terça-feira, 3 de julho de 2012

O Evangelho Deve Ser Oferecido aos Réprobos? John Bunyan

Imagem cedida por: http://www.thebookofdays.com/months/aug/31.htm  

Deus quer de fato e de verdade, que o evangelho, com a graça do mesmo, seja oferecido para aqueles que Ele tem sujeitado à Eterna Reprovação?

Para esta questão eu devo responder:

Primeiro, na linguagem de nosso Senhor: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." (Marcos 16:15), e novamente, "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra;" (Is 45:22 ). "E quem quiser, tome de graça da água da vida" (Apocalipse 22:17). E a razão é que, como Cristo morreu por todos, "provou a morte por todos os homens" (2 Cor 5,15; Hb 2:9), é "o Salvador do mundo" (1 João 4:14), e é a propiciação pelos pecados de todo o mundo.

Segundo, eu vou obter isso daquelas várias censuras que vão sobre cada um que não recebe a Cristo, quando oferecido na geral proposta do evangelho."Quem não crer será condenado” (Mc 16:16); "quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu." (1 João 5:10), e, Ai de ti Cafarnaum, "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! "(Mt 11:21), com muitas outras declaraçãoes, todas com a mesma fórmula, com muitas outras da mesma natureza, carregam em si um argumento muito forte para este fim. 

Porque, se aqueles que perecem nos dias do evangelho, devem ter, ao menos, a sua condenação aumentada, por negligenciar e se recusar a receber o evangelho, faz-se necessário que o evangelho tenha sido oferecido a eles com toda fidelidade. O que não pode acontecer, a menos que a morte de Cristo se estenda a eles (João 3:16, Hb 2:3); porque a oferta do evangelho não pode, com a permissão de Deus, ser uma oferta que vá além de onde vai a morte de Cristo, porque se essa é tirada, certamente não há evangelho, nem graça a ser estendida.

Além disso, se por “toda criatura”, e assim por diante, devem ser entendidos somente os eleitos, então todas as persuasões do evangelho são, no entanto, sem qualquer efeito. Porque os ainda não convertidos, que aqui estão condenados por recusá-lo, podem responder rapidamente: "eu não sei se eu sou eleito e, portanto, não me atrevo a ir à Jesus Cristo, porque a morte de Jesus Cristo, e assim a proposta geral do evangelho, diz respeito somente aos eleitos; eu, não sabendo se sou um desses, estou em uma poderosa queda; nem sei se é o maior pecado, crer, ou desesperar: porque eu digo novamente,se Cristo morreu apenas pelos eleitos, então, não sabendo se sou um desses, não me atrevo a crer no evangelho, porque Ele reteve o seu sangue para me salvar, ou melhor, acho que, com segurança, não posso fazê-lo, até que eu primeiro saiba se sou eleito de Deus, e que fui ordenado a fazer isso.."

Terceiro, Deus o Pai e seu Filho Jesus Cristo, queriam que todos os homens, quem quer que eles sejam, fossem convidados pelo evangelho a se apoderar da vida por meio de Cristo, quer eleitos ou réprobos. Pois, embora seja verdade que exista tal coisa como eleição e reprovação, ainda assim Deus, através da proposta do evangelho no ministério da sua palavra, olha para os homens sob uma outra consideração, a saber, como pecadores e é como pecadores que os convida a crer, se apoderar e abraçar o mesmo. Ele não disse a seus ministros: Ide e pregai aos eleitos, porque eles são eleitos, e calem-se aos outros, porque eles não são eleitos. Mas disse: Ide e pregai o evangelho aos pecadores como pecadores; e como eles são pecadores, ide e ordene que venham a mim e assim vivam. E isso deve ser assim necessário, de outro modo o pregador nem poderia falar em fé, nem as pessoas ouvir sobre a fé.

