sábado, 11 de junho de 2011

Por Que Ler os Puritanos Hoje? - Don Kistler

Imagem cedida por: http://liturgiareformada.blogspot.com/2008/10/catedral-evanglica-de-so-paulo.html


Don Kistler é ministro presbiteriano, fundador da editora Soli Deo Gloria, onde organizou e editou mais de 150 títulos. É também fundador e presidente da editora Northhampton Press. Obteve graduação dupla em oratória pela universidade Azusa Pacific College, na Califórnia e obteve ainda os graus de Mestrado em Divindade e Doutorado em Ministério.
Acredito que existem várias razões para o ressurgimento do interesse pelos Puritanos e seus escritos. Uma delas é que as pessoas estão ficando cansadas de coisas que a religião promete, mas não pode dá-las. Todo tipo de promessas são feitas, mas as pessoas investigam a religião por causa do interesse próprio, e quando estas promessas não se tornam realidade elas ficam desapontadas. Creio que elas também estão cansadas da religião superficial e sem seriedade em sua base. Muitas pessoas não louvam a Deus, porque o deus do qual a maioria ouve falar realmente não é o "Senhor Deus onipotente que reina para sempre e eternamente". Ele é simplesmente "meu amigo", e esta familiaridade certa mente produz desrespeito!
Os puritanos foram homens apaixonadamente obcecados pelo conhecimento de Deus. Eu listei 10 razões do porquê devemos ler os puritanos hoje, e cada uma delas é derivada diretamente da visão Puritana de Deus e das Escrituras.
1) Eles elevarão o seu conceito de Deus a um nível que você jamais imaginou fosse possível, e lhes mostrarão um Deus que realmente é digno de seu louvor e adoração. Jeremiah Burroughs, em seu clássico livro Louvor Evangélico, disse: "A razão porque nós adoramos a Deus de uma maneira não séria, é porque não vemos a Deus em Sua glória". O homem moderno ouve falar de um Deus que não é digno de ser louvado. Por que ele deveria louvar a um Deus que quer fazer o bem, mas não pode ser bem sucedido porque o homem nÍ o coopera? Quem afinal é soberano? O homem o é!
Leia os puritanos e você se achará, num sentido espiritual, de alguma forma sozinho. Você se sentirá empolgado com aquilo que está lendo e com o que está sentindo em seu coração, e perceberá que não há muitas outras pessoas que entenderão daquilo que você está falando; esta pode ser uma solitária experiência! Quando você experimenta a visão que Isaías teve de Deus (Is. 6), e percebe que a realidade de Deus está infinitamente além de qualquer coisa que a sua mente possa compreender, você perceberá que o homem comum não pensa muito a respeito de Deus, muito menos no nível profundo que você está pensando.
Uma das razões de termos um pensamento tão pobre é porque lemos tão pouco. Ler ajuda-nos a pensar. Nós vivemos numa "cultura fotográfica" (visual) ao invés de uma cultura tipográfica (de letras). Tudo são fotos, vídeos e filmes. Todo trabalho está feito para nós e assim não precisamos lutar com conceitos. Outra pessoa interpreta as coisas para nós com imagens. Há 400 anos atrás, as palavras estavam congeladas, estáticas numa página e estas forçavam os leitores a trabalharem mentalmente com os pensamentos ali expressos.
2) Os Puritanos tinham um "caso de amor" com Cristo, e eles escreveram muito sobre a beleza de Jesus Cristo. Um dos maiores puritanos foi Thomas Goodwin, um Congregacional. Escrevendo sobre o céu, Goodwin disse: "Se tivesse que ir ao céu e descobrisse que Cristo não estava lá, eu sairia correndo imediatamente, pois o céu seria o inferno para mim sem Cristo". O céu sem Cristo não é o céu, e se Cristo não estiver lá, eu não tenho nenhum desejo de estar lá. Estes homens estavam apaixonados por Cristo.
James Durham escreveu na sua aplicação do sermão sobre Cantares de Salomão 5:16: "Se Cristo é amor como um todo, então todo o resto é repulsivo como um todo". Nós não nos sentimos assim em relação a Cristo, sentimo-nos? Queremos um pouquinho de Cristo, mas também um pouquinho de várias outras coisas. Mas o verdadeiro cristão quer Cristo e nada além de Cristo.
Samuel Rutherford escreveu o seguinte a respeito da beleza de Cristo:
Eu ouso dizer que escritos de anjos, línguas de anjos, e mais que isso, e tantos mundos de anjos como existem pingos de água em todos os mares e fontes e rios da terra não O poderiam mostrar-lhe. Eu acho que Sua doçura inchou dentro em mim até a grandeza de dois céus.Ah! Quem dera uma alma tão extensa, como se estendesse até a linha final dos mais altos céus para conter o Seu amor. E ainda assim eu poderia conter só um pouquinho deste amor. Oh! que visão, de estar no céu, naquele lindo jardim do Novo Paraíso, e assim ver, sentir o cheiro, tocar e beijar aquela linda flor-do-campo, a árvore sempre verde da vida! A sua sombra seria o suficiente para mim; uma visão dEle seria a garantia do céu para mim.Se existissem dez mil milhões de mundos, e tantos céus cheios de homens e anjos, Cristo não seria importunado para suprir todos os nossos desejos, e nos preencher a todos. Cristo é uma fonte de vida; mas quem é que sabe qual a sua profundidade até o ponto mais fundo? Coloque a beleza de dez mil mundos de paraísos, como o jardim do Éden em um; coloque todas as árvores, todas as flores, todos os odores, todas as cores, todos os sabores, todas as alegrias, todos os amores, toda doçura em um só.
Oh! Que coisa linda e excelente isso seria? E ainda assim seria menos para o lindo e querido bem-amado Cristo do que uma gota de chuva em todos os oceanos, rios, lagos e fontes de dez mil mundos.
Isto é alguém que ama a Cristo, não é?
3) Os Puritanos nos ajudarão a entender a suficiência de Cristo. Isto sofre grandes ataques em nossa igreja moderna. Você pode ter Cristo para salvá-lo, mas hoje em dia você precisa da psicologia para ajudá-lo no curso de sua vida. Pode ter Cristo para salvá-lo e ajudá-lo com seus sofrimentos espirituais, mas você precisa de algo mais para estas dores emocionais profundas que sente.
Existe um livro escrito por Ralph Robinson — contemporâneo de Thomas Watson em Londres — "Cristo: Tudo e Em Tudo". Robinson escreveu mais de 700 páginas sobre um versículo de Colossenses, "... porém Cristo é tudo e em todos" (Cl 3:11). Você percebe que a questão é a nossa deficiência em entender a suficiência de Cristo. Se Cristo é tudo em tudo, como podemos olhar para qualquer outro, ou para qualquer outra coisa em busca de respostas?
No seu livro "O Tesouro dos Santos", Jeremiah Burroughs tem um sermão sobre o versículo de Colossenses. Burroughs faz uma afirmação como segue: "Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai". Nenhum de nós argumentaria contra isso, não é mesmo? Isaías nos diz que Deus verá o "fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito". Assim, Cristo é suficiente para satisfazer a Deus. Burroughs continua: "Certamente, então, Cristo é suficiente para satisfazer qualquer alma!" Você compreende o raciocínio? Coit ado daqueles cristãos que gastam suas vidas inteiras se queixando acerca de seu destino na vida, como se Cristo não fosse suficiente. Que blasfêmia é dizer que Cristo é suficiente para satisfazer a Deus, mas não é suficiente para satisfazer a mim! Muito antes de existir um Freud, um Puritano solucionou o problema da "balela da psicologia" que tanto tem fascinado e agradado a igreja hoje.
4) Os Puritanos nos ajudam a ver a suficiência das Escrituras para a vida e a piedade. Isto é o que Pedro disse (2 Pe 1:3-4). As Escrituras nos dão o conhecimento de Deus, o qual nos dá todas as coisas pertinentes à vida e à piedade. O grito de guerra da humanidade hoje é mais ou menos assim: "Estou buscando a auto-estima", ou "Quero apenas estar de bem comigo mesmo".
Os cristãos não carecem de auto-estima; eles carecem de dispensar estima a Cristo! Isaías descobriu quem Deus era e daí ele soube quem de fato Isaías era. Eu me lembro de ter sido convidado para falar numa palestra em outro continente, e pediram-me para falar de mim. Não posso imaginar nada mais constrangedor do que as pessoas ficarem sabendo algo a meu respeito. No livro"Tesouro dos Santos" de Burroughs, seu primeiro sermão é intitulado "A Incomparável Excelência e Santidade de Deus" e é baseado num versículo do Velho Testamento "Quem é como Tu, oh Deu s, entre as nações?". É um sermão de 35 páginas, e Burroughs fala do esplendor de Deus em metade do sermão. Daí ele escreve sobre a segunda metade do versículo "e quem é como Tu, oh Israel?". Qual é o ponto em questão? Sendo que não há ninguém comparável ao Seu Deus, não há ninguém como você! Assim, você não precisa de auto-estima para sentir-se bem consigo mesmo; você precisa ter "Cristo-estima"; você precisa sentir-se bem com Deus.
Se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, como poderia alguém ter falta de auto-estima? Cristo deu Sua vida, pagando um alto preço por Sua Igreja. Isso é verdadeiramente digno, meus amigos!
5) Os Puritanos podem ensinar-nos sobre a extrema maldade da natureza do pecado. Edward Reynolds escreveu um livro intitulado "A Pecaminosidade do Pecado", e Jeremiah Burroughs escreveu "O Mal dos Males". Não há outra doutrina que importe sermos mais ortodoxos do que nesta. Porque se você está fora da doutrina do pecado, você está fora de toda doutrina. Este é o fio da meada que vai abrir todo o invólucro.
Burroughs escreveu 67 capítulos sobre esta premissa: O pecado é pior que o sofrimento; as pessoas farão tudo que puderem para evitar o sofrimento, mas farão quase nada para evitar o pecado. O pecado é pior que o sofrimento, isso, no entanto, é porque o pecado causa o sofrimento. De fato Burroughs vai ao ponto. O pecado é pior que o inferno, porque o pecado causou o inferno. E a causa é pior que a conseqüência da causa.
Obadiah Sedgwick, um presbiteriano Londrino proeminente e que era um membro da Assembléia de Westminster, escreveu um livro perscrutador "A Anatomia dos Pecados Ocultos" — um tratado sobre o clamor de Davi pedindo para ser liberto de pecados ocultos; aqueles pecados escondidos nos recessos mais íntimos de nossos corações. Aqueles pecados que não são conhecidos de mais ninguém, só por nós e Deus, pecados que são tão maus e condenados como quaisquer outros.
Jonathan Edwards disse o seguinte acerca do pecado: "Todo pecado é de proporção infinita, e é mais ou menos mau dependendo da honra da pessoa ofendida. Já que Deus é infinitamente santo, o pecado é infinitamente mau". É por isso que não existe esse negócio de pecado pequeno (pecadinho), porque o mais leve pecado é um ato de traição cósmica cometida contra um Deus infinitamente santo.
Simplesmente por seu enorme valor literário, este material não tem preço. As imagens de Edwards em seu sermão"Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" são imbatíveis. Ele compara Deus com um arqueiro e seu arco em mãos; aquele arco está retesado e a flecha está diretamente apontada para o coração do homem; os braços do arqueiro estão trêmulos de tão firme que o arco está ao ser puxado. E Edwards diz que a única coisa que impede Deus de deixar aquela flecha voar e penetrar no sangue do pecador é o beneplácito de um Deus que está infinitamente irado com o pecado a cada dia. Um escritor secular que estava fazendo uma obra sobre Jonathan Edward s foi perguntado por um cristão: "Você sabe, se Edwards tiver razão então aquela flecha está apontada para o seu coração. Como você pode dormir à noite?". A resposta foi a seguinte: "Às vezes eu não durmo! Só espero em Deus que Jonathan esteja errado".
