quinta-feira, 30 de junho de 2011

História do Apóstolo Felipe (doze Homens e uma missão)

Imagem cedida por: http://ecclesiam-suam.blogspot.com/2011/05/sao-felipe-e-sao-tiago-menor-apostolos.html

Filipe

"Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta."
João 14.8

Antes de se iniciar uma investigação da vida do apóstolo Filipe, é interessante estabelecer uma clara distinção entre o discípulo de Cristo e seus homônimos encontrados no Novo Testamento, es­pecialmente por que um deles destacou-se sobremodo na Igreja primitiva, sendo por vezes confundido com o apóstolo.
Filipe era um nome de origem gentílica relativamente comum em regiões de forte influência grega como a Galiléia. Seu significado — amante de cava­los— deriva da associação das palavras gregas Filos e Hippos.
São estes, pois, os demais Filipes encontrados no Novo Testamento.
-  Filipe, filho de Herodes, o Grande, e marido de Herodias. Deserdado pelo pai, passa sua vida na obscuridade em Roma. O adultério de sua mulher com seu meio-irmão Herodes Antipas, Tetrarca da Galiléia, torna-se público em Israel (Mt 14.3, Mc 6.17, Ix 3.19);
- Filipe, Tetrarca da Ituréia, outro descendente da casa de Herodes, o Grande (Lc3.1);
-  Filipe, um dos sete diáconos da Igreja de Jerusalém. Tradicionalmente conhecido como Filipe, o Evangelista (At 6.5, 8.5-40, 21.8-9)

O outro apóstolo Filipe
Não raro, muitos leitores têm confundido o último personagem supracitado com o discípulo diretamente vocacionado por Jesus. Esse equí­voco se deve, em parte, à considerável projeção alcançada pelo evangelista de Atos dos Apóstolos, em suas prósperas campanhas missionárias, assim como à pouca atenção das Escrituras ao apóstolo cuja vida enfocaremos neste capítulo.
Filipe, o Evangelista - que não compunha o rol dos doze discípulos - entra em cena num momento em que a Igreja de Jerusalém se de­batia com a delicada questão da discriminação sofrida por judeus-cristãos, de língua grega e provenientes da Diáspora, também conheci­dos como helenistas. De acordo com a narrati­va de Atos 6.1-6, as viúvas dos crentes judeus de origem grega estavam sendo esquecidas na contribuição diária. Seus benefícios eram, então, revertidos inteiramente em «... • prol das viúvas dos judeus palestinos. Diante da possibilidade de uma divisão sem precedentes na Igreja, os doze sugeriram à con­gregação local a escolha de sete varões cheios do Espírito Santo e de sabedoria, que pudessem solucionar aquela questão de cunho adminis­trativo, enquanto eles próprios se dedicariam exclusivamente ao ensino e a pregação da Pa­lavra. Frank Stagg, em sua obra O Livro de Atos (p.90-91) analisa sob uma ótica altamen­te crítica a postura dos doze diante desse impasse, ao mesmo tempo em que vislumbra em Filipe, o Evangelista, e Estevão o raiar de um cristianismo definitivamente rompido com as amarras tradicionais do judaísmo:

"Que ironia! Aqueles que se julgavam tão ocupados com assuntos espiri­tuais, a ponto de não poderem servir às mesas, falharam em perceber aonde o Evangelho os devia levar. Os doze, que achavam que deviam dar todo seu tempo 'à oração e ao ministério da Palavra', mostraram-se tardos em reconhecer que 'Deus não se deixa levar por respeitos humanos'. Achavam que Estevão, Filipe e outros cinco eram suficientemente mundanos (no bom sentido) para servir às mesas; mas, de certo modo -pelo menos Estevão e Filipe - alcançaram uma visão mais nítida do Evan­gelho e se tornaram líderes dum cristianismo mais espiritual e menos legalista, que deveria abarcar toda a humanidade, e não somente uma nação.
Pedro e os outros apóstolos resolveram ser 'espirituais' e dedicar-se ao estudo da Palavra, mas estavam amarrados pela tradição. Estavam constru­indo um judaísmo cristão, em vez de edificar uma Igreja de natureza espiritual e de visão universal. (...) Temos algumas provas de que ele (Pedro) amava naturalmente o povo, fosse ele qual fosse; mas, religiosa­mente, fora educado no sentido de sempre considerar o gentio como um imundo, como um indivíduo com quem não se devia associar nem ter a menor comunhão. Parece que ele não se sentia bem dentro daqueles preconceitos e daquele extremismo, e nem fazia disso tudo um cavalo de batalha. Não obstante, achava difícil libertar-se do temor que tinha de seus compatrícios, os quais julgavam ser o preconceito racial uma marca distintiva de piedade e ortodoxia. Já a Estevão e a Filipe (o Evangelista) interessava primeiro a humanidade, não a raça ou a nacionalidade."

