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A resposta desta pergunta é “sim” e “não”. Sim, o calvinismo aniquila o evangelismo antibíblico centralizado no homem e alguns dos métodos antibíblicos e carnais empregados nesse tipo de evangelismo.
Não, o calvinismo não destrói o evangelismo centralizado em Deus, no qual os métodos bíblicos são utilizados na grande obra de cumprir o mais evidente mandamento de nosso Senhor.
Antes de falar sobre evangelismo e calvinismo, talvez seja prudente fazer alguns comentários gerais a respeito de conceitos errados sobre o calvinismo. Existem fanáticos a favor do calvinismo, assim como existem fanáticos contrários a ele. Este assunto nos apresenta indagações cruciais, importantes e imprescindíveis em nossos dias. Temos ouvido perguntas sinceras, especialmente da parte de seminaristas e pastores recém-ordenados.
Não há dúvida de que os fundadores e o corpo docente do primeiro seminário Batista do Sul, bem como a maioria dos primeiros pastores batistas, eram calvinistas, por comprometimento e experiência.
Os calvinistas não seguem João Calvino
Os princípios elementares dos dois grandes sistemas de teologia se encontram ou no calvinismo ou no arminianismo. Entretanto, estes sistemas teológicos existem desde muitos séculos antes de João Calvino haver nascido. Naquela época, eles eram chamados agostinianismo e pelagianismo, de acordo com os nomes dos homens que os definiam, no século V. Com justiça, o calvinismo poderia ser chamado de agostinianismo, e não significaria que estamos seguindo Agostinho em direção à Igreja Católica Romana; pelo contrário, significa que somos seguidores dos princípios de teologia que Agostinho ensinou. De fato, John A. Broadus, um grande batista do Sul, do século XX, estava certo quando declarou que este sistema de teologia retrocede ao apóstolo Paulo. Por isso, Broadus chamou o calvinismo de “aquele sublime sistema da verdade paulina”.
Calvino pode ter sido o homem que elaborou, pela primeira vez, aqueles princípios doutrinários em um sistema formal. Mas, como já dissemos, os princípios doutrinários não se originaram com João Calvino ou com Agostinho, e sim com o apóstolo Paulo. Por conseguinte, os calvinistas não seguem a João Calvino; pelo contrário, nos apegamos aos princípios doutrinários que ele formulou em um sistema de doutrina cristã. (Isto também é verdade a respeito do Credo dos Apóstolos. Esse credo não foi escrito pelos apóstolos. As verdades bíblicas do credo foram sistematizadas muitos anos depois que os apóstolos haviam partido para receber sua recompensa.) Conseqüentemente, cometemos um grave erro quando afirmamos ou deixamos implícito que somos seguidores de João Calvino. Não batizamos infantes, nem concordamos com a queima de hereges. Podemos dizer, com certeza, que, assim como o pelagianismo é o progenitor do arminianismo, assim também o paulinismo e o augustinianismo são os pais do calvinismo.
O fundamento doutrinário do calvinismo não é a predestinação
Além disso, o princípio doutrinário sobre o qual todo o calvinismo se alicerça não é a predestinação. Não. O ensino primário do calvinismo se fundamenta em um alicerce mais amplo, o ensino que podemos dizer (e não estamos exagerando em dizê-lo) refere-se à própria natureza e caráter de Deus. O único fundamento sobre o qual o calvinismo está edificado é a absoluta e ilimitada soberania de Deus. Na realidade, o calvinismo afirma e enfatiza a doutrina da soberania de Deus, sendo esta doutrina a fonte de onde fluem todos os outros princípios do ensino calvinista.
É importante entendermos que o calvinismo não está centralizado, primariamente, em sua doutrina de predestinação, considerada de maneira isolada. A predestinação é simplesmente o resultado ou a aplicação da soberania de Deus em referência à salvação. O calvinismo afirma que a soberania de Deus é suprema na salvação, assim como em todas as outras coisas.
Nossa herança calvinista
Ao considerarmos o nosso passado, em busca de nossa origem, não podemos esquecer alguns dos pais e líderes de nossa grande Convenção Batista do Sul que eram calvinistas firmes e comprometidos.
Por exemplo, considerem Basil Manly. Um historiador disse que Manly desempenhou a função de regente ao orquestrar os acontecimentos que resultaram na fundação de uma convenção batista conservadora. Manly elaborou uma resolução de seis pontos que levou à separação entre os batistas do Norte e os do Sul. Esta resolução foi “aprovada de pé e com unanimidade”. Basil Manly era um calvinista de primeira ordem.
Em um sermão intitulado “Eficácia Divina em Coerência com a Atividade Humana”, Manly disse a um grupo de pastores:
Não abandonemos a doutrina da atividade e da responsabilidade do homem ou a doutrina da soberania e da eficácia de Deus. Por que elas deveriam ser consideradas incoerentes? Ou por que deveriam aqueles que se apegam a uma se mostrar dispostos a duvidar, desacreditar ou rejeitar a outra? Manly continuou:
A grande razão.... por que a família cristã está dividida em dois lados, cada qual rejeitando uma ou outra destas grandes doutrinas, é que a doutrina da de- pendência do Ser Divino nos lança constantemente nas mãos e na misericórdia de Deus. O homem orgulhoso não gosta disso; ele prefere olhar para o outro lado do assunto; torna-se cego, em parte, por contemplar apenas um lado da verdade, e se esquece do Criador, em Quem ele vive, se move e tem sua existência.
