sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Que Custa Ser Conquistador de Almas - C.H. Spurgeon


Imagem cedida por: http://assembleianosreformados.blogspot.com/2008_10_01_archive.html

Quero dizer uma palavra aos que estão tentando levar almas a Jesus. Vocês aspiram a ser úteis e oram por isto. Sabem o que isto envolve? Têm certeza? Preparem-se, então, para ver e sofrer muitas coisas que prefeririam não conhecer. Experiências que lhes seriam pessoalmente desnecessárias virão a ser o seu quinhão, se o Senhor os utilizar para a salvação de outros. Uma pessoa comum pode repousar em seu leito todas as noites, mas o médico não, pois pode ser chamado a qualquer hora. O lavrador pode ficar tranqüilo, acomodado junto da lareira, mas o pastor tem que estar fora, junto com os cordeiros, suportando por causa de­les todas as variações do tempo. É como nos diz o apóstolo Paulo: 44Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que tam­bém eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus com eterna glória". Por esta causa seremos levados a passar por experiências que nos surpreenderão.
Alguns anos atrás padeci terrível depressão de espírito. Suce­deram-me certos acontecimentos aflitivos. Já não estava bem, e o meu coração abateu-se dentro de mim. Das profundezas fui for­çado a clamar ao Senhor. Pouco antes disso, fui a Mentone para repouso. Sofri muito no corpo, mas muito mais na alma, pois meu espírito estava esmagado. Sob essa pressão preguei um ser­mão baseado nas palavras: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Eu estava preparado para pregar sobre aquele texto como jamais esperaria estar. Na verdade, espero que poucos dos meus irmãos tenham penetrado tão profundamente naquelas confrangedoras palavras. Senti na plenitude da minha capacidade o horror de uma alma abandonada por Deus. Não foi uma experiência desejável. Tremo só de pensar em ter de passar outra vez por aquele eclipse da alma. Oro no sentido de que nunca mais sofra desse modo, a não ser que disso pendam os mesmos frutos.
Aquela noite, depois do sermão, entrou no gabinete pastoral um homem quase tão endoidecido como poderia estar sem ser metido num manicômio. Os olhos pareciam prestes a saltar das órbitas. Disse que teria chegado ao desespero total se não tivesse ouvido aquele discurso, o qual o fizera ver que vivia ao menos um homem que compreendia os seus sentimentos e podia descre­ver a sua experiência. Falei com ele, procurei animá-lo e lhe pedi que voltasse segunda-feira à noite, quando eu poderia dispor de um pouco mais de tempo para conversar com ele. Tornei a vê-lo, e lhe disse que me dava esperança, e que me alegrava ao ver que a palavra pregada fora tão apropriada para o seu caso. Ao que parece, recusou o consolo que lhe ofereci e, todavia, tive cons­ciência de que a preciosa verdade que ele ouvira estava agindo em sua mente, e que a tempestade de sua alma logo cessaria, dando lugar a uma profunda calma.
Ouçam agora a seqüência daquilo. A noite passada eu pre­guei, por incrível que possa parecer isto, sobre as palavras: "O Todo-poderoso que me amargurou a alma", e depois veio falar comigo aquele mesmo irmão que me havia procurado cinco anos antes. Desta vez, o seu aspecto era tão diferente, como o dia di­fere da noite, ou como a vida da morte. Disse-lhe: " Alegra-me vê-lo, pois muitas vezes tenho pensado em você, perguntando-me se teria alcançado paz perfeita". Ora, contei-lhes que fui a Mentone e esse irmão tinha ido para o campo, de modo que não nos encontramos durante cinco anos. A minhas perguntas o irmão res­pondeu: " Assim foi. O senhor disse que eu dava esperança, e estou certo de que ficará contente ao saber que, desde aquele dia até hoje, tenho andado à luz do sol. Está mudado tudo comi­go, tudo transformado". Caros amigos, quando vi aquele homem em desespero, louvei a Deus pelo fato de que a minha terrível experiência me preparara para compadecer-me dele numa verda­deira empatia e para guiá-lo. Mas ontem à noite, quando o vi completamente recuperado, o meu coração transbordou de gratidão a Deus por aquelas aflições que eu sofrerá. Iria cem vezes até às profundezas para dar alento a um espírito deprimido. Foi bom eu ter sofrido aflições, para aprender a dizer uma palavra oportuna a um coração angustiado.