Na rigidez de sua análise, Frank Stagg acerta ao identificar a presença, ainda perturbadora, de germes do sectarismo judaico no bojo das lideranças cristãs naquele momento da Igreja primitiva. Foi justamente em meio a essa polêmica que Filipe, o Evangelista, despontou no cenário bíblico.
Judeu da Dispersão, Filipe fora eleito, ao lado de Estevão e outros cinco, como um daqueles que se incumbiriam das tarefas diaconais da congrega­ção de Jerusalém. Como a prerrogativa de ser cheio do Espírito Santo e de sabedoria era condição sine qua non para o exercício do diaconato, infere-se que esta virtude era marca característica de seu testemunho cristão.
Com a perseguição aos crentes de Jerusalém, que culminou com a exe­cução de Estevão, boa parcela da comunidade cristã local viu-se na necessi­dade de deixar a cidade em busca de abrigo seguro. Filipe estava entre eles. Muitos dos que o acompanharam na debandada eram judeus provenientes da Dispersão, e como tais, não temiam deixar a Palestina em direção ao mundo gentio, que de tantas comunidades judaicas se tornara abrigo. Com efeito, essa violenta dispersão acabou por contribuir de maneira significati­va para a transformação de Filipe em um dos mais destacados missionários citados no livro de Atos dos Apóstolos (At 8.4-5).
A narrativa de Atos registra a desenvoltura com que o jovem missionário apresentou o Evangelho na Samaria, região assaz discriminada pelos judeus em geral. Em At 8.4-13, vemos que "multidões escutavam, unânimes, as coi­sas que Filipe dizia, ouvindo-o e vendo os sinais que operava". Tal era a auto­ridade e os prodígios operados pelo Espírito através de Filipe que mesmo o famoso feiticeiro Simão, célebre na região, manifestou simpatia pelo Evan­gelho e acompanhou-o por certo tempo.
A intrepidez de Filipe ao evangelizar com êxito a desprezada Samaria, logo ecoou em Jerusalém, onde a maior parte dos apóstolos ainda permane­cia, reclusa numa atmosfera cada vez mais hostil ao cristianismo. Cientes das novas que vinham da Samaria, Pedro e João, superam boa parte de seus "resíduos judaizantes" e se deslocam para a região, visando confirmar aque­les novos (e inesperados!) irmãos. Vale lembrar que o mesmo apóstolo João, não muito tempo antes, num repente de fúria, desejou atear "fogo do céu" sobre as aldeias samaritanas, sendo por isso repreendido por seu Mestre (Lc9.54).
Os acontecimentos ligados a Samaria compõem apenas parte do ministé­rio de Filipe descrito em Atos. Logo a seguir, o Espírito do Senhor o impele a região de Gaza, então caminho entre a Abissínia (atual Etiópia) e Israel. É justamente neste lugar que o evangelista depara com um importante eunuco etíope, provavelmente simpatizante do Deus de Israel. Frank Stagg aponta algumas características desse que foi o próximo alvo da palavra salvífica de Filipe (op. cit., p.108).

"Havia um grande grupo de gentios, os quais eram chamados de 'temen­tes a Deus'. Sentiam-se atraídos para o judaísmo por causa do seu monoteísmo, de sua moral elevada e de seus ensinos moralizadores. Muitos tinham perdido a fé nos deuses do império e sentiam-se mal com a imo­ralidade resultante dos cultos pagãos. Grande número de gentios voltou-se para as sinagogas. Alguns ingressaram no judaísmo como prosélitos, e outros ficavam como que às portas. Para tornar-se prosélito, o candidato devia circuncidar-se, batizar-se e oferecer certos sacrifícios. Também devi­am admitir que o judaísmo era tanto uma nação com uma religião. O prosélito tornava-se parte da nação judaica e também da religião judaica. O etíope e Cornélio pertenciam ao grupo dos tementes a Deus.
(...)
O etíope certamente havia encontrado impedimento para circuncidar-se e fazer-se judeu. Era eunuco, e, dada a sua mutilação física, mui provavel­mente lhe tinham negado o privilégio de tornar-se um prosélito do judaís­mo."

O desprendimento e a eficácia com que Filipe levava a termo a proclamação do Evangelho certamente chamou a atenção dos apóstolos. Provado e aprova­do em sua ministração aos samaritanos, o evangelista agora batizara um gentio, enquanto vários dos doze ainda não se aventuravam muito além dos limites de Jerusalém. De fato, o entusiasmo do evangelista em evangelizar o eunuco etíope contrasta flagrantemente com o constrangimento de Pedro em fazer o mesmo diante do centurião de Cesaréia (At 10.9-48).
Após a conversão e o batismo do etíope, o evangelista é arrebatado pelo Espírito e conduzido a Asdode, na antiga Filistia. Ali, inicia um trabalho missionário pela costa mediterrânea da Palestina, até a populosa Cesaréia, onde fixa residência. Anos mais tarde, em companhia de suas quatro filhas profetizas, hospeda o apóstolo Paulo, em sua viagem de retorno a Jerusa­lém (At 21.8-9).
A atenção dispensada à biografia do diácono e evangelista Filipe — con­quanto não correlata ao do discípulo homônimo - se fez necessária, para que pudéssemos traçar um claro divisor de águas entre a obra desse que se transformou num dos mais ousados missionários do primeiro século e o verdadeiro objeto de nossa apreciação nesse capítulo, o apóstolo Filipe, cuja carreira enfocaremos a seguir.

O apóstolo Filipe, um dos doze do Senhor
Devemos exclusivamente ao evangelista João as escassas narrativas que tratam do apóstolo Filipe. Isso, de certa forma, sugere amizade entre am­bos, antes do período de discipulado com Jesus.
Natural da cidade galiléia de Betsaida (Jo 12.21), Filipe surge pela pri­meira vez nas Escrituras em Jo 1.43-46, quando de seu encontro vocacional com o Mestre. O impacto espiritual causado pela abordagem de Jesus foi tal, que Filipe se lançou incontinenti à procura de seu amigo Natanael (ou Bartolomeu), a fim de relatar-lhe o ocorrido. A certeza de ter encontrado em Jesus Aquele por quem toda a nação israelita ansiava pode ser atestada nas palavras dirigidas ao futuro condiscípulo (Jo   1.45).

"...Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referi­ram os profetas, Jesus, o Nazareno, filho de José."

Embora vibrante, o testemunho de Filipe não foi suficiente para romper a indiferença de seu parceiro.

"...De Nazaré pode sair alguma coisa boa?"

