bandeira da paz foi vista agora desfraldada; e a consternação encheu as fileiras dos inimi­gos. Então Ele esmagou, com o calcanhar ferido, a cabeça da antiga serpente; e pôs todos os poderes infernais em fuga. Com a vara de ferro Ele despedaçou os inimigos à esquerda, como vaso de oleiro. Ainda restou a morte, que se julgava invencível, tendo até ali triunfa­do sobre todos. Ela avançou, bradando seu aguilhão que havia sido afiado nas tábuas de pedra do Sinai. Ela o arremessou ao Conquista­dor, mas o aguilhão virou para baixo e ficou dependurado como a correia flexível de um chicote. Espantada, ela se retirou para o sepulcro, seu palácio, onde o Conquistador a perseguiu. Num canto escuro da cova, ela se sentou no seu trono formado de crânios e chamou os vermes, até então seus aliados fiéis, para ajudá-la no conflito; mas eles responderam: 'Sua carne não verá corrupção!" O cetro lhe caiu da mão. O Conquistador agarrou a morte, amarrou-a e condenou-a ao lago de fogo. O Conquistador então subiu do sepulcro, seguido por um grupo de cativos libertos que saíram depois da sua ressurrei­ção para serem testemunhas da vitória que Ele havia conquistado.

João, no Apocalipse, não olhou tanto para trás quanto a ver o Conquistador pisando este lagar; mas ele o viu montado no cavalo branco, ornamentado com muitas coroas, os olhos como chamas de fogo, uma espada de dois gumes na mão, à frente dos exércitos do céu, avançando vencendo e para vencer. Este é o cumprimento da sua declaração em nosso texto: "E pisei os povos na minha ira e os embriaguei no meu furor". Este é o começo do jubileu, a batalha do Armagedom, em que serão subvertidas toda a idolatria e superstição pagas, a besta e o falso profeta serão desbaratados, e o Diabo e suas legiões levados prisioneiros pelo Emanuel e fechados no inferno. AquEle que conquistou os principados e poderes no Calvário não deixará o campo até que todos os inimigos sejam postos por seu escabelo, c regerá o cetro sobre um universo de súditos. Tendo envi­ado o Evangelho de Jerusalém, Ele o acompanha com a graça do Espírito Santo; e o Evangelho não voltará a Ele vazio, mas realizará o que lhe agrada e prosperará para o que Ele o enviou.

A vitória do Armagedom é obtida em virtude da vitória do Calvário. É apenas a consumação da mesma campanha gloriosa; c o primeiro golpe decisivo dado no príncipe das trevas é precursor seguro da vitória final. 'Eu te encontrarei novamente em Filipos!", disse Júlio César a Brutus. "Eu te encontrarei novamente no Armagedom!', disse o Filho de Deus a Satanás no Calvário. 'Eu te encontrarei no travamento de combate entre o bem e o mal, a graça e a depravação, no coração de todos os crentes; na peleja da verdade divina com os erros huma­nos, da religião de Deus com as superstições dos homens; em cada sermão, em cada reavivamento, em cada empreendimento missioná­rio; na expansão e glória do Evangelho nos últimos dias, eu te encon­trarei; e o calcanhar que tu feriste esmagará a tua cabeça para sem­pre!"

A libertação do homem é de Deus. O homem não tinha nem a inclinação nem o poder. Sua salvação originou-se no amor divino, e jorrou impetuosamente como oceano das fontes da eternidade. Satanás, como leão voraz, tinha tomado a presa e estava correndo para a cova com a ovelha ensangüentada na boca; mas o Pastor de Israel o persegue, alcança-o e despedaça-o como se fosse um cabrito. A de­claração de guerra foi feita no Éden: "E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3-15) terá cumprimento. A liga com o inferno e a aliança com a morte não permanecerão. A rebelião será sufocada, a conspiração esmagada e o homem forte armado entrega­rá a fortaleza a um mais forte. As obras do Diabo serão destruídas, e a presa será tirada dos dentes do terrível. A casa de Davi se fortalece­rá cada vez, e a casa de Saul se enfraquecerá cada vez, até que os reinos deste mundo venham a se tornar o Reino de nosso Deus e do seu Cristo; Satanás será amarrado com cadeias de escuridão e lançado no lago de fogo. Todos os inimigos de Sião serão derrotados, o favor perdido de Deus será recuperado, e os territórios perdidos da paz, santidade e imortalidade serão restaurados para os homens.