Suponhamos, irmão, que mediante uma penosa operação o seu braço direito pudesse ficar um pouco mais comprido; não creio que você se submeteria tranqüilo e sereno à operação. Mas se previsse que, submetendo-se à dor, poderia alcançar e salvar ho­mens que estão para afogar-se, e que doutro modo afundariam diante dos seus olhos, creio que se disporia de boa vontade a suportar a agonia, e que pagaria pesada quantia ao cirurgião para poder qualificar-se para o resgate dos seus semelhantes. Reconhe­çamos, pois, que para adquirir o poder necessário a fim de con­quistar almas para Cristo, teremos que passar pelo fogo e pela água, pela dúvida e pelo desespero, por tormentos mentais e angústias da alma. Naturalmente, a experiência não será idêntica para todos, e talvez nem mesmo para dois de vocês, pois a sua preparação será de acordo com a obra que lhes for confiada. Terão que entrar nas chamas, se tiverem que retirar outros do fogo, e deverão mergulhar nas correntezas, se lhes couber tirar outros das águas. Ninguém pode utilizar uma escada de incêndio para resga­te, sem se sentir queimar pelas chamas, e ninguém pode manobrar um barco salva-vidas sem que as ondas o cubram. Se cabe à José preservar a vida dos seus irmãos, ele próprio precisa descer ao Egito. Se a Moisés incumbe conduzir o povo através do deserto, primeiro tem de passar quarenta anos ali com o seu rebanho. É verdade o que disse Payson: "Se alguém pede que dele se faça um ministro de sucesso, não sabe o que pede; e lhe convém considerar se pode beber o amargo cálice de Cristo e ser batizado com o batismo que Ele recebeu",
O que me levou a pensar nisto, foi a oração que o nosso dileto irmão Levinsohn acaba de elevar a Deus. Como percebem, ele é descendente de Abraão e deve sua conversão a um missio­nário urbano que é da mesma nacionalidade dele. Se aquele mis­sionário não fosse judeu, não teria conhecido o coração do jovem estrangeiro, nem teria conseguido que ele desse ouvidos à mensagem do evangelho. Normalmente os homens são ganhos para Cris­to mediante instrumentos adequados, e esta adequação muitas vezes está no poder da empatia. A chave abre a porta porque encaixa no buraco da fechadura; um sermão, toca o coração por­que vai de encontro ao seu estado. Eu e vocês temos que ser amoldados e adaptados a todos os tipos e formas de coração e mente. É bem como Paulo diz: "E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus, para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns". É preciso que esses processos operem em nós também. Recebamos alegremente o que quer que o Espí­rito Santo faça em nossos espíritos para que assim sejamos aben­çoados para o bem dos nossos semelhantes. Irmãos, venham de­positar tudo sobre o altar! Obreiros, entreguem-se às mãos do Senhor! Os delicados e finos talvez precisem de um impactopoderoso para que possam beneficiar os rudes e ignorantes. Osinteligentes e instruídos que se façam de tolos para poderem ga­nhar tolos para Jesus, porquanto os tolos precisam ser salvos, e muitos deles não serão salvos a não ser por meios que os doutos não apreciam.
Com que excelência alguns se lançam ao trabalho, quando o de que se necessita talvez não seja finura, mas energia! Por outro lado, quão violentos se mostram alguns, quando é necessá­rio agir com tato e gentileza, e não com agressividade! Isto é matéria para aprendizagem. Devemos receber treinamento para isto, como os cães são treinados para seguir a caça. Eis um tipo de experiência: o colega é elegante. Seu desejo é falar fervorosa­mente, mas também há de fazê-lo de maneira primorosa. Escre­veu um sermão muito bem preparado, e pôs em ordem suas ano­tações em cuidadoso esboço. Mas que pena! Deixou em casa o precioso documento. Que há de fazer? É demasiado polido paradesistir. Tentará falar. Começa bem e vai até o fim da primeira divisão. "Devagar se vai ao longe, caro senhor." Agora, o que vem? Vejam, ele ergue os olhos, à procura da segunda divisão. Que se deve dizer? Que se pode dizer? O bom homem se debate daqui e dali, mas não consegue nadar. Luta para alcançar a terra, e quando sai da água dá para ouvi-lo dizer mentalmente: "Essa é a minha última tentativa". Mas não é. Volta a falar. Vai ga­nhando confiança. Desenvolve-se e se torna orador que impres­siona bem. Humilhações como essas, porém, o Senhor prepara para ele a fim de que venha a realizar o seu trabalho com efi­ciência. No início da nossa carreira de pregadores, somos finos demais para sermos adequados, ou grandes demais para sermos bons. Precisamos servir de aprendizes para aprendermos o nosso ofício. O lápis é totalmente inútil, enquanto não for apontado. É preciso cortar o belo invólucro de cedro. Então o grafite interno que risca e escreve desempenhará bem a sua função.
irmãos, a navalha da aflição é afiada, mas salutar. Vocês não terão prazer nela, mas a fé poderá lhes ensinar a dar-lhe valor. Não estariam dispostos a passar por qualquer prova, se por algum meio possam salvar alguns? Se não for este o seu espírito, me­lhor seria ficarem em sua fazenda ou no seu comércio, pois sem estar disposto para sofrer tudo, dentro dos limites possíveis, ninguém jamais conquistará uma alma para Deus.
Quanto medo pode ser que se tenha de sofrer! Contudo, esse medo pode ajudar a comover a alma e a colocá-la na disposição certa para o trabalho. Ao menos, pode levar o coração a orar, e só isto já é grande parte do preparo necessário. Um bom homem descreve assim uma das suas primeiras tentativas de fazer visita com o propósito de falar pessoalmente com indivíduos a respeito da condição espiritual deles: "Enquanto caminhava para a resi­dência daquelas pessoas, ia pensando em como introduzir o as­sunto, e em tudo o que diria. E durante o percurso todo, estava tremendo e inquieto. Ao chegar à porta, foi como se eu fosse me afundar no meio das pedras. Foi embora a minha coragem. Erguendo a mão para a aldrava, ela caiu de novo, sem tocá-la. Afastei-me uns passos, de puro medo. Um momento de reflexão impulsionou-me de novo à aldrava, e entrei na casa. As frases que pronunciei e a oração que fiz foram muito entrecortadas. Mas estou muito grato, muito mesmo, pelo fato de que os meus temores e a minha covardia não prevaleceram. “O gelo foi que­brado"! Esse processo é natural e o seu resultado é altamente benéfico.
Ó pobres pecadores que desejam encontrar o Salvador! Jesus morreu por vocês, e agora Seu povo vive para vocês. Nós não podemos oferecer um sacrifício expiatório por vocês; não é pre­ciso que nós o façamos. Todavia, alegremente faríamos sacrifícios pelo bem das suas almas. “Vocês ouviram o que o nosso irmão aca­ba de dizer em sua oração: ''Faríamos qualquer coisa, seríamos qualquer coisa, daríamos qualquer coisa e sofreríamos qualquer coisa para podermos levar-lhes a Cristo". Afirmo-lhes que muitos de nós nos sentimos exatamente assim. Acaso não se preocupam consigo mesmos? Seremos nós zelosos quanto às suas almas, e irão vocês menosprezá-las? Sejam mais sábios, eu lhes peço que a sabedoria infinita os leve agora mesmo aos pés do nosso amado Salvador. Amém.
The Soul Winner 

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