6) Os puritanos nos ajudarão na vida prática. O livro de Richard Baxter, "O Diretório Cristão", tem sido chamado de "o maior manual de aconselhamento cristão jamais produzido". Antes do presente século todo aconselhamento era feito do púlpito ou durante uma visita pastoral à família para catequizá-la. Os pastores eram vistos como os médicos da alma. É interessante notar que a palavra "psicologia" significa o estudo da alma. Suke, de onde temos "psyche" e de onde vem "psicologia" quer dizer "alma". Só que hoje em dia o que costumava ser a cura de almas pecaminosas, passou a ser a cura de mentes doentes (pecado virou doença). Esta tarefa foi tirada do pastor, o qual conhece a alma melhor que qualquer outro, e foi dada a conselheiros (psicólogos) dentre os quais, muitos nem mesmo crêem em Deus. Eles não podem curar males espirituais. O "Diretório" de Baxter mostra o gênio de um homem, que pôde aplicar as Escrituras em todas as áreas da vida. O Dr. James Packer chama este livro de o maior livro cristão já escrito.
O livro "A Prática da Piedade" de Lewis Bayly é um modelo de manual devocional Puritano. A idéia era a de regular o dia inteiro de um indivíduo pelas Escrituras. O Dr. John Gerstner diz que este livro deu início ao movimento Puritano.
Não havia nenhuma área da vida, criam os puritanos, que não devesse ser regulada pelas Escrituras. Mesmo o tempo a sós deveria ser posto à disposição do uso da piedade. Nathanael Ranew escreveu uma refinada obra — intitulada "Solidão Aperfeiçoada pela Meditação Divina". Esta é uma obra puritana clássica sobre meditação espiritual. A premissa de Ranew é que, mesmo quando o cristão está só ele pode "melhorar-se" a si mesmo usando sua mente para o bem, meditando em Deus e em Seus atributos. Se existisse um 11º mandamento, este seria: "Não deveis desperdiçar tempo".
Os Puritanos escreveram vários destes "manuais". John Preston pregou cinco sermões em I Tessalonicenses 5:17 sobre a oração, entitulados "O exercício diário dos Santos", os quais estão incluídos no "Os Puritanos e a Oração".
R.C. Sproul escreveu o prefácio do livro de Jeremiah Burroughs "Tratado sobre Mentalidade Terrena". Eis aí um livro sobre o grande pecado de pensar como o mundo pensa, ao invés de pensar os pensamentos de Deus e segundo Deus.
Os Puritanos tinham característica pastoral forte, além de serem muito teológicos. Christopher Love — sobre quem eu escrevi um livro "Um Espetáculo para Deus" — disse o seguinte, em seu terceiro volume sobre sermões de crescimento na graça:
Não olhe demais para os seus pecados, mas olhe também para a sua graça ainda que fraca. Cristãos fracos olham mais para os seus pecados do que para suas graças recebidas; Deus olha para suas graças e não atenta tanto para seus pecados e fraquezas. O Espírito Santo disse: "Ouvistes da paciência de Jó"; mas Deus leva em conta não o que existe de mau em seu povo, mas o que é bom nele. É mencionado o fato que Raabe escondeu os espias, mas nada é mencionado a respeito da mentira que ela contou. Aquilo que foi bem feito foi mencionado como louvável sobre Raabe. Já o que foi inapropriado está sepultado em silêncio, ou pelo menos não está registrado contra ela e nem como acusação contra ela . Aquele que desenhou o quadro de Alexandre com sua cicatriz na face, desenhou-o com seu dedo sobre a cicatriz. Deus coloca o Seu dedo de misericórdia sobre as cicatrizes de nossos pecados. Oh, como é bom servir um Senhor assim, que é pronto a recompensar o bem que fazemos e ao mesmo tempo está pronto a perdoar e esquecer o que é inapropriado. Por isso, vocês que têm só um pouco de graça, lembrem-se que ainda assim Deus terá os Seus olhos sobre esta pequena graça. Ele não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. (Is 42:3)
7) Os Puritanos nos ajudarão no evangelismo que é bíblico. Grande parte do evangelismo feito hoje é centrado no homem, mas o evangelismo Puritano era centrado em Deus. Os puritanos tinham outra doutrina, que se tem perdido hoje em dia e tem o nome de "buscar" ou "preparação para a salvação". Era uma doutrina amplamente difundida entre os Puritanos ingleses e os reformadores. Foi ensinada por Jonathan Edwards em seu sermão "Forçando a entrada no Reino", e antes disso foi ensinada por seu avô Solomon Stoddard. Stoddard escreveu "Um Guia para Cristo", q ue John Gerstner chama de o mais refinado manual sobre evangelismo reformado que ele conhece. Além deste, você poderia querer ler "O Céu tomado por violência" de Thomas Watson.
A doutrina da busca nos ensina que Deus trabalha através de meios, e se um homem deseja ser salvo ele deve se apropriar destes meios. Deixe-me dar-lhe um exemplo. A fé vem pelo ouvir, e os homens são salvos pela fé, ou melhor, os homens são salvos pela graça através da fé. Mas se preciso de fé para agradar a Deus e eu percebo que não tenho fé para crer em Deus para a salvação, o que eu deveria fazer?
E é aqui que entra o "buscar". Se a fé vem pelo ouvir, então eu devo ouvir alguém pregar um sermão ortodoxo sobre Cristo. Se Deus vai me salvar, seu meio normal será através da pregação do evangelho. Deus não tem obrigação de me salvar se eu escuto um sermão, mas Ele provavelmente não me salvará sem que eu escute um sermão sobre a graça de Deus.
O pecador, então, deve fazer todo o possível dentro de seu poder natural para amolecer o seu coração. Ele não pode merecer a salvação, mas pelo menos ele pode "cooperar" com Deus em sua salvação ao invés de opor-se a Ele. Eu não me torno agradável a Deus por estar buscando — desde que o esteja fazendo sem interesse próprio — mas eu estou sendo menos ofensivo a Deus ao invés de mais ofensivo; e mesmo se Deus não me salvar, a minha punição no inferno será menor. E os Puritanos diriam: "Se você não pode ir a Deus com um coração reto, então vá a Ele procurando por um coração reto". Busque ao Senhor.
8) Ler os Puritanos nos ajudará a ter prioridades certas. Segundo Coríntios 5:9 diz: "É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis". Um puritano falou da seguinte maneira: "O sorriso de Deus é minha maior recompensa; Sua expressão de desaprovação é meu maior temor". Se é verdade que nós nos tornamos como as pessoas com as quais gastamos o nosso tempo, então é um investimento para a eternidade gastarmos tempo com os puritanos. Então, gaste o seu tempo com o melh or! O livro "Temor Evangélico" de Jeremiah Burroughs é sobre termos a prioridade correta. Trata-se de sete sermões sobre Isaías 66:2, sobre o que significa tremer da Palavra de Deus. Se Deus fala "É para este que olharei,..., e que treme da minha Palavra", então seria sábio sabermos o que é tremer da Palavra de Deus.
9) Os Puritanos podem nos ajudar a esclarecer a questão de como um homem é justificado diante de Deus. Outro título do Solomon Stoddard é sua obra prima sobre justiça imputada: "A Segurança da Apresentação, no Dia do Juízo, na Justiça de Cristo". Não tenho como não enfatizar extremamente a importância de ser são e sóbrio sobre esta questão de justiça imputada nestes dias onde tantos não estão sendo sóbrios e claros na eterna diferença entre justiça imputada ou atribuída e justiça infundida. A diferença entre estas duas posições não é só a dist ância entre Roma e Genebra; mas é também a distância entre o céu e o inferno. Eu recomendo para as suas leituras sobre este assunto, o livro "Justificação Somente Pela Fé". Se você quer especificamente um livro puritano sobre esta questão, então leia "Os Puritanos e a Conversão", ou leia o livro de Matthew Mead, "O Quase Cristão Descoberto". Mead lista vinte e seis coisas que uma pessoa deve fazer como cristã. Fazendo estas coisas não prova que ela realmente seja cristã, no entanto não fazê-las prova que ela não é cristã. Não é para a fraqueza do coração. Esta era a versão do século 17 de "O Evangelho Segundo Jesus", 300 anos antes de John MacArthur ter escrito aquela obra preciosa.
10) Finalmente, olhemos para os Puritanos e a Autoridade da Palavra. Sabemos que as Escrituras são Deus falando conosco. O versículo clássico de Timóteo nos diz que "Toda Escritura é inspirada por Deus" (literalmente soprada por Deus). E sabemos que seja o que for que Deus diga, nós devemos obedecer. De fato foi isto que o povo de Deus do Velho Testamento percebeu. Em Êxodo 24:7 eles declaram: "Tudo que o Senhor falou nós faremos, e seremos obedientes". Não há nada que o Senhor diga que nós não devamos fazer; e se não o fazemos nós não somos cristãos! A coisa é simples assim!
Um puritano que era membro da Assembléia de Westminster em 1643 escreveu: "A autoridade da Escritura Sagrada, por causa da qual se deve crer e obedecer, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja; mas depende totalmente de Deus (que é a própria Verdade) o autor da mesma. E por isso ela deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus".
Sabemos que quando Deus fala nós devemos ouvir. De fato, grande parte da Grande Comissão é ensinar às pessoas a se submeterem à autoridade da Palavra de Deus "ensinando-os a observar tudo que vos tenho ordenado" (Mt 28:20).
Isto é o que surpreendia as pessoas quando Jesus ensinava. Mateus 7:29 diz que quando Jesus ensinava, as pessoas ficavam maravilhadas. Qual era a base para a admiração delas? "Ele estava ensinando-as como quem tem autoridade, e não como os escribas".
É exatamente assim que os pregadores devem pregar: com autoridade. É um mandamento de Deus que eles assim o façam. "Falai estas coisas, exortai e reprovai com toda autoridade. Não deixe que ninguém te despreze" Tito 2:15. Enquanto afirmamos que se Deus dissesse alguma coisa nós o obedeceríamos, nós nos esquecemos que o ministro fiel é Deus falando a nós hoje. É a visão da Reforma do ministério do púlpito: quando um ministro fiel está expondo a Palavra de Deus, é a voz de Deus que você está ouvindo e não a de um homem. E isto quer dizer que deve ser obedecida.
Mas o que você escuta após o sermão? O melhor que você ouvirá é "Isto é interessante, terei que pensar sobre isto". Mas Deus nunca nos deu Sua Palavra para ter nossa opinião ou para pensarmos sobre o assunto. Ele nos deu Sua Palavra para que a obedeçamos. O Puritano Thomas Taylor escreveu:
A Palavra de Deus deve ser pregada de tal maneira, que a majestade e a autoridade dela sejam preservadas. Os embaixadores de Cristo devem falar Sua mensagem como se Ele literalmente o fizesse. Um ministro lisonjeador é um inimigo desta autoridade, pois se um ministro deve contar "placebos" e canções doces é impossível que ele não venha trair a Verdade. Resistir esta autoridade ou enfraquecê-la é um pecado temível, seja em homens de alta ou baixa posição. E o Senhor não permitirá que seus mensageiros sejam interrompidos. Os ouvintes devem: a) orar por seus mestres, para que possam transmitir a Palavra com autoridade, com poder e claramente; b) não confundir esta autoridade nos ministros como rudeza ou antipatia, e muito menos como loucura; c) não recusar a sujeição a esta autoridade, nem ficar ofendidos quando ela sobrepuja uma prática onde eles estão relutantes em largar; pois é justo para com Deus apagar a luz daqueles que recusam a luz oferecida.
Deuteronômio 30:20 equipara um Deus de amor com obediência à Sua voz, e diz que é assim que amamos.
Bem, era assim que os puritanos viam as Escrituras. Sua elevada visão de Deus veio de sua elevada visão das Escrituras. E se nós quisermos conhecer a Deus como eles, nós devemos amar Sua Palavra como eles amaram. E este amor aumentará somente através de estudo intenso e diligente. E ler os puritanos é a próxima boa coisa. É como ir a escola com as mentes mais brilhantes que a igreja já teve.
Onde você deveria começar? Recomendo ao iniciante os seguintes títulos:
O Amor Verdadeiro do Cristão ao Cristo Invisível, de Thomas Vincent.A Maldade do Pecado ou O Dever da Auto Negação, Thomas Watson.Amostras de Thomas Watson, um pequeno livro de dizeres coletados.
A Graça da Lei, Ernest Kevan; um bom livro sobre o papel da lei na teologia puritana.
Os Puritanos e a Conversão, Os Puritanos e a Oração. Dois excelentes compêndios que dão ao leitor o melhor do pensamento puritano sobre os respectivos temas.