O ceticismo de Bartolomeu é compreensível. Que embasamento profético sustentaria a procedência galiléia do Messias, particularmente da tão desprezada Nazaré? Os galileus, de modo geral, eram vistos com desdém pelo povo da Judéia, devido a singularidade de suas maneiras, a rudeza de seu dialeto e — por razões geográficas — a sua freqüente exposição ao contato com os pagãos, con­siderados imundos. No caso particular dos habitantes de Nazaré, tal preconceito se radicalizou devido a sua suposta falta de religiosidade e seu relaxamento com as sagradas tradições judaicas, notórios não apenas dos judeus, mas dos próprios galileus, como se percebe no comentário de Bartolomeu.
Entretanto, todas essas razões culturais e teológicas, por mais clamorosas que fossem, ainda não foram suficientemente fortes para ofuscar a certeza de Filipe quanto à messianidade de Jesus, fosse Ele de Nazaré ou não. Tal con­vicção, per se, nos leva a presumir a magnitude do impacto sobre o jovem galileu em seu primeiro encontro com Cristo.
Num dos raros momentos em que se registrou a presença de Filipe nas Escrituras, o vemos sendo experimentado pelo Mestre, minutos antes do milagre da multiplicação dos pães (Jo 6.5,7).

"...Filipe, onde compraremos pães para lhes dar de comer?
(...)
Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão para receber cada um o seu pedaço."

A clareza da resposta de Filipe revela sintonia com a gravidade daquela situação, conquanto o apóstolo ainda se mostrasse distante de presumir o poder arrebatador que repousava sobre Aquele de quem se fizera discípulo.
Durante a ocasião da Páscoa, Filipe foi abordado por alguns gregos que desejavam um encontro particular com Jesus (Jo 12.20-22). Embora no Novo Testamento o termo "grego" se aplique, via de regra, aos judeus da dispersão, é provável que neste caso se refira aos prosélitos do judaísmo ou, talvez, aos chamados "gentios tementes a Deus", como o centurião Cornélio de Cesaréia. Esses simpatizantes do judaísmo eram homens que, embora ainda não tornados prosélitos — dada a recusa em se submeter a exigências como a circuncisão — assistiam nas sinagogas e peregrinavam a Jerusalém, durante festividades importantes como a Páscoa. Filipe, como galileu, os­tentava, além do nome, alguns outros traços culturais gregos, como por exemplo a fluência no idioma, o que pode ter definido sua abordagem por esse grupo que visava um encontro com o Mestre. Infelizmente, João não narra o desfecho do episódio, deixando-nos apenas conjecturas sobre como teria se dado a suposta audiência gentílica com Jesus.
Filipe parece ter sido um homem de coração ávido pelas verdades espiri­tuais que destilavam de seu Mestre. Pelo menos, é o que se nos sugere sua petição registrada em Jo 14.8.

"...Senhor mostra-nos o Pai, e isso nos basta."

O questionamento de Filipe é um retrato fiel da cristologia dos discípu­los até aquela altura dos acontecimentos. E mister entendermos que a encarnação do Verbo divino na pessoa do Messias, conquanto prevista nas Escrituras, excedeu todas as expectativas religiosas dos judeus, incluindo a dos que fielmente O seguiam. A concepção de que o próprio Deus, pela Sua Palavra, tornar-se-ia homem a fim de Se entregar como um sacrifício vicário em favor de quantos nEle cressem, estava assaz distante não somen­te daqueles que acintosamente descriam dEle (Jo 5.18, 10.33), mas também de Filipe e seus condiscípulos.

O apostolado de Filipe na Frígia
Efetivamente, parte da tradição cristã, com o passar dos séculos, confun­diu a biografia do apóstolo Filipe com a do célebre evangelista de quem falamos no princípio deste capítulo. Essa tendência é compreensível, já que o Novo Testamento silencia sobre o discípulo após os Evangelhos, enquan­to dedica boa atenção ao seu homônimo evangelista no Livro de Atos. Dessa forma, é necessário certa cautela diante dos vários registros lendários refe­rentes ao ministério de nosso apóstolo.
As divergências surgiram ainda no segundo século da Era Cristã, quan­do Papias, ao escrever as Exposições dos Oráculos do Senhor, afirma ter cole­tado informações de certos indivíduos que conheceram pessoalmente as filhas do apóstolo Filipe, que teriam vivido em Hierápolis, na Frígia. A controvérsia se estabeleceu quando, mais tarde, o montanista Proclus de­clarou que o referido se tratava não do apóstolo, mas do evangelista Filipe que, conforme a narrativa de At 21.8-9, possuía quatro filhas profetizas. Não obstante, ao final do segundo século, Polícrates de Éfeso confirma o dizer de Papias, acrescentando que o apóstolo e uma de suas filhas foram realmente martirizados em Hierápolis, enquanto as sobreviventes perma­neceram devotadas ao Senhor, no cultivo de uma vida casta.
A autora Anna Jamerson registra, com alguns detalhes mirabolantes, as missões de Filipe na Frígia (Sacred and Legendary Arts, p. 249):

"Após a ascensão, Filipe viajou até a Cítia, onde permaneceu pregando o Evangelho por vinte anos. Deslocou-se, então, a Hierápolis, na Frígia, onde deparou com adeptos da adoração de um monstro assemelhado a uma serpente (...) Apiedando-se daquela cegueira espiritual, o apóstolo orde­nou que a serpente desaparecesse, em nome da cruz que ele próprio empunhava. Imediatamente, o réptil rastejou desde o interior do altar, emitindo um odor de tal sorte repugnante, que muitos não o suportaram, vindo a falecer. Entre os tais, se encontrava o filho do rei, que expirou nos braços de seus servos. O apóstolo, contudo, através do poder divino, restaurou-lhe a vida. Destarte, os sacerdotes do monstro enfureceram-se contra ele e, tomando-o, o crucificaram e o apedrejaram.
Filipe, assim, entregou seu espírito a Deus, orando como seu Divino Mes­tre, em prol de seus inimigos e perseguidores."

