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maioria das pessoas – sejam pastores ou teólogos – não conhecem muito sobre John Owen.
Uma das razões é que seus escritos não são populares hoje . Mas outra razão é que não se é conhecido muito sobre ele – pelo menos não muito sobre sua vida pessoal. Peter Toon, em sua biografia de 1971, diz, “Nenhum dos diários de Owen foram preservados; e… as cartas existentes nas quais ele revela sua alma são mui poucas, e reações aos outros, registradas e pessoais, são breves e escassas... Temos que depender de umas poucas cartas e um pouco de observações de outros para procurar entendê-lo como homem. E estas são insuficientes para sondar as profundezas do seu caráter".
Assim, Owen permanece oculto como se estivesse através de um véu...seus pensamentos secretos permanecem só seus” Penso que isto pode ser um pouco equivocado, pois quando você lê as obras mais práticas de Owen, o homem brilha através de uma forma que, penso, revela os lugares profundos do seu coração. Mas, os detalhes de sua vida pessoal ainda são frustrantemente poucos. Você verá isto – e compartilhará minha frustração – no que se segue.
Owen nasceu na Inglaterra em 1616, o mesmo ano em que William Shakespeare morreu e quatro anos antes dos Peregrinos viajarem para a Nova Inglaterra. Isto foi virtualmente no meio do grande século Puritano (aproximadamente de 1560 a 1660).
O Puritanismo foi, em seu cerne, um movimento espiritual, apaixonadamente preocupado com Deus e a piedade. Ele começou na Inglaterra com William Tyndale, o tradutor da Bíblia, contemporâneo de Lutero, uma geração antes da palavra “puritano” ser cunhada, e continuou até os últimos anos do século XVII, algumas décadas antes do termo “puritano” cair em desuso...O Puritanismo foi essencialmente um movimento para a reforma da igreja, para a renovação pastoral e evangelística, e para o reavivamento espiritual...
O objetivo puritano era completar o que a Reforma da Inglaterra começou: terminar a reforma da adoração anglicana, introduzir uma disciplina de igreja efetiva nas paróquias anglicanas, estabelecer a justiça nos campos políticos, domésticos e sócio-econômicos, e converter todos os cidadãos ingleses a uma fé evangélica vigorosa.
Owen nasceu no meio deste movimento e se tornou seu maior pastor-teólogo, à medida que o movimento terminou quase que simultaneamente com a sua morte, em 1683.
Seu pai foi pastor em Stadham, cinco milhas ao norte de Oxford. Ele teve três irmãos e uma irmã. Em todos os seus escritos ele não menciona sua mãe ou seus irmãos. Há uma única breve referência ao seu pai, que diz, “Desde a minha infância estive debaixo dos cuidados do meu pai, que foi um não-conformista durante todos os seus dias, e um árduo trabalhador na vinha do Senhor”.
Com a idade de 10 anos, ele foi enviado para a escola primária dirigida por Edward Sylvester em Oxford, onde ele se preparou para a universidade. Ele entrou no Queens College, Oxford, com a idade de 12 anos, e recebeu o seu Bacharel em Artes2 aos 16 anos e seu M.A. (Mestre de Artes) três anos mais tarde, aos 19 anos de idade. Nós podemos ter uma idéia de como o garoto era a partir de uma observação feita por Peter Toon, de que o zelo de Owen por conhecimento era tão grande neste tempo que “ele freqüentemente permitia a si mesmo somente quatro horas de sono por noite. Sua saúde foi afetada, e mais tarde na vida, quando ele estava freqüentemente doente numa cama, ele lamentou estas horas de descanso que ele perdeu quando jovem” .
Owen começou sua obra para B.D. (Bacharel em Divindade), mas não pôde mais suportar o Arminianismo e o formalismo da igreja-alta de Oxford e retirou-se para se tornar tutor pessoal e capelão de algumas famílias ricas perto de Londres.
Em 1642, a Guerra Civil começou entre o Parlamento e o Rei Charles (entre a religião da igreja-alta de William Laud e a religião puritana dos Presbiterianos e Independentes na Câmara dos Comuns). Owen estava simpatizado com o Parlamento contra o rei e Laud, e assim, ele foi tirado de sua capelania e transferido para Londres, onde os cinco eventos principais de sua vida aconteceram nos quatro anos seguintes, os quais marcaram o resto de sua vida.
Cinco Eventos que Marcaram o Resto de Sua Vida
A. Conversão
O primeiro é sua conversão – ou sua certeza de salvação e aprofundamento de sua comunhão pessoal com Deus. É notável que esta aconteceu de uma maneira quase idêntica à conversão de Charles Spurgeon, dois séculos mais tarde. No dia 06 de Janeiro de 1850, Spurgeon foi parar, devido a uma tempestade de neve, numa Capela Metodista Primitiva, onde um leigo estava substituindo o pastor e pregou sobre o texto de Isaías 45:22, “Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os confins da terra”. Spurgeon olhou e foi salvo.
Owen era um calvinista convicto com amplo conhecimento doutrinário, mas lhe faltava o sentimento da realidade de sua própria salvação. Este sentimento de realidade pessoal em tudo o que ele escreveu ia fazer toda a diferença do mundo para Owen nos anos vindouros. Assim, o que aconteceu num Domingo de 1642, é muito importante.
