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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Os Perigos da Segurança Carnal - John Bunyan

Extraído do site: www.nndb.com
 Na cidade de Alma do Homem, vivia um homem cujo nome era Segurança Carnal. Este homem, apesar de toda a misericórdia concedida pelo Príncipe, colocou Alma do Homem em terrível servidão.

Quando Diabo tomou posse da cidade de Alma do Homem, ele trouxe consigo um grande número de seus descendentes. Entre estes se achava o Sr. Presunção. Diabo, percebendo que Presunção era muito ativo e ousado, enviou-o em muitas missões perigosíssimas. Presunção se mostrou bem-sucedido em suas realizações e agradou o seu senhor, mais do que muitos que o serviam. Reconhecendo que Presunção era conveniente aos seus propósitos, Diabo o tornou o segundo no comando, sob as ordens do grande lorde Vontade-Própria.

Naqueles dias, o lorde Vontade-Própria agradou-se de Presunção e de suas realizações, de modo que lhe deu sua filha, Srta. Não-Teme-Nada, como esposa. Ora, Não-Teme-Nada e Presunção tiveram um filho que chamaram Segurança Carnal. Houve muitos casamentos mistos em Alma do Homem, e, em alguns casos, dificilmente se podia determinar quem era natural da cidade e quem não o era. Segurança Carnal era parente do lorde Vontade-Própria, por parte de mãe, embora seu pai fosse descendente do Diabo, por natureza.

Segurança Carnal nasceu com os traços de seu pai e sua mãe. Ele era presunçoso, destemido e bastante ativo. De um modo ou de outro, qualquer idéia nova, filosofia estranha ou entretenimento incomum na cidade era instigado por ele. Nas contendas, ele rejeitava os que eram considerados fracos e sempre ficava do lado da facção mais forte.

Quando Shadai e Emanuel guerrearam contra Alma do Homem, Segurança Carnal estava na cidade. Ele se mostrou bastante ativo entre as pessoas, encorajando-as em sua rebelião e endurecendo-as em sua resistência contra as forças do Rei. Quando a cidade de Alma do Homem foi conquistada pelo Príncipe glorioso, Segurança Carnal viu Diabo ser expulso e forçado a deixar o castelo, com grande vergonha. Segurança Carnal percebeu que a cidade estava cheia dos capitães e das armas de guerra de Emanuel. Por essa razão, mostrando-se esperto, ele mudou de atitude. E, da mesma maneira como havia servido o Diabo, Segurança Carnal se comprometeu a apoiar o Príncipe.

Depois de obter algumas informações sobre os planos de Emanuel, Segurança Carnal aventurou-se na companhia dos homens da cidade e tentou conversar com eles. Segurança Carnal sabia que o poder e a força de Alma do Homem era grande e que seria agradável aos moradores se elogiasse o poder e a glória deles. Por conseguinte, ele começou a falar exageradamente sobre o poder e o vigor dos lugares seguros e das fortalezas de Alma do Homem, dizendo que a cidade era impenetrável. Segurança Carnal exaltou os capitães e suas armas, assegurando aos moradores que o Príncipe tornaria Alma do Homem feliz para sempre. Quando Segurança Carnal viu que algumas pessoas se deleitaram e foram conquistadas por seu discurso, ele estabeleceu como seu objetivo o percorrer todas as ruas e casas, a fim de convencer os moradores de sua segurança. Em breve, eles se tornaram tão carnalmente seguros como o era Segurança Carnal. Assim, motivados pela conversa, os moradores começaram a festejar e a se divertir.

O prefeito, Sr. Entendimento, o lorde Vontade-Própria e o Sr. Conhecimento também foram conquistados pelas palavras deste homem gentil e bajulador. Eles esqueceram que o seu Príncipe os advertira a serem cuidadosos e não se deixarem enganar por qualquer artifício diabólico. O Príncipe lhes dissera que a segurança agora florescente na cidade não se devia às suas fortalezas, e sim ao seu desejo de que Emanuel habitasse no castelo da cidade. A verdadeira doutrina de Emanuel dizia que Alma do Homem deveria ter o cuidado de não esquecer o amor do Príncipe e o amor de seu Pai pelos moradores. Eles também deveriam se comportar de um modo que os preservaria no amor dEle.

Tornarem-se enfatuados por causa de um habitante que era descendente do Diabo, especialmente alguém como Segurança Carnal, constituía um erro gravíssimo para eles. Deviam ter escutado, temido e amado o seu Príncipe. Deviam ter apedrejado até à morte este criador de desordenscarnal e andado nos caminhos do seu Príncipe. A paz deles teria sido como um rio, se a sua justiça tivesse sido como as ondas do mar.

De sua residência, no castelo, Emanuel observou o que se passava na cidade. Compreendeu que, por meio da astúcia do Sr. Segurança Carnal, o coração dos homens de Alma do Homem havia se tornado frio em seu amor para com Ele. Com grande tristeza, ele se dirigiu ao Secretário de seu Pai: “Oh! Se meu povo tivesse me escutado e Alma do Homem houvesse andado em meus caminhos! Eu os teria alimentado com o mais fino trigo e sustentado com o mel que brota da rocha”.

Então, ele disse em seu coração: “Retornarei à corte de meu Pai, até que o povo de Alma do Homem considere e reconheça a sua ofensa”.

O coração de Emanuel estava ferido, porque eles não o visitavam mais em seu palácio real, como o faziam antes. Na realidade, os moradores de Alma do Homem nem mesmo percebiam que ele não estava mais vindo para bater na porta das casas deles. O Príncipe ainda preparava festas de amor e os convidava a participar, mas desprezavam os convites dele e não queriam mais se deleitar na sua companhia. Os habitantes de Alma do Homem não procuravam os conselhos do Príncipe, nem esperavam por tais conselhos. Em vez disso, se tornaram confiantes em si mesmos, concluindo que eram fortes e invencíveis. Acreditavam que Alma do Homem era segura e estava fora do alcance de qualquer inimigo.

Emanuel percebeu que, por causa da astúcia de Segurança Carnal, a cidade de Alma do Homem não dependia mais dele ou de seu Pai. Em vez disso, confiavam nas bênçãos que haviam recebido. A princípio, ele se entristeceu por causa da condição pecaminosa dos moradores. Por isso, tentou fazê-los compreender que o caminho que agora seguiam era perigoso. O Príncipe enviou seu Nobilíssimo Secretário, para proibi-los de continuar em seu caminho. Mas, nas duas ocasiões em que ele veio, encontrou os moradores jantando na casa de Segurança Carnal. O Secretário compreendeu que não estavam dispostos a ouvi-lo argumentando a respeito da felicidade deles. Depois, ele se retirou entristecido em seu coração. Quando ele narrou ao Príncipe a indiferença do povo, Emanuel também se sentiu ofendido e entristeceu-se. Assim, ele fez planos de retornar à corte de seu Pai.

Durante o restante do tempo que permaneceu em Alma do Homem, antes de sua partida, o Príncipe dedicou-se a si mesmo, mais do que o fizera anteriormente. Se procurava a companhia dos moradores, a conversa dele não era mais tão agradável como havia sido. Quando os homens da cidade vinham à casa do Príncipe, não o encontravam tão disponível como em tempos passados. Antes, ao ouvir os passos deles, o Príncipe se apressava a encontrá-los no meio do caminho e os envolvia em seus braços. Agora, porém, eles batiam uma ou duas vezes, e parecia que o Príncipe não os ouvia.

Emanuel continuou a agir desta maneira, esperando que as pessoas de Alma do Homem reconsiderassem suas atitudes e retornassem para ele. No entanto, elas não perceberam esta sua nova maneira de comportar-se para com elas, nem se comoveram com as lembranças dos antigos favores do Príncipe.