Traduzido pelo ministério "Os Puritanos" e publicado na revista "Os Puritanos" em 1995.
Permissão para publicação no site Fiel gentilmente concedida por Dr. Manoel Canuto, do ministério "Os Puritanos".
Copyright© Don Kistler.
Copyright©1995 Ministério Os Puritanos

FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=328

Erros da Idade Média-Sinclair Ferguson

Imagem cedida por: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/modelos/universidade.htm


Embora tenha sido provocada pelas indulgências vendidas por Johannes Tetzel, a primeira proposição que Lutero ofereceu para debate público, em suas Noventa e Nove Teses, pôs o machado à raiz da árvore teológica da Idade Média. A primeira proposição afirmava: “Quando nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo, disse: ‘Arrependei-vos’, Ele pretendia dizer que toda a vida do crente deve ser caracterizada por arrependimento”. Fundamentado no Novo Testamento Grego editado por Erasmo, Lutero chegou à compreensão de que a tradução penitentiam agite (“fazei penitência”), da Vulgata Latina, em Mateus 4.17, interpretava de maneira completamente errada o significado das palavras de Jesus. O evangelho não exige penitência, e sim uma mudança radical na maneira de pensar e uma profunda transformação de vida. Mais tarde, Lutero escreveria para Staupitz a respeito desta brilhante descoberta: “Eu me arrisco a dizer que estão errados aqueles indivíduos que tornam mais importante a ação proposta pelo latim do que a mudança de coração transmitida pelo grego”.
Não é verdade que temos perdido de vista esta nota que era tão proeminente na teologia reformada? Faremos muito bem se resgatarmos o conceito teológico de Lutero. Por muitas razões importantes, os evangélicos precisam reconsiderar a centralidade do arrependimento em nossa maneira de pensar a respeito do evangelho, da igreja e da vida cristã.
Uma de nossas grandes necessidades é a habilidade de perceber algumas das direções às quais o evangelicalismo está se encaminhando ou talvez, mais exatamente, se desintegrando. Precisamos desesperadamente da perspectiva que a História da Igreja nos proporciona.

Mesmo no período de minha própria vida cristã — no espaço de tempo entre a minha adolescência, na década de 1960, e os meus quarenta anos, na década de 1990 —, houve uma ampla mudança no evangelicalismo. Muitas “posições doutrinárias” que constituíam o ensino evangélico padrão, depois de somente três décadas, são consideradas como reacionárias ou mesmo antiquadas.Se levarmos em conta a perspectiva da História, encaramos a possibilidade alarmante de que trevas medievais podem estar se avultando no evangelicalismo. Seremos capazes de detectar, pelo menos como uma tendência, atividades no meio do evangelicalismo que se assemelham à vida da igreja medieval? A possibilidade de uma Nova Babilônia ou (mais exatamente, nas palavras de Lutero) do Cativeiro Pagão da Igreja se mostra mais perto do que podemos crer.Considere estas cinco características da igreja medieval que, em vários graus, estão evidentes no evangelicalismo contemporâneo.
1. Arrependimento

O arrependimento tem sido considerado, de maneira cada vez mais crescente, como um ato único, divorciado de uma restauração da piedade que se estende por toda a vida do crente.

Existem razões complexas para isso — nem todas desta época — que não podem ser exploradas neste breve artigo. Entretanto, isto é evidente: considerar o arrependimento como um ato isolado e completo, no início da vida cristã, tem sido um dos princípios mais importantes do evangelicalismo moderno. Infelizmente, os crentes têm desprezado a teologia das igrejas que possuem uma confissão de fé histórica. Essa atitude tem produzido uma geração que olha para trás e vê a base da sua salvação em um ato único, separado de suas conseqüências. Assim, hoje, a chamada para “vir à frente” assumiu o lugar do antigo sacramento da penitência. Deste modo, o arrependimento tem sido divorciado da regeneração verdadeira, e a santificação está separada da justificação.
2. Misticismo

O cânon da vida cristã tem sido procurado, de maneira crescente, em uma voz viva “inspirada pelo Espírito Santo”, na igreja, ao invés de ser buscado na voz do Espírito ouvida nas Escrituras. O que antes era apenas uma tendência mística se tornou um dilúvio. Mas qual a relação disso com a igreja da Idade Média? Apenas esta: toda a igreja medieval agia com base nesse mesmo princípio, embora eles o expressassem de maneira diferente — o Espírito Santo fala além das Escrituras; o crente não pode conhecer a orientação detalhada da parte de Deus, se tentar depender exclusivamente de sua própria Bíblia.

E isso não é tudo. Uma vez que a doutrina da “voz viva” do Espírito Santo é introduzida, ela é seguida inevitavelmente como sendo o cânon da vida cristã.Este ponto de vista (a Palavra inspirada + uma voz viva = revelação divina) se encontrava no âmago do tatear na escuridão da igreja medieval em busca do poder do evangelho. Ora, no final do segundo milênio, estamos à beira — e talvez mais do que à beira — de sermos dominados por um fenômeno semelhante. Naquela época, o resultado foi uma fome por ouvir e entender a Palavra de Deus; e tudo foi realizado sob o pretexto de buscar aquilo que o Espírito Santo estava realmente dizendo à igreja. E o que podemos dizer sobre os nossos dias?
3. Poderes Sagrados

A presença divina era trazida à igreja através de um indivíduo com poderes sagrados, depositados em sua pessoa e transmitidos por meios físicos.

Hoje, o correspondente de tal indivíduo pode ser visto em todos os lugares onde as pessoas assistem televisão. Temos de reconhecer que não é Jesus que está sendo oferecido por meio das mãos de um sacerdote; é o Espírito Santo quem está sendo outorgado por meios físicos (aparentemente, à vontade), pela instrumentalidade de um novo sacerdote evangélico. A santidade não é mais confirmada pela beleza do fruto do Espírito, e sim pelos sinais que são predominantemente físicos.O que deveríamos achar alarmante a respeito do evangelicalismo contemporâneo é a amplitude com que somos impressionados pelo bom desempenho de tais sacerdotes, ao invés de sermos impressionados por sua piedade. Os reformadores estavam familiarizados com fenômenos semelhantes a este. Na verdade, uma das principais acusações feitas contra os reformadores pela Igreja Católica Romana era que eles não tinham realmente o evangelho, pois lhes faltava os milagres físicos.
4. Espectadores

A adoração a Deus é apresentada, cada vez mais, como um evento das capacidades sensoriais e visuais, e não como um acontecimento caracterizado por palavras, através do qual nos envolvemos em um profundo diálogo da alma com o Deus triúno.