Primeiramente, o pregador não poderia falar em fé, porque ele não sabe distinguir os eleitos dos réprobos. Nem eles poderiam ouvir em fé, porque, como não-convertidos, eles também seriam sempre ignorantes desse fato. Então, o ministro não saberia a quem deveria oferecer a vida, nem as pessoas que dele estão a receber. Como poderia a palavra, agora, ser pregada em fé com poder? E como poderia o povo crer e a abraçar? Mas agora o pregador oferece misericórida aos pecadores, como sendo eles pecadores. E essa é a maneira preparada para a palavra ele falar em fé, porque seus ouvintes são pecadores, sim, e também encorajamento para as pessoas receberem e se envolverem com isso, eles compreenderão que eles são pecadores”. 1 Timóteo 1:15 e.Lucas 24:46, 47..

Quarto, o evangelho deve ser pregado aos pecadores como sendo eles pecadores, sem distinção de eleitos ou reprobos; porque nem um nem outro, quando são considerados sobre esses fatos, são aptos a abraçar o evangelho: porque nem um fato nem o outro, faz cada um deles pecadores; mas o evangelho é para ser oferecido aos homens como sendo eles pecadores, e pessoalmente sob a maldição de Deus pelo pecado: portanto, oferecer a graça aos eleitos porque eles são eleitos é oferecer a graça e a misericórdia a eles não os considerando como pecadores. E, eu digo, negá-la aos réprobos por não serem eleitos, é não somente uma negação da graça a eles por pensar que eles não tem necessidade dela, mas também é dar ocasião para que estes a dispensem.

E volto a repetir, portanto, que oferecer Cristo e a graça ao homem eleito, como simplesmente assim considerado, não administra-lhe nenhum conforto, se ele não for, aqui, um pecador. E assim não engajam o coração a Jesus Cristo,....Sim, e também, negar o evangelho ao réprobo, porque não é um eleito, não vai, absolutamente, incomodá-lo; pois diz: Então eu não sou um pecador, e assim não necessito de um Salvador. Mas agora, como os eleitos não têm necessidade da graça em Cristo, por meio do Evangelho, a não ser como sendo eles pecadores; nem os réprobos causa para recusá-lo, a não ser como sendo eles pecadores; Cristo, portanto, pela palavra do evangelho, deve ser oferecido a ambos, sem considerar se são eleitos ou reprobos, mas como pecadores. "Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” Marcos 2:17,. 2 Cor 5:14,15, Lucas 7:47.

Assim você percebe que o evangelho é para ser oferecido a todos em geral, tanto aos reprobos como aos eleitos, aos pecadores como pecadores, e assim eles estão a recebê-lo, e fecham com a proposta recebida 

Bunyan, “Reprobation Asserted,” in The Works of John Bunyan, (Banner of Truth, 1991), 2:348-349.


Fonte:a indicação desse texto veio de http://calvinandcalvinism.com/?p=31 que postou o capítulo 9 de forma parcial. A ressaltação em negrito de algumas partes do texto segue a ressaltação feita por esse site. O restante do capítulo foi retirado da versão digital do livro disponivel em http://books.google.com.br. As páginas da versão em pdf são 393-394.

Tradutor:  Emerson Campos Pinheiro.

Pensamento no Leito da sua morte - John Bunyan

Imagem cedida por: www.truthbomb.blogspot.com.br 
SOBRE O PECADO

Nenhum pecado contra Deus pode ser considerado pequeno porque é sempre um acto contra o Criador do Céu e da Terra. Mas se um pecador consegue, na sua imaginação, inventar um deus menor, logo se entrega a pecados menores também.
 
 Pecado é o grande mal e arma de bloqueio para toda a nossa felicidade, é a razão para toda a miséria de todo o homem, tanto aqui quanto depois. Retire-se todo o pecado da vida do homem e nada mais o poderá ferir, pois a morte espiritual, a morte carnal e a morte eterna são seu único salário.
 