Haveria, entretanto, razões que pudessem tornar a região da Frígia atraen­te ao ministério de Filipe, como nos contam as lendas antigas e medievais? De certo que sim. Primeiramente, porque a Frígia estava inserida na populo­sa província romana da Ásia Menor (atual Turquia), palco de intensas ativi­dades missionárias durante os primeiros dois séculos do cristianismo. Paulo, Timóteo, Silas, Marcos, André e outros evangelizaram a Ásia Menor e suas adjacências. O apóstolo João, que demonstrou grande familiaridade com algumas das principais congregações da Ásia, como Pérgamo, Esmirna e Laodicéia (conf. Ap 2-3), teria permanecido boa parte de sua vida pós-bíblica na cidade mais importante da região, Éfeso, de onde, crê-se, manteve es­treito contato com Filipe, que então pastoreava Hierápolis.
Em segundo lugar, o fato de Hierápolis, embora abrigando uma Igreja numerosa, não ter sido alvo das epístolas de Paulo — ao, contrário de suas vizinhas Colossos e Laodicéia (Cl 4.16) — pode ser uma evidência de que algum outro apóstolo experiente já se incumbira de sua administração pas­toral (conf. Rm 15-20). Muitos autores concordam com a tradição de que Filipe era esse homem.
Por fim, Hierápolis abrigava, nos tempos bíblicos, uma estância hidromineral de notórias propriedades terapêuticas. A cidade tornou-se, por isso, um centro para onde afluíam multidões oriundas dos mais diver­sos recantos do mundo romano.
Isso, sem dúvida, tornava a cidade potencialmente importante na estra­tégia missionária dos apóstolos.
No apócrifo Atos de Filipe encontramos detalhes interessantes sobre o ministério do apóstolo em Hierápolis, na companhia de seu amigo e tam­bém apóstolo Bartolomeu. Embora fantasioso em vários momentos, o tex­to traz em seu núcleo possíveis vestígios da passagem e do martírio de Filipe na cidade. Contudo, a época proposta pela obra para a chegada do apóstolo à cidade - princípio do reinado do imperador Trajano - dificilmente pode­ria ser considerada plausível. Trajano, em cujo governo a Igreja conheceu sua terceira perseguição, reinou de 98 a 117 A.D., quando apenas João, tradicio­nalmente o último dos apóstolos a falecer, permanecia entre nós.
Curiosamente, os Atos de Filipe registram não apenas a companhia de Bartolomeu nas missões de Filipe em Hierápolis, tal como em diversas ou­tras lendas, mas também a presença marcante de sua irmã Mariane, cuja devoção e santidade teriam emprestado uma notoriedade ainda maior ao evangelismo dos apóstolos naquele lugar.
Logo ao chegar a Hierápolis, narra a lenda que Filipe e seus colaboradores foram recebidos de boa mente por um certo Eustáquio que, após crer no Senhor, abriu as portas de sua casa para a continuidade da evangelização da­quela região. Em pouco tempo, os ecos da mensagem apostólica, assim como dos milagres que ali se operavam, disseminaram-se por toda Hierápolis, fa­zendo com que uma crescente multidão afluísse para a casa que se tornara, então, uma congregação cristã.
Reunidos na casa de Eustáquio, os varões de Hierápolis ouviam atenta­mente às severas exortações de Filipe contra o culto idolátrico à serpente, tradicional entre os habitantes locais. A conversão desses pagãos espalhou a boa semente do Evangelho por toda cidade, fazendo-a chegar aos ouvidos de Nicanora, mulher do procônsul romano. A esposa do magistrado en­contrava-se entrevada há longos dias, acometida de diversas enfermidades. Ouvindo acerca do apóstolo e do poderoso nome de Cristo, Nicanora creu, sendo subitamente curada de todos os seus males. Transbordante de grati­dão, decidiu então sair ao encontro do apóstolo na casa de Eustáquio, sem que o soubesse seu marido. Antes que pudesse se estender na comunhão com os fiéis ali congregados, a esposa do magistrado é surpreendida por uma profecia em hebraico trazida por Mariane, irmã de Filipe. Tomada de grande emoção, a nobre confessa-se não apenas miraculosamente curada de seus males, mas também descendente dos filhos de Abraão. Todavia, ao impor suas mãos em intercessão sobre a recém-convertida, Filipe e seus colaboradores foram interrompidos pela imponente chegada do procônsul, cuja brutalidade era de todos conhecida. Indignado com aquela cena inusi­tada, o governante, ainda sem compreender a repentina sanidade física de sua esposa, multiplica suas ameaças sobre Nicanora se esta não lhe dissesse quem fora o médico que a curara. Diz a lenda que Nicanora, de maneira incisiva, exorta seu esposo a abandonar a iniqüidade e consagrar-se a uma vida casta e pura, para que assim pudesse conhecer o médico milagroso.
Desafiado em sua autoridade, o magistrado toma sua mulher pelos cabelos e ordena que se detenham Filipe, Bartolomeu e Mariane, sob acusação de magia.
Resistindo heroicamente ao quase insuportável flagelum, com suas chibatas de couro cru, aqueles campeões da fé, segundo a narra o apócrifo, teriam ainda sido arrastados com uma fúria animalesca por várias ruas da cidade, até os limites do templo pagão onde se mantinha o folclórico culto à serpente. Na­queles termos, congregou-se numerosa multidão que, impressionada pelo tes­temunho cristão de Filipe e seus companheiros, creu na palavra do Senhor.
Detidos no templo por ordem proconsular até que se decidisse a pena que lhes caberia, Filipe e Bartomeu oraram com grande fervor e abalaram as es­truturas do santuário pagão, assustando sobremodo os sacerdotes e aumen­tando ainda mais o número dos que se renderam a Cristo. Irados com a situação, os líderes religiosos denunciaram a atuação dos apóstolos ao procônsul que, por fim, mandou-os ao tribunal. Ali, Filipe e Bartolomeu são publicamente despidos, a fim de que neles se buscassem amuletos ocul­tos que explicassem as operações extraordinárias das quais foram acusados.
Nada achando em ambos os apóstolos, conta a lenda que os executores despiram Mariane, sobre quem ademais pairava a acusação de fornicação. Seu desnudamento público, entretanto, ao contrário de vituperá-la, trouxe sobre a fiel a providência divina, através de uma nuvem de fogo que a co­briu diante do pasmo de todos os presentes, provocando grande tumulto no tribunal.
Mesmo diante de tantos sinais e prodígios, a lenda nos conta que Filipe e Bartolomeu não escaparam à condenação, tendo sido crucificados um diante do outro. Filipe, atado de cabeça para baixo e preso pelos tornozelos numa árvore do fronte ao templo da serpente e Bartolomeu atravessado por cravos nos muros deste. A expressão de gozo com que encaravam aque­le tormento, transformou-se num testemunho para muitos que presencia­vam o martírio, cujo número subira a sete mil homens, sem contar as mulheres e crianças. A essa altura, toda Hierápolis sofrerá o impacto do Evangelho, pela ação de Filipe, Bartolomeu e Mariane.
Os momentos finais de Filipe são descritos com significativa porção de fantasia pelo apócrifo. Relata o texto que, tendo se irado sobremaneira com a incredulidade do magistrado romano e de parte da população presente, Filipe rogara ao Pai que fizesse justiça contra aquela impiedade, tragando seus protagonistas para o abismo. Deus teria ouvido a súplica de Filipe, fazendo romper-se a terra sob os pés da populaça, sugando-os para as regiões '   inferiores, porém sem matá-los. Embora respondido em sua súplica Filipe, nos estertores da morte, recebe severa admoestação do Senhor por contami­nar-se com o desejo de vingança sobre seus inimigos. Como resultado, é divinamente avisado de que findaria ali seu ministério. Logo a seguir, Deus teria feito retornar com vida da fenda toda a população, exceto o altivo procônsul, e libertado da condenação a Bartolomeu e Mariane.
Lendas à parte, não há nenhuma razão para desprezarmos as evidências que apontam Hierápolis como uma das bases do trabalho missionário de Filipe. Lembremos que sua origem galiléia incluía um grego fluente e um contato freqüente e aberto com gentios, especialmente de cultura helenista.
McBirnie apresenta assim o diagnóstico da região da Frígia e parte da Ásia Menor, durante o tempo do ministério do apóstolo Filipe (op. cit., P-125).