Considere James P. Boyce, o principal fundador do primeiro seminário — (Seminário Teológico Batista do Sul — EUA). Muito depois da morte de Boyce, um de seus ex-alunos, Dr. David Ramsey, apresentou uma mensagem, no Dia dos Fundadores, em 11 de janeiro de 1924, intitulada “James Petigru Boyce, o Excelente Homem de Deus”. Poucas linhas desta mensagem do Dr. Ramsey nos mostrarão que Boyce era um calvinista comprometido e que, ao mesmo tempo, amava a alma dos homens.
Meu argumento é que nenhuma outra teologia, além da teologia caracterizada por um amor avassalador e consumidor para com os homens, explica James P. Boyce e seu ministério. Este amor apaixonado foi o elemento que direcionou seu modo de pensar naquelas primeiras conferências e na elaboração dos documentos que levaram ao estabelecimento do seminário. O propósito de ajudar seus colegas permeava todos os seus planos, sua conversa, seus escritos, sua pregação, seu ensino, assim como o filete escarlate permeia todas as cordas dos navios da marinha inglesa. Este zelo pelas almas exigiu o melhor do ser de Boyce, assim como o sol da manhã leva as flores e plantas carregadas de orvalho a se curvarem ao deus do dia.
O amor de Boyce por seus colegas era tal que, depois de sua morte, o rabino Moses, de Louisville, disse a respeito dele:
Antes de vir para Louisville, eu conhecia o cristianismo somente em livros. Foi por meio de homens como Boyce que aprendi a conhecer o cristianismo como uma força viva. Nesse homem, aprendi não somente a compreender, mas também a respeitar e a reverenciar o poder chamado cristianismo. Boyce não somente amava os homens, ele amava a Deus. Ramsey disse sobre este assunto:
Nosso pensamento deve envolver tanto o amor subjetivo como o objetivo: o amor do homem para com Deus e o amor de Deus para com o homem. O amigo íntimo de Boyce e co-fundador do seminário, John A. Broadus, expressou seus próprios sentimentos a respeito da teologia de Boyce, a qual chamamos calvinismo: ‘Foi um grande privilégio ser dirigido e instruído por um professor como Boyce, em estudar aquele sistema de verdade paulina que é tecnicamente chamada de calvinismo, que impulsiona um estudante sincero a pensar de maneira profunda; e, quando persuadido por meio de uma combinação de pensamento sistemático e experiência fervorosa, tal estudante é levado a sentir-se em casa entre os mais inspiradores e enobrecedores pontos de vistas sobre Deus e o universo que Ele criou.
O legado que Boyce nos outorgou é a teologia bíblica expressa na obra Abstract of Systematic Theology (Sumário de Teologia Sistemática), que não é nada mais do que o assunto de suas aulas — o puro calvinismo. Em defesa do calvinismo de Boyce, William A. Mueller, autor de A History of Southern Baptist Theological Seminary (Uma História do Seminário Batista do Sul), disse:
Como teólogo, o Dr. Boyce não tem medo de andar nos antigos caminhos. Ele é conservador e eminentemente bíblico. Dr. Boyce trata com grande imparcialidade aqueles cujos pontos de vista ele se recusa a aceitar, após discussão; mas, em seu ensino ele é resolutamente calvinista, seguindo o modelo dos antigos teólogos. Dr. Boyce procura esclarecer as dificuldades relacionadas a doutrinas tais como: Adão — o cabeça da raça humana, a eleição e a expiação; ele faz isso não para silenciar aqueles que apreciam a controvérsia, e sim para ajudar o investigador sincero.
O Rev. E. E. Folk, no jornal Baptist Reflector (Refletor Batista) comentou sobre as habilidades de Boyce e seus frutos como professor de teologia:
Você tinha de conhecer bem a sua própria teologia, pois, do contrário, não poderia descrevê-la perante o Dr. Boyce. E, embora os jovens alunos fossem, em sua maioria, arminianos, quando chegavam no seminário, poucos continuavam seguindo esta teologia, pois, estando sob o ministério do Dr. Boyce, muitos dos jovens alunos se convertiam às vigorosas opiniões calvinistas dele.
Boyce e Manly eram calvinistas convictos. E não eram os únicos. A teologia deles não era algo incomum nos primeiros dias do Southern Baptist Theological Seminary (Seminário Batista do Sul). W. B. Johnson, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul (EUA), era calvinista, assim como o eram R. B. C. Howell e Richard Fuller, segundo e terceiro presidentes da Convenção. B. H. Carroll, fundador do Seminário Batista do Sudoeste, em Fort Worth, Texas, também era calvinista. Patrick Hues Mell, presidente da Convenção Batista do Sul por 17 anos, foi um polêmico defensor do calvinismo, mais do que qualquer outra pessoa. A Sra. D. B. Fitzgerald, hóspede por vários anos na casa de Patrick H. Mell e membro da Igreja Anthioc (em Oglethorpe, Geórgia), da qual ele era o pastor, recorda os esforços iniciais de Mell na igreja:
Quando o Dr. Mell foi chamado para assumir o pastorado da igreja, esta se encontrava em triste estado de confusão. Ele disse que certos membros estavam se encaminhando ao arminianismo. O Dr. Mell amava demais a verdade, para respirar duas teologias distintas ao mesmo tempo. A igreja era batista e tinha de confessar doutrinas peculiares àquelas que a denominação lhe ensinava. Por isso, com aquela ousadia, clareza e vigor de linguagem que lhe eram característicos, o Dr. Mell pregava aos membros da igreja as doutrinas da predestinação, eleição, graça soberana, etc. Ele disse que seu dever era pregar a verdade sempre, conforme a encontrava na Palavra de Deus, e parar nesse ponto, sentindo que Deus cuidaria dos resultados (The Life of Patrick Hues Mell, p. 59).
