domingo, 5 de junho de 2011

A Glória de Deus - Richard Baxter (1615 - 1691).

Imagem cedida por: http://www.cbecteologia.com/news/shekina-seria-mesmo-a-gloria-de-deus/
As visões freqüentes da glória são os sentimentos mais preciosos e sinceros de todos: primeiro, para sustentar nosso espírito e tornar nossos sofrimentos muito mais fáceis; segundo, para impedir-nos de lamentar e permitir que esperemos com paciência e alegria; e, terceiro, para fortalecer nossas resoluções para que não abandonemos a Cristo por medo de enfrentar problemas.

De minha parte, se você levar em consideração a experiência de alguém que sempre tenta, não fosse por aquele breve -Ai de mim! Brevíssimo - saborear que tive do descanso, meus sofrimentos seriam mais sérios, e a morte, mais terrível. Posso dizer, como Davi: "Pereceria sem dúvida, se não cresse que veria os bens do SENHOR na terra dos viventes" (Sl 27.13; ARC).

Todos os sofrimentos não são nada, desde que tenhamos essa antecipação dessa salvação. Nenhum ferrolho, nenhuma prisão e nenhuma distância podem nos impedir de desfrutar dessas alegrias sustentadoras, pois não podem confinar nossa fé nem nossos pensamentos, embora possam confinar nossa carne. Cristo e a fé são espirituais e, portanto, prisões e banimentos não podem obstruir sua passagem. Mesmo quando a perseguição e o medo fecham as portas, Cristo pode entrar, pôr-se no meio de seus discípulos e dizer: "Paz seja com vocês!" (Jo 20.26). Paulo e Silas puderam chegar ao céu, embora estivessem trancados no cárcere interior, com os pés presos no tronco, após serem açoitados.

Os mártires encontram mais descanso nas chamas que seus perseguidores, quando estes estão em meio às pompas e à tirania, pois antecipam tanto as chamas por meio das quais escaparão quanto o descanso que sua carruagem de fogo lhes traz. Não é o lugar que possibilita o descanso, mas a presença de Cristo e nosso olhar para ele no momento de tribulação. Se o Filho de Deus caminha conosco, podemos caminhar seguramente em meio a essas chamas que devorarão aqueles que nos lançarão ali. Oras, cristãos, então mantenha sua alma acima com Cristo; fique o menos possível distante de sua companhia, e, daí, todas as condições serão similares para você. Pois a melhor condição para você é aquela em que tem mais dele.

Essa é a nobre vantagem da fé; ela pode ignorar os meios e acabar junto dele. Aquele que não vê além do enterrar do milho sob a terra, do debulhar, do peneirar e do triturar do grão, considera tanto o milho como o trabalho para consegui-lo uma perda de tempo; mas aquele que antecipa o brotar e o crescer da planta, bem como o fazer o pão para a vida do homem, pensa de forma distinta. Esse é nosso engano: vemos Deus comprar-nos quando ainda estamos debaixo da terra, mas não antecipamos a primavera, quando todos nós reviveremos; nós sentimos quando ele debulha, peneira e tritura nosso ser, mas não vemos o momento em que estaremos sentados à mesa de nosso Mestre e ali seremos servidos. Se víssemos claramente o céu como o fim de todas as atitudes de Deus para conosco, certamente nenhuma de suas atitudes poderia ser tão dolorosa.

Como o homem que só ouve sobre a doçura do alimento agradável, ou só lê sobre os sons melodiosos da música, isso não estimula tanto seu desejo; mas quando ele saboreia pessoalmente o alimento e ouve a música, então ele se esforçará mais para conquistá-los. Assim, se você só conhecesse a glória da herança dos santos de ouvir falar, isso não lhe ajudaria a enfrentar os sofrimentos e a morte, mas se você pegar esse curso em que você experimenta e saboreia essa glória, por meio do exercitar diariamente sua alma para que ela se achegue às coisas do alto, então nada ficará no seu caminho; mas você prosseguirá até que esteja lá, mesmo que tenha de ser por meio do fogo ou da água.

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