 Pecado e o homem para o pecado, serão sempre os únicos objectos da ira de Deus. Que dramático deve ser o caso de quem permanece em pecado! Quem pode suportar um pouco da ira bem acesa de Deus!

Qualquer pecado torna a graça de Deus em uma coisa opaca e sem valor. É a única coisa que desafia toda a Sua justiça eterna, viola toda a Sua misericórdia, esgota toda a Sua paciência, mina todo o Seu poder nas nossas vidas e desfaz todo o Seu amor por nós.

Tenha sempre o cuidado de nunca dar-se a liberdade de pecar, pois um pecado leva sempre ao outro. Depois, logo chega ao ponto de ser costume doentio, chegando mesmo a ser natural pecar.

Começar a pecar, é colocar um alicerce para uma continuidade de qualquer pecado. Este continuar é a única mãe do costume de pecar e a consequente falta de pudor a grande tragédia que lhe irá seguir.
 
 Aquela Morte de Cristo permite-nos a maior de todas as descobertas sobre nós mesmos, das condições em que fomos achados e de como nada nos poderia valer senão a Sua Morte por nós e, também, a descoberta mais clarividente sobre a terrível façanha (audácia) que é o nosso pecado. Como a sua natureza fez perecer o próprio Criador do mundo! Se o pecado é, de facto, coisa tão medonha e horrível, que chegou a trespassar o lado e coração do Filho do Homem, como pode um pecador ainda suportar os seus pecados?


SOBRE O ARREPENDIMENTO E O VIR PARA CRISTO

O fim de toda a aflição é a descoberta dos nossos pecados, desde que nos levem aos pés do Salvador. Vamos então, como o filho pródigo, voltar ao nosso Pai. Logo acharemos paz e descanso para a nossa alma.

Alguém neste mundo inteiro que seja considerado o pior de todos os pecadores, pode, pela graça na penitência do arrependimento, tornar-se tão bom quanto os melhores.

Ser verdadeiramente sensível à proximidade do pecado, é estar triste porque se fere profundamente o nosso Deus e Criador. Somos mais afligidos por nós mesmos porque O estamos a magoar, do que por Ele.
  
As tuas intenções quando te arrependes, tanto quanto a negligência em desfavor da tua própria salvação, serão sempre um marco e um atestado contra ti no Juízo Final!

Qualquer arrependimento real e honesto, carrega consigo uma retórica divina, a qual persuade Cristo a perdoar montanhas de pecados cometidos contra Ele.

Nunca diga a si mesmo que amanhã se arrependerá, pois é seu dever fazê-lo hoje.
 
 O evangelho da graça de Cristo e da Sua salvação, estará sempre acima de todas as outras doutrinas, mas não deixa de ser a mais perigosa de todas caso seja recebida por homens desprovidos dessa mesma graça. Se esta não for sustentada com uma necessidade absoluta de um Salvador real, nunca é graça. A tais homens e mulheres que têm apenas a noção de tudo aquilo que é esta graça de Deus, digo que serão sempre os mais miseráveis e execráveis de toda a raça humana. Porque sabem através da sua razão muito mais que os pagãos da terra, esta será a sua única porção: no fim apanharão com mais açoites que todos.

SOBRE O ORAR
 
Antes de entrares em teu quarto para orar, pergunta a ti mesmo esta pergunta: Para quê, com que finalidade, minha alma, entras aqui para este santo lugar? Vieste para aqui para ter uma conversa com Ele? Estará Ele presente também? É teu pesar leve, teu pensamento leviano? Não estás a lidar com a saúde de todo teu espírito? Que palavras irás usar para que Ele considere ter misericórdia de ti?

Para que a tua preparação para este solene momento seja completa, considera-te nada menos que pó e cinzas de pecado e que Ele, o grandioso Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, se veste com luz inigualável, como se dum manto se tratasse. Que és um vil pecador, Ele um Deus sem mácula; que és pouco mais que um verme rastejante, Ele seu Omnipotente Criador.