A atitude predominante do evangelicalismo contemporâneo consiste em focalizar a centralidade daquilo que “acontece” no espetáculo de adoração, ao invés de focalizar aquilo que se escuta na adoração. A estética, quer seja musical, quer seja artística, recebe prioridade acima da santidade. Mais e mais é visto, menos e menos é ouvido. Acontece uma festa dos sentidos, mas existe uma fome do ouvir. O profissionalismo na adoração se tornou um substituto barato e cheio de falhas para o genuíno acesso ao céu. A dramatização, ao invés da pregação da Palavra, se tornou o “Didaquê” da escolha.Houve um tempo em que apenas quatro palavras causariam arrepios em nossos avós: “Vamos adorar a Deus”. Isto não pode ser dito a respeito dos evangélicos contemporâneos. Agora, tem de haver cores, movimento, efeitos áudio-visuais, etc., pois, de modo contrário, Deus não pode ser conhecido, amado, adorado e crido.5. Maior significa melhor?

O sucesso do ministério é medido pelas multidões e pelos templos enormes, ao invés de ser avaliado por meio da pregação da cruz e da qualidade da vida dos crentes.

Foram os líderes da Igreja Medieval — bispos, arcebispos, cardeais e papas — que construíram as grandes igrejas, ostentando o lema Soli Deo Gloria. Tudo isso foi realizado em detrimento da proclamação do evangelho, da vida do corpo de Cristo como um todo, das necessidades dos pobres e da evangelização do mundo. Por conseguinte, as mega-igrejas não constituem um fenômeno moderno, e sim um fenômeno da Idade Média.Felizmente, o tamanho ideal de uma igreja e a arquitetura eclesiástica específica são questões irrelevantes. Essa não é realmente a principal preocupação neste artigo. Pelo contrário, nossa principal preocupação é a tendência quase endêmica do evangelicalismo contemporâneo em utilizar tamanho e números como um indicativo de sucesso do “meu ministério” — uma expressão que pode ser admiravelmente contraditória. Temos de suscitar a questão da realidade, da profundidade e da integridade na vida da igreja e do ministério cristão. O intenso desejo por “coisas maiores” nos torna vulneráveis na área material e financeira; e o que é pior: nos torna espiritualmente vulneráveis. Pois dificilmente poderemos declarar àqueles dos quais dependemos materialmente: “Quando o Senhor Jesus disse: ‘Arrependei-vos’, isto significava que toda a vida cristã é uma vida de arrependimento”.


FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=107

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Mérito que há em uma Gota do Sangue de Cristo- John Bunyan

Imagem cedida por: http://www.lilisperspectiva.blogspot.com

Bunyan meditou sobre marcas de uma pessoa que está vindo (veio) a Cristo para a salvação. Tomei a liberdade de atualizar a linguagem onde me pareceu que seria útil quanto à legibilidade. (comentário de Justin Childers no seu blog)

Estas coisas caracterizam a sua vida?

1. Você sente o peso do seu pecado, reconhecendo-o como algo extremamente amargo?
2. Você foge do seu pecado como fugiria de uma serpente mortal?
3. Você reconhece e foge da insuficiência da sua própria retidão aos olhos de Deus.
4. Você clama ao Senhor Jesus para que te salve?
5. Você vê mais valor e mérito em uma única gota do sangue de Cristo para o salvar do que em todos os pecados do mundo para o condenar? 
6. Você se preocupa em não pecar contra Jesus?
7. O nome, a pessoa e a obra de Jesus são mais preciosos para você do que a glória do mundo?
8. A fé em Cristo é preciosa para você (como um meio de conectá-lo a Cristo)?
9. Você saboreia a Cristo na Sua Palavra e você deixa o mundo inteiro por ele?
10. Você está disposto (com a ajuda de Deus) a correr riscos por causa do Seu nome?
11. Os Seus santos são preciosos para você?
FONTE: Extraído do blog do Justin Childers - CROSS-eyed  e tem como fonte original: Come and Welcome to Jesus Christ, Works, p. 279 - John Bunyan
Tradução: centurio

Jonathan Edwards enviou esta carta em 1755 a seu filho Jonathan Edwards Jr

[Jonathan Edwards enviou esta carta em 1755 a seu filho Jonathan Edwards Jr, que tinha a idade de nove anos e estava com Gideon Hawley em uma viagem missionária entre os índios.]
edwardsletter (9K) - outra carta de Edwards
Stockbridge, 27 de maio de 1755.
Querido filho,
Embora muito distante de nós, você não está distante de nossas mentes: Eu me preocupo muito com você, freqüentemente penso em você, e freqüentemente oro por você. Embora você esteja muito longe de nós, e de todos os seus familiares, contudo, é conforto para nós que o mesmo Deus que está aqui também está em Onohoquaha e que embora você esteja longe de nossa visão e de nossa assistência, você sempre está nas mãos de Deus, que é infinitamente gracioso; e nós podemos ir a Ele, e te submeter ao Seu cuidado e misericórdia . Cuide para que você não O esqueça ou negligencie. Tenha sempre a Deus perante seus olhos, e viva em Seu temor, e O busque a cada dia com toda a diligência: porque Ele, e somente Ele pode fazer você feliz ou miserável, conforme Lhe agrade; e sua vida e saúde, e a salvação eterna de sua alma e tudo nesta vida, e na que está por vir, depende de Sua vontade e desejo.
"Nunca se dê ao descanso enquanto não tiver uma boa evidência de que você é convertido e tornou-se uma nova criatura."
Na última semana que passou, na quinta-feira, David morreu; aquele que você conhecia e com quem brincava, e que vivia em nossa casa. Sua alma entrou no mundo eterno. Se ele estava preparado para a morte, nós não sabemos. Este é um aviso audível de Deus para que você se prepare para a morte. Você vê que ele sendo jovem morreu, tal qual aqueles que são velhos; David não era muito mais velho do que você. Lembre-se do que Cristo disse, que você deve nascer de novo, ou nunca verá o Reino de Deus. Nunca se dê ao descanso enquanto não tiver uma boa evidência de que você é convertido e tornou-se uma nova criatura.
Nós esperamos que Deus preserve sua vida e saúde, e que você retorne a Stockbridge novamente a salvo; mas sempre lembre-se de que esta vida é incerta; você não sabe se irá morrer em breve, portanto há a necessidade de estar sempre pronto. Nós ouvimos há pouco que seus irmãos e irmãs em Northhampton e em Newark estão bem. Seu idoso avô e sua avó, quando eu estava em Windsor, mandaram dizer que o amam. Todos nós aqui dizemos o mesmo.
Eu, seu terno e afetuoso pai,
Jonathan Edwards.
FONTE: Extraído do site Monergismo.com
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Fontes Originais em Inglês: tohu va bohu blog, Reformation Theology e Jornal do Departamento de História da Universidade do Estado de Illinois

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Pecado, Pecadores e Arrependimento- John Gill

Imagem Cedida por: http://www.gracesermons.com/robbeeee/Gill-toc.html


Dr. John Gill nasceu na Inglaterra, em 1697. Ainda muito jovem, foi instruído em latim clássico, grego e hebraico. Recebeu seu título de Doutor em divindade pela universidade de Aberdeen; foi ministro batista e pastoreou sua igreja (que mais tarde se tornou o Metropolitan Tabernacle, de Spurgeon) por 51 anos. Foi autor de diversos livros e tratados teológicos.