Eu poderia continuar citando nomes e trechos de biografias de fundadores de nossa denominação que eram calvinistas comprometidos, bem como firmes na evangelização. Citarei apenas mais um nome: o Dr. J.A.Broadus, um grande pregador e um dos fundadores de nosso seminário. Ele disse:
Aqueles que escarnecem do que chamamos calvinismo poderiam também escarnecer do Mont Blanc. Não estamos obrigados a defender todas as opiniões e atitudes de Calvino; todavia, não posso entender como alguém que compreende o grego do apóstolo Paulo ou o latim de Calvino ou de Turretin pode deixar de ver que estes apenas interpretaram e formularam, de modo concreto, aquilo que os apóstolos ensinaram.
Desejo resumir mencionando cinco coisas que não identificam o calvinismo:
1. O calvinismo não é antimis-sionário; pelo contrário, fornece o alicerce bíblico para missões (Jo 6.37; 17.20-21; 2 Tm 2.10; Is 55.10; 2 Pe 3.9,15).
2. O calvinismo não elimina a responsabilidade do homem. Os homens são responsáveis pela luz que têm, quer seja a consciência (Rm 2.15), quer seja a natureza (Rm 1.19-20), quer seja a Lei escrita (Rm 2.17-27), quer seja o evangelho (Mc 16.15-16). A incapacidade do homem para fazer o que é reto não o isenta de responsabilidade, assim como a incapacidade de Satanás para fazer o que é reto também não o deixa livre de responsabilidade.
3. O calvinismo não torna Deus injusto. Conceder a bênção da salvação para inúmeros pecadores indignos não é uma injustiça da parte dEle para com o demais pecadores indignos. Se um governador perdoa um criminoso culpado, está cometendo injustiça para com os demais? (1 Ts 5.9.)
4. O calvinismo não desanima os pecadores convictos; em vez disso, lhes dá bons motivos para virem a Cristo. “Aquele que tem sede venha” (Ap 22.17). O Deus que convence é o Deus que salva. O Deus que salva é o mesmo que escolheu homens para a salvação e que os convida a desfrutar da salvação.
5. O calvinismo não desencoraja a prática da oração. Pelo contrário, o calvinismo nos motiva a buscar a Deus, visto que Ele é o único que nos pode salvar. A verdadeira oração é um impulso do Espírito Santo e, por esta razão, estará em harmonia com a vontade de Deus (Rm 8.16).
O calvinismo tem caracterizado os batistas autênticos, em sua história. De modo contrário ao movimento liberal, ao movimento carismático, bem como ao dispen-sacionalismo e ao movimento de Keswick, o calvinismo é o único sobre o qual podemos afirmar que é endêmico à história, ao ensino e à herança dos batistas. Até ao presente século, com seu pragmatismo, os batistas do Sul e seus antecessores sempre foram calvinistas. O ressurgimento do calvinismo em nossos dias é apenas um esforço para restaurar nossa antiga teologia, que produzirá um resultado profundo em nosso evangelismo.
Que relação existe entre o calvinismo e o evangelismo?
Primeiramente, devemos saber o que é o evangelismo. O evangelismo é a comunicação da mensagem divina e inspirada que chamamos evangelho. É uma mensagem que pode ser definida em palavras, mas tem de ser comunicada com autoridade e poder. “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5).
O evangelho informa como Deus, nosso Criador e Juiz, tornou seu Filho um Salvador de pecadores, perfeito e disposto. O convite do evangelho declara que Deus convida os homens a virem ao Salvador, com fé e arrependimento, e encontrarem perdão, vida e paz. E este é mandamento de Deus: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amemos uns aos outros, conforme Ele nos ordenou (1 Jo 3.23). Jesus disse: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.29).
Eis uma definição de evangelizar:
“Apresentar o Filho de Deus aos homens pecadores, a fim de que ponham sua confiança em Deus, por intermédio de Cristo, e O recebam como seu Senhor e Salvador, para servi-Lo como seu Rei, na comunhão de sua igreja”. Você deve observar que esta definição inclui a Igreja.
O evangelismo precisa ter um alicerce doutrinário
O alicerce doutrinário do evangelismo bíblico é tão importante à evangelização como o esqueleto o é para o corpo humano. A doutrina proporciona unidade e firmeza. O alicerce doutrinário produz o vigor espiritual que torna o evangelismo capaz de suportar as tempestades de oposição, sofrimento e perseguição que, com freqüência, acompanham o verdadeiro evangelismo e missões. Por conseguinte, a igreja que negligencia o verdadeiro alicerce do evangelismo bíblico logo descobrirá que seus esforços perderam o vigor e surgirão conversões falsas. A falta de um alicerce doutrinário prejudicará a unidade da igreja e abrirá as portas ao erro e à instabilidade em todos os esforços evangelísticos. Faltam-nos palavras para exaltarmos a importância de um alicerce bíblico e ortodoxo no evangelismo autêntico, centralizado em Deus.