"Como o cristianismo se alastrasse por toda Ásia Menor (atualmente a Turquia), torna-se evidente que tamanho esforço missionário, em curto espaço de tempo, tenha transformado aquele lugar numa região nominal­mente cristã. Uma vez que Colossos e Laodicéia são, ambas, importantes cidades mencionadas no Novo Testamento, parece claro que o Evangelho ali chegou ainda cedo. Colossos, que dista apenas 25 quilômetros de Hierápolis, foi o centro de uma comunidade cristã consideravelmente desenvolvida durante o tempo de atuação do apóstolo Paulo, tanto que tornou-se alvo de uma de suas correspondências: A Epístola aos Colossenses.
Quando da escrita do livro de Apocalipse, por João, a vizinha Laodicéia tornara-se o sítio de uma Igreja que fora, sem dúvida, fundada por Paulo e que, ao tempo do apóstolo João, evoluiu para uma posição de riqueza e influência."

O embate teológico em Atenas
Outra lenda envolvendo o ministério pós-bíblico de Filipe que merece atenção especial é encontrada no apócrifo Atos do Santo Apóstolo Filipe Quando de sua Jornada a Hellas (Grécia) Superior. Ali encontramos retrata-I do seu confronto com trezentos sábios e filósofos gregos, durante uma su-I posta missão apostólica a Atenas. Segundo o relato, as notícias acerca da I sabedoria de Filipe cruzaram as fronteiras da Ásia Menor e atingiram a 1 Grécia, provocando alvoroço entre os pensadores locais, para os quais Filipe B surgia como detentor de uma nova expressão filosófica.
Após ser constrangido pelos gregos para que detalhasse sua doutrina, o apóstolo responde.

"Ó filósofos de Hellas, se vós desejais ouvir coisa nova e ansiais por algu­ma novidade, deveis despojar-vos da disposição do velho homem, tal como antes disse meu Senhor: 'É impossível deitar vinho novo em odres velhos, pois rompem-se os odres, derramando-se o vinho e perdendo-se os odres. Mas, deita-se vinho novo em odres novos, de tal sorte que ambos são preservados'. Estas cousas o Senhor nos falou em parábolas, ensinando-nos em Sua santa sabedoria que muitos desejariam o vinho novo, não dispondo, entretanto, de odres novos.
Eu vos amo, homens de Hellas e vos congratulo por afirmardes que vos deleitais nas novidades, pois sabedoria nova trouxe meu Senhor a este mundo, a fim de que pudessem ser postos de lado todos os demais ensinamentos deste século."

Questionado acerca daquele a quem chamava Senhor, Filipe responde de forma incisiva aos pensadores gregos que, àquela altura, demonstravam-se ansiosos pela exposição da nova doutrina.