Por conseguinte, o Príncipe se retirou deles: primeiramente, em seu palácio; depois, nos portões da cidade; e, por último, saindo de Alma do Homem. Ele se ausentaria da cidade até que os moradores reconhecessem sua ofensa e buscassem sinceramente a face dele. O Sr. Paz-de-Deus também se retirou de sua posição e, até ao presente, não cumpriu mais seus deveres em Alma do Homem.

Por esse tempo, os moradores da cidade estavam tão endurecidos em seus caminhos e tão doutrinados por Segurança Carnal, que a partida do Príncipe não lhes comoveu o coração. Na verdade, os moradores de Alma do Homem nem se lembraram do Príncipe, depois que ele partiu, e sua ausência não teve qualquer importância para eles.

FONTE: Editora Fiel & www.trovian.blogspot.com.br

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Sobre o Pecado – por John Bunyan

O pecado é um grande empecilho e obstáculo à nossa felicidade; é a causa de todas as misérias do homem, tanto no presente quanto no porvir. Removamos o pecado de nossa existência e nada nos afligirá, visto que a morte temporal, espiritual e eterna é o salário do pecado.

O pecado, e não o homem, é o objeto da ira de Deus. Quão terrível, portanto, deve ser a situação daquele que permanece no pecado, pois quem pode suportar e lutar contra a ira de Deus?

Nenhum pecado contra Deus pode ser considerado pequeno, visto que todo pecado é cometido contra o grande Deus do céu e da terra. Mas, se o pecador puder encontrar um Deus pequeno, será fácil encontrar pecados pequenos.

O pecado transforma a graça de Deus em libertinagem. O pecado é o desafio à justiça de Deus; é o rapto da sua misericórdia; é o escárnio da sua paciência; é o menosprezo do seu poder; é o desdém do seu amor.

Acautele-se de não se entregar à libertinagem de cometer um pecado, pois este o levará a outro, até que, por costume, o pecado se torne natural.

Começar a pecar é o primeiro passo em direção a continuar pecando; e a continuação é a mãe do costume, que, por fim, resultará em impudência.

A morte de Cristo nos proporcionou a melhor descoberta acerca de nós mesmos. Estávamos em tal condição que nada nos poderia ajudar, exceto a morte de Cristo e a descoberta evidente da terrível natureza de nossos pecados. Se o pecado é algo tão horrível, que traspassou o coração do Filho de Deus, como poderia um miserável pecador dar apoio ao pecado?
 
FONTE: www.reformandome.blogspot.com

terça-feira, 3 de julho de 2012

O Evangelho Deve Ser Oferecido aos Réprobos? John Bunyan

Imagem cedida por: http://www.thebookofdays.com/months/aug/31.htm  

Deus quer de fato e de verdade, que o evangelho, com a graça do mesmo, seja oferecido para aqueles que Ele tem sujeitado à Eterna Reprovação?

Para esta questão eu devo responder:

Primeiro, na linguagem de nosso Senhor: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." (Marcos 16:15), e novamente, "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra;" (Is 45:22 ). "E quem quiser, tome de graça da água da vida" (Apocalipse 22:17). E a razão é que, como Cristo morreu por todos, "provou a morte por todos os homens" (2 Cor 5,15; Hb 2:9), é "o Salvador do mundo" (1 João 4:14), e é a propiciação pelos pecados de todo o mundo.

Segundo, eu vou obter isso daquelas várias censuras que vão sobre cada um que não recebe a Cristo, quando oferecido na geral proposta do evangelho."Quem não crer será condenado” (Mc 16:16); "quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu." (1 João 5:10), e, Ai de ti Cafarnaum, "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! "(Mt 11:21), com muitas outras declaraçãoes, todas com a mesma fórmula, com muitas outras da mesma natureza, carregam em si um argumento muito forte para este fim. 

Porque, se aqueles que perecem nos dias do evangelho, devem ter, ao menos, a sua condenação aumentada, por negligenciar e se recusar a receber o evangelho, faz-se necessário que o evangelho tenha sido oferecido a eles com toda fidelidade. O que não pode acontecer, a menos que a morte de Cristo se estenda a eles (João 3:16, Hb 2:3); porque a oferta do evangelho não pode, com a permissão de Deus, ser uma oferta que vá além de onde vai a morte de Cristo, porque se essa é tirada, certamente não há evangelho, nem graça a ser estendida.

Além disso, se por “toda criatura”, e assim por diante, devem ser entendidos somente os eleitos, então todas as persuasões do evangelho são, no entanto, sem qualquer efeito. Porque os ainda não convertidos, que aqui estão condenados por recusá-lo, podem responder rapidamente: "eu não sei se eu sou eleito e, portanto, não me atrevo a ir à Jesus Cristo, porque a morte de Jesus Cristo, e assim a proposta geral do evangelho, diz respeito somente aos eleitos; eu, não sabendo se sou um desses, estou em uma poderosa queda; nem sei se é o maior pecado, crer, ou desesperar: porque eu digo novamente,se Cristo morreu apenas pelos eleitos, então, não sabendo se sou um desses, não me atrevo a crer no evangelho, porque Ele reteve o seu sangue para me salvar, ou melhor, acho que, com segurança, não posso fazê-lo, até que eu primeiro saiba se sou eleito de Deus, e que fui ordenado a fazer isso.."

Terceiro, Deus o Pai e seu Filho Jesus Cristo, queriam que todos os homens, quem quer que eles sejam, fossem convidados pelo evangelho a se apoderar da vida por meio de Cristo, quer eleitos ou réprobos. Pois, embora seja verdade que exista tal coisa como eleição e reprovação, ainda assim Deus, através da proposta do evangelho no ministério da sua palavra, olha para os homens sob uma outra consideração, a saber, como pecadores e é como pecadores que os convida a crer, se apoderar e abraçar o mesmo. Ele não disse a seus ministros: Ide e pregai aos eleitos, porque eles são eleitos, e calem-se aos outros, porque eles não são eleitos. Mas disse: Ide e pregai o evangelho aos pecadores como pecadores; e como eles são pecadores, ide e ordene que venham a mim e assim vivam. E isso deve ser assim necessário, de outro modo o pregador nem poderia falar em fé, nem as pessoas ouvir sobre a fé.

Primeiramente, o pregador não poderia falar em fé, porque ele não sabe distinguir os eleitos dos réprobos. Nem eles poderiam ouvir em fé, porque, como não-convertidos, eles também seriam sempre ignorantes desse fato. Então, o ministro não saberia a quem deveria oferecer a vida, nem as pessoas que dele estão a receber. Como poderia a palavra, agora, ser pregada em fé com poder? E como poderia o povo crer e a abraçar? Mas agora o pregador oferece misericórida aos pecadores, como sendo eles pecadores. E essa é a maneira preparada para a palavra ele falar em fé, porque seus ouvintes são pecadores, sim, e também encorajamento para as pessoas receberem e se envolverem com isso, eles compreenderão que eles são pecadores”. 1 Timóteo 1:15 e.Lucas 24:46, 47..

Quarto, o evangelho deve ser pregado aos pecadores como sendo eles pecadores, sem distinção de eleitos ou reprobos; porque nem um nem outro, quando são considerados sobre esses fatos, são aptos a abraçar o evangelho: porque nem um fato nem o outro, faz cada um deles pecadores; mas o evangelho é para ser oferecido aos homens como sendo eles pecadores, e pessoalmente sob a maldição de Deus pelo pecado: portanto, oferecer a graça aos eleitos porque eles são eleitos é oferecer a graça e a misericórdia a eles não os considerando como pecadores. E, eu digo, negá-la aos réprobos por não serem eleitos, é não somente uma negação da graça a eles por pensar que eles não tem necessidade dela, mas também é dar ocasião para que estes a dispensem.