A doutrina molda o nosso destino. No presente, estamos colhendo os frutos de um evangelismo que não se fundamenta nas Escrituras. O grande apóstolo Paulo, instruindo um jovem pastor a realizar a obra de um evangelista, disse-lhe que a doutrina (o ensino) é o propósito primordial das Escrituras — “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino” (2 Tm 3.16). O evangelismo sem um alicerce doutrinário é uma casa edificada sobre a areia (Mt 7.24-26). É semelhante a galhos sem raízes, cortados e lançados no chão; eles murcharão e morrerão. O calvinismo possui alicerces doutrinários para o evangelismo.
O alicerce doutrinário do evangelismo centralizado em Deus assegura o seu sucesso. Primeiramente, porque Deus, o Pai, tem algumas pessoas que são eleitas:
a. João 13.18 — “Eu conheço aqueles que escolhi”;
b. João 15.16 — “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”;
c. Efésios 1.4 — “Assim como nos escolheu, nele”;
d. 2 Tessalonicenses 2.13 — “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”.
e. João 6.37,39,44,64,65 — “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim.... E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu.... Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.
Isto me parece uma garantia de sucesso!
A segunda garantia de sucesso encontra-se no fato de que Deus, o Pai, deu ao seu Filho, o grande Pastor, algumas ovelhas; e o grande Pastor fez expiação em favor das ovelhas que o Pai Lhe deu.
A expiação sobre a qual falamos foi planejada — a cruz não foi um acidente. Deus a planejou. Ele não estava dormindo, nem foi apanhado de surpresa pelos eventos que culminaram na cruz. Deus tinha um plano imutável, inalterável, que estava sendo realizado. O apóstolo Pedro declarou em sua primeira mensagem: “Sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23).
Os apóstolos não somente proclamaram esta verdade, mas também oraram a respeito dela. Escute a oração deles: “Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra” (At 4.27-29). Na cruz, Deus estava sendo o mestre de cerimônias.
Jesus também ensinou que Deus, o Pai, tinha um plano imutável, inalterável, e poder para executá-lo.
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.38-39). “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas” (Jo 10.14).
Jesus deixou claro o motivo por que alguns não crêem nEle. Você já se perguntou por que algumas pessoas não crêem? Jesus responde esta pergunta: “Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10.26).
Ele descreveu duas características de suas ovelhas: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz [disposição de conhecer a vontade dEle]; eu as conheço, e elas me seguem [disposição de fazer a vontade dEle]” (Jo 10.27).
A verdade de que a expiação se realizou especificamente em favor das ovelhas está em João 17. Veja estas palavras da oração de Jesus:
“Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”; “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.2, 9,24).
Este ponto de vista sobre o alcance da expiação torna a cruz um lugar de vitória, pois aquilo que o Pai planejou, o Filho adquiriu e orou em seu favor. Isso está em harmonia com a grande declaração contida na profecia messiânica referente a vinda de Jesus: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Is 53.11).
Jesus ensinou esta mesma verdade em João 6.37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. Jesus não disse que eles talvez virão; que seria ótimo se viessem; que, se decidirem, eles virão; pelo contrário, Jesus declarou: Eles virão. Este é um elemento importante na mensagem da cruz, a mensagem de nosso evangelismo. Significa que a morte de Cristo não foi em vão. Pelo contrário, esta verdade nos diz que todos aqueles em favor dos quais Cristo morreu, para salvá-los, esses virão a Ele. É interessante observar que, ao anunciar a José o nascimento de Jesus, o anjo foi diretamente neste ponto: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
Observe que o anjo afirmou: “Salvará o seu povo”. Ele não disse: “Cada pessoa”, e sim: “O seu povo” — as ovelhas.
Deus usou o fato de que tinha algumas pessoas, algumas ovelhas, para estimular a evangelização da ímpia cidade de Corinto. O grande apóstolo estava com receio de ir a Corinto, e Deus o encorajou, dizendo: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (At 18.9,10).
1. A vinda de Cristo ocorreu em favor de seu povo — “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
2. Seu pagamento na cruz se deu em favor das ovelhas — seu povo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.... Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.11,14,15).
3. Jesus orou em favor de todos aqueles que o Pai Lhe deu: “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.2,9).
Esta é a mensagem da cruz que você tem ouvido? É a mensagem de um Cristo cuja morte não foi em vão e que cumprirá tudo que foi planejado? Ou você ouviu uma mensagem de um Jesus insignificante, impotente, patético e, às vezes, efeminado, que tornou a salvação possível e está assentado, passivamente, esperando, para ver o que os pecadores farão com Ele?
Isto não é apenas uma ênfase diferente. É uma mensagem evangelística de conteúdo diferente. O evangelho bíblico está centralizado em Deus, honra a Deus e abençoa os pecadores. O evangelismo centralizado em Deus possui um alicerce doutrinário que lhe garante eficácia. Se o seu conceito a respeito do calvinismo destrói o evangelismo, ofereço-lhe a sugestão de que examine seu entendimento e estude os seguintes livros: Evangelismo e Soberania de Deus, escrito por J. I. Packer (Editora PES, São Paulo - SP); O Evangelho de Hoje — Autêntico ou Sintético (Editora Fiel, São José dos Campos - SP), escrito por Walter Chantry.
FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=155
Não, o calvinismo não destrói o evangelismo centralizado em Deus, no qual os métodos bíblicos são utilizados na grande obra de cumprir o mais evidente mandamento de nosso Senhor.