Em todas as tuas solenes orações, nunca te esqueças de Lhe ser agradecido pelas Suas muitas e grandes misericórdias.

Quando, então orares, é preferível que teu coração deixe de ter palavras, do que tuas palavras deixem de ter coração.

A tua oração eliminará o teu pecado por completo, pondo-lhe fim, ou então o teu pecado dará um fim à tua oração.

O Espírito de oração é mais precioso que muitos tesouros de ouro e de prata.

Ora muito, quantas vezes desejares, pois tua oração é um escudo real, um cheiro suave e uma afronta a Satanás
SOBRE O AMOR AO MUNDO
Nada tem como impedir uma alma de se poder aproximar de Cristo, com excepção dum amor fútil pelas coisas que o mundo oferece. E até que uma alma esteja inteiramente liberta de tal monstruosidade, nunca poderá ter nela mesma um grande amor por Deus.

Que serão as honras e as iguarias das riquezas neste mundo comparando-as com as riquezas que obteremos de Cristo juntamente com a coroa da Vida?

Nunca ames o mundo, pois o amor ao mundo é uma lagarta roedoura de toda a vida com Cristo.

Desprezar o mundo é o caminho para o Céu brilhar em nós. E bem-aventurados serão todos aqueles que conseguem ter uma conversa a sós com Deus.

Que tolice maior poderá existir que trabalhar pela carne que apodrece, negligenciando com isso o maná da Vida Eterna?

Ou Deus ou o mundo - um dos dois terá necessariamente de sair desprezado em uma vida e quando esta se desvanece no leito da sua morte, esse será o seu grande teste.

Buscando a tua vida, a ti mesmo neste mundo, teu próprio interesse, é estar perdido para sempre. E ser humilde é exaltação excelente.

Todo aquele que se deleita com as realezas deste grande mundo, pensa muito pouco, pois um dia quem admirou, será testemunha veloz contra ele.

SOBRE A AFLIÇÃO
 
Nada tem como tornar a aflição tão insuportável como uma montanha de pecados: para que possa estar apto a suportá-la, assegure-se que depõe todo pecado e sejam quais forem as aflições que lhe venham atormentar, qualquer montanha lhe será coisa facílima de transpor.

O Senhor tem como usar a dor da tribulação para ter como separar o trigo da palha que carregou o trigo até ali.

Se por acaso você tem como suportar a vara da aflição, a que foi Deus que impôs sobre si, lembre-se sempre desta verdade: você apanha para que melhore de coração.

A escola da Cruz é a escola da luz; ela descobre a vaidade de ser do mundo, expondo-a, desmascara a sua vil forma de ser, a sua impiedade profunda e permite-nos ver mais e melhor a mente de Deus. Desde as trevas da aflição nos pode chegar luz miraculosíssima!

É naqueles momentos de maior aflição que desvendamos muitas coisas acerca do real amor de Deus.

Será que de coração acabamos por renunciar todos os prazeres deste vil mundo? Então, pouco temos a temer sobre a aflição, pois nunca nos fará tropeçar. O que torna um certo estado de aflição mesmo insuportável, serão tão só os prazeres desta vida mundana, a qual não tem como suportar a possibilidade de nos separarmos dela de facto.

SOBRE O SOFRIMENTO
 
Não será qualquer tipo de sofrimento que faz um mártir, mas apenas o sofrer porque se é verdadeiro e se está em plena conformidade com a Palavra de Deus. Isto é, não apenas sofrer de forma justa, mas pela justiça; não apenas pela verdade, mas por amor à verdade; nunca apenas pela palavra de Deus, mas de acordo com ela: dar testemunho, com aquela santidade, humildade, no mesmo espírito de mansidão que a própria Palavra de Deus requer de nós.

É coisa muito rara sofrermos pelos motivos certos e mantendo o espírito vergado apenas a Deus contra o Seu inimigo: o pecado; pecado em doutrina, em adoração, pecado na vida e em qualquer tipo de conversação.