"Aquele que estou prestes a apresentar-vos como Senhor, está acima de todo nome e não há outro como Ele. Eis o que digo (...): certamente não vos rejeito, mas antes em grande exultação e júbilo venho revelar-vos este Nome, já que não tenho outro compromisso neste mundo senão levar a termo esta proclamação. Pelo que, quando meu Senhor veio a este mundo, escolheu-nos a nós, doze ao todo e encheu-nos com o Espírito Santo. Com Sua luz, fez-nos compreender quem era e ordenou-nos apre­goar a todos a salvação através dEle, posto que não há outro nome que desde os céus nos tenha chegado senão este que vos anuncio. Por essa razão venho ter convosco para vos confirmar plenamente, não apenas em palavras, mas também em demonstração de maravilhas no nome de nos­so Senhor Jesus Cristo."

Incomodados pelo impacto da nova revelação e pelos diversos sinais pro­digiosos efetuados por Filipe, os filósofos pedem, então, três dias para arrazoarem entre si acerca da decisão a ser tomada, visto que temiam muito os desdobramentos que a novidade traria sobre a tradição paga que orgulhosa­mente sustentavam. Reunidos, reconhecem a irresistibiiidade da sabedoria contida nas palavras de Filipe; porém, decidem enviar mensagem ao sumo sacerdote Ananias, em Jerusalém, contando-lhe acerca do alvoroço causado pelo apóstolo por toda Grécia e Macedônia e rogar-lhe que venha a Atenas, a fim de confrontá-lo.
Diz a lenda que Ananias enche-se de furor ao saber do sucedido em Atenas, e viu-se possuído pelo diabo, sob cuja influência, reuniu quinhentos homens e dirigiu-se para a capital grega, visando esmagar Filipe e apagar os vestígios do Nazareno ali semeados.
Chegando a Atenas, Ananias e seus companheiros reúnem junto de si os trezentos filósofos e partem em direção à casa onde Filipe e alguns outros cristãos ministravam a palavra. Publicamente desafiado pelo sacerdote e por este acusado de mágica enganadora, Filipe apresentou-se diante da multidão replicando.

"Muito desejaria, ó Ananias, que a capa da tua incredulidade fosse remo­vida de teu coração, de sorte que pudesses ver minhas obras e a partir delas pudesses, então, constatar quem é o enganador, se eu ou tu!"

Indignado com a resistência do apóstolo, Ananias voltou-se para o públi­co em derredor e contou sua versão sobre o ministério de Cristo e seus discí­pulos, denunciando-os como perturbadores da ordem social, infratores da lei mosaica e mágicos fraudadores. Diante de semelhantes calúnias e sob a ameaça de ser levado de volta, aprisionado, a Jerusalém, Filipe defendeu-se dizendo.

"O, varões atenienses e vós dentre os filósofos, tenho chegado até vós não para vos ensinar com meras palavras, mas com demonstração de milagres. Prontamente haveis percebido tudo o que se sucedeu em mi­nha presença, através da menção do Nome pelo qual este mesmo sumo sacerdote será lançado fora. Pois, eis que clamarei ao meu Deus e vos ensinarei; então provareis as palavras de nós dois."

Diz a lenda que, tomado por um ódio incontrolável, Ananias se lança sobre o apóstolo, mas não consegue consumar sua agressão em virtude da cegueira que subitamente se lhe acomete, assim como aos quinhentos ju­deus que o acompanham. Atemorizados pelo sinal que lhes sobreveio, os súditos do sacerdote clamam a Filipe por misericórdia e confessam a fé em Jesus Cristo, mas não são acompanhados por seu líder que permanece em franco desafio e irredutível incredulidade.
Após as palavras que repetidamente confirmaram a obstinação do sacer­dote judeu, Filipe decide rogar a Deus que manifeste Seu juízo sobre o ancião, diante do olhar assustado dos atenienses. Negando Jesus até o fim, Ananias acaba tragado por uma fenda abismai aberta sob seus pés, que o destinou ao sofrimento eterno do Hades.
A narrativa dos atos de Filipe na Grécia se encerra propondo algumas outras possibilidades para seu ministério posterior.

"Filipe permaneceu em Atenas por dois anos, tendo ali fundado uma Igreja e ordenado um bispo e um presbítero. Rumou, então, para a Partia, pregando a Jesus, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém."

É verdade que os detalhes extraordinários dessa obra não permitem sua abordagem como uma descrição histórica. No entanto, não seria exagero ima­ginar que esse texto represente, em última instância, a distorção — resultante dos anos — de uma possível missão do apóstolo a Atenas, uma das mais influ­entes cidades da Antigüidade. Como já vimos, a presença de Filipe em Hierápolis é ponto pacífico para muitos pesquisadores de sua biografia. Grécia e Ásia Menor — onde Hierápolis se situava — eram regiões próximas e perfeitamente comunicáveis entre si por distintas rotas comerciais. Não há, portanto, razões para duvidarmos que o apóstolo, uma vez ministrando na Ásia Menor, tenha se sentido atraído pela capital cultural do mundo antigo onde, à semelhança de Paulo (At 17.15-34), pode ter tido a chance de confrontar com a mensagem do Evangelho os mais renomados mestres do saber filosófico da época.