Antes de falar sobre evangelismo e calvinismo, talvez seja prudente fazer alguns comentários gerais a respeito de conceitos errados sobre o calvinismo. Existem fanáticos a favor do calvinismo, assim como existem fanáticos contrários a ele. Este assunto nos apresenta indagações cruciais, importantes e imprescindíveis em nossos dias. Temos ouvido perguntas sinceras, especialmente da parte de seminaristas e pastores recém-ordenados.
Não há dúvida de que os fundadores e o corpo docente do primeiro seminário Batista do Sul, bem como a maioria dos primeiros pastores batistas, eram calvinistas, por comprometimento e experiência.
Os calvinistas não seguem João Calvino
Os princípios elementares dos dois grandes sistemas de teologia se encontram ou no calvinismo ou no arminianismo. Entretanto, estes sistemas teológicos existem desde muitos séculos antes de João Calvino haver nascido. Naquela época, eles eram chamados agostinianismo e pelagianismo, de acordo com os nomes dos homens que os definiam, no século V. Com justiça, o calvinismo poderia ser chamado de agostinianismo, e não significaria que estamos seguindo Agostinho em direção à Igreja Católica Romana; pelo contrário, significa que somos seguidores dos princípios de teologia que Agostinho ensinou. De fato, John A. Broadus, um grande batista do Sul, do século XX, estava certo quando declarou que este sistema de teologia retrocede ao apóstolo Paulo. Por isso, Broadus chamou o calvinismo de “aquele sublime sistema da verdade paulina”.
Calvino pode ter sido o homem que elaborou, pela primeira vez, aqueles princípios doutrinários em um sistema formal. Mas, como já dissemos, os princípios doutrinários não se originaram com João Calvino ou com Agostinho, e sim com o apóstolo Paulo. Por conseguinte, os calvinistas não seguem a João Calvino; pelo contrário, nos apegamos aos princípios doutrinários que ele formulou em um sistema de doutrina cristã. (Isto também é verdade a respeito do Credo dos Apóstolos. Esse credo não foi escrito pelos apóstolos. As verdades bíblicas do credo foram sistematizadas muitos anos depois que os apóstolos haviam partido para receber sua recompensa.) Conseqüentemente, cometemos um grave erro quando afirmamos ou deixamos implícito que somos seguidores de João Calvino. Não batizamos infantes, nem concordamos com a queima de hereges. Podemos dizer, com certeza, que, assim como o pelagianismo é o progenitor do arminianismo, assim também o paulinismo e o augustinianismo são os pais do calvinismo.
O fundamento doutrinário do calvinismo não é a predestinação
Além disso, o princípio doutrinário sobre o qual todo o calvinismo se alicerça não é a predestinação. Não. O ensino primário do calvinismo se fundamenta em um alicerce mais amplo, o ensino que podemos dizer (e não estamos exagerando em dizê-lo) refere-se à própria natureza e caráter de Deus. O único fundamento sobre o qual o calvinismo está edificado é a absoluta e ilimitada soberania de Deus. Na realidade, o calvinismo afirma e enfatiza a doutrina da soberania de Deus, sendo esta doutrina a fonte de onde fluem todos os outros princípios do ensino calvinista.
É importante entendermos que o calvinismo não está centralizado, primariamente, em sua doutrina de predestinação, considerada de maneira isolada. A predestinação é simplesmente o resultado ou a aplicação da soberania de Deus em referência à salvação. O calvinismo afirma que a soberania de Deus é suprema na salvação, assim como em todas as outras coisas.
Nossa herança calvinista
Ao considerarmos o nosso passado, em busca de nossa origem, não podemos esquecer alguns dos pais e líderes de nossa grande Convenção Batista do Sul que eram calvinistas firmes e comprometidos.
Por exemplo, considerem Basil Manly. Um historiador disse que Manly desempenhou a função de regente ao orquestrar os acontecimentos que resultaram na fundação de uma convenção batista conservadora. Manly elaborou uma resolução de seis pontos que levou à separação entre os batistas do Norte e os do Sul. Esta resolução foi “aprovada de pé e com unanimidade”. Basil Manly era um calvinista de primeira ordem.
Em um sermão intitulado “Eficácia Divina em Coerência com a Atividade Humana”, Manly disse a um grupo de pastores:
Não abandonemos a doutrina da atividade e da responsabilidade do homem ou a doutrina da soberania e da eficácia de Deus. Por que elas deveriam ser consideradas incoerentes? Ou por que deveriam aqueles que se apegam a uma se mostrar dispostos a duvidar, desacreditar ou rejeitar a outra? Manly continuou:
A grande razão.... por que a família cristã está dividida em dois lados, cada qual rejeitando uma ou outra destas grandes doutrinas, é que a doutrina da de- pendência do Ser Divino nos lança constantemente nas mãos e na misericórdia de Deus. O homem orgulhoso não gosta disso; ele prefere olhar para o outro lado do assunto; torna-se cego, em parte, por contemplar apenas um lado da verdade, e se esquece do Criador, em Quem ele vive, se move e tem sua existência.
Considere James P. Boyce, o principal fundador do primeiro seminário — (Seminário Teológico Batista do Sul — EUA). Muito depois da morte de Boyce, um de seus ex-alunos, Dr. David Ramsey, apresentou uma mensagem, no Dia dos Fundadores, em 11 de janeiro de 1924, intitulada “James Petigru Boyce, o Excelente Homem de Deus”. Poucas linhas desta mensagem do Dr. Ramsey nos mostrarão que Boyce era um calvinista comprometido e que, ao mesmo tempo, amava a alma dos homens.
