quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Os puritanos e a pregação da palavra de Deus


Imagem cedida por: http://grupodeoracaosaomiguel.blogspot.com.br


É típico se ver nas igrejas cristãs um zelo especial pela Palavra de Deus. Nas denominações evangélicas este cuidado também é notório. Embora um tanto desgastada pelos péssimos exemplos da atualidade a pregação da Palavra sempre ocupou um lugar de destaque no culto e na vida cristã, seja do leigo ou do ministro. Ao percorrer a história do cristianismo salta aos olhos os gloriosos exemplos deste amor pelas Letras Sagradas. Os puritanos podem ser tomados como um desses exemplos e aqui estarão expostos os seus traços gerais; servindo-se como guia a exposição de James Packer.
Ainda que um lapso de tempo de quatrocentos anos nos separe dos puritanos, hoje se reafirma a  necessidade de empenho, sinceridade e boa disposição na pregação. Os sermões puritanos eram marcados pela centralidade na Bíblia e vivacidade, tendo em vista a vida diária. “A retórica dos puritanos era serva do biblicismo deles” (p. 300).

A tradição puritana quanto à pregação foi criada em Cambridge na passagem do século XVI para o século XVII, pelos líderes do primeiro grande movimento evangélico naquela universidade (William Perkins, Paul Baynes, Richard Sibbes, John Cotton, John Preston, Thomas Goodwin e outros). O puritanismo que tinham em comum não era um programa de reformas eclesiáticas (p. 300).
No final do século XVI a estrutura dos sermões já tinha sido simplificada, nasceu então a divisão do sermão em três pontos. Lloyd-Jones foi o principal responsável pela entrada da tradição puritana da pregação no séc. XX (p. 301).

Ao traçar o perfil dos puritanos, Packer ressalta as atitudes e maneiras como a pregação deve ser apresentada, tal como aparece no Westminster Directory for the public Worship of God.
Ao servo de Deus cabe realizar todo o seu ministério (p. 298):
1-     Com empenho, não fazendo a obra do Senhor com negligência.

2-     De forma clara, para que os mais simples possam entendê-lo, equilibrado no uso das palavras.

3-     Fielmente visando a honra de Cristo, a conversão, a edificação, a salvação de pessoas e não sua própria glória e vantagem; nada ocultando que possa promover esses objetivos.

4-     Sabiamente, formulando bem todas as suas doutrinas, exortações e, sobretudo, suas reprimendas.

5-   Com seriedade, como convém à Palavra de Deus, evitando gestos, tons de voz e expressões que ocasionem as corrupções humanas que levem as pessoas a desprezarem a ele mesmo e o seu ministério.

6-     Com amor, para que as pessoas vejam que tudo se deriva de seu zelo piedoso, de seu profundo desejo em lhes fazer o bem.
7-    Como alguém que foi ensinado por Deus e que está persuadido, em seu próprio coração, de que tudo quanto ensina é a verdade de Cristo.

Quatro axiomas sublinham todo o pensamento puritano sobre a pregação:

1-     Primazia do intelecto: “Toda graça entra por meio do entendimento”. O único caminho para o coração, que o pregador está autorizado a tomar, passa pela cabeça das pessoas.

2-     Crença na suprema importância da pregação. O sermão era o clímax litúrgico da adoração pública. O sermão não vem naturalmente, o estudo intenso deve ser constante e toda a vida semanal do pregador deve ser planejada tendo em vista o tempo necessário para a preparação do sermão.

3-     Crença no poder que as Escrituras possuem para dar vida. Confiança no poder vivificador e nutriente da mensagem bíblica. A Bíblia é a Palavra de Deus, portanto tem poder para tocar as pessoas no âmago de suas almas. A tarefa do pregador é apascentar o rebanho com o conteúdo da Bíblia. A pregação era caracterizada pela reverência pela verdade revelada e a fé em sua total suficiência ante às necessidades humanas. Por esses motivos o trabalho pastoral era definido em termos de pregação.

4-     Crença na soberania do Espírito Santo. Insistiam que a eficácia final da pregação está fora do alcance do pregador (p. 304).

Os tipos de pregação que derivaram dessas convicções (p. 305...):

1-     A pregação dos puritanos era expositiva em seu método. Explicavam o texto em seu contexto; extraíam uma ou mais observações doutrinárias; ampliavam, ilustravam e confirmavam, com base em outros trechos bíblicos, as verdades dali derivadas.

2-     A pregação dos puritanos era doutrinária em seu conteúdo. “A tarefa do pregador consiste em pregar a fé, e não promover entretenimento para os incrédulos – em outras palavras, alimentar as ovelhas e não divertir os bodes” (p. 306).

3-     A pregação dos puritanos era ordeira em seu arranjo. Davam importância à análise e um bom sermão tinha que ser o mais claro e lógico quanto possível. Eles ensinavam às sua congregações a memorizarem os sermões a fim de meditarem neles durante a semana. Um sermão que fosse difícil de ser lembrado, por essa mesma razão, era tido como um mau sermão (p. 306).

4-     A pregação dos puritanos era profunda em seu conteúdo e popular em seu estilo. Toda a prédica que exalta o pregador não edifica e é uma pregação pecaminosa. Usavam uma linguagem (o inglês) simples, direta e familiar.

5-     A pregação dos puritanos era cristocêntrica em sua orientação. “A chamada do pregador consiste em anunciar todo o conselho de Deus; e a cruz é o centro desse conselho” (p. 307). Três metas: humilhar o pecador, exaltar o Salvador e promover a santidade.

6-     A pregação dos puritanos era experimental em seus interesses. A pregação era declaradamente prática: conduzir as pessoas ao conhecimento de Deus, a experimentá-lo. A regra fora formulada por David Dickson, que recomendou a um jovem pastor que estudasse dois livros ao mesmo tempo: a Bíblia e o seu próprio coração. “Os puritanos viam como uma questão de consciência provarem, por si mesmos, o poder salvífico do evangelho que recomendavam a outros” (p. 308). Demonstravam terem experimentado aquilo que estavam falando.

7-     A pregação dos puritanos era transpassante em suas aplicações. A Palavra de Deus deve ser aplicada aos diferentes tipos de pessoas, dado que as igrejas são formadas por um misto de todo tipo de gente. Baseado nisso o Westminster Directory for Publick Worship of God especifica seis tipos de aplicações: 1) instrução ou informação quanto ao conhecimento de alguma ... conseqüência de sua doutrina; 2) refutação de doutrinas falsas; 3) exortação quanto aos deveres; 4)dissuasão, repreensão e admoestação pública; 5) consolo adequado; 6) auto-exame (p. 309).

8-     A pregação dos puritanos era poderosa em sua maneira de ser. Eles buscavam a unção no púlpito e pregavam como se fosse a última vez, “como se a morte estivesse em suas costas” (p. 310). A técnica é uma necessidade na pregação (exposição e aplicação), mas é necessário, principalmente, a unção do Espírito Santo.
   
    EXTRAÍDO DE: Leituras em PACKER, J. I. A pregação dos puritanos. Cap. 17, in Entre os gigantes de Deus: Uma visão puritana da vida cristã. São José dos Campos, SP: 1996.

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