Teria Filipe evangelizado a Gália?
Se há poucas dúvidas quanto ao fato de o apóstolo ter despendido boa parte de sua carreira e de ter falecido em Hierápolis, existem, contudo, outras possibilidades envolvendo seu trabalho pastoral em regiões do mun­do antigo ainda mais distantes. Uma delas é o forte testemunho das lendas que vinculam o apóstolo Filipe à França. Vejamos alguns indícios que cor­roboram essa tradição.
Nos tempos neotestamentários, a região que hoje inclui a França, a Bél­gica, Luxemburgo e Oeste da Alemanha chamava-se GáliaTransalpina. Ao contrário da Gália Cisalpina, situada no Vale do Pó entre os Alpes e os Apeninos, a região mais distante (também conhecida como Gallia Comatd), só fora conquistada pelos romanos entre 57 e 50 a.C. graças ao gênio mili­tar de Júlio César.
As batalhas da Gália custaram às partes beligerantes — romanos e bárba­ros - o assombroso preço de quase um milhão de vidas, penosamente ceifa­das ao longo de oito anos de lutas. Não obstante seu alto custo, a conquista da Gália Transalpina — mais tarde Gália Narbonensis — acabou acrescentan­do mais prestígio e poder a Roma que, a partir de então, passou a investir significativamente em sua colonização, tornando-a próspera e culturalmente florescente. A presença romana na Gália se fez sentir na construção de es­tradas, na edificação de novas cidades e na ornamentação das já existentes. Da
Gália partiram as campanhas militares que, mais tarde, sob o comando de Cláudio Nero (41-54 A.D.), subjugariam a Britânia, atual Inglaterra.
Portanto, nos dias apostólicos, a Gália embora ainda marcada pelas fortes tradições celtas, tornara-se uma região desenvolvida, possuidora de belas cida­des e de uma cultura romana emergente, que a tornava uma província atraente para o indivíduo de língua latina ou grega. Em Lugdunum (atual Lyon) na Gália, nasceu o supracitado imperador Claudius Drusus Nero Germanicus, um dos mais destacados césares do primeiro século. Deve-se a ele, por um lado, os maiores esforços para a supressão dos sacerdotes druidas da Gália, e por outro, a admissão de nobres gauleses no senado romano em 48 A.D.
As cidades gaulesas de Namnetes (atual Nantes) e Aries estão entre as primeiras do império a desfrutarem da vanguarda cultural dos anfiteatros romanos.
A Gália do primeiro século havia se tornado uma região próspera por suas exportações de alimentos, vinho e cerâmica. Esse incrementado fluxo comercial certamente atraiu para lá diversos mercadores cristãos e com eles, por certo, a disseminação do Evangelho na região. Entretanto, diante de circunstâncias tão atraentes, é possível que o cristianismo tenha aportado na Gália não apenas por obra de cristãos anônimos, mas também pela es­tratégia de algum apóstolo. Nesse caso, a tradição é clara ao apontar o nome de Filipe na evangelização daquela província.
Que relação podemos, então, estabelecer entre a Gália e o ministério de Filipe, tradicionalmente limitado a Galácia e Ásia Menor? Bem, primeiramen­te, é preciso reconhecer a possibilidade de que a lenda sobre o ministério de Filipe na França tenha se originado de antigos erros de escrita devido à semelhança das palavras Galácia e Gália. Essa semelhança pode, por outro lado, estabelecer a relação que procuramos entre as duas regiões. A Galácia (na atual Turquia) foi assim denominada em função do estabelecimento na região de colonos celtas, oriundos da Gália em 278 a.C., a pedido de Nicomedes I, rei da Bitínia, que buscava reforços para suas campanhas militares.
Houve, portanto, vínculos culturais e étnicos entre os habitantes da Galácia e os celtas da Gália. Talvez parte dessa ligação ainda estivesse perceptível nos dias de Filipe. Sabemos que o apóstolo exerceu parte de seu ministério em Hierápolis, na Frígia, região vizinha à Galácia. Esse antigo vínculo entre a Galácia e a Gália, aliado ao desenvolvimento e à notoriedade alcançada por essa última durante o primeiro século pode ter despertado em Filipe o desejo de expandir suas missões àquela região, que hoje compreende a França.
Alguns escritores cristãos muito antigos corroboram a presença do após­tolo na Gália. Um deles é Isidoro, Bispo de Sevilha, que entre os anos 600 e 636 A.D. escreveu (De Ortu et Obitu Patrum, cap. LXXIII 131):

"Filipe, da cidade de Betsaida, de onde também provinha Pedro, apre­goou Cristo nas Gálias e nas nações vizinhas, trazendo seus bárbaros, que estavam em trevas, à luz do entendimento e ao porto da fé. Mais tarde, foi apedrejado, crucificado e morto em Hierápolis, uma cidade da Frígia, onde foi sepultado de cabeça para baixo, ao lado de suas filhas."

Semelhantemente escreveu Freculfus, Bispo de Lisieux (825-851A.D.) em seu Tom Posterior Chronicorum (Lib II, Cap. IV):

"Filipe, natural de Betsaida, assim como Pedro, e a quem os Evangelhos e Atos dos Apóstolos freqüentemente mencionam de maneira honrosa, possuía filhas que se tornaram profetisas conhecidas por sua maravilhosa santidade e perpétua virgindade. Ele é citado pela história eclesiástica, como tendo pregado a Cristo nas Gálias."

Fato ou ficção, o nome de Filipe é o que mais fortemente se associa à evangelização apostólica da França. Contudo, existem outros personagens neotestamentários conectados àquela região, segundo contam algumas an­tigas lendas cristãs. É o caso de Maria Madalena, Lázaro e suas irmãs Marta e Maria, que teriam evangelizado a cidade gaulesa de Massília, atual Mar­selha, onde ainda hoje se encontram suas supostas lápides.

Filipe, sepultado em Hierápolis ou em Roma?
Se Filipe algum dia esteve em missão na Gália Transalpina, é pouco pro­vável que tenha terminado ali seus dias. Pelo menos é o que podemos dedu­zir de diversas lendas que tentam reconstituir seus feitos, inclusive daquelas mesmas que registram sua presença ali. Mais correto é imaginamos que o apóstolo retornou a Hierápolis, na Frígia, onde conheceu o martírio em fun­ção de seu apostolado.
O renomado bispo de Éfeso e líder da Igreja na Ásia Menor, Polícrates (130-196 A.D.) é mais um dos vários testemunhos que confirmam o mar­tírio e o sepultamento de Filipe em Hierápolis (Epístola a Vítor e à Igreja de Roma Concernente ao Dia da Guarda da Páscoa).