O objeto do arrependimento é o pecado. Por isso, é chamado de “arrependimento de obras mortas” (Hb 6.1), que o pecado produz. Dessas obras o sangue de Cristo purifica a consciência de um pecador arrependido, trazendo-lhe paz e perdão (Hb 9.1).(1) Primeiramente, tem de haver arrependimento não somente de pecados grosseiros, mas também de pecados menores. Há diferenças entre os pecados. Uns são maiores, outros, menores (Jo 19.11). Mas ambos exigem arrependimento. Pecados contra ambas as tábuas da Lei, pecados imediatamente contra Deus e pecados contra os homens (alguns pecados contra os homens são mais perversos e graves do que outros), bem como aqueles pecados contra Deus, tais como adorar demônios e ídolos de ouro e prata, etc., assassinatos, feitiçaria, fornicação e roubos... e não somente esses, mas também pecados menores — tem de haver arrependimento de todos eles, bem como de pensamentos pecaminosos, pois os pensamentos insensatos são pecado (Pv 24.9)...O homem ímpio tem de se arrepender e abandonar seus pensamentos, e o homem perverso, deixar os seus caminhos e converter-se ao Senhor. Deve haver arrependimento não somente de pensamentos impuros, orgulhosos, maliciosos, invejosos e vingativos, mas também de pensamentos de obter a justificação diante de Deus mediante a justiça própria, que pode estar implícito no texto ao qual nos referimos (Is 55.7).(2) Em segundo, tem de haver arrependimento de pecados públicos eparticulares. Alguns pecados são cometidos de maneira notória, à luz do dia, e são conhecidos por todos. Outros pecados são mais secretos. Um pecador verdadeiramente despertado... se arrepende deles, de coração, e até de pecados conhecidos somente por ele mesmo e por Deus. Isso é uma prova da genuinidade de seu arrependimento.(3) Em terceiro, tem de haver arrependimento de pecados de omissão e de comissão. Quando alguém omite os deveres espirituais que devem ser cumpridos ou comete pecados que deveriam ser evitados; ou omite as questões mais importantes do cristianismo e atenta somente às menos importantes, quando deveria ter feito aquelas e não ter omitido estas; e, visto que Deus perdoa ambas (Is 43.22-25) — ele precisa arrepender-se de ambos os tipos de pecado. Um senso da graça perdoadora engajará o pecador despertado na prática do arrependimento.(4) Em quarto, tem de haver arrependimento de pecados cometidos nas mais solenes, sérias, espirituais e santas realizações do povo de Deus. Não há um homem justo que faça o bem e não peque no bem que faz. Há não somente imperfeição, mas também impureza na melhor retidão que os santos produzem de si mesmos e, por isso, é chamada de “trapo da imundícia” (Is 64.6).(5) Em quinto, tem de haver arrependimento dos pecados diários da vida. Nenhum homem vive sem cometer pecados. O pecado é cometido diariamente pelo melhor dos homens. Em muitas ou mesmo em todas as coisas, todos ofendemos a Deus. Assim como temos necessidade diária de orar e somos instruídos a rogar a Deus o perdão dos pecados, assim também temos de nos arrepender dos pecados todos os dias... O arrependimento deve ser exercitado continuamente pelos crentes, visto que eles pecam a todo momento contra Deus, em pensamentos, palavras e atos.(6) Em sexto, devemos nos arrepender não somente de pecados e transgressões em pensamentos, palavras e obras, mas também do pecado original e natural. Quando Davi caiu em pecados graves e foi trazido ao senso arrependimento sincero pelos pecados, fez confissão dos pecados no salmo penitencial que escreveu na ocasião e foi levado a perceber e lamentar a corrupção original de sua natureza. Dessa corrupção flui todas as ações pecaminosas — “Eu nasci na iniqüidade” (Sl 51.5)... Ora, quando um pecador despertado confessa, lamenta e chora a corrupção original de sua natureza e o pecado que habita nele, esse é um caso evidente de que seu arrependimento é genuíno e sincero...Os sujeitos do arrependimento são os pecadores, e somente eles. Adão, em seu estado de inocência, não tinha necessidade de arrependimento. Como não pecava, não havia pecado do qual ele tinha de se arrepender. Aqueles que, em suas considerações, imaginam-se perfeitamente justos e sem pecado não têm necessidade de arrependimento. Por isso, Cristo disse: “Não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mt 9.13).(a) Todos os homens são pecadores; todos descendem de Adão por geração natural. Toda a posteridade de Adão estava nele; e, representados por ele quando pecou, todos pecaram nele. O pecado de Adão lhes foi imputado e possuem uma natureza corrupta que legaram dele. Por isso, são transgressores desde o ventre e culpados de pecados e transgressões atuais. Assim, todos necessitam de arrependimento, incluindo aqueles que se acham justos e desprezam os outros como menos santos do que eles mesmos. Esses acham que não necessitam de arrependimento, mas isso não é verdade. E não somente eles, mas também aqueles que estão no melhor senso de justiça precisam do arrependimento diário, visto que pecam continuamente em tudo que fazem.(b) Os homens de todos os povos, judeus e gentios, são os sujeitos do arrependimento. Todos estão debaixo do pecado, sob o seu poder, envolvidos em sua culpa e sujeitos à sua punição. Deus ordena que “todos, em toda parte, se arrependam” (At 17.30). Durante o tempo em que João Batista e nosso Senhor estiveram na terra, a doutrina do arrependimento foi pregada somente aos judeus. Mas depois da ressurreição de Cristo, Ele instruiu seus apóstolos e ordenou que “em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” (Lc 24.47). Em conseqüência disso, os apóstolos exortaram primeiramente os judeus e, depois, os gentios a se arrependerem. E, de modo específico, o apóstolo Paulo testificou “tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20.21).(c) Os homens são os sujeitos do arrependimento somente nesta vida. Quando esta vida terminar, acabar-se a dispensação do evangelho e Cristo vier pela segunda vez, a porta do arrependimento e da fé se fechará. Não haverá mais lugar para o arrependimento, nem meio de arrependimento, nem sujeitos capazes de realizá-lo. Quanto aos santos no céu, eles não precisam de arrependimento. Quanto aos ímpios no inferno, eles estão desespero total e são incapazes de se arrependerem para a vida... Embora haja choro e ranger de dentes ali, não há arrependimento. Por isso, o rico que estava no inferno desejou que Lázaro fosse enviado a seus irmãos vivos, esperando que, por meio da ida de um dentre os mortos, para alertá-los sobre o lugar de tormento, eles se arrependeriam. Ele sabia que seus parentes nunca se arrependeriam ali, se não o fizessem na vida presente, antes de irem para aquele lugar. Portanto, o arrependimento não dever ser procrastinado.

Extraído de A Complete Body of Doctrinal Divinity Deduced from Sacred Scripture,reimpresso por The Baptist Standard Bearer.

Traduzido por: Wellington Ferreira

Copyright© Editora FIEL 2009.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

35 Razões para não Pecar- Jim Elliff

Imagem cedida por: http://gif15.blogspot.com/2010/05/35-razoes-para-nao-pecar-jim-elliff.html


Pr. Jim Elliff é o fundador e presidente da organização Christian Comunicators Worldwide (CCW). Obteve seu mestrado pelo Southwestern Baptist Theological Seminary. É membro da diretoria da FIRE (Fellowship of Independent Reformed Evangelicals) e é fundador do ministério Christ Fellowship, uma igreja constituída de congregações nos lares; é autor de vários livros, alguns deles publicados em português pela Editora Fiel. Jim é casado com Pam e o casal tem três filhos.
1 - Porque um pequeno pecado leva a mais pecados.

2 - Porque o meu pecado evoca a disciplina de Deus.

3 - Porque o tempo gasto no pecado é desperdiçado para sempre.

4 - Porque o meu pecado nunca agrada a Deus; pelo contrário, sempre O entristece.

5 - Porque o meu pecado coloca um fardo imenso sobre os meus líderes espirituais.

6 - Porque, no devido tempo, o meu pecado produz tristeza em meu coração.

7 - Porque estou fazendo o que não devo fazer.

8 - Porque o meu pecado sempre me torna menor do que eu poderia ser.

9 - Porque os outros, incluindo a minha família, sofrem conseqüências por causa do meu pecado.

10 - Porque o meu pecado entristece os santos.

11 - Porque o meu pecado causa regozijo nos inimigos de Deus.

12 - Porque o meu pecado me engana, fazendo-me acreditar que ganhei, quando, na realidade, eu perdi.

13 - Porque o pecado pode impedir que eu me qualifique para a liderança espiritual.

14 - Porque os supostos benefícios de meu pecado nunca superam as conseqüências da desobediência.

15 - Porque o arrepender-me do meu pecado é um processo doloroso, mas eu tenho de arrepender-me.

16 - Porque o pecado é um prazer momentâneo em troca de uma perda eterna.

17 - Porque o meu pecado pode influenciar outros a pecar.

18 - Porque o meu pecado pode impedir que outros conheçam a Cristo.

19 - Porque o pecado menospreza a cruz, sobre a qual Cristo morreu com o objetivo específico de remover o meu pecado.

20 - Porque é impossível pecar e seguir o Espírito Santo, ao mesmo tempo.

21 - Porque Deus escolheu não ouvir as orações daqueles que cedem ao pecado.

22 - Porque o pecado rouba a minha reputação e destrói o meu testemunho.

23 - Porque outros, mais sinceros do que eu, são prejudicados por causa do meu pecado.

24 - Porque todos os habitantes do céu e do inferno testemunharão sobre a tolice deste pecado.

25 - Porque a culpa e o pecado podem afligir minha mente e causar danos ao meu corpo.

26 - Porque o pecado misturado com a adoração torna insípidas as coisas de Deus.

27 - Porque o sofrer por causa do pecado não tem alegria nem recompensa, ao passo que sofrer por causa da justiça tem ambas as coisas.

28 - Porque o meu pecado constitui adultério com o mundo.

29 - Porque, embora perdoado, eu contemplarei novamente o pecado no Tribunal do Juízo, onde a perda e o ganho das recompensas eternas serão aplicados.

30 - Porque eu nunca sei por antecipação quão severa poderá ser a disciplina para o meu pecado.

31 - Porque o meu pecado pode indicar que ainda estou na condição de uma pessoa perdida.

32 - Porque pecar significa não amar a Cristo.

33 - Porque minha indisposição em rejeitar este pecado lhe dá autoridade sobre mim, mais do que estou disposto a acreditar.

34 - Porque o pecado glorifica a Deus somente quando Ele o julga e o transforma em uma coisa útil; nunca porque o pecado é digno em si mesmo.

35 - Porque eu prometi a Deus que Ele seria o Senhor de minha vida.

FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=168

BIOGRAFIA: David Brainerd (1718-1747)




Imagem cedida por: http://renewingthecity.org/www/docs/0.570/

Por Gilson Santos



David Brainerd nasceu a 20 de abril de 1718, no estado de Connecticut, nos Estados Unidos da América. Seu pai se chamava Ezequias Brainerd, um advogado, e sua mãe, Dorothy Hobart, era filha do Pr. Jeremias Hobart. David foi o terceiro filho, de um total de cinco filhos e quatro filhas. Foi um menino de saúde muito frágil, que acabou sendo privado de uma vida social mais dinâmica com outros garotos de sua idade. Sempre teve uma natureza sóbria, e um espírito reservado. Em sua infância, embora preocupado com o destino de sua alma, não sabia o que era conversão. Seu pai morreu quando ele estava com apenas nove anos, e aos catorze anos ele perdeu também sua mãe. Tornou-se ainda mais tristonho e melancólico, e os valores religiosos que recebeu na infância começaram a declinar em sua juventude.



Entretanto, como fruto da obra preveniente da graça divina, Brainerd afastou-se de algumas companhias indesejáveis, e começou a dedicar tempo à oração individual. Começou a ler mais a Bíblia e formou com outros jovens um grupo para encontros dominicais. Começou a dedicar bastante atenção às pregações, e procurava aplicá-las à sua vida. Ainda assim, ele não conhecia a Cristo pessoalmente. Tornou-se ainda mais zeloso no terreno da religiosidade, e sentiu a convicção e o peso do pecado, adquirindo o mais agudo senso do perigo e da ira de Deus. Contudo, suas esperanças ainda não estavam depositadas na justiça de Cristo, mas em si mesmo. Finalmente, o Espírito de Deus o conduziu à fé em Cristo, e ele passou a experimentar o descanso de uma vida justificada, e a ação do poder de Deus em uma Novidade de Vida. Tinha vinte e um anos.
Dois meses depois de sua conversão, Brainerd ingressou na Universidade de Yale. Mesmo num contexto de algumas pressões, ele dedicou bom tempo à comunhão a sós com Deus. As enfermidades, muitas vezes, atrapalhavam seus estudos. Num momento particularmente difícil, ele contraiu tuberculose e expelia sangue pela boca. Ainda assim, ele trabalhou intensamente e obteve distinção como estudante. Porém, quando estava em seu terceiro ano de universidade, teve de deixar a escola devido a uma circunstância bastante delicada. Isso significou um grande desapontamento para ele, pois, mais tarde, no dia em que os outros colavam grau, Brainerd escreveu em seu diário: “Neste dia eu deveria receber meu diploma, mas Deus achou conveniente negar-me isso”.



