domingo, 12 de junho de 2011

Os Puritanos - Erroll Hulse

Imagem cedida por: http://esquizofia.wordpress.com/2010/01/12/um-curso-desejante-para-van-gogh-2/


Em nossos dias, o termo Puritano é utilizado, em um sentido geral, para descrever aqueles que redescobriram as doutrinas bíblicas e as práticas dos Puritanos e procuram exemplificá-las na realidade do mundo contemporâneo. Embora não tenha seguido a prática Puritana de expor sistematicamente os livros da Bíblia, C. H. Spurgeon é reputado um Puritano nascido fora de tempo.

Os valores dos puritanos se tornam realidade no pastorado. O Puritanismo é uma realidade que se expressa na pregação e no cuidado pastoral realizados semanalmente. Muitos podem testemunhar a maravilhosa ajuda proporcionada pela redescoberta dos valores exemplificados pelos Puritanos. O encorajamento obtido é incalculável.É quase impossível negar que os Puritanos (usando a palavra no sentido amplo e inclusivo) se mostraram mais fortes naquilo que os evangélicos de nossos dias são mais fracos. E os escritos dos Puritanos podem fornecer mais ajuda do que qualquer outro grupo de ensinadores cristãos, do passado e do presente, desde os dias dos apóstolos. Esta é uma afirmação categórica, mas existe base sólida para ela. Considere as características do cristianismo Puritano.Eles eram homens de extraordinária capacidade intelectual, cujos hábitos mentais, fomentados pela elevada erudição, estavam unidos a zelo intenso para com Deus e a minuciosa familiaridade com o coração humano. Todas as obras dos Puritanos revelam esta fusão singular de dons e graça. A apreciação deles para com a soberana majestade de Deus era profunda, assim como o era a sua reverência em lidar com a Palavra de Deus. Eles entendiam os caminhos de Deus para com os homens, a glória de Cristo como Mediador e a obra do Espírito Santo no crente e na Igreja, de maneira tão rica e tão completa como ninguém mais os compreendeu desde a época deles. O conhecimento dos Puritanos não era apenas uma ortodoxia teórica. Eles procuravam “transformar em prática” (expressão deles mesmos) tudo o que Deus lhes ensinava. Sujeitavam sua consciência às Escrituras, disciplinando-se para encontrar uma justificação teológica, distinta de uma justificação apenas pragmática, para tudo o que faziam. 

Eles viam a família, a Igreja, o Estado, as artes e as ciências,o comércio e a indústria e o envolvimento das pessoas nestas diferentes circunstâncias como as diversas áreas nas quais o Senhor e Criador de todas as coisas poderia ser glorificado e servido.Então, conhecendo a Deus, os Puritanos também conheciam o homem. Eles o viam como um ser essencialmente nobre, criado à imagem de Deus, para governar o mundo, mas que agora está embrutecido e corrompido pelo pecado. À luz da lei, da santidade e do senhorio de Deus, os Puritanos viam o pecado em seu caráter tríplice: a) transgressão e culpa; b) rebelião e usurpação; c) impureza, corrupção e incapacidade para o bem. Vendo essas coisas e conhecendo (conforme eles conheciam) os caminhos e os meios pelos quais o Espírito Santo traz os pecadores à fé e à nova vida em Cristo e leva os santos a se tornarem mais e mais semelhantes à imagem de seu Salvador, por decrescerem em direção à humildade e crescerem na dependência da graça, os Puritanos se tornaram pastores excelentes em seu tempo. Por isso, eles podem, mesmo depois de mortos, ainda falar conosco, para nos oferecer orientação e direção.Nós, evangélicos, precisamos de ajuda. Enquanto os Puritanos exigiam ordem, disciplina, profundidade e inteireza, nosso temperamento é caracterizado por casualidade e impaciência inquietante. Temos um intenso desejo por novidades, coisas sensacionais e entretenimento. 

Temos perdido nosso prazer por estudo consistente, humilde auto-análise, meditação disciplinada e trabalho árduo e comum, em nossa vocação e nossas orações. Enquanto o Puritanismo tinha a Deus e a sua glória como o elemento que os unia, nossa maneira de pensar gira em torno de nós mesmos, como se fôssemos o centro do universo. A superficialidade de nosso biblicismo se torna aparente sempre que separamos as coisas que Deus uniu. Por conseguinte, nos preocupamos com o indivíduo, em vez de nos preocuparmos com a igreja; e nos preocupamos em falar, em vez de nos preocuparmos com a adoração. Ao evangelizarmos, pregamos o evangelho sem a Lei e a fé sem o arrependimento, enfatizando o dom da salvação e encobrindo o custo do discipulado. Não é de admirar que muitos dos que professam a conversão retornem à incredulidade.Então, ao ensinarmos a respeito da vida cristã, nosso costume é apresentá-la como um caminho de sentimentos comoventes, em vez de a apresentarmos como um andar de fé operante, e um caminho de intervenções sobrenaturais, em vez de um caminho de santidade racional. E, ao lidarmos com a experiência cristã, nos demoramos muito em falar constantemente sobre alegria, felicidade, satisfação e descanso da alma, sem qualquer menção equilibrada sobre o descontentamento espiritual de Romanos 7, a batalha da fé, de Salmos 73, ou sobre as responsabilidades e disciplinas providenciais que constituem o quinhão de um filho de Deus. A alegria espontânea do extrovertido chega a ser equiparada com o viver cristão saudável, e os extrovertidos joviais de nossas igrejas se tornam complacentes na carnalidade, enquanto as almas piedosas de temperamento menos extrovertido são deixadas de lado como anormais, porque não podem demonstrar alegria e entusiasmo de conformidade com a maneira prescrita. Eles consultam seu pastor a respeito desse assunto, mas ele não lhes pode oferecer melhor remédio do que dizer-lhes que procurem um psicanalista! Na verdade, precisamos de ajuda, e os Puritanos nos podem dar esta ajuda.Reconhecemos que não é o Puritanismo que encherá a terra. A verdade bíblica está destinada a encher a terra, como as águas cobrem o mar. Visto que o Puritanismo, no sentido popular e amplo, está muito próximo da verdade bíblica, não podemos falar de maneira tão pessimista a respeito de sua ruína. Spurgeon se referiu, em seus dias, àqueles que intentavam pintar mal as janelas da verdade e zombavam do Puritanismo. Mas virá o dia, afirmou Spurgeon, em que eles se envergonharão, ao contemplarem a luz do céu irrompendo uma vez mais. E isso tem acontecido!

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