Quando Owen tinha 26 anos de idade, ele foi com seu primo ouvir o famoso Presbiteriano Edmund Calamy, na Igreja de St. Mary Aldermanbury. Mas Calamy não pôde pregar e um pregador rural tomou o seu lugar. O primo de Owen queria ir embora. Mas algo segurou Owen em seu assento. O pregador simples tomou o texto de Mateus 8:26, “Por que temeis, homens de pouca fé?”. Foi a palavra e o tempo apontados por Deus para o despertamento de Owen. Suas dúvidas, temores e preocupações, de que se ele era realmente alguém nascido de novo pelo Espírito Santo, foram embora. Ele sentiu-se libertado e adotado como um Filho de Deus. Quando você lê as penetrantes obras de Owen sobre a obra do Espírito e a natureza da verdadeira comunhão com Deus, é difícil ter dúvida sobre a realidade do que Deus fez neste Domingo de 1642 .
B. Casamento
O segundo evento crucial naqueles primeiros anos em Londres, foi o casamento de Owen com uma jovem mulher chamada Mary Rooke. Ele foi casado com ela por 31 anos, de 1644 a 1675. Não conhecemos virtualmente nada sobre ela. Mas sabemos um fato absolutamente impressionante que deve ter colorido todo o ministério de Owen pelo resto de sua vida (ele morreu oito anos após ela morrer). Sabemos que ela lhe deu 11 filhos, e todos, exceto uma filha, morreram quando crianças, e esta filha morreu quando era ainda uma jovem adulta. Em outras palavras, Owen experimentou a morte de 11 filhos e de sua esposa! É uma média de uma criança nascida e uma criança perdida a cada três anos da vida adulta de Owen.
Não temos nenhuma referência à Mary ou às crianças, ou à sua dor em todos os seus livros. Mas, apenas saber que este homem andou no vale da sombra da morte na maior parte de sua vida, me dá um sinal da profundidade de lidar com Deus que encontramos em suas obras. Deus tem suas formas estranhas e dolorosas de nos fazer o tipo de pastores e teólogos que Ele deseja que sejamos.
C. Primeiro Livro
O terceiro evento nestes primeiros anos em Londres foi a publicação de seu primeiro livro.
Ele tinha lido a fundo sobre a controvérsia recente na Holanda entre os Remonstrantes (a quem ele chamava de Arminianos) e os Calvinistas. O Remonstrance foi escrito em 1610 e a resposta Calvinista foi o Sínodo de Dordt em 1618. A despeito de todas as suas diferenças, Owen considerou a Igreja-Alta Inglesa de William Laud e os Remonstrantes Holandeses como essencialmente um, em sua rejeição da predestinação, a qual para Owen se tornou absolutamente crucial, especialmente na conversão, a qual ele atribuía totalmente a Deus.
Assim, ele publicou seu primeiro livro em Abril de 1643 com o polêmico título, semelhante a um prefácio, A Display of Arminianism: being a discovery of the old Pelagian idol, free-will, with the new goddess, contingency, advancing themselves into the throne of God in heaven to the prejudice of His grace, providence and supreme dominion over the children of men [Uma Demonstração do Arminianismo: sendo uma descoberta do antigo ídolo pelagiano, o livre-arbítrio, com uma nova deusa, a contingência, avançando eles mesmos para o trono de Deus no céu, para o prejuízo de Sua graça, providência e domínio supremo sobre os filhos dos homens].
Isto é importante, não somente porque ele apresenta sua direção como um Calvinista, mas como um escritor público e controverso, cuja vida inteira seria tomada pela escrita, até o último mês de sua vida, em 1683.
D. Tornando-se um pastor
O quarto evento crucial naqueles anos foi o fato de Owen se tornar pastor de uma pequena paróquia em Fordham, Essex, em 16 de Julho de 1643. Ele não permaneceu muito tempo nesta igreja. Mas eu a menciono, pois ela fixou o curso de sua vida como um pastor. Ele sempre foi essencialmente um pastor, mesmo quando envolvido com administração na Universidade de Oxford e mesmo quando envolvido com eventos políticos de seus dias. Ele era tudo, menos um acadêmico enclausurado. Todos os seus escritos foram feitos na pressão de deveres pastorais. Há pontos em sua vida onde isto parece absolutamente espantoso – como, por exemplo, o fato dele poder continuar estudando e escrevendo, mesmo com o tipo de envolvimentos que ele tinha.
E. Dirigindo-se ao Parlamento
O quinto evento destes primeiros anos em Londres foi o convite, em 1646, para falar ao Parlamento. Naqueles dias havia dias de jejum durante o ano, quando o governador pedia a certos pastores para pregar na Câmara dos Comuns. Era uma grande honra. Esta mensagem catapultou Owen para os assuntos políticos nos 14 anos seguintes.
Owen chamou a atenção de Oliver Cromwell, o líder governamental (“Protetor”) na ausência do rei, e Cromwell é conhecido por ter dito a Owen, “Senhor, você é uma pessoa que eu devo conhecer”; ao que Owen replicou, “isto será muito mais vantajoso pra mim do que para você”.
Bem, talvez sim e talvez não. Com este conhecimento Owen foi lançado no tumulto da guerra civil. Cromwell fez dele o seu capelão e o levou para Irlanda e Escócia, para pregar às suas tropas e avaliar a situação religiosa nestes países.
Cromwell não somente apontou Owen, em 1651, como Deão da Faculdade Igreja de Cristo, em Oxford, bem como fez dele também, no ano seguinte, o Vice-Chanceler. Ele esteve envolvido com Oxford por nove anos até 1660, quando Charles II retornou, e as coisas começaram a ficar muito ruins para os Puritanos.
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