Não será o diabo, nem os homens deste mundo que conseguirão extinguir a justiça de dentro de ti, ou o amor por ela - apenas a tua própria mão. Só se separa essa justiça de ti pela tua própria actuação. Aquele que sofre em prol de ser justo, ou por um amor completo à justiça interior, não tem como ser tentado a trocar essa justiça por alguma outra coisa, porque o bem-estar do mundo dependem dela.

Sempre pensei que a nata dos Crentes são feitos na pior das eras: quanto pior for o momento, maior e melhor será o Crente. E continuo a pensar que uma das razões porque não somos tornados melhores, será porque Deus já não nos purga e não nos prova como fazia. Noé e Lot, quem era mais santo que eles durante os tempos das suas aflições? E quem haverá mais vil e mais fútil do que o que está em sua prosperidade?

SOBRE A MORTE E O JUÍZO

Tal como o diabo opera por todos os meios para nos manter fora de todas as coisas boas, do mesmo modo opera para afastar dos pensamentos, tanto quanto pode, tudo sobre uma vida noutro mundo após a morte. Ele bem sabe que se mantiver os homens afastados de pensar na morte, eles se sentirão mais à vontade para pecar.

Nada nos tornará mais sérios naquele labor de operar a nossa própria salvação, do que uma frequente meditação sobre a morte. Nada terá maior influência sobre os nossos corações, de nos retirar das futilidades e, ao mesmo tempo, inspirar a nascença de desejos sobre a santidade.
 
Ó pecador, em que condição te acharás caído quando abandonares este mundo? Se partires sem estares convertido, teria sido melhor haveres sido esmagado assim que nasceste. Teria sido melhor haverem-te puxado dum lado e do outro e seres dividido em duas partes; melhor te seria haveres nascido cachorro, uma serpente, uma rã, do que nasceres homem e morreres sem te converteres e me darás toda a razão quando lá chegares sem te haveres arrependido.
  
Um homem seria tido como tolo caso se atrevesse a desafiar e a tratar mal um Juiz antes de ser julgado por ele. E o Juízo de Deus terá tanto mais peso que um desses, pois dele dependerá toda a nossa felicidade e miséria eternas; e mesmo assim atrevemo-nos a desafiá-Lo e afrontá-Lo com nossos pecados?

A única maneira de escaparmos daquele Juízo horrível, é passarmos certas sentenças de juízo sobre nós correctamente enquanto estivermos aqui na terra. Assim que soar aquela última trombeta, a qual convocará os mortos para comparecerem diante do trono de Deus para serem julgados, os justos se apressarão a sair de suas sepulturas com alegria, para se encontrarem com o seu Redentor nas nuvens. Mas, os outros clamarão às montanhas para que caiam sobre eles, para os encobrir da vista daquele Juiz feroz! Vamos, então, pousar no tempo que nos resta e decidir para qual dos dois lados queremos ir.
 
SOBRE AS ALEGRIAS DOS CÉUS
Nada existe de bom neste mundo com excepção do que já está contaminado e misturado com o mau. As honras têm surpresas desagradáveis, a riqueza tem insensatez e todos os prazeres arruínam a saúde. Mas, apenas nos céus acharemos bênçãos sem igual, de tal modo puras que nada terão que as possam fazer amargar e tendo tudo nelas para as tornar incomparavelmente doces.

Quem neste mundo poderá conceber as inexprimíveis, inconcebíveis alegrias que se acharão lá? Apenas aqueles que já as experimentaram cá. Senhor, ajuda-nos a dar tal valor a elas, que nos possamos preparar para as receber e tenhamos porque nos alegrar com a perda sumária de todos os prazeres inerentes à ilusão dos apetites daqui.

Como os céus transbordarão e ecoarão de alegria assim que lá chegar a noiva, a Esposa do Noivo, para ir viver com Ele para sempre!