"Pelo que, na Ásia grandes luminares encontraram seu repouso, os quais ressuscitarão no dia da vinda do Senhor, quando com glória virá desde os céus fazendo ressurgir todos seus santos. Falo de Filipe, um dos doze apóstolos, que foi deixado descansar em Hierápolis e de suas duas filhas, as quais atingiram avançada idade sem se casar; sua outra filha, que pas­sou a vida sob influência do Espírito Santo, repousa em Éfeso."

Mesmo reconhecendo o teor folclórico de alguns dos textos que comen­tamos ao longo desta biografia, devemos considerar Hierápolis — hoje Pambuk-Kelessi, na Turquia - como o mais provável sítio do martírio e descanso do apóstolo Filipe. Pelo menos, nenhum outro lugar da Antigüidade soma tan­tos relatos sobre o fim do discípulo quanto essa milenar estação hidromineral da Ásia Menor.
Por outro lado, contra a permanência dos restos de Filipe em Hierápolis, temos a tradição que relata a aquisição do corpo do apóstolo pelo Papa João III (560-572 A.D.). O pontífice teria, então, ordenado seu traslado para Roma, para sepultá-lo em uma Igreja originalmente chamada "Igreja dos Santos Apóstolos Filipe e Tiago". Este santuário, cuja construção remonta ao século VI, atualmente é conhecido como Igreja dos Santos Apóstolos. Em seu interior, repousando em um sarcófago de mármore, sob o altar e em um relicário atrás dele, está aquilo que a tradição católica romana afir­ma ser os restos do memorável apóstolo Filipe.
FONTE: Doze homens e uma missão / Aramis C. DeBarros. - Curitiba : Editora Luz e Vida, 1999.

7 comentários:

  1. Todo o estudo acima não pôde provar que o apóstolo Filipe não seja o mesmo diácono-evangelista do livro de Atos dos Apóstolos. Os próprios Isidoro, Freculfus e Polícrates em suas declarações sobre Filipe, nos deixam pistas de que tanto o apóstolo como o diácono-evangelista são a mesma pessoa.

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  2. Que interessante!! Vocês são protestantes, vivem atacando a Igreja de Cristo por causa da veneração às imagens, e postam aqui fotos d ícones católicos de São Filipe Apóstolo! Vocês protestantes são hilários, para não chamá-los de demoníacos! Que o Senhor tenha misericórdia de vocês, que se afastam dos sacramentos e proliferam inverdades sobre cristo e sua doutrina no mundo, para afastar as almas da Igreja fundada pelo próprio Senhor por meio de Pedro!

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    1. Prezado Felipe Arboith,
      Respeitosamente, os protestantes não atacam a Igreja fundada por Cristo e Seus Apóstolos. A Igreja de Roma não foi fundada por Pedro e nem mesmo ele foi Papa, pois o mesmo teve esposa, e um bispo romano não se pode casar, contrariando os claros ensinos das Escrituras que o Bispo deve ser casado, marido de de uma só mulher (1 Timóteo 3.1-10; Na assembleia de Jerusalém, foi Tiago e não Pedro que presidiu a referida assembleia. Se ele tivesse sido constituído por Cristo, o Papa, seria ele o principal naquela reunião.
      Ademais, chamarem de demoníaco, mostra a falta de respeito com pessoas que pensam diferente de você. Um pouco de ética cristã, não faz mal pra ninguém! Pense nisso!

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    2. Prezado Felipe Arboith,
      Respeitosamente, os protestantes não atacam a Igreja fundada por Cristo e Seus Apóstolos. A Igreja de Roma não foi fundada por Pedro e nem mesmo ele foi Papa, pois o mesmo teve esposa, e um bispo romano não se pode casar, contrariando os claros ensinos das Escrituras que o Bispo deve ser casado, marido de de uma só mulher (1 Timóteo 3.1-10; Na assembleia de Jerusalém, foi Tiago e não Pedro que presidiu a referida assembleia. Se ele tivesse sido constituído por Cristo, o Papa, seria ele o principal naquela reunião.
      Ademais, chamarem de demoníaco, mostra a falta de respeito com pessoas que pensam diferente de você. Um pouco de ética cristã, não faz mal pra ninguém! Pense nisso!

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    3. Sebastião Mendes, meu parabéns,foi formidável seu comentariuo, paz e grassa a todos.

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  3. Senhor Sebastião Mendes de Freitas. Somente um lembrete, Jesus perguntou para o Apóstolo Pedro tu me amas, assim fez três vezes e na terceira ele respondeu tu sabes tudo sabes que eu te amo. Jesus disse: Pedro edificarei sôbre sua vida a minha Igreja e as portas do inferno não prevaleceram sobre ela. Tudo que ligares na terra será ligado no céu e tudo que desligares na terra será desligado no céu.Retome irmão Mt 18,15-18 e o Espírito Santo lhe mostrará que Cristo fundou uma única Igreja a Católica Apostólica Romana; funda e edificada sobre a vida do Apóstolo Pedro e continua séculos sobre séculos através da sucessão apostólica. Fique na Paz inquietante de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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    1. Os romanos nesta época eram politeísta, pedro era judeu, Jesus judeu, o Cristianismo veio do Judaísmo, não existia até o século 4 Cristianismo romano, fato que os romanos perseguiam de forma pontual os cristãos, quando você fala que pedro era um papa, pode pegar nas escrituras canônicas alguma referência? Mas já aviso de ante mão que não existe, o termo papa se referindo ao Pedro no textos canônicos.

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