Esta campanha é feita às custas do governo do céu. A tesouraria é inesgotável; as armas são irresistíveis; portanto, a vitória é segura. O Rei Todo-poderoso desceu; tomou a cidade de Bozra; regeu seu cetro em Edom; ressuscitou vitoriosamente e subiu com um brado, como o líder de todo o exército. Este é senão o penhor e o desejo ardente das suas futuras realizações. Na batalha do Armagedom, Ele avançará como homem poderoso; incitará o temor como homem de guerra; e preva­lecerá contra os inimigos. Eles retrocederão, ficarão muito envergo­nhados com sua confiança nos ídolos; que dizem às imagens de fun­dição: "Vós sois nossos deuses!" Então Ele abrirá os olhos cegos e tirará os prisioneiros da prisão e depois os que se assentam nas trevas exteriores à prisão. Ele desnudará o braço santo; mostrará a espada na mão que estava escondida debaixo do manto escarlate; manifesta­rá seu poder na destruição dos inimigos e na salvação do seu povo. Tão certo quanto Ele derramou o sangue no Calvário, assim toda a sua vestidura ficará manchada com o sangue dos inimigos no campo do Armagedom. Tão certo quanto Ele bebeu até à última gota do cálice da ira e recebeu o batismo de sofrimento no Calvário, assim Ele bradará a vara de ferro da justiça e regerá o cetro dourado da miseri­córdia no campo do Armagedom. A espada já foi desembainhada, o golpe decisivo foi dado, o capacete de Apoliom foi partido e os laços da iniqüidade estão completamente cortados. O fogo já está aceso, c todos os poderes do inferno não podem extingui-lo. O fogo caiu do céu; está consumindo o acampamento do inimigo; está inflamando o coração dos homens; está renovando a terra e purgando a maldição. "A resplandecente Estrela da Manha" subiu no Calvário; e logo "o Sol da Justiça" brilhará no campo do Armagedom. As trevas que cobrem a terra e a espessa escuridão que envolve as pessoas se dissiparão; e o islamismo, o paganismo e o catolicismo romano, com seu príncipe, o Diabo, buscarão abrigo no inferno!

Depois de uma batalha, ficamos ansiosos em saber quem está morto, quem está ferido e quem está faltando nas fileiras. Na disputa do Messias com Satanás e seus aliados ocorrida no Calvário, o calca­nhar do Messias foi ferido, mas Satanás e seus aliados receberam uma ferida mortal na cabeça. A cabeça denota sabedoria, esperteza, poder, governo. O Diabo, o pecado e a morte perderam o domínio sobre o crente em Cristo, desde a conquista do Calvário. Não há condenação, não há medo do inferno. Mas a serpente, ainda com a cabeça ferida. pode mover a cauda e alarmar os de pouca fé. Porém não dura por muito tempo. A ferida é mortal, e o triunfo é certo. No Calvário, a cabeça do dragão foi esmagada pelo Capitão de nossa salvação; de­pois da batalha do Armagedom, sua cauda nunca mais sacudirá!

Não há disparos nesta guerra. Aquele que está alistado sob a ban­deira da cruz tem de permanecer fiel até a morte; não deve pôr de parte as armas até que a morte seja tragada na vitória. Então cada vencedor trará a imagem do divino, e usará a coroa em vez da cruz, e levará a palma cm vez da lança. Sejamos fortes no Senhor e no poder da sua força, para que possamos ficar firmes no dia mau; e depois que toda a guerra estiver terminada, continuar aceitos no Amado, a fim de que reinemos com Ele para sempre e sempre.

II. Resta-nos explicar, com muita brevidade, o colóquio glorioso no texto; as interrogações da Igreja e as respostas do Messias.