Meu argumento é que nenhuma outra teologia, além da teologia caracterizada por um amor avassalador e consumidor para com os homens, explica James P. Boyce e seu ministério. Este amor apaixonado foi o elemento que direcionou seu modo de pensar naquelas primeiras conferências e na elaboração dos documentos que levaram ao estabelecimento do seminário. O propósito de ajudar seus colegas permeava todos os seus planos, sua conversa, seus escritos, sua pregação, seu ensino, assim como o filete escarlate permeia todas as cordas dos navios da marinha inglesa. Este zelo pelas almas exigiu o melhor do ser de Boyce, assim como o sol da manhã leva as flores e plantas carregadas de orvalho a se curvarem ao deus do dia.
O amor de Boyce por seus colegas era tal que, depois de sua morte, o rabino Moses, de Louisville, disse a respeito dele:
Antes de vir para Louisville, eu conhecia o cristianismo somente em livros. Foi por meio de homens como Boyce que aprendi a conhecer o cristianismo como uma força viva. Nesse homem, aprendi não somente a compreender, mas também a respeitar e a reverenciar o poder chamado cristianismo. Boyce não somente amava os homens, ele amava a Deus. Ramsey disse sobre este assunto:
Nosso pensamento deve envolver tanto o amor subjetivo como o objetivo: o amor do homem para com Deus e o amor de Deus para com o homem. O amigo íntimo de Boyce e co-fundador do seminário, John A. Broadus, expressou seus próprios sentimentos a respeito da teologia de Boyce, a qual chamamos calvinismo: ‘Foi um grande privilégio ser dirigido e instruído por um professor como Boyce, em estudar aquele sistema de verdade paulina que é tecnicamente chamada de calvinismo, que impulsiona um estudante sincero a pensar de maneira profunda; e, quando persuadido por meio de uma combinação de pensamento sistemático e experiência fervorosa, tal estudante é levado a sentir-se em casa entre os mais inspiradores e enobrecedores pontos de vistas sobre Deus e o universo que Ele criou.
O legado que Boyce nos outorgou é a teologia bíblica expressa na obra Abstract of Systematic Theology (Sumário de Teologia Sistemática), que não é nada mais do que o assunto de suas aulas — o puro calvinismo. Em defesa do calvinismo de Boyce, William A. Mueller, autor de A History of Southern Baptist Theological Seminary (Uma História do Seminário Batista do Sul), disse:
Como teólogo, o Dr. Boyce não tem medo de andar nos antigos caminhos. Ele é conservador e eminentemente bíblico. Dr. Boyce trata com grande imparcialidade aqueles cujos pontos de vista ele se recusa a aceitar, após discussão; mas, em seu ensino ele é resolutamente calvinista, seguindo o modelo dos antigos teólogos. Dr. Boyce procura esclarecer as dificuldades relacionadas a doutrinas tais como: Adão — o cabeça da raça humana, a eleição e a expiação; ele faz isso não para silenciar aqueles que apreciam a controvérsia, e sim para ajudar o investigador sincero.
O Rev. E. E. Folk, no jornal Baptist Reflector (Refletor Batista) comentou sobre as habilidades de Boyce e seus frutos como professor de teologia:
Você tinha de conhecer bem a sua própria teologia, pois, do contrário, não poderia descrevê-la perante o Dr. Boyce. E, embora os jovens alunos fossem, em sua maioria, arminianos, quando chegavam no seminário, poucos continuavam seguindo esta teologia, pois, estando sob o ministério do Dr. Boyce, muitos dos jovens alunos se convertiam às vigorosas opiniões calvinistas dele.
Boyce e Manly eram calvinistas convictos. E não eram os únicos. A teologia deles não era algo incomum nos primeiros dias do Southern Baptist Theological Seminary (Seminário Batista do Sul). W. B. Johnson, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul (EUA), era calvinista, assim como o eram R. B. C. Howell e Richard Fuller, segundo e terceiro presidentes da Convenção. B. H. Carroll, fundador do Seminário Batista do Sudoeste, em Fort Worth, Texas, também era calvinista. Patrick Hues Mell, presidente da Convenção Batista do Sul por 17 anos, foi um polêmico defensor do calvinismo, mais do que qualquer outra pessoa. A Sra. D. B. Fitzgerald, hóspede por vários anos na casa de Patrick H. Mell e membro da Igreja Anthioc (em Oglethorpe, Geórgia), da qual ele era o pastor, recorda os esforços iniciais de Mell na igreja:
Quando o Dr. Mell foi chamado para assumir o pastorado da igreja, esta se encontrava em triste estado de confusão. Ele disse que certos membros estavam se encaminhando ao arminianismo. O Dr. Mell amava demais a verdade, para respirar duas teologias distintas ao mesmo tempo. A igreja era batista e tinha de confessar doutrinas peculiares àquelas que a denominação lhe ensinava. Por isso, com aquela ousadia, clareza e vigor de linguagem que lhe eram característicos, o Dr. Mell pregava aos membros da igreja as doutrinas da predestinação, eleição, graça soberana, etc. Ele disse que seu dever era pregar a verdade sempre, conforme a encontrava na Palavra de Deus, e parar nesse ponto, sentindo que Deus cuidaria dos resultados (The Life of Patrick Hues Mell, p. 59).