Foi justamente nesse período que se acentuaram suas preocupações com as almas perdidas. Ele começou a pensar profundamente sobre as pessoas que nunca tinham ouvido falar de Cristo. Chamou-lhe particular atenção a triste condição dos índios norte-americanos. Não havia muitos missionários trabalhando entre eles. Brainerd começou a colocar em prática o seu amor pelos índios, obtendo maiores informações sobre sua realidade e orando freqüentemente por eles. O desejo de levar o Evangelho aos índios foi crescendo em seu coração.


A ocasião surgiu em que Brainerd pôde apresentar-se como missionário aos índios. Sua saúde precária era um fator de preocupação, tendo em vista as condições inóspitas e difíceis que enfrentaria. Seus amigos lhe diziam: “Se Deus quer que você vá, Ele lhe dará forças”. Quando tinha vinte e quatro anos, ele escreveu em seu diário: “Quero esgotar minha vida neste serviço, para a glória de Deus”. No ano seguinte, começou a dedicar sua vida pregando aos índios nas florestas solitárias e frias. Vendeu seus livros e roupas que não usaria, e começou a vida bastante isolada e marcada por uma trajetória de auto-sacrifício e sofrimento. Mas Deus o abençoou ricamente. Como um “grão de trigo que morre ao cair na terra”, Brainerd não ficou só; a morte deste “grão de trigo” produziu muito fruto - tendo tido o privilégio de visitar alguns lugares relacionados à vida de Brainerd, inclusive o local em que ele primeiramente pregou aos índios, fiquei pessoalmente impressionado com o seu caráter e renúncia, fruto da poderosa graça de Deus em sua vida. Freqüentemente, Brainerd ficou exposto ao frio e à fome. Não podia ter o conforto da vida normal. Viajava a pé ou cavalgando por longas distâncias, dia e noite. As viagens eram sempre perigosas. Para atingir algumas tribos distantes, devia passar por montanhas íngremes na escuridão da noite. Atravessou pântanos perigosos, rios de forte correnteza, ou florestas infestadas de animais selvagens. Tinha de viajar quinze a vinte e cinco quilômetros para comprar pão, e, às vezes, antes de comê-lo, o pão estava azedo ou mofado. Dormia sobre um monte de palha que estendia sobre tábuas erguidas um pouco acima do chão. Em muitos momentos estava só, e ficava feliz quando podia contar com seu intérprete para conversar. Não tinha companheiros cristãos com quem pudesse dividir o fardo em momentos de comunhão e oração. “Não tenho nenhum conforto, a não ser o que me vem de Deus”, escreveu ele.


Seu ministério tornou-se bem amplo, alcançando índios nos estados norte-americanos de Nova Iorque, Nova Jersey, e ao leste da Pensilvânia. Havendo encontrado os índios em meio a muitas superstições, e recebendo muitas vezes os efeitos da fúria de seus sacerdotes, Brainerd pôde declarar o poder de Deus acima de todos os deuses. Apesar de todas as dificuldades, era movido por um intenso desejo de contemplar a salvação dos índios. Com isto em vista, aliou, por muitas vezes, o jejum à oração. “Não importa onde ou como vivi, ou por que dificuldades passei, contanto que tenha, desta maneira, conquistado almas para Cristo”, escreveu ele. Boa parte de seu trabalho era feito em lutas físicas, especialmente tendo em vista sua saúde sempre precária, e , como escreveu Edwards, “sua própria constituição e temperamento natural, muito inclinado para a melancolia” – e sobre isto, acrescenta Edwards, “ele excedeu a todas as pessoas melancólicas que conheci”.


O fato é que Deus honrou sobremaneira o ministério de Brainerd. O Espírito de Deus desceu poderosamente sobre os índios, num grande avivamento que afetou tribos inteiras. Por volta de 1745, mesmo os índios que viviam de forma impiedosa, opondo-se à pregação do Evangelho, se convenceram do pecado. Vários se converteram. Muitos brancos, que apareciam por curiosidade para ouvir o que Brainerd dizia aos índios, também foram convertidos. Índios de toda floresta ouviram falar de Brainerd e vinham em grande número ouvi-lo. Era muito comum ouvir os altos brados dos índios pela misericórdia de Deus, toda vez que Brainerd pregava. Seu ministério influenciou também as crianças índias. Ele criou escolas em que elas eram ensinadas a lavrar a terra e a semear, além de receberem os ensinos do Evangelho de Cristo.


Ao escolher o trabalho nas florestas úmidas, Brainerd sabia que não poderia esperar viver muito. Ele assistiu seu corpo definhar, pouco a pouco. Aos vinte e nove anos, foi colocado em seu leito de morte, sofrendo terrível agonia e dor física. Testemunhou de Cristo em seus momentos finais, e anelava por encontrar-se com o Senhor. Ele faleceu em 09 de outubro de 1747, tendo sido sepultado em Northampton, Massachusetts. Jonathan Edwards conduziu o funeral. Foi uma vida curta, mas que glorificou a Deus grandemente.
Edwards, que o conheceu muito bem, podia dizer de Brainerd:


(...) dotado de um gênio penetrante, de pensamento claro, de raciocínio lógico e de julgamento muito exato, como era patente para todos que o conheciam. Possuidor de grande discernimento da natureza humana, perscrutador e judicioso em geral, ele também sobressaía em juízo e conhecimento teológico, e, sobretudo, na religião experimental.
Num artigo em 2001, eu escrevi:


David Brainerd é um exemplo de alguém que resolveu colocar sua vida no altar (...) As privações, o trabalho incansável, as intempéries consumiram o seu vigor. Uma prolongada enfermidade ceifou sua vida. Devido à sua fragilidade física e aos rigores do campo missionário, ele contraiu tuberculose. Brainerd calculou o preço do seguir a Cristo e deliberadamente fez uma escolha que significava separar-se do mundo civilizado, com suas vantagens, e associar-se à dureza, ao trabalho e, possivelmente, a uma morte prematura e solitária. Entretanto, homens como William Carey, Henry Martyn, Robert Mürray McCheyne, John Wesley, Jonathan Edwards, Charles Spurgeon, Oswald Smith, Jim Elliot, citando apenas alguns, testemunharam a grande influência da biografia de Brainerd em suas vidas. Um biógrafo de Brainerd diz que ele “foi como uma vela que, na medida em que se consumia, transmitia luz àqueles que estavam em trevas”.
Algo muito importante que Brainerd fez foi escrever um diário, no qual registrou as experiências que lhe surgiram. Neste diário, editado por Jonathan Edwards, Brainerd faz uma breve explanação de sua infância e juventude, e começa a narrar-nos os fatos, escrevendo periodicamente a partir de 18 de outubro de 1840. Ainda que Brainerd tenha lutado quase que “invencivelmente” contra a publicação de qualquer porção de seu diário, este, publicado depois de sua morte, tem sido um instrumento de Deus para influenciar a vida de muitas pessoas. O Diário de David Brainerd foi publicado em português pela Editora FIEL, em 1993.

FONTE; http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=205

O Zelo de Richard Baxter

Imagem cedida por: http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Baxter

Erroll Hulse

Esboçarei a vida de Richard Baxter e, em seguida, destacarei o seu zelo, expresso em sua extraordinária obra pastoral, em Kidderminster, e em seu clássico The Reformed Pastor (O Pastor Aprovado).
Um esboço de sua vida
Richard Baxter nasceu em 1615. Diferentemente da maioria dos famosos ministros puritanos, Baxter não desfrutou de estudos nas universidades de Oxford ou Cambridge. Ele estudou na modesta Escola Pública Donnington. Depois, foi um autodidata. Leitor ávido, Baxter estudou amplamente vários assuntos. Deste modo, tornou-se um homem de excepcional conhecimento e habilidade para debates. Foi ordenado diácono pelo bispo de Worcester, em 1638. Por breve tempo (1641-1642), Baxter trabalhou como preletor e co-pastor em Kidderminster. Em 1642, o país se envolveu em guerra civil. Baxter serviu como capelão no Exército do Parlamento até 1647, retornando a Kidderminster como pastor. Ali, ele trabalhou até 1661. Estes 14 anos, em que teve a idade de 32 a 46 anos, foram notáveis por causa da transformação espiritual operada na cidade. Aquele município foi tão abençoado que se tornou um referencial na história evangélica da Inglaterra.
Quase no fim de seu ministério em Kidderminster, uma viúva chamada Mary Hanmer veio morar na cidade, a fim de obter benefícios do ministério de Baxter. Ela estava acompanhada de sua filha Margaret, que tinha 16 anos de idade, e que era mundana e indiferente ao evangelho. Nos quatro anos seguintes, Margaret foi afetada pelo ministério de Baxter e aos 20 anos foi convertida. Durante este tempo, ela se apaixonou por Baxter, que considerava o celibato ideal para um ministro. Ele proclamava isto com entusiasmo — um ponto de vista que consistia um grande contraste com os puritanos ingleses, os quais afirmavam, com vigor, a doutrina bíblica do casamento e da família. Richard Baxter deixou Kidderminster, para viver em Londres, onde ele usou toda influência possível a fim de obter um tratamento justo para os puritanos. Mary e Margaret o seguiram e passaram a morar perto dele. O Ato de Uniformidade, sancionado pelo Parlamento, em 1662, era rígido e severamente contrário à consciência dos puritanos.
O Ato de Uniformidade levou os puritanos a deixarem a Igreja Anglicana. Cerca de 2.000 ministros puritanos sofreram a perda de seu sustento, naquilo que, na História, ficou conhecido como a Grande Expulsão. É claro que isto incluiu Baxter. Sua vida foi arruinada: fora cruelmente despojado de sua razão de ser. Ele era pastor por natureza, agora sem igreja; um pregador nato, sem púlpito. A sua justificativa para o celibato desapareceu. Baxter se casou com Margaret em 19 de setembro de 1662. Ela estaria sempre com ele, confortando-o, prestando-lhe cuidado nas freqüentes enfermidades, apoiando todos os interesses práticos de sua vida. Viver com Margaret foi a maior consolação desfrutada por ele durante os anos difíceis que vieram depois. O restante da vida de Baxter foi marcado por aflições. Em 1669, ficou preso por mais de uma semana em Clerkenwell e por 21 meses em Southwark (1685-1686). Ele nunca teve uma saúde robusta e precisou lutar contra graves surtos de enfermidade.
Em novembro de 1672, Baxter pregou publicamente pela primeira vez em dez anos. Margaret (1636-1681) empregou, com generosidade, parte considerável de sua herança para garantir que Richard Baxter exercesse um ministério público eficiente. Ela alugou um salão público, onde cabiam 800 pessoas, em uma das áreas mais carentes de Londres e contratou algumas pessoas para ajudarem Baxter em seu ministério.
Durante o tempo de exclusão do ministério público, Richard Baxter usou seu tempo para escrever. Seus escritos excederam, em quantidade, os de John Owen. Diferentemente de John Owen, que talvez seja o melhor teólogo de língua inglesa, Richard Baxter era neonomiano e amiraldiano. Infelizmente, isto produziu confusão teológica nas duas gerações seguintes. Os leitores dos três clássicos de Baxter — O Descanso Eterno dos Santos (“The Saints’ Ever- lasting Rest”), uma explicação a respeito do céu; Um Apelo ao Não-convertido (“A Call to the Unconverted”) e O Pastor Aprovado (“The Reformed Pastor”) — não perceberão estes erros. É mais fácil ler Baxter que Owen. A sua obra mais extensa intitula-se Diretório Cristão (“Christian Directory”) e aborda cada aspecto da vida cristã sob um ponto de vista prático. É na aplicação prática das Escrituras que vemos o melhor de Baxter. Ele possuía um poderoso dom de constranger e levar a consciência à obediência.
Richard Baxter era sempre zeloso no que se refere à obra missionária. Ele foi um dos principais motivadores do estabelecimento da Sociedade de Propagação do Evangelho. John Eliot, famoso como “o apóstolo dos índios americanos”, encontrou em Baxter um excelente auxiliador. Durante a sua última enfermidade, em 1691, Baxter leu A Vida de Eliot e escreveu ao seu autor, Increase Mather: “Pensei que morreria por volta das 12 horas, na cama, mas o seu livro vivificou-me. Conheço muitas das opiniões do Sr. Eliot, por meio das várias cartas que recebi dele. Não houve na terra um homem que honrei mais do que ele. A obra evangélica de Eliot é a sucessão apostólica pela qual eu mesmo suplico”.

Evangelismo zeloso em Kidderminster
Na qualidade de pastor, Richard Baxter era excepcional. O sucesso do evangelho em Kidderminster, sob a liderança dele, foi singular. Não podemos encontrar na história evangélica da Inglaterra algo que se compare com este sucesso.
A cidade tinha aproximadamente 800 casas e uma população entre 2.000 e 4.000 pessoas. Baxter percebeu que eles eram “ignorantes, rudes e festeiros”. Uma notável mudança ocorreu. “Quando comecei meus trabalhos, tive cuidado especial por todos os que eram humildes, reformados ou convertidos. Mas, quando já havia trabalhado por bom tempo, aprouve a Deus que os convertidos fossem tantos, que não pude me dar ao luxo de gastar tempo com observações particulares; famílias e considerável número de pessoas vieram de uma só vez, amadureceram e cresceram, de um modo que não sei explicar”. O método de Baxter consistia em visitar casa por casa e ser bastante direto no assunto de conhecer a Deus com fé salvadora.
No prédio da igreja cabiam 1.000 pessoas. Cinco galerias foram acrescentadas para acomodar a congregação.Quando Baxter chegou a esta pobre cidade, onde a tecelagem era a principal atividade, ela era um deserto espiritual. Quando ele deixou Kidderminster, era um jardim belo e promissor. “No Dia do Senhor, qualquer um que caminhasse pelas ruas poderia ouvir centenas de famílias cantando salmos e repetindo sermões. Quando cheguei ali, somente uma família, em cada rua, adorava a Deus e invocava o seu nome. Quando saí, havia algumas ruas em que não havia nem uma família que não confessasse uma piedade séria, que nos dava esperança quanto à sinceridade deles.”
Posteriormente, Baxter escreveu: “Embora eu tenha estado ausente deles por quase seis anos e tenham sido assaltados por ameaças, calúnias e difamações a respeito da pregação, eles permanecem firmes e mantêm a sua integridade. Muitos deles estão com o Senhor. Alguns foram expulsos; alguns estão presos. Mas nenhum deles, sobre os quais tenho ouvido, caiu ou abandonou a sua retidão”. Quando, em dezembro de 1743, George Whitefield visitou Kidderminster, ele escreveu a um amigo: “Fui grandemente revigorado ao ver que o agradável aroma da boa doutrina, da obra e da disciplina do Sr. Baxter permanece até hoje”.
A principal diferença entre Baxter e a maioria dos pastores, do passado e do presente, é que ele combinava a pregação com o testemunho pessoal direto, pessoa a pessoa. Com muita freqüência, os pastores contentam-se em confinar seu testemunho do evangelho ao púlpito. A atitude e a prática de Baxter se revelam com clareza em seu livro O Pastor Aprovado (“The Reformed Pastor”).
Richard Baxter e “O Pastor Aprovado”
Os membros da Associação de Worcester, a fraternidade de clérigos que tinha Baxter como espírito propulsor, se comprometeram a adotar o método de catequese paroquial sistemática, conforme o método de Baxter. Eles estabeleceram um dia de jejum e oração, para buscarem a bênção de Deus sobre este empreendimento e pediram a Baxter que pregasse naquele dia. Entretando, quando o dia chegou, Baxter se encontrava muito doente para estar presente; por isso, em 1656, ele publicou o material que havia preparado, uma exposição completa de Atos 20.28. Esse material recebeu o título de O Pastor Aprovado (“The Reformed Pastor”). Este livro tornou-se famoso, e tem sido usado em todas as gerações, até ao presente. Por exemplo, a edição da Banner of Truth, com a excelente introdução de J. I. Packer, surgiu em 1974; e edições posteriores foram realizadas em 1979, 1983, 1989, 1994, 1997, 1999 e 2001.
A palavra Aprovado (Reformed), no título, não significa calvinista em doutrina, e sim renovado em suas práticas. Este tratado é uma dinamite espiritual, e foi reconhecido assim desde a sua criação. Um mês depois de sua publicação, um leitor escreveu: “Ó homem grandemente abençoado! O Senhor revelou suas coisas secretas para você, pelas quais muitas almas na Inglaterra se levantarão e bendirão a Deus por você”.
Isto provou estar correto. O livro de Baxter, O Pastor Aprovado, ainda é o melhor manual quanto aos deveres de um pastor. Nada tem excedido o seu poder e sua eficácia. É um imperativo para todo pastor.
Na edição da Banner of Truth, J. I. Packer sugere que o vigor e o poder evocativo do livro atravessam três séculos. Ele descreve três excelentes qualidades de O Pastor Aprovado.
A primeira é o seu vigor. “As palavras do livro têm mãos e pés.” Baxter possuía olhos perscrutadores e, certamente, tinha palavras perscrutadoras. “Seu livro arde com zelo sincero e ardente, com fervor evangelístico e sinceridade para convencer.”
A segunda qualidade é que o livro contém realidade. “É honesto e direto. Freqüentemente se diz, com exatidão, que qualquer cristão que ama o seu próximo e pensa seriamente que, sem Cristo, os homens estão perdidos não será capaz de descansar tranqüilamente com o pensamento de que todos ao seu redor estão indo para o inferno, mas se disporá, irrestritamente, a testemunhar, tendo isso como seu principal objetivo de vida. E qualquer crente que deixa de viver deste modo destrói a credibilidade de sua fé. Pois, se ele mesmo não pode, com seriedade, ter isso como norma de seu viver, quem mais pode ter? Nenhuma outra obra manifesta tanta solidez como O Pastor Aprovado. Nesta obra, encontramos um amor apaixonado e um crente terrivelmente honesto, sincero e correto pensando e falando sobre o perdido, com realismo perfeito, insistindo em que temos de aceitar alegremente qualquer grau de desconforto, pobreza, trabalho excessivo e perda de bens materiais, se almas forem salvas, e apresentando, em sua própria pessoa, um exemplo vívido do que está envolvido nesta obra.”
Terceira, o livro é um modelo de racionalidade. J. I. Packer diz que o livro expressa bom senso. A responsabilidade é ressaltada com clareza. “A graça entra por meio do entendimento.” Baxter insistia em que os ministros têm de pregar a respeito de assuntos eternos como homens que sentem o que falam e se mostram sérios a respeito do assunto de vida e morte eterna. Baxter também sustentava que a disciplina da igreja tem de ser praticada para mostrar que Deus não aceita o pecado.
Em sua exposição de Atos 20. 28, Baxter esclarece a exortação “atendei por vós”. Ele também explica o significado de atender por todas as ovelhas do rebanho. Começa com o não-convertido e os inclui em sua percepção. Ele exorta os pastores à supervisão cuidadosa das famílias e persiste em que temos de ser fiéis em admoestar os transgressores. No que diz respeito ao modo como deve ser administrada esta supervisão, ela tem de ser realizada com franqueza e simplicidade, com humildade e uma mistura de severidade e brandura, com seriedade e zelo, com ternura e amor para com as pessoas, com paciência e reverência, com espiritualidade e desejos sinceros de sucesso, com um profundo senso de nossa própria incapacidade. Finalmente, Baxter nos convoca a labutarmos unidos com outros ministros do evangelho, o que é sobremodo importante em nossos dias, quando divisões são mantidas por razões insignificantes e não-bíblicas.
O zelo de Richard Baxter resplandece em O Pastor Aprovado. As exortações de Baxter retinem com sinceridade porque ele vivia o que pregava. À semelhança de um oficial militar, Baxter leva os seus soldados à batalha. Ele não dá ordens a partir de uma zona de segurança.
A maneira como Baxter se dirigia à pessoas, quer em público, quer em particular, se reflete em Um Apelo ao Não-Convertido (“A Call to the Unconverted”), que vendeu 20.000 exemplares no seu primeiro ano de publicação e foi traduzido para vários idiomas. O versículo de abertura deste livro é Ezequiel 33.11: “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?” A compaixão expressa neste versículo de Ezequiel é muito semelhante ao zelo ardente que o Espírito Santo produziu em Richard Baxter.

FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=197

O Grande Reavivamento na Inglaterra no Século XVIII

Imagem cedida por: http://missoesardenosangue.blogspot.com/2011/01/tempo-de-viver-vontade-de-deus.html
Por Paulo Anglada

A condição moral deplorável em que se encontra o nosso país quase dispensa comentário. A impiedade e perversão dos homens, que cada dia mais têm trocado a verdade de Deus pela mentira, mudando a glória do Deus incorruptível, adorando e servindo a criatura ao invés do Criador, têm suscitado a ira de Deus sobre o Brasil. Por isso, Deus tem entregue nosso povo à imundícia, pela concupiscência de seus próprios corações. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem toda sorte de coisas inconvenientes e aprovarem os que assim procedem (Rm 1.18, 23, 24, 25, 28, 32).
A Inglaterra Antes do Reavivamento do Século XVIII
Esse estado de impiedade e depravação pode, às vezes, nos levar a pensar que a situação é irremediável e que não encontra paralelo na história de outras nações. Nem uma coisa nem a outra é verdade. A Inglaterra da primeira metade do século XVIII caracterizava-se pela impiedade, corrupção e imoralidade. As trevas espirituais assolavam todas as camadas sociais daquele país. A terra de muitos reformadores e dos puritanos decaiu tanto, que “a corrupção, a desonestidade e o desgoverno nos altos postos era a regra, e a pureza, a exceção”.
A Igreja da Inglaterra, na sua grande maioria, jazia inerte, sem nenhum vigor. Os sermões, meros ensaios morais, nada podiam fazer no sentido de despertar, converter e salvar os pecadores. “As importantes verdades pelas quais Hooper e Latimer tinham ido para a fogueira, e Baxter e muitos dos puritanos, para a prisão, pareciam ter sido totalmente esquecidas e colocadas na prateleira.”
Um conhecido advogado cristão da época afirmou que visitou todas as mais importantes igrejas de Londres, e que não ouviu “um único dis- curso que apresentasse mais cristianismo do que os escritos de Cícero, e que lhe seria impossível descobrir, do que ouvira, se o pregador era um seguidor de Confúcio, de Maomé ou de Cristo!”
Os bispos e arcebispos da época, na sua grande maioria, eram homens mundanos; tão mundanos que houve casos em que o próprio rei teve de intervir para restringir a impiedade deles. Para se ter uma idéia da situação, conta-se que, quando a pregação


de Whitefield começou a incomodar o clero, foi sugerido com seriedade pelo próprio clero que a melhor maneira de dar um fim à sua influência era torná-lo um bispo. Quanto ao clero paroquial,


Ryle afirma que “seus sermões eram tão indizível e indescritivelmente ruins, que é reconfortante lembrar que eram geralmente pregados a bancos vazios”. A verdade é que a situação moral da Inglaterra na primeira metade do século XVIII era tão baixa, que condutas reprováveis e comuns hoje no Brasil, como a prática do adultério, fornicação, jogo, linguagem obscena, profanação do domingo e bebedice, também não eram consideradas coisas condenáveis na Inglaterra na primeira metade do século dezoito. Estas eram as práticas da moda nas camadas mais elevadas da sociedade da época e não escandalizavam ninguém.
A Transformação da Inglaterra na Segunda Metade do Século XVIII
Na segunda metade do século XVIII, a Inglaterra mudou. Foi radicalmente transformada. Isto porque milhares de pessoas foram transformadas. Trabalhadores e membros das classes mais elevadas tiveram sua moral e costumes transformados. Como diz Nichols, “forte entusiasmo apoderou-se da vida religiosa da Inglaterra, afugentando a indiferença e o desinteresse” que marcou a primeira

metade do século XVIII. “Que uma mudança, para melhor, aconteceu na Inglaterra nos últimos cem anos”, a- firma Ryle no final do século XIX, “é um fato que, eu suponho, nenhuma pessoa bem informada jamais tentaria negar... Houve uma grande mudança para melhor. Tanto na religião quanto na moral, o país passou por uma completa revolução. As pessoas não pensam, não falam, nem agem como faziam em 1750. Este é um fato, que os filhos deste mundo não podem negar, por mais que tentem explicá-lo”. Foi nesse período que surgiram as obras sociais de caráter cristão, as escolas dominicais — “um dos primeiros passos na educação popular da Inglaterra” —, a abolição do comércio de escravos, as reformas nas prisões, hospitais, bem como o moderno movimento missionário que alcançou muitos países na Ásia, África e Américas. A transformação que a Inglaterra experimentou foi tão grande, que muitos historiadores afirmam que, não fora isto, fatal-mente o país também sofreria as agruras de uma revolta interna, como a Revolução Francesa. A estas trans-formações também se atribui a ascensão da Inglaterra à posição de líder entre as nações no século passado.
Os Instrumentos de Transformação da Inglaterra
O que operou essa transformação? A que se deve tamanha mudança? Ryle observa acertadamente, que “o governo do país não pode reivindicar o crédito pelas mudanças. Moralidade não pode vir à existência através de decretos-lei e estatutos. Até hoje as pessoas jamais vieram a ser religiosas por meio de atos parlamentares”. A Igreja da Inglaterra, como instituição, também não pode reivindicar este crédito. Os bispos, arcebispos e clero que descrevemos há pouco jamais poderiam ser os instrumentos de tal obra.
Qual, então, foi a fonte e quais os instrumentos de tamanha transformação? Deus foi a fonte; e uma dúzia de homens simples, a maioria ministros da Igreja da Inglaterra, foram os instrumentos. Aprouve a Deus escolher alguns de seus servos fiéis; não eram poderosos, nem pessoas de nobre nascimento. Entretanto, foram estes homens humildes, mas fiéis, que Deus escolheu para envergonhar os fortes, a fim de que ninguém se vanglorie na presença dEle.
George Whitefield, John Wesley, William Grimshaw, William Romaine, Daniel Rowlands, John Berridge, Henry Venn, Samuel Walker, James Harvey, Augustus Toplady e John Fletcher, soberanamente escolhidos, habilitados, ungidos e revestidos de especial graça, sacudiram a Inglaterra de um extremo ao outro com a antiga arma apostólica da pregação. “A espada que o apóstolo Paulo empunhou com poderoso efeito, quando tomou de assalto as fortalezas do paganismo dezoito séculos atrás”, escreve Ryle, “foi a mesma espada pela qual eles obtiveram suas vitórias”. Tendo contemplado a glória de Deus mais vividamente (como Paulo, na estrada de Damasco, e Estêvão, ao ser apedrejado); tendo sido o amor de Deus derramado em seus corações pelo Espírito Santo; tendo recebido em seus espíritos o testemunho direto do Espírito Santo, a respeito do seu bendito relacionamento com Cristo, e estando cheios de uma alegria indizível e cheia de glória, tais homens anunciaram o Evangelho de Cristo de modo simples, direto, ousado e cheio de fervor. “Proclamavam as palavras de fé com fé, e a história da vida, com vida. Eles falavam com ardente zelo, como homens que estavam totalmente persuadidos de que o que diziam era verdade”.
O que pregavam esses homens? Todo o conselho de Deus, especialmente doutrinas como a suficiência e a supremacia das Escrituras, a total corrupção da natureza humana, a morte expiatória de Cristo na cruz, a justificação pela graça mediante a fé, a necessidade universal de conversão e de uma nova criação pelo Espírito Santo, a união inseparável da verdadeira fé com a santidade pessoal, o ódio eterno de Deus pelo pecado e o seu amor pelos pecadores. Eles não hesitavam em proclamar clara e diretamente às pessoas “que elas estavam mortas e precisavam viver; que se encontravam culpadas, perdidas, desamparadas, desesperadas e em perigo iminente de destruição eterna”. “Por mais estranho e paradoxal que pareça a alguns”, afirma Ryle, “o primeiro passo deles no propósito de tornar bom o homem, foi mostrar que este era completamente mau; e o argumento primordial deles, no sentido de persuadir as pessoas a fazerem alguma coisa por suas almas, era convencê-las de que não podiam fazer nada por elas”. Eles também “nunca recuaram em declarar, nos termos mais claros, a certeza do julgamento de Deus e da ira porvir, se os homens persistissem na impenitência e incredulidade; e, apesar disso, nunca cessaram de magnificar as riquezas da bondade e da compaixão de Deus e de conclamar todos os pecadores a arrependerem-se e voltarem-se para Deus, antes que fosse tarde demais”.
Conclusão
Foram estes os homens e esta, a pregação que Deus usou como instrumentos para reavivar a Igreja na Inglaterra e, assim, transformar completamente o país. Através desses instrumentos de Deus, muitos crentes foram levados a renovar sua aliança com o Senhor e passaram a viver uma vida cristã vigorosa e cheia de frutos; milhares foram profundamente convencidos de seus pecados, foram levados ao mais sincero arrependimento, compreenderam a graça de Deus em Cristo Jesus e por ela foram alcançados; e muitos — que até se opunham — foram secretamente influenciados e estimulados. Foram estes os homens e estas, as doutrinas, os quais, nas mãos de Deus, “tomaram de assalto as fortalezas de Satanás”, conclui Ryle, “arrancando milhares como que tições do fogo, e mudaram o caráter da época”. Foram estes os homens — sinceros e fiéis - e esta, a pregação — viva, verdadeira e ungida - que aprouve a Deus escolher para reavivar sua Igreja e trans- formar a Inglaterra na segunda metade do século dezoito. Abençoa-nos também, ó Deus, livra-nos da incredulidade, testifica diretamente em nosso espírito que somos teus filhos, pois cremos nisso, derrama o teu amor em nossos corações pelo teu Espírito, que em nós habita; concede-nos a mesma alegria indizível e cheia de glória. Reaviva a tua obra em nosso país.


FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=64

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