E volto a repetir, portanto, que oferecer Cristo e a graça ao homem eleito, como simplesmente assim considerado, não administra-lhe nenhum conforto, se ele não for, aqui, um pecador. E assim não engajam o coração a Jesus Cristo,....Sim, e também, negar o evangelho ao réprobo, porque não é um eleito, não vai, absolutamente, incomodá-lo; pois diz: Então eu não sou um pecador, e assim não necessito de um Salvador. Mas agora, como os eleitos não têm necessidade da graça em Cristo, por meio do Evangelho, a não ser como sendo eles pecadores; nem os réprobos causa para recusá-lo, a não ser como sendo eles pecadores; Cristo, portanto, pela palavra do evangelho, deve ser oferecido a ambos, sem considerar se são eleitos ou reprobos, mas como pecadores. "Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” Marcos 2:17,. 2 Cor 5:14,15, Lucas 7:47.

Assim você percebe que o evangelho é para ser oferecido a todos em geral, tanto aos reprobos como aos eleitos, aos pecadores como pecadores, e assim eles estão a recebê-lo, e fecham com a proposta recebida 

Bunyan, “Reprobation Asserted,” in The Works of John Bunyan, (Banner of Truth, 1991), 2:348-349.


Fonte:a indicação desse texto veio de http://calvinandcalvinism.com/?p=31 que postou o capítulo 9 de forma parcial. A ressaltação em negrito de algumas partes do texto segue a ressaltação feita por esse site. O restante do capítulo foi retirado da versão digital do livro disponivel em http://books.google.com.br. As páginas da versão em pdf são 393-394.

Tradutor:  Emerson Campos Pinheiro.

Pensamento no Leito da sua morte - John Bunyan

Imagem cedida por: www.truthbomb.blogspot.com.br 
SOBRE O PECADO

Nenhum pecado contra Deus pode ser considerado pequeno porque é sempre um acto contra o Criador do Céu e da Terra. Mas se um pecador consegue, na sua imaginação, inventar um deus menor, logo se entrega a pecados menores também.
 
 Pecado é o grande mal e arma de bloqueio para toda a nossa felicidade, é a razão para toda a miséria de todo o homem, tanto aqui quanto depois. Retire-se todo o pecado da vida do homem e nada mais o poderá ferir, pois a morte espiritual, a morte carnal e a morte eterna são seu único salário.
 
 Pecado e o homem para o pecado, serão sempre os únicos objectos da ira de Deus. Que dramático deve ser o caso de quem permanece em pecado! Quem pode suportar um pouco da ira bem acesa de Deus!

Qualquer pecado torna a graça de Deus em uma coisa opaca e sem valor. É a única coisa que desafia toda a Sua justiça eterna, viola toda a Sua misericórdia, esgota toda a Sua paciência, mina todo o Seu poder nas nossas vidas e desfaz todo o Seu amor por nós.

Tenha sempre o cuidado de nunca dar-se a liberdade de pecar, pois um pecado leva sempre ao outro. Depois, logo chega ao ponto de ser costume doentio, chegando mesmo a ser natural pecar.

Começar a pecar, é colocar um alicerce para uma continuidade de qualquer pecado. Este continuar é a única mãe do costume de pecar e a consequente falta de pudor a grande tragédia que lhe irá seguir.
 
 Aquela Morte de Cristo permite-nos a maior de todas as descobertas sobre nós mesmos, das condições em que fomos achados e de como nada nos poderia valer senão a Sua Morte por nós e, também, a descoberta mais clarividente sobre a terrível façanha (audácia) que é o nosso pecado. Como a sua natureza fez perecer o próprio Criador do mundo! Se o pecado é, de facto, coisa tão medonha e horrível, que chegou a trespassar o lado e coração do Filho do Homem, como pode um pecador ainda suportar os seus pecados?


SOBRE O ARREPENDIMENTO E O VIR PARA CRISTO

O fim de toda a aflição é a descoberta dos nossos pecados, desde que nos levem aos pés do Salvador. Vamos então, como o filho pródigo, voltar ao nosso Pai. Logo acharemos paz e descanso para a nossa alma.

Alguém neste mundo inteiro que seja considerado o pior de todos os pecadores, pode, pela graça na penitência do arrependimento, tornar-se tão bom quanto os melhores.

Ser verdadeiramente sensível à proximidade do pecado, é estar triste porque se fere profundamente o nosso Deus e Criador. Somos mais afligidos por nós mesmos porque O estamos a magoar, do que por Ele.
  
As tuas intenções quando te arrependes, tanto quanto a negligência em desfavor da tua própria salvação, serão sempre um marco e um atestado contra ti no Juízo Final!

Qualquer arrependimento real e honesto, carrega consigo uma retórica divina, a qual persuade Cristo a perdoar montanhas de pecados cometidos contra Ele.

Nunca diga a si mesmo que amanhã se arrependerá, pois é seu dever fazê-lo hoje.
 
 O evangelho da graça de Cristo e da Sua salvação, estará sempre acima de todas as outras doutrinas, mas não deixa de ser a mais perigosa de todas caso seja recebida por homens desprovidos dessa mesma graça. Se esta não for sustentada com uma necessidade absoluta de um Salvador real, nunca é graça. A tais homens e mulheres que têm apenas a noção de tudo aquilo que é esta graça de Deus, digo que serão sempre os mais miseráveis e execráveis de toda a raça humana. Porque sabem através da sua razão muito mais que os pagãos da terra, esta será a sua única porção: no fim apanharão com mais açoites que todos.

SOBRE O ORAR
 
Antes de entrares em teu quarto para orar, pergunta a ti mesmo esta pergunta: Para quê, com que finalidade, minha alma, entras aqui para este santo lugar? Vieste para aqui para ter uma conversa com Ele? Estará Ele presente também? É teu pesar leve, teu pensamento leviano? Não estás a lidar com a saúde de todo teu espírito? Que palavras irás usar para que Ele considere ter misericórdia de ti?

Para que a tua preparação para este solene momento seja completa, considera-te nada menos que pó e cinzas de pecado e que Ele, o grandioso Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, se veste com luz inigualável, como se dum manto se tratasse. Que és um vil pecador, Ele um Deus sem mácula; que és pouco mais que um verme rastejante, Ele seu Omnipotente Criador.

Em todas as tuas solenes orações, nunca te esqueças de Lhe ser agradecido pelas Suas muitas e grandes misericórdias.

Quando, então orares, é preferível que teu coração deixe de ter palavras, do que tuas palavras deixem de ter coração.

A tua oração eliminará o teu pecado por completo, pondo-lhe fim, ou então o teu pecado dará um fim à tua oração.

O Espírito de oração é mais precioso que muitos tesouros de ouro e de prata.

Ora muito, quantas vezes desejares, pois tua oração é um escudo real, um cheiro suave e uma afronta a Satanás
SOBRE O AMOR AO MUNDO
Nada tem como impedir uma alma de se poder aproximar de Cristo, com excepção dum amor fútil pelas coisas que o mundo oferece. E até que uma alma esteja inteiramente liberta de tal monstruosidade, nunca poderá ter nela mesma um grande amor por Deus.

Que serão as honras e as iguarias das riquezas neste mundo comparando-as com as riquezas que obteremos de Cristo juntamente com a coroa da Vida?

Nunca ames o mundo, pois o amor ao mundo é uma lagarta roedoura de toda a vida com Cristo.