Quão grande foi a maravilha e alegria de Maria quando ela en­controu o Mestre no sepulcro, revestido em imortalidade, onde ela pensou encontrá-lo amortalhado na morte! Quão indizível foi a sur­presa e arroubo dos discípulos, quando o Senhor que eles tinham acabado de enterrar entrou na casa onde eles estavam reunidos e disse: "Paz seja convosco!" Esses são os sentimentos que a Igreja é representada como a expressar neste colóquio sublime com o Capi­tão da sua salvação. Ele viajou à terra da tribulação; Ele desceu ao pó da morte; mas vejam, Ele voltou vencedor; o cetro dourado de amor na mão esquerda, a vara de ferro da justiça na direita, e na cabeça uma coroa com muitas estrelas. A Igreja o vê com grande assombro c júbilo. Ela há pouco o seguira, chorando, à cruz, e lamentara sobre o corpo no sepulcro; mas agora ela o vê realmente ressurreto, depois de haver destruído a morte e o que tinha o poder da morte — isto é, o Diabo. Ela vai ao encontro dEle com cânticos de alegria, como as filhas de Israel saíram para dar as boas-vindas a Davi, quando ele voltou do vale com a cabeça do gigante na mão e o sangue escorren­do pela roupa.

O coro da Igreja é dividido em dois grupos que cantam um ao outro em versos alternados. A divisão à direita começa o colóquio glorioso: "Quem é este que vem de Edom?". e a esquerda toma a interrogação e a repete com uma variação: "De Bozra, com vestes tintas?" "Este que é glorioso em sua vestidura", retoma o grupo da direita, 'glorioso apesar das tributações que tem suportado?" "Que marcha na grandeza de sua força?", replica o grupo da esquerda, "com força suficiente para destrancar as portas do sepulcro e libertar os cativos da corrupção?" O Conquistador celestial faz uma pausa e lança um olhar de benignidade infinita no grupo das filhas de Sião; e com voz de melodia de anjo, e mais que a majestade de anjo, Ele responde: "Eu, que falo em justiça, poderoso para salvar!" Agora eclode o cântico novamente, como o som de muitas águas, partindo da com­panhia da direita: "Por que está vermelha a tua vestidura?", e a réplica estrondeia de volta em trovão melodioso da esquerda: "E as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar?" 

O Herói divino responde: "Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo. Até Pedro, com toda a sua coragem e afeto, me deixou; e quanto a João, falar do amor é tudo o que ele pode fazer. Eu triunfei sobre os principados e poderes. Eu fui ferido, mas eles estão derrota­dos. Vede o sangue que perdi! Vede os espólios que tomei! Agora montarei no meu cavalo branco, perseguirei Satanás, desmantelarei seu reino e o mandarei de volta à terra das trevas em cadeias perpé­tuas, e todos os seus aliados serão exilados com ele para sempre.

Meu próprio braço, que conquistou a vitória no Calvário e trouxe a salvação a todo o meu povo do sepulcro, ainda é forte o bastante para brandir o cetro dourado de amor e estraçalhar meus inimigos no campo do Armagedom.

Eu destruirei as obras do Diabo e arrasarei com todas as suas hostes; eu os esmigalharei como o vaso de oleiro. Pois o dia da vin­gança está no meu coração, e o ano da minha redenção é vindo. Minha compaixão está instigada pelos cativos do pecado e da morte; minha fúria está inflamada contra os tiranos que os oprimem. É tem­po de abrir as prisões e romper as correntes. Tenho de reunir meu povo para mim. Tenho de buscar os que estavam perdidos e trazer de volta os que foram expulsos. Tenho de ligar os que foram quebrados e fortalecer os que estavam fracos. Mas destruirei os que estiverem gordos e os fones. Eu os alimentarei com julgamento, eu os pisarei na minha ira, os embriagarei no meu furor, derribarei sua força por terra e mancharei minha vestidura com o sangue deles!"

Fujamos da ira por vir! Vejam, o sol subiu com força no dia da vingança. Que não sejamos encontrados entre os inimigos do Messi­as, para que não sucumbamos como sacrifício à sua indignação justa no campo do Armagedom! Escapemos por nossa vida, pois a tempes­tade de fogo da sua ira queimará até ao mais profundo do inferno! Oremos para que a graça se apodere da salvação dos remidos. É uma salvação livre, plena, perfeita, gloriosa e eterna. Voltem, ó resgatados, exilados da felicidade, voltem para a sua herança perdida! Este é o ano do jubileu. Venham a Jesus para que suas dívidas sejam cancela­das, seus pecados perdoados, a fim de que sejam justificados! Ve­nham, pois o Conquistador de seus inimigos está no trono! Venham, pois as trombetas da misericórdia estão soando! Venham, pois tudo já está pronto!

FONTE; www.ressureicao.com

Redes sociais