Cristo é o supremo desejo das nações, a alegria dos anjos e o deleite do Pai; quão grande deve ser a consolação da alma que O possuir pela eternidade fora!

Ó! Quantas aclamações se verão quando todos os muitos Filhos de Deus se encontrarem em conjunto, sem nada mais para temer, sem as perturbação dos descendentes do anticristo e dos Cainistas!

Não chegará o tempo quando os piedosos poderão perguntar aos ímpios quais os proveitos que adquiriram dos seus prazeres? Qual conforto da sua grandeza? E que frutos trouxeram todos os seus labores?

Se você tiver muita curiosidade para saber tudo sobre a verdadeira essência da visão celestial, minha resposta para si será apenas que viva uma vida santa e chegue-se bem perto para ver!
SOBRE OS TORMENTOS NO INFERNO
Os céus e a salvação não foram mais prometidos a todos os que são castos do que o inferno e a condenação aos que são ímpios e será seguramente uma sentença executada sobre todos.

Assim que uma alma for condenada, pode, logo ali, dizer adeus para sempre a todo conforto e prazer.
 
Quem conhecerá todo o poder da ira de Deus? Ninguém com excepção dos que forem condenados!

A única companhia de todos os pecadores, será o diabo e seus demónios, para sempre atormentados sob uma maldição.

O inferno seria um género de paraíso, caso não fosse pior que o pior dos lugares deste mundo!

Tão distinto quanto será a dor da alegria, o tormento do descanso de alma e o terror da paz, essa será a distancia entre os pecadores e os santos no mundo vindouro.
SOBRE O DIA DO SENHOR, SERMÕES E DIAS DA SEMANA
 
Tenha zelo em santificar o dia do Senhor, pois do modo que o guardar ou usar, desse modo será guardada a sua alma durante a semana.

Torne o dia do Senhor o dia do mercado para sua alma. Que passe o dia inteiro em orações, súplicas, revisões e meditações. Coloque de parte os assuntos do resto da semana. Que o sermão que ouviu seja ponderado e traduzido em oração: irá o Senhor te oferecer estes seis dias e tu não lhe dedicarás um por inteiro?

Dentro da sua igreja seja cuidadoso em servir Deus. Ali está sob os olhares de Deus e não dos olhares dos homens.

Pode ouvir muitos sermões com muita frequência e pode mesmo ser ouvinte que pratica o que ouviu. Mas nunca pode esperar que lhe seja explicado a partir do púlpito tudo aquilo que é sua obrigação fazer. Antes seja também um estudioso afectivo da Palavra e leia bons livros. Aquilo que ouviu pode vir a ser esquecido, mas tudo quanto aprendeu, será retido e guardado com maior facilidade.

Nunca negue a adoração pública de Deus, pois Deus pode vir a negá-lo a si também, tanto em público como em privado.

Durante os dias da semana, sempre que acorda, considere isto:
  1. Você morrerá em breve;
  2. Você pode morrer naquele preciso momento;
  3. Que irá então acontecer à sua alma.
  4. Ore bastante.
Mas à noite considere isto:
  1. Se cometeu pecados;
  2. Com qual frequência orou durante o dia;
  3. Em quais coisas sua mente vagueou durante todo dia. Em que pensou durante o dia;
  4. Quais foram os seus afazeres;
  5. Qual foi a sua conversação;
  6. Se conseguir trazer à sua atenção todos os erros que cometeu durante todo o dia, nunca se atreva a adormecer sem os haver confessado a Deus e obter a esperança proveniente de um perdão real. Assim, cada noite e cada manhã faça os seus cálculos em conjunto com o Deus Todo-Poderoso e todas as suas dívidas, por fim, diminuirão drasticamente.

    JOHN BUNYAN, 10 DE SETEMBRO DE 1688
      
    FONTE: http://www.reavivamentos.com/pt/livros/bunyan/pensamentos_leito_morte.html

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