Desprezar o mundo é o caminho para o Céu brilhar em nós. E bem-aventurados serão todos aqueles que conseguem ter uma conversa a sós com Deus.

Que tolice maior poderá existir que trabalhar pela carne que apodrece, negligenciando com isso o maná da Vida Eterna?

Ou Deus ou o mundo - um dos dois terá necessariamente de sair desprezado em uma vida e quando esta se desvanece no leito da sua morte, esse será o seu grande teste.

Buscando a tua vida, a ti mesmo neste mundo, teu próprio interesse, é estar perdido para sempre. E ser humilde é exaltação excelente.

Todo aquele que se deleita com as realezas deste grande mundo, pensa muito pouco, pois um dia quem admirou, será testemunha veloz contra ele.

SOBRE A AFLIÇÃO
 
Nada tem como tornar a aflição tão insuportável como uma montanha de pecados: para que possa estar apto a suportá-la, assegure-se que depõe todo pecado e sejam quais forem as aflições que lhe venham atormentar, qualquer montanha lhe será coisa facílima de transpor.

O Senhor tem como usar a dor da tribulação para ter como separar o trigo da palha que carregou o trigo até ali.

Se por acaso você tem como suportar a vara da aflição, a que foi Deus que impôs sobre si, lembre-se sempre desta verdade: você apanha para que melhore de coração.

A escola da Cruz é a escola da luz; ela descobre a vaidade de ser do mundo, expondo-a, desmascara a sua vil forma de ser, a sua impiedade profunda e permite-nos ver mais e melhor a mente de Deus. Desde as trevas da aflição nos pode chegar luz miraculosíssima!

É naqueles momentos de maior aflição que desvendamos muitas coisas acerca do real amor de Deus.

Será que de coração acabamos por renunciar todos os prazeres deste vil mundo? Então, pouco temos a temer sobre a aflição, pois nunca nos fará tropeçar. O que torna um certo estado de aflição mesmo insuportável, serão tão só os prazeres desta vida mundana, a qual não tem como suportar a possibilidade de nos separarmos dela de facto.

SOBRE O SOFRIMENTO
 
Não será qualquer tipo de sofrimento que faz um mártir, mas apenas o sofrer porque se é verdadeiro e se está em plena conformidade com a Palavra de Deus. Isto é, não apenas sofrer de forma justa, mas pela justiça; não apenas pela verdade, mas por amor à verdade; nunca apenas pela palavra de Deus, mas de acordo com ela: dar testemunho, com aquela santidade, humildade, no mesmo espírito de mansidão que a própria Palavra de Deus requer de nós.

É coisa muito rara sofrermos pelos motivos certos e mantendo o espírito vergado apenas a Deus contra o Seu inimigo: o pecado; pecado em doutrina, em adoração, pecado na vida e em qualquer tipo de conversação.

Não será o diabo, nem os homens deste mundo que conseguirão extinguir a justiça de dentro de ti, ou o amor por ela - apenas a tua própria mão. Só se separa essa justiça de ti pela tua própria actuação. Aquele que sofre em prol de ser justo, ou por um amor completo à justiça interior, não tem como ser tentado a trocar essa justiça por alguma outra coisa, porque o bem-estar do mundo dependem dela.

Sempre pensei que a nata dos Crentes são feitos na pior das eras: quanto pior for o momento, maior e melhor será o Crente. E continuo a pensar que uma das razões porque não somos tornados melhores, será porque Deus já não nos purga e não nos prova como fazia. Noé e Lot, quem era mais santo que eles durante os tempos das suas aflições? E quem haverá mais vil e mais fútil do que o que está em sua prosperidade?

SOBRE A MORTE E O JUÍZO

Tal como o diabo opera por todos os meios para nos manter fora de todas as coisas boas, do mesmo modo opera para afastar dos pensamentos, tanto quanto pode, tudo sobre uma vida noutro mundo após a morte. Ele bem sabe que se mantiver os homens afastados de pensar na morte, eles se sentirão mais à vontade para pecar.

Nada nos tornará mais sérios naquele labor de operar a nossa própria salvação, do que uma frequente meditação sobre a morte. Nada terá maior influência sobre os nossos corações, de nos retirar das futilidades e, ao mesmo tempo, inspirar a nascença de desejos sobre a santidade.
 
Ó pecador, em que condição te acharás caído quando abandonares este mundo? Se partires sem estares convertido, teria sido melhor haveres sido esmagado assim que nasceste. Teria sido melhor haverem-te puxado dum lado e do outro e seres dividido em duas partes; melhor te seria haveres nascido cachorro, uma serpente, uma rã, do que nasceres homem e morreres sem te converteres e me darás toda a razão quando lá chegares sem te haveres arrependido.
  
Um homem seria tido como tolo caso se atrevesse a desafiar e a tratar mal um Juiz antes de ser julgado por ele. E o Juízo de Deus terá tanto mais peso que um desses, pois dele dependerá toda a nossa felicidade e miséria eternas; e mesmo assim atrevemo-nos a desafiá-Lo e afrontá-Lo com nossos pecados?

A única maneira de escaparmos daquele Juízo horrível, é passarmos certas sentenças de juízo sobre nós correctamente enquanto estivermos aqui na terra. Assim que soar aquela última trombeta, a qual convocará os mortos para comparecerem diante do trono de Deus para serem julgados, os justos se apressarão a sair de suas sepulturas com alegria, para se encontrarem com o seu Redentor nas nuvens. Mas, os outros clamarão às montanhas para que caiam sobre eles, para os encobrir da vista daquele Juiz feroz! Vamos, então, pousar no tempo que nos resta e decidir para qual dos dois lados queremos ir.
 
SOBRE AS ALEGRIAS DOS CÉUS
Nada existe de bom neste mundo com excepção do que já está contaminado e misturado com o mau. As honras têm surpresas desagradáveis, a riqueza tem insensatez e todos os prazeres arruínam a saúde. Mas, apenas nos céus acharemos bênçãos sem igual, de tal modo puras que nada terão que as possam fazer amargar e tendo tudo nelas para as tornar incomparavelmente doces.

Quem neste mundo poderá conceber as inexprimíveis, inconcebíveis alegrias que se acharão lá? Apenas aqueles que já as experimentaram cá. Senhor, ajuda-nos a dar tal valor a elas, que nos possamos preparar para as receber e tenhamos porque nos alegrar com a perda sumária de todos os prazeres inerentes à ilusão dos apetites daqui.

Como os céus transbordarão e ecoarão de alegria assim que lá chegar a noiva, a Esposa do Noivo, para ir viver com Ele para sempre!

Cristo é o supremo desejo das nações, a alegria dos anjos e o deleite do Pai; quão grande deve ser a consolação da alma que O possuir pela eternidade fora!

Ó! Quantas aclamações se verão quando todos os muitos Filhos de Deus se encontrarem em conjunto, sem nada mais para temer, sem as perturbação dos descendentes do anticristo e dos Cainistas!

Não chegará o tempo quando os piedosos poderão perguntar aos ímpios quais os proveitos que adquiriram dos seus prazeres? Qual conforto da sua grandeza? E que frutos trouxeram todos os seus labores?

Se você tiver muita curiosidade para saber tudo sobre a verdadeira essência da visão celestial, minha resposta para si será apenas que viva uma vida santa e chegue-se bem perto para ver!
SOBRE OS TORMENTOS NO INFERNO
Os céus e a salvação não foram mais prometidos a todos os que são castos do que o inferno e a condenação aos que são ímpios e será seguramente uma sentença executada sobre todos.