Eu poderia continuar citando nomes e trechos de biografias de fundadores de nossa denominação que eram calvinistas comprometidos, bem como firmes na evangelização. Citarei apenas mais um nome: o Dr. J.A.Broadus, um grande pregador e um dos fundadores de nosso seminário. Ele disse:
Aqueles que escarnecem do que chamamos calvinismo poderiam também escarnecer do Mont Blanc. Não estamos obrigados a defender todas as opiniões e atitudes de Calvino; todavia, não posso entender como alguém que compreende o grego do apóstolo Paulo ou o latim de Calvino ou de Turretin pode deixar de ver que estes apenas interpretaram e formularam, de modo concreto, aquilo que os apóstolos ensinaram.
Desejo resumir mencionando cinco coisas que não identificam o calvinismo:
1. O calvinismo não é antimis-sionário; pelo contrário, fornece o alicerce bíblico para missões (Jo 6.37; 17.20-21; 2 Tm 2.10; Is 55.10; 2 Pe 3.9,15).
2. O calvinismo não elimina a responsabilidade do homem. Os homens são responsáveis pela luz que têm, quer seja a consciência (Rm 2.15), quer seja a natureza (Rm 1.19-20), quer seja a Lei escrita (Rm 2.17-27), quer seja o evangelho (Mc 16.15-16). A incapacidade do homem para fazer o que é reto não o isenta de responsabilidade, assim como a incapacidade de Satanás para fazer o que é reto também não o deixa livre de responsabilidade.
3. O calvinismo não torna Deus injusto. Conceder a bênção da salvação para inúmeros pecadores indignos não é uma injustiça da parte dEle para com o demais pecadores indignos. Se um governador perdoa um criminoso culpado, está cometendo injustiça para com os demais? (1 Ts 5.9.)
4. O calvinismo não desanima os pecadores convictos; em vez disso, lhes dá bons motivos para virem a Cristo. “Aquele que tem sede venha” (Ap 22.17). O Deus que convence é o Deus que salva. O Deus que salva é o mesmo que escolheu homens para a salvação e que os convida a desfrutar da salvação.
5. O calvinismo não desencoraja a prática da oração. Pelo contrário, o calvinismo nos motiva a buscar a Deus, visto que Ele é o único que nos pode salvar. A verdadeira oração é um impulso do Espírito Santo e, por esta razão, estará em harmonia com a vontade de Deus (Rm 8.16).
O calvinismo tem caracterizado os batistas autênticos, em sua história. De modo contrário ao movimento liberal, ao movimento carismático, bem como ao dispen-sacionalismo e ao movimento de Keswick, o calvinismo é o único sobre o qual podemos afirmar que é endêmico à história, ao ensino e à herança dos batistas. Até ao presente século, com seu pragmatismo, os batistas do Sul e seus antecessores sempre foram calvinistas. O ressurgimento do calvinismo em nossos dias é apenas um esforço para restaurar nossa antiga teologia, que produzirá um resultado profundo em nosso evangelismo.
Que relação existe entre o calvinismo e o evangelismo?
Primeiramente, devemos saber o que é o evangelismo. O evangelismo é a comunicação da mensagem divina e inspirada que chamamos evangelho. É uma mensagem que pode ser definida em palavras, mas tem de ser comunicada com autoridade e poder. “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5).
O evangelho informa como Deus, nosso Criador e Juiz, tornou seu Filho um Salvador de pecadores, perfeito e disposto. O convite do evangelho declara que Deus convida os homens a virem ao Salvador, com fé e arrependimento, e encontrarem perdão, vida e paz. E este é mandamento de Deus: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amemos uns aos outros, conforme Ele nos ordenou (1 Jo 3.23). Jesus disse: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.29).
Eis uma definição de evangelizar:
“Apresentar o Filho de Deus aos homens pecadores, a fim de que ponham sua confiança em Deus, por intermédio de Cristo, e O recebam como seu Senhor e Salvador, para servi-Lo como seu Rei, na comunhão de sua igreja”. Você deve observar que esta definição inclui a Igreja.
O evangelismo precisa ter um alicerce doutrinário
O alicerce doutrinário do evangelismo bíblico é tão importante à evangelização como o esqueleto o é para o corpo humano. A doutrina proporciona unidade e firmeza. O alicerce doutrinário produz o vigor espiritual que torna o evangelismo capaz de suportar as tempestades de oposição, sofrimento e perseguição que, com freqüência, acompanham o verdadeiro evangelismo e missões. Por conseguinte, a igreja que negligencia o verdadeiro alicerce do evangelismo bíblico logo descobrirá que seus esforços perderam o vigor e surgirão conversões falsas. A falta de um alicerce doutrinário prejudicará a unidade da igreja e abrirá as portas ao erro e à instabilidade em todos os esforços evangelísticos. Faltam-nos palavras para exaltarmos a importância de um alicerce bíblico e ortodoxo no evangelismo autêntico, centralizado em Deus.
A doutrina molda o nosso destino. No presente, estamos colhendo os frutos de um evangelismo que não se fundamenta nas Escrituras. O grande apóstolo Paulo, instruindo um jovem pastor a realizar a obra de um evangelista, disse-lhe que a doutrina (o ensino) é o propósito primordial das Escrituras — “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino” (2 Tm 3.16). O evangelismo sem um alicerce doutrinário é uma casa edificada sobre a areia (Mt 7.24-26). É semelhante a galhos sem raízes, cortados e lançados no chão; eles murcharão e morrerão. O calvinismo possui alicerces doutrinários para o evangelismo.