Assim que uma alma for condenada, pode, logo ali, dizer adeus para sempre a todo conforto e prazer.
 
Quem conhecerá todo o poder da ira de Deus? Ninguém com excepção dos que forem condenados!

A única companhia de todos os pecadores, será o diabo e seus demónios, para sempre atormentados sob uma maldição.

O inferno seria um género de paraíso, caso não fosse pior que o pior dos lugares deste mundo!

Tão distinto quanto será a dor da alegria, o tormento do descanso de alma e o terror da paz, essa será a distancia entre os pecadores e os santos no mundo vindouro.
SOBRE O DIA DO SENHOR, SERMÕES E DIAS DA SEMANA
 
Tenha zelo em santificar o dia do Senhor, pois do modo que o guardar ou usar, desse modo será guardada a sua alma durante a semana.

Torne o dia do Senhor o dia do mercado para sua alma. Que passe o dia inteiro em orações, súplicas, revisões e meditações. Coloque de parte os assuntos do resto da semana. Que o sermão que ouviu seja ponderado e traduzido em oração: irá o Senhor te oferecer estes seis dias e tu não lhe dedicarás um por inteiro?

Dentro da sua igreja seja cuidadoso em servir Deus. Ali está sob os olhares de Deus e não dos olhares dos homens.

Pode ouvir muitos sermões com muita frequência e pode mesmo ser ouvinte que pratica o que ouviu. Mas nunca pode esperar que lhe seja explicado a partir do púlpito tudo aquilo que é sua obrigação fazer. Antes seja também um estudioso afectivo da Palavra e leia bons livros. Aquilo que ouviu pode vir a ser esquecido, mas tudo quanto aprendeu, será retido e guardado com maior facilidade.

Nunca negue a adoração pública de Deus, pois Deus pode vir a negá-lo a si também, tanto em público como em privado.

Durante os dias da semana, sempre que acorda, considere isto:
  1. Você morrerá em breve;
  2. Você pode morrer naquele preciso momento;
  3. Que irá então acontecer à sua alma.
  4. Ore bastante.
Mas à noite considere isto:
  1. Se cometeu pecados;
  2. Com qual frequência orou durante o dia;
  3. Em quais coisas sua mente vagueou durante todo dia. Em que pensou durante o dia;
  4. Quais foram os seus afazeres;
  5. Qual foi a sua conversação;
  6. Se conseguir trazer à sua atenção todos os erros que cometeu durante todo o dia, nunca se atreva a adormecer sem os haver confessado a Deus e obter a esperança proveniente de um perdão real. Assim, cada noite e cada manhã faça os seus cálculos em conjunto com o Deus Todo-Poderoso e todas as suas dívidas, por fim, diminuirão drasticamente.

    JOHN BUNYAN, 10 DE SETEMBRO DE 1688
      
    FONTE: http://www.reavivamentos.com/pt/livros/bunyan/pensamentos_leito_morte.html

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Uma marreta sobre a cabeça do orgulho - John Bunyan (1628-1688)

Imagem cedida por: http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Bunyan


Já aconteceu de a Palavra vir a mim por meio de uma frase aguçada e penetrante sobre os dons que Deus me deu. Por exemplo: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine" (lCoríntios 13.1, ARA).

Embora o címbalo que retine possa produzir uma melodia que inflame o coração, o címbalo não tem vida; embora possa produzir uma música maravilhosa, pode ser triturado e jogado fora.

Assim é com aquele que tem dons, mas não tem a graça salvadora. Cristo pode usar pessoas talentosas para influenciar almas; no entanto, quando termina de usá-las, pode pendurá-las como objeto sem vida. Essas observações são como marreta sobre a cabeça do orgulho e do desejo de vangloria. "O quê!?", pensei. "Devo orgulhar-me por ser um címbalo que retine? Não seria aquele que possui o mínimo da vida de Deus mais que um desses instrumentos?"
FONTE: www.josemarbessa.com

segunda-feira, 9 de abril de 2012

A ÚLTIMA MENSAGEM DE JOHN BUNYAN (Pregado em 19 de agosto de 1688)

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Bunyan

“Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. (João 1:13)
 
Estas palavras dependem das que vem antes, por isto o Salvador as conduz de modo que se as entendam bem. Deste modo temos: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
 
Então alguns dos seus não o receberam quando Ele veio.
 
Segundo, outros dos seus O receberam e lhe deram as boas-vindas. Os que não O receberam também não receberam a estes; mas os que O recebem, Ele lhes dá poder para serem filhos de Deus. Agora, para que não se pense que isso seja por sorte ou méritos, Ele disse: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Os que não o receberam nasceram somente da carne e do sangue; mas os que O receberam, tem a Deus por Pai, eles recebem a doutrina de Cristo com um forte desejo.
 
Primeiro, Ele ensinou o que significa “sangue”. Os que crêem nascem como um herdeiro para uma herança; são nascidos de Deus; não são da carne; nem da vontade do homem, mas da vontade de Deus; não do sangue – isto é, não por sucessão; não nascido no Reino de Deus pela carne; não porque sou filho de um homem piedoso ou de uma mulher piedosa. Do sangue significa, (Atos 17:26) “E de um só sangue fez toda a geração dos homens”, mas quando aqui diz que “não nasceram do sangue”, ele rechaça todos os privilégios carnais dos quais eles se orgulhavam. Eles, os judeus, se orgulhavam de serem descendência de Abraão. Não, Ele disse, não é pelo sangue; não pense que por ter a Abraão por pai que haverá de nascer de Deus e assim ir ao Reino dos céus.    
 
Segundo, “nem da vontade da carne”. O que entendemos disto? Se tomarmos das inclinações veementes que estão no homem, teremos então a lascívia cumprindo os desejos da carne. Não se deve entender aqui que os homens nascem filhos de Deus por cumprir seus desejos luxuriosos; há de se entender aqui um sentido melhor. Não há somente nos homens carnais uma vontade para o vil, mas há neles, vez por outra, uma vontade de serem salvos também – uma vontade de ir para o céu também. Mas isto não lhe fará, não lhe dará o privilégio das coisas relativas ao Reino de Deus. Desejos naturais para as coisas eternas, não são um argumento que comprove que um homem irá para o céu quando morrer. Eu não sou dos que creem no livre arbítrio, eu o detesto; pois um homem por mais vil que seja desejará alguma vez em sua vida ser salvo somente quando sua vontade for mudada. Ele irá ler alguma coisa ou talvez orará, mas por si só não será suficiente – “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9:16). Há um querer e um correr, sem embargo é sem propósito. “Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça” (Rm 9:31). Aqui temos a compreensão de como o apóstolo negara que uma maneira virtuosa de viver fosse o caminho para o céu, sina de um homem sem a graça, ainda que tenha dons naturais, não obterá o privilégio de ir para o céu e ser filho de Deus. Ainda que um homem sem a graça tenha a vontade de ser salvo não pode ter esta vontade segundo Deus. A natureza reconhece somente as coisas da natureza; nenhum homem conhece as coisas de Deus se não for através do Espírito de Deus. Se o Espírito de Deus não mora em você, você ficará do lado de fora das portas do céu - “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Se fora por nossa vontade, eu desejaria que todos fossem para o céu. Quantos há no mundo que oram por seus filhos e choram por eles, e estão prontos a morrer por eles e isto não os salvará? A vontade de Deus é a regra para tudo; é unicamente por meio de Jesus Cristo, “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
 
Agora chegamos na parte da doutrina.
 
Os homens que efetivamente recebem a Cristo, são por isto nascidos de novo. Ele não disse que nasceram por causa disto, disse que nasceram por isto; nascido de Deus, para Deus, e das coisas de Deus, antes receberam a Deus para eterna salvação, “aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Agora se não nasceu de Deus, não o pode ver. Suponha que o Reino de Deus seja isto, não o pode ver antes de ser feito filho de Deus, suponha que seja o Evangelho, não o pode ver antes que seja trazido a um estado de regeneração; crer é a consequência do novo nascimento, “não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
 
Darei primeiro, uma descrição clara por meio de uma ou duas ilustrações. Um bebê antes de vir ao mundo está em uma prisão escura dentro do ventre de sua mãe; assim é o filho de Deus, antes de nascer de novo está na prisão do pecado, não vê nada do Reino de Deus, por isso se chama novo nascimento. A mesma alma tem uma forma ao amar sua condição carnal, e outra forma quando nasce de novo.
 
Segundo, assim é a comparação com um nascimento, tendo a semelhança de bebê no ventre de sua mãe, se compara a um homem que se levanta do sepulcro; e ser nascido de novo é ser levantado do sepulcro do pecado – “Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá”. Ser levantado do sepulcro do pecado é ser gerado e nascido.
 
Há um famoso texto sobre Cristo – “o primogênito dentre os mortos” (Ap 1:5) , o primeiro a nascer dentre os mortos, o qual se refere a nossa regeneração – isto é, se nasceu de novo por buscar as coisas de cima, então há uma semelhança entre a ressurreição de Cristo e o novo nascimento; os quais nasceram, foram restaurados do mundo da escuridão, e trazidos do reino deste mundo obscuro ao Reino de Seu Filho amado, e nos fez viver uma nova vida; isto é ser nascido de novo; e o que é nascido do ventre de sua mãe é por meio da ajuda dela; todo o que é nascido de novo o é pelo Espírito de Deus.
 
Necessito dar algumas consequências de um novo nascimento.
Primeiro de tudo, se sabe, que um bebê chorará tão logo chegue ao mundo. Porque se não há choro, entende-se que ele está morto. Os que são nascidos de Deus, cristãos, se não choram, não tem vida espiritual. Se forem nascidos de Deus, choram; tão logo que são levantados da prisão obscura do pecado, não há nada mais a fazer senão chorar a Deus, “que preciso fazer para ser salvo?” Tão logo que Deus tocou no carcereiro, ele clama: “que é necessário que eu faça para me salvar?” Quantos cristãos professos há por aí que nunca clamam? Os negócios não deixam orar, as diversões não deixam orar, mas se nascesse de novo clamariam.
 
Segundo, não somente é natural que um bebê chore, mas deve também desejar o leite, não pode viver sem ele; então Pedro tem um comprovante verdadeiro de um recém-nascido; ele deseja o leite não adulterado da Palavra de Deus para que cresça. Se for nascido de Deus há de manifestar o desejo pelo leite espiritual de Deus. Deseja o leite das promessas? Um homem vive de uma forma quando está no mundo e de outra quando é trazido a Jesus Cristo (Is 66:11) “Para que mameis, e vos farteis dos peitos das suas consolações”.
 
Se for nascido de novo, não há nada que o satisfaça até que o leite da Palavra de Deus chegue a sua alma. (Is 66:11) “Para que mameis, e vos farteis dos peitos das suas consolações”. Que é uma promessa para um homem carnal? Uma casa de prostitutas é mais doce para ele; mas se é nascido de Deus não pode viver sem  o leite da Palavra de Deus. Que é o leite materno para um cavalo? Mas que é para uma mulher? Dá consolo noite e dia, dá socorro noite e dia. E que coisa lamentável é os que resistem a isso. Fazer caso das coisas celestiais, diz o homem carnal, é vaidade; mas para um filho de Deus, este é o seu consolo.
 
Terceiro, um recém-nascido não tem outras formas de mantê-lo aquecido além das que tinha dentro do ventre de sua mãe, senão morreria. Há de ter algo para mantê-lo vivo; Cristo tem consolo preparado por Ele; assim os que são nascidos de novo hão de ter alguma promessa dEle para manter-se vivos.
Os que estão em um estado carnal, se consolam, se aquecem com outras coisas; mas os que são nascidos de novo não podem viver sem alguma promessa de Cristo para manter-se vivos.
 
E quando as mulheres estão esperando seus bebês, que coisas tão finas elas preparam! E coisas tão finas Cristo tem preparado para envolver todos os que são nascidos de novo! Para que todos os que são nascidos de novo sejam envolvidos de ouro! As mulheres vestem seus filhos para que todos vejam o quão bonitos estão, assim é em Ezequiel 16:11,  “E te enfeitei com adornos, e te pus braceletes nas mãos e um colar ao redor do teu pescoço.E te pus um pendente na testa, e brincos nas orelhas, e uma coroa de glória na cabeça”. E Ele disse no versículo 13, “e foste próspera, até chegares a realeza”. Isto não é um modo de fixar nenhuma meta sem a justiça de Cristo.
 
Quarto, um filho quando está sob os cuidados de sua mãe ela terá prazer em ter o que será para consolo do seu filho; assim é com os filhos de Deus, são mantidos sob seus cuidados; “Para que mameis, e vos farteis dos peitos das suas consolações”. versículo 13: “Como alguém a quem consola sua mãe, assim eu vos consolarei”; Há uma ilustração sobre estas coisas que somente os que são nascidos de novo reconhecem.
 
Quinto, normalmente há algo de semelhante entre um pai e seu filho; talvez o menino se pareça com seu pai, assim os que são nascidos de novo tem alguma semelhança, tem a imagem de Cristo (Gl 4) cada um que nasce de Deus tem algo das feições do céu sobre ele. Normalmente homens amam seus filhos que se parecem mais com eles; assim é Deus com seus filhos; por isso se chamam filhos de Deus. Mas outros não se parecem com Ele por isso se chamam filhos do diabo. Cristo descreve os filhos do diabo por suas feições; os filhos do diabo tem suas obras; todas as obras de injustiça são obras do diabo. Se você é terreno leva a imagem do que é terreno; se é celestial leva a imagem do que é celestial.
 
Sexto, quando um homem tem um filho o educa segundo seus padrões, o ensino dos costumes da casa de seu pai; assim é com os que são nascidos de Deus; tem aprendido os costumes da verdadeira Igreja de Deus, ali tem aprendido a clamar, (meu Pai e meu Deus!); eles se criam assim na casa de Deus; aprendem o método e a forma na casa de Deus para ajustar sua vida neste mundo.
 
Sétimo, filhos, é natural para eles depender de seus pais para tudo o que desejarem. Se eles querem um par de sapatos, vão até ele e dizem; se querem pão, vão até ele e dizem; assim devem fazer os filhos de Deus. Quer o poder da graça? Peça a Deus. Quer poder para resistir as tentações do diabo? Peça a Deus. Quando o diabo o tentar, diga isso ao Pai celestial, derrame suas queixas diante de Deus. Isto é natural para os filhos de Deus; se alguém lhe faz mal, eles vão e dizem isso ao seu pai; assim é com os que são nascidos de Deus, quando enfrentam tentações vão e dizem a Deus.
 
A primeira aplicação disto tudo é que se examine para ver se é nascido de Deus ou não. Examine-se segundo o que é estabelecido para um filho natural e um filho da graça. Foi trazido da prisão obscura deste mundo a Cristo? Tem aprendido a clamar, “meu Pai”? (Jr 3:19), “Tu me chamarás meu pai”. Todos os filhos de Deus clamam. Você pode sossegar sem estar plenamente satisfeito com o leite da Palavra de Deus? Rogo que considere e que seja sincero consigo mesmo. Se não tem estas marcas, não é do Reino de Deus, nunca terá parte ali, ali não poderá entrar às escondidas. Eles dirão: “Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço”. Não será filho de Deus, e não terá nenhuma herança celestial.
 
Às vezes damos de presente algo aos que não são nossos filhos, mas não nossos filhos terrenos. Não se dá uma porção entre os filhos se não vivem como filhos. Quando vemos a um filho do rei zombar de um mendigo pensamos que isto não é correto; assim se você é filho do Rei, viva como um filho do Rei. Se foi ressuscitado com Cristo busque as coisas de cima e não as de baixo. Quando se reúnem falam do que foi prometido pelo Pai; devem amar a vontade de seu Pai e estar felizes e contentes com as coisas que enfrentam neste mundo. Se forem filhos de Deus, vivem juntos em amor. Se o mundo os combate, não se importem, mas é uma triste coisa combater com as armas carnais. Se há isto entre vocês, é uma marca de criança má, não está de acordo com as regras que tem aprendido na Palavra de Deus.
 
Vê a alma que tem a imagem de Deus?  Amado, por Ele – Cristo – é que haveremos de ir ao céu um dia.
Sirvam uns aos outros; façam o bem uns aos outros; e se alguém fez mal a você, ore para que Deus faça justiça e ame os seus irmãos.
Por último se são filhos de Deus, aprendam esta lição: “cingindo os lombos do vosso entendimento... Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver”; considera que Deus é o seu Pai; e deseja que isto o leve a viver como filho de Deus, para que olhe a seu Pai em sua face com consolo todos os dias nesta vida.
 
FONTE: www.discernimentobiblico.net 
Traduzido por Edmilson de Deus Teixeira 

sábado, 23 de julho de 2011

E-BOOK: Livros do Reverendo John Bunyan

Livro o peregrino


Download 1: http://www.oocities.org/br/adm.protect/ebooks/o_peregrino.pdf

Download 2 (em espanhol): http://www.4shared.com/document/oZbE9ixn/EL_PROGRESO_DEL_PEREGRINO_-_Jo.htm


Livro a Peregrina



Download 1: http://www.livrosdownload.com/2011/03/peregrina-john-bunyan.html

Download 2: http://www.4shared.com/file/s_Ap2BH3/John_Bunyan_-_A_Pereg.htm

Download 3 (Em espanhol): http://www.4shared.com/document/qgCe22eQ/La_Peregrina_-_John_Bunyan.htm



John Bunyan - Grace Abounding To The Chief Of Sinners (Graça abundante ao principal dos pecadores)




Download 1 (em Inglês): http://www.4shared.com/file/N-mpzdR1/John_Bunyan__-_Grace_Abounding.htm

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quarta-feira, 29 de junho de 2011

Livro A Peregrina - John Bunyan (4ª Parte)

Imagem cedida por: http://renovadapl.blogspot.com/2011/04/jesus-o-unico-caminho.html


Os peregrinos são agasalhados pelo Porteiro. Prosseguindo seu caminho, as mulheres são incomodadas por dois vilões e oportunamente socorridas pelo Auxiliador.

Depois disto vi que o Senhor dirigia-lhes muitas palavras consoladoras, as quais os enchiam de alegria; também os conduziu a um terraço que havia sobre a porta.
—A mesma vista —agregou— vos será novamente oferecida durante o caminho para vosso consolo.
Depois os deixou sozinhos durante uns momentos numa sala de verão, onde travaram entre si a seguinte conversação:
CRISTIANA— Graças ao Senhor! Quanto me alegro de ter entrado aqui!
MISERICÓRDIA— Bem podes te congratular; porém eu, sobre tudo, tenho motivos fundados para pular de alegria.
CRISTIANA— Houve um momento, enquanto estávamos à porta, quando havia chamado e ninguém respondia, em que temi que toda a nossa moléstia e os nossos esforços tivessem sido inúteis, especialmente quando aquele cachorro ruim dava tais latidos.
MISERICÓRDIA— O temor assaltou meu coração, sobre tudo quando vi que tinham recebido vocês, enquanto eu ficava fora. "Agora", disse para mim, "cumpriu-se o que está escrito: 'Duas mulheres estarão juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada'" [1]. Devi esforçar-me para não gritar: "Aí de mim, que estou morta!". No momento não me atrevi a chamar mais; porém, alçando os olhos, vi o que estava escrito sobre a porta, e ganhei ânimo. Então me pareceu que se não chamava outra vez morreria, e assim bati, mas não posso te dizer como, porque meu espírito lutava entre a vida e a morte.
CRISTIANA— Não sabes como chamaste? Pois as batidas eram tão fortes que me fizeram estremecer; nunca em minha vida tinha ouvido semelhantes golpes; achei que tinhas a intenção de entrar por força ou que ias 'tomar de assalto o Reino" [2].
MISERICÓRDIA— Aí! Quem em semelhante situação teria agido de outra forma? Já viste que a porta havia-se fechado para mim, e que ali havia um cão raivoso. Quem, digo eu, sendo tão tímida como eu, não teria chamado com todas as suas forças? Mas, o que disse o Senhor a respeito de minha ousadia? Não se enfadou contra mim?
CRISTIANA— Quando ouviu o barulho que fazias, sorriu suave e carinhosamente. Acredito que tua importunidade o agradou bastante, pois não manifestou nenhum desagrado. Porém me estranha muito que tenha um mastim tão feroz; de sabê-lo de antemão, temo que não teria a coragem para aventurar-me como o fiz. Mas já estamos dentro, e me alegro de todo coração.
MISERICÓRDIA— Se desejas, eu lhe perguntarei, quando desça, por que tem tão feroz animal em sua fazenda; espero que não o leve a mal.
—Ah, sim! —disseram as crianças—, e persuade-o para que o mate, porque tememos nos mordam quando partamos daqui.
Efetivamente, ao descer novamente o Senhor, Misericórdia prostrou-se diante dEle, dizendo:
—Que meu Senhor se digne aceitar o sacrifício de louvores que agora o ofereço.
—Paz a ti; levanta —lhe respondeu.
Porém ela continuou prostrada, agregando:
—Justo é tu, oh Senhor, embora eu me atreva a discutir teus juízos. Por que guarda meu Senhor em seu curral um cão tão feroz, à vista do qual mulheres e crianças como nós fogem atemorizados pela porta?
—O cão —disse— não é meu, e está encerrado em outra propriedade; meus peregrinos somente ouvem seus latidos. Pertence ao Castelo que se vê lá, um pouco longe daqui, mas pode se aproximar destes muros. Seu barulho tem espantado muitos peregrinos sinceros. Certamente que seu dono não o tem por boa vontade para comigo, mas ao contrário, com o objeto de impedir aos peregrinos de virem a mim, e infundi-lhes temor para que não chamem à porta. Alguma que outra vez escapou-se, e tem acossado e maltratado os meus amados; por enquanto eu sofro tudo com paciência; mas eu dispenso aos meus ajuda oportuna, para que não sejam entregues a ele e faça deles o que deseje, segundo o malévolo de sua natureza. Porém, ainda sabendo de antemão, não teriam medo de um cão, verdade? Os que vão mendigando de porta em porta, antes que pedir uma esmola, correm o risco dos latidos e ainda das mordidas de um cachorro. Por que, pois, haveríeis de ter medo de um mastim que esta em curral alheio, e cujos latidos volto em proveito dos peregrinos?
MISERICÓRDIA— Confesso a minha ignorância; falei do que não compreendia, reconheço que tudo o fazes bem.
Cristiana começou então a falar de sua viagem, e a pedir informes sobre o caminho. O Senhor, depois de dar-lhes de comer, lavou-lhes os pés e então lhes mostrou o caminho, assim como antes tinha feito com Cristiano. Ao começar a marcha, o tempo favorecia-lhes, e Cristiana gozosa cantava:

Bendito por sempre o dia
Em que a minha marcha começou;
E bendito seja o homem
Que a iniciá-la me incitou.
Longos anos transcorreram
Sem ter vida nem ter paz;
Agora corro quanto posso,
Tarde e melhor que jamais.
Pranto em gozo, medo em calma,
Mudam-se ao começar;
Se o princípio é tão formoso,
Mais gentil o fim será.

Do outro lado da cerca que resguardava a senda havia um pomar que pertencia ao amo daquele furibundo cão antes mencionado. Algumas das árvores frutíferas estendiam suas ramas sobre o muro, e sendo o fruto de bom aspecto, acontecia às vezes que os viajantes as colhiam, com grande prejuízo de sua saúde. As crianças, pois, com o instinto próprio da juventude, prendados da fruta, a colheram e começaram a comer, apesar das repreensões de sua mãe.
—Filhos meus —disse ela—, fazeis mal, porque aquele fruto não é nosso.
Ignorava, porém, que pertencesse ao inimigo; de outra sorte, tivesse morrido de medo. Por enquanto, não houve resultado algum desagradável, e os nossos peregrinos prosseguiram sua viagem. Tinham-se distanciado já muito pouco da porta pela que entraram, quando divisaram dois sujeitos de mal aspecto, que vinham às presas ao seu encontro. Vendo isto as duas mulheres, cobriram-se com seus véus e continuaram andando, com as crianças à frente. Ao se encontrarem com elas, os homens fizeram gesto para abraçá-las.
—Atrás! —exclamou Cristiana—. Continuem seu caminho como pessoas honestas.
Porém esses dois, fazendo-se de surdos, desprezaram os protestos das mulheres, e começaram a pôr-lhes a mão acima. Com isto Cristiana, acendida de ira, deu-lhes pontapés, enquanto Misericórdia fazia o que podia para afastá-los.
—Deixai-nos passar —gritou novamente Cristiana—. Não temos dinheiro, somos peregrinas como vês, e para viver dependemos da caridade dos nossos amigos.
—Não buscamos dinheiro —disse um deles—, mas viemos a dizer que sem quereis conceder-nos o pouco que pedimos, os faremos mulheres de fortuna.
Cristiana, que adivinhou as intenções, respondeu:
—Não vos ouviremos, nem atenderemos as vossas razões, nem acederemos aos vossos rogos. Temos muita pressa e não podemos nos deter; do êxito de nossa viagem depende a vida ou a morte.
Assim dizendo, as mulheres fizeram outro esforço para passar adiante, no entanto os vilões as impediram.
—Não atentamos a vossa vida —disseram—; outra coisa é o que desejamos.
CRISTIANA— Sim, desejais nos ter em corpo e alma, pois já sei com que intenção vindes; mas antes morreremos aqui mesmo que nos deixar cair nas redes que colocariam em perigo nosso bem-estar eterno.
Em seguida clamaram ambas mulheres aos gritos:
—Assassinos! A eles! —para colocar-se sob o amparo das leis que foram estabelecidas para a proteção da mulher. Vendo que os malvados não desistiam do intento, alçaram a voz mais uma vez.
Não estando ainda muito longe da porta, ouviram-se os gritos neste lugar. Reconhecida a voz de Cristiana, acudiram a todo correr em seu socorro. Ao chegar o Auxiliador perto dos peregrinos, encontrou às mulheres muito apuradas, enquanto as crianças choravam ao seu lado.
—Que vilania é essa que estais cometendo? —disse, dirigindo-se aos rufiões. Quereis obrigar às servas do Senhor a pecar?
E tentou aprisioná-los, mas eles fugiram, escalando a cerca e refugiando-se no horto do proprietário do cão, de modo que o mastim foi seu protetor.
Perguntadas as mulheres como estavam, "Bem, graças a ti, senhor", foi a resposta.
—Porém levamos grande susto. Muito te agradecemos ter vindo em nosso auxílio; de outro modo teríamos sido vencidas.
Depois de breves palavras, Auxiliador lhes disse:
—Muito me maravilhei, quando se hospedaram na porta, que, sendo débeis mulheres, não pedísseis ao Senhor os serviços de um guia. Certamente teria Ele acedido aos vossos rogos, e teríeis evitado estes contratempos e perigos.
CRISTIANA— Ah! Estávamos tão prendadas das bênçãos que acabávamos de receber, que os perigos que podiam aparecer ficaram no esquecimento. Além disso, quem podia acreditar que tão perto do palácio do Rei se esconderam semelhantes velhacos? Em efeito, temos feito mal em não pedir um guia; mas, sabendo o Senhor que nos seria vantajoso, resulta estranho que não o oferecesse.
AUXILIADOR— Não é sempre conveniente outorgas as coisas que não se pedem, para que não se tenham em pouco; porém, quando sentimos necessidade de uma coisa, aprendemos a apreciá-la devidamente e a nos valermos dela. Dado o caso que o meu Senhor vos tivesse concedido um condutor, não teríeis lamentado vosso descuido em pedi-lo, como agora tendes ocasião de fazer. Assim vedes que todas as coisas contribuem ao vosso bem, e tendem a acautelar-vos.
CRISTIANA—Voltaremos ao nosso Senhor para confessá-lhe a nossa indiscrição e pedi-lhe um guia?
AUXILIADOR— Eu oferecerei a vossa confissão. Não tendes necessidade de voltar atrás, porque não vos faltarão recursos nos lugares aonde cheguem. Em cada uma das hospedarias que meu Senhor preparou para o alojamento de seus peregrinos, encontra-se o necessário para escudá-los contra qualquer atentado. Contudo, como já disse, deseja ser solicitado para agir assim. Deve ser de escasso valor aquilo que não vale a pena de ser pedido.
Assim dizendo, os deixou continuar sozinhos sua viagem.
MISERICÓRDIA—Este tem sido um desengano muito rude. Figurava-me que já estávamos fora de todo perigo, e que a tristeza não nos alcançaria mais.
CRISTIANA— A tua inocência, irmã, pode desculpar-te muito; porém, no que a mim toca, a minha culpa é bem maior, porquanto previ este perigo antes de sair de casa e, ainda assim, não me precavi quando me encontrei onde podia dispor dos médios necessários. Por isso me fiz credora de severas repreensões.
Misericórdia— Como podias saber disto antes de marchar-te? Descobre-me este enigma.
Cristiana— Vou dizer-te. A noite antes de partir, tendo-me deitado, tive um sonho. Parecia-me ver dois homens semelhantes em todo a estes dois vilões, que estavam ao pe de meu leito conspirando para arruinar-me e impedir a minha salvação. Era quando eu estava tão exausta de dor. "O que faremos desta mulher?", diziam, "pois dormida o mesmo que acordada pede perdão. Se lhe é permitido continuar sua viagem, escapar-se-nos-á como o fez o seu marido". Isto deveria ter-me acautelado, e deveria induzir-me a me precaver, quando tinha a mão o necessário para conjurar o perigo.
MISERICÓRDIA— Boa ocasião se nos tem proporcionado por meio deste descuido, para conhecermos as nossas imperfeições. Nosso Senhor aproveitou também esta circunstância para manifestar-nos as riquezas de sua graça, deparando-nos favores não solicitados e liberando-nos bondosamente das mãos de pessoas mais poderosas do que nós.


[1] Lucas 17:35
[2] Mateus 11:12
FONTE: Livro a Peregrina de John Bunyan


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