O alicerce doutrinário do evangelismo centralizado em Deus assegura o seu sucesso. Primeiramente, porque Deus, o Pai, tem algumas pessoas que são eleitas:
a. João 13.18 — “Eu conheço aqueles que escolhi”;
b. João 15.16 — “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”;
c. Efésios 1.4 — “Assim como nos escolheu, nele”;
d. 2 Tessalonicenses 2.13 — “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”.
e. João 6.37,39,44,64,65 — “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim.... E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu.... Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.
Isto me parece uma garantia de sucesso!
A segunda garantia de sucesso encontra-se no fato de que Deus, o Pai, deu ao seu Filho, o grande Pastor, algumas ovelhas; e o grande Pastor fez expiação em favor das ovelhas que o Pai Lhe deu.
A expiação sobre a qual falamos foi planejada — a cruz não foi um acidente. Deus a planejou. Ele não estava dormindo, nem foi apanhado de surpresa pelos eventos que culminaram na cruz. Deus tinha um plano imutável, inalterável, que estava sendo realizado. O apóstolo Pedro declarou em sua primeira mensagem: “Sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23).
Os apóstolos não somente proclamaram esta verdade, mas também oraram a respeito dela. Escute a oração deles: “Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra” (At 4.27-29). Na cruz, Deus estava sendo o mestre de cerimônias.
Jesus também ensinou que Deus, o Pai, tinha um plano imutável, inalterável, e poder para executá-lo.
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.38-39). “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas” (Jo 10.14).
Jesus deixou claro o motivo por que alguns não crêem nEle. Você já se perguntou por que algumas pessoas não crêem? Jesus responde esta pergunta: “Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10.26).
Ele descreveu duas características de suas ovelhas: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz [disposição de conhecer a vontade dEle]; eu as conheço, e elas me seguem [disposição de fazer a vontade dEle]” (Jo 10.27).
A verdade de que a expiação se realizou especificamente em favor das ovelhas está em João 17. Veja estas palavras da oração de Jesus:
“Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”; “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.2, 9,24).
Este ponto de vista sobre o alcance da expiação torna a cruz um lugar de vitória, pois aquilo que o Pai planejou, o Filho adquiriu e orou em seu favor. Isso está em harmonia com a grande declaração contida na profecia messiânica referente a vinda de Jesus: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Is 53.11).
Jesus ensinou esta mesma verdade em João 6.37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. Jesus não disse que eles talvez virão; que seria ótimo se viessem; que, se decidirem, eles virão; pelo contrário, Jesus declarou: Eles virão. Este é um elemento importante na mensagem da cruz, a mensagem de nosso evangelismo. Significa que a morte de Cristo não foi em vão. Pelo contrário, esta verdade nos diz que todos aqueles em favor dos quais Cristo morreu, para salvá-los, esses virão a Ele. É interessante observar que, ao anunciar a José o nascimento de Jesus, o anjo foi diretamente neste ponto: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
Observe que o anjo afirmou: “Salvará o seu povo”. Ele não disse: “Cada pessoa”, e sim: “O seu povo” — as ovelhas.
Deus usou o fato de que tinha algumas pessoas, algumas ovelhas, para estimular a evangelização da ímpia cidade de Corinto. O grande apóstolo estava com receio de ir a Corinto, e Deus o encorajou, dizendo: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (At 18.9,10).
1. A vinda de Cristo ocorreu em favor de seu povo — “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
2. Seu pagamento na cruz se deu em favor das ovelhas — seu povo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.... Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.11,14,15).
3. Jesus orou em favor de todos aqueles que o Pai Lhe deu: “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.2,9).
Esta é a mensagem da cruz que você tem ouvido? É a mensagem de um Cristo cuja morte não foi em vão e que cumprirá tudo que foi planejado? Ou você ouviu uma mensagem de um Jesus insignificante, impotente, patético e, às vezes, efeminado, que tornou a salvação possível e está assentado, passivamente, esperando, para ver o que os pecadores farão com Ele?
Isto não é apenas uma ênfase diferente. É uma mensagem evangelística de conteúdo diferente. O evangelho bíblico está centralizado em Deus, honra a Deus e abençoa os pecadores. O evangelismo centralizado em Deus possui um alicerce doutrinário que lhe garante eficácia. Se o seu conceito a respeito do calvinismo destrói o evangelismo, ofereço-lhe a sugestão de que examine seu entendimento e estude os seguintes livros: Evangelismo e Soberania de Deus, escrito por J. I. Packer (Editora PES, São Paulo - SP); O Evangelho de Hoje — Autêntico ou Sintético (Editora Fiel, São José dos Campos - SP), escrito por Walter Chantry.
FONTE: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=155
Amigo, acho bonita sua tentativa de comparar os antigos puritanos aos pentecostais da Assembléia.Porém há uma diferença enorme.Os pentecostais são arminianos, o que quer dizer que no fundo acreditam numa salvação pelos esforços das obras.
ResponderExcluirAmigo Samuel, a paz! nem todos os Assembleianos são arminianos. Eu sou Calvinista e conheço também muitos que são.
ResponderExcluirMuito Bom!
ResponderExcluirO pentecostalismo se tornou uma tragédia: milhões de pessoas conhecem, aderem e, após conhecer por dentro, desgostam e abandonam a fé ! Conheço milhares nesta condição, mas, ainda não conheci um ex-presbiteriano e muito menos